Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

Dominando um novo mundo, ou como o Pouco Pixel me ensinou a não me preocupar e amar Horizon: Zero Dawn

Arquivo de Horizon Zero Dawn 2 – Gamer News


Desde pequeno, eu sempre gostei muito de videogames. Meu primeiro videogame (sem contar o PC do meu pai que foi invadido por Elifoot 2, claro) foi um PlayStation 1 que minha avó trouxe dos Estados Unidos, e que foi complementado por uma pilha enorme de jogos piratas que meu tio me trouxe de algum lugar obscuro. Passei incontáveis horas jogando Crash Bandicoot, Frogger, Goal Storm 97, FIFA 98, FIFA 2000, 007 (que não é um FIFA, mas parece), e mais uma penca de outros jogos. Eventualmente, muitos anos depois, eu e minha irmã também ganhamos um N64, e esses jogos foram substituídos por muitos Marios, Zeldas, Pokemons Stadium, ISS e por ai vai. Desde que minha vó me deu aquele PS1, uma boa parte do meu tempo livre foi dedicado a jogar videogames.

No entanto, apesar de sempre ter gostado e jogado muito video games, meu interesse se limitava a isso: sentar e jogar. Queria um bom jogo, uma história envolvente, uma ótima jogabilidade, e uma chance de marcar muitos gols - porque minha juventude também foi muito marcada pelo futebol (físico e virtual, mas só no virtual eu era bom o bastante para marcar vários gols). O que me interessava era apenas o resultado; eu nunca me interessei por entender o processo por trás dos videogames, entender como eram feitos e pensados, não só na parte técnica mas em toda a parte conceitual que fazia com que aqueles jogos que eu jogava sequer existissem.

Só que a era da internet trouxe algo interessante. Agora, eu não precisava me interessar e ir atrás desse tipo de conhecimento; pessoas que já foram antes atrás porque gostavam eram capazes de disponibilizar esse conhecimento no formato de um conteúdo facilmente acessível. Eu podia me aprofundar no assunto com o mínimo de trabalho, e isso abriu muitas novas oportunidades para muita gente, em muitos campos.

Foi assim que eu conheci o falecido podcast Pouco Pixel. Feito por um amigo meu, Danilo, junto do seu primo Adriano, o PP falava exatamente do que o título sugere: videogames velhos. Muitas vezes, isso significava inclusive videogames antes da minha época que eu mal conhecia e nunca tive nenhum contato, mas o programa tinha um jeito tão inteligente e interessante de tratar do assunto, e era tão passional sobre o que eles falavam, que era impossível não se envolver pelas discussões e se interessar por video games; não só pelos fatos e histórias que eu não conhecia e comecei a conhecer, mas por todo um jeito diferente de olhar para games que eu - que só me interessava pelo resultado e pronto - nunca teria desenvolvido sozinho. Foi uma adição extremamente interessante na minha vida.

E uma das coisas que mais me chamou a atenção na forma do Pouco Pixel de abordar os jogos era a forma de "classificar" cada um. Não que eles saíssem classificando jogos a torto e a direito, claro, mas sempre que tratavam de um jogo, eles não estavam interessados em qual era a "cobertura" do jogo, mas sim qual era a proposta que ele fazia ao jogador.

Confuso? Deixa eu dar um exemplo que me marcou, então.

Mike Tyson's Punch Out é, oficialmente, um jogo de esportes; mais especificamente, um jogo de boxe. Inclusive, esse foi o único motivo de eu ter ido atrás do jogo: eu adoro esportes, o jogo era de esportes, eu queria jogar um jogo de esportes, e ponto. Mas FIFA, por exemplo, também é um jogo de esportes... e os dois jogos não poderiam ser mais diferentes, com propostas totalmente diferentes. E essa discrepância sempre me incomodou até que o Pouco Pixel me deu a melhor explicação possível para isso: É porque Punch Out não é um jogo de esportes; é um jogo de ritmo.

Por mais estranho que pareça, se você pensar no jogo, faz total sentido. O objetivo de Punch Out não é dominar o esporte boxe, com suas técnicas e mecânicas, diferentes tipos de soco e defesa. É simplesmente acompanhar o adversário, ver o que ele está fazendo, e apertar o botão certo no tempo certo para contra-atacar. Não envolve boxe como esporte; o boxe é apenas um mecanismo, uma cobertura, para implementar esse jogo de ritmo; nesse sentido, pensando na proposta que ele faz ao jogador, MTPO é muito mais próximo de Space Channel 5 - um jogo de repórteres intergaláticos dançando - do que de, digamos, Fight Night 2008... ou até, de certa maneira, Wii Boxing.

Essa maneira de pensar em jogos não pela sua cobertura, mas pela proposta, me fascinou e fascina até hoje. E, entre as muitas propostas de jogos, nenhuma eu acho mais interessante do que quando o jogo te propõe, nas palavras do Pouco Pixel, "dominar uma física"; ou seja, ele cria um conjunto de regras para seu mundo físico, e te propõe uma série de desafios baseados em quão bem você dominou essas regras. E não existe exemplo melhor disso do que os jogos da série Super Mario; nesses jogos, a proposta não é ganhar bolo ou salvar uma princesa, isso é só o enfeite para contar a historinha. A proposta é dominar a física do jogo de correr, pular e se movimentar... o que parece simples, mas é tão completo e abre margem para tanta coisa que até hoje existe uma comunidade GIGANTESCA que se dedica a criar fases novas usando o Mario Maker simplesmente dedicados a levar ao máximo essa dominação da física proposta pelo jogo (e, claro, uma comunidade igualmente gigante dedicada a passar de tais fases).

E onde eu quero chegar com toda essa preleção enorme falando sobre jogos velhos? Em um jogo de 2017, para PlayStation 4, é claro. Um dos meus jogos favoritos dessa geração, e talvez um dos meus favoritos de todos os tempos.

Horizon: Zero Dawn, lançado em 2017 pela Guerrilla Games, é um jogo do estilo que o Pouco Pixel costumava chamar de "Jogo Homem (ou, no caso, Mulher) de Costas"; o jogo de exploração em terceira pessoa que parece dominar a vasta maioria dos grandes lançamentos de videogames na atualidade. E, em tais jogos, é muito raro e difícil encontrar essa proposta de "dominar uma física" simplesmente por que, em grande parte, esses jogos tentam simular uma física próxima da realidade, e o foco costuma ser outro: jogabilidade ou storytelling. Tais jogos, então, acabam optando por uma variação que seria "dominar um mundo", o que faz sentido: muitos desses jogos são de muito aberto, e jogos assim realmente dependem de um forte worldbuilding em torno do qual se fixar. Nesse sentido, construir um mundo legal se torna parte do atrativo que o jogo oferece.

Mas o problema que muitas vezes acontece é que, nesses jogos, esse worldbuilding que você deveria dominar é só um extra; uma expansão daquele mundo para você ir atrás e mergulhar se gostou o jogo, mas não necessariamente algo intrínseco ao jogo e a experiência que ele propõe ao jogador. The Witcher 3, por exemplo, tem um lore gigantesco, e embora toda essa profundidade da história e do mundo seja parte do atrativo do jogo, ele é totalmente irrelevante do ponto de vista da jogabilidade. Redania e Nilfgaard estão em guerra, ambos possuem reis e filosofias totalmente diferentes, e você pode até acabar pegando uma preferência ao longo do jogo por um dos lados, mas quando você vai de espada na mão enfrentar um destacamento de soldados, tanto faz se são de Redania ou Nilfgaard; o que você tem que fazer pra vencer a luta é exatamente igual, os adversários lutam quase que exatamente igual. Do ponto de vista da jogabilidade, toda essa criação de mundo é quase irrelevante; tudo se resume, basicamente, a entender o que o game designer colocou para você e aprender a explorar isso. A parte de "dominar o mundo" se torna totalmente dissociada da jogabilidade.

(Nota importante: isso não é uma crítica a The Witcher 3, um jogo que eu acho muito bom, e gosto muito de explorar seu lore e da profundidade; é só uma constatação de como funciona um jogo do gênero).

No fundo, isso se aplica também a jogos como o já citado (inúmeras vezes) FIFA, que LITERALMENTE tenta simular uma experiência do mundo real, a de jogar futebol. Ainda assim, ficar bom no FIFA não vem de ficar bom ou conhecedor do futebol de verdade: pelo contrário, vem de entender as regras através das quais o game designer transformou o futebol real no futebol. Você não precisa saber como funciona o overlapping, quais as diferentes formas de se defender o meio de campo, etc; você acaba aprendendo como o jogo é feito para funcionar, como o computador tende a se comportar em certas situações, e jogando em função disso - aprendendo jogadas que são mais eficientes dentro daquelas regras e explorando as tendências do computador, não muito diferente (dadas as devidas proporções) do que o enxadrista Gary Kasparov fez para derrotar o supercomputador Deep Blue no famoso duelo homem vs máquina em 1996.

E um dos motivos - talvez o principal motivo - de eu amar tanto Horizon: Zero Dawn é exatamente esse. Tem várias coisas que eu adoro em Horizon, é claro. A jogabilidade é deliciosa (e extremamente fluida para um jogo de mundo aberto), os gráficos são lindos, a história é ótima, a protagonista Aloy é excelente, o lore é rico... todos contribuem, sem dúvida, para um grande jogo. Mas para mim a cereja em cima do sundae é justamente que Horizon é um jogo que conseguiu realmente implementar em um videogame moderno esse conceito de "dominar uma física"... ou pelo menos tanto quanto é possível na era do Homem de Costas, o que eu chamei de "Dominar um mundo".

Sem entrar em spoilers, mas falando um pouco do jogo, o mundo de Horizon é bastante interessante do ponto de vista de worldbuilding: um mundo onde tribos humanas primitivas coexistem com avançadas máquinas que se assemelham a animais, mas obviamente muito mais fortes, resistentes e mecânicas. Os habitantes desse mundo, naturalmente, incorporaram essa convivência no seu modo de vida, caçando essas máquinas por seus valiosos componentes e estabelecendo assim, de certa forma um novo ciclo da vida. A jornada de Aloy, naturalmente, envolve muitas vezes confrontar essas máquinas em diversas situações, e derrotá-las pelos mais diversos motivos. E é ai que entra a genialidade do jogo.

Até certo ponto, é possível avançar no jogo apenas pela força bruta e dominando as mecânicas de luta, especialmente nos níveis mais fáceis do jogo; usar a esquiva, usar os ataques de lança da Aloy, encher o adversários de fechas e bombas, etc. Mas quanto mais você avança - e principalmente quando joga nos níveis mais difíceis de Horizon (motivo pelo qual eu acho que a melhor experiência possível do jogo É nos níveis mais difíceis, mesmo que você apanhe no processo de aprendizado) - se torna impossível se limitar a dominar a jogabilidade em si e avançar na força bruta. E é nesse ponto que o jogo te obriga a realmente dominar aquele mundo, aquele worldbuilding; ele deixa de ser apenas um complemento, e passa a ser parte fundamental da sua experiência de jogo porque se você não dominá-lo, você simplesmente não consegue avançar no jogo.

Em Horizon, cada máquina tem uma função específica no mundo do jogo. E, dependendo de quais forem suas funções e características, cada máquina vai ser composta de diferentes partes e componentes, motores e geradores, combustíveis e armas; e como o jogo foca em ter menos variedade de inimigos para caprichar na construção de cada um deles (a maior máquina do jogo, o Thunderjaw, tem 55.000 componentes diferentes com os quais é possível interagir de um jeito ou de outro durante uma luta, por exemplo), esses componentes se tornam parte fundamental da jogabilidade. Cada um deles, dependendo de todos esses fatores (qual a máquina, qual sua função, qual "família" ela pertence, etc), vai ter dentro de si um pequeno universo: alguns vão ser mais vulneráveis a certos tipos de ataques e situações do que outros, certos componentes reagem de formas diferentes a ataques diferentes e provocam resultados diferentes, e quando você começa a montar inimigos com todas essas diferentes partes e propósitos você abre um MUNDO de possibilidades para como lutar. Isso é ainda mais verdade nos modos mais avançados de dificuldade porque neles o preço de novos itens e armas é extremamente caro, limitando demais o quanto você pode avançar nisso ao longo do jogo, e portanto te obrigando a ser extremamente estratégico e racional em como você vai construir suas próprias táticas de batalhas.

Ao mesmo tempo, Horizon não te permite apenas decorar uma forma de vencer cada adversário e sentar no conforto dela. Claro, haverá situações onde as batalhas partirão do seu controle, onde você pode escolher o terreno, preparar armadilhas e ditar o tom da luta. Mas em muitas outras você será obrigado a enfrentar os inimigos sem preparo, ou em alguma desvantagem, e você não vai poder usar dos mesmos recursos que usava quando estava stalkeando alguma máquina solitária pela selva; e, como quase todas as máquinas do jogo (especialmente do late game) são muito mais fortes que você em termos de força bruta e combate corpo a corpo, isso só te força ainda mais a explorar essas fraquezas que são as peças que compõem cada uma das máquinas. E, quanto melhor você dominar as funções e características e combinações de cada uma, maiores serão seus recursos para sobreviver e superar determinadas situações.

Você sabe, por exemplo, que a peça que forma o "papo" de um Longleg é vulnerável a danos do tipo "tear", e que se destruí-la dessa maneira vai iniciar uma grande explosão de gelo ao seu redor. Se você está enfrentando esse Longleg em meio a, digamos, vários Glinthawks, isso é ótimo: Glinthawks são vulneráveis a gelo, então causando tal explosão você está não só destruindo o Longleg como criando uma situação a seu favor em relação ao resto dos inimigos. Mas se esse Longleg estiver cercado de Snapmaws, ai você tem um problema; Snapmaws se não muito bem com gelo e possuem eles mesmos ataques desse elemento. Então não só destruir o papo do Longleg não vai te ajudar a derrotar os Snapmaws, como na verdade você vai estar aumentando o poder de fogo (sem trocadilho) do restante dos seus inimigos. Não só essa situação tirou de você uma arma que pode ser usada a seu favor com essa explosão, como na verdade agora é melhor que você derrote o Longleg SEM usar seu ponto fraco para não fortalecer. Se lascou. Se você não souber o que está fazendo, vai ficar MUITO difícil pra você superar essa situação.

Então realmente é isso de que Horizon se trata: de dominar, realmente, um mundo. Ele não está lá apenas como um complemento, para contar uma história que é um dos atrativos do jogo (embora também faça isso e eu ache maravilhosa), mas ele trás esse worldbuilding diretamente para dentro da jogabilidade e para dentro do jogador. É parte da PROPOSTA que o jogo oferece ao jogador que ele não apenas habite esse jogo e use ele como pano de fundo para suas aventuras, mas que entenda suas interações, sua construção, e use isso a seu favor para tentar superar o que a princípio parecem ser situações impossíveis de homem contra máquina(s). Dentro desse estilo "Homem de Costas" que domina os videogames atuais, Horizon: Zero Dawn foi o jogo que eu vi chegar mais perto desse conceito de "dominar uma física", ou "dominar um mundo". E como essa situação - começar do zero, ir aprendendo o básico de como ele funciona, aprofundando cada vez mais - é EXATAMENTE a situação da protagonista Aloy, que está vendo e aprendendo muito daquilo pela primeira vez, isso contribui de forma incrível para a imersão que o jogo cria, e a sua evolução passa a ser a mesma da personagem que você controla.

Olhando em retrospecto, não foi à toa que Horizon conquistou um lugar especial no meu Panteão dos jogos de videogame favoritos. E não só pelas coisas óbvias como história, jogabilidade, visuais e personagens, porque isso outros jogos também trazem da sua própria maneira. Mas porque Horizon, além disso tudo, me ofereceu algo mais: me ofereceu a chance de expandir essa experiência além do apenas "apertar botões", e a chance de fazer parte daquele mundo tão legal que o jogo me apresentou.

E eu duvido que teria sido capaz de apreciar tanto esse aspecto de Horizon: Zero Dawn, e suas implicações, e elevar tanto o nível da minha experiência com o game, se não fosse a forma de pensar jogos que o Pouco Pixel me ensinou ao longo de alguns anos com tanto bom humor, paixão e dedicação... o que é uma fantástica ironia, porque esse é um jogo que o Danilo (metade do Pouco Pixel) realmente odeia, e isso só me deu ainda mais vontade de escrever esse texto explicando porque ele é parte de eu gostar tanto desse jogo quanto eu gosto.

E também, é claro, para agradecer um pouco a esse projeto tão legal, que infelizmente acabou cedo, mas sem dúvida deixou um legado em quem ouvia. E um que, assim como Horizon: Zero Dawn, eu vou levar pra vida com muito carinho.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Zelda: Majora's Mask

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Existe um velho ditado no mundo dos esportes que diz que você nunca quer ser a pessoa a substituir o cara. Você quer substituir o cara que substituiu o cara.

Embora possa parecer confuso à primeira vista, o ditado é muito simples. Ele diz que, quando você é o sucessor de algo ou alguém muito grandioso, você vai sempre ser medido contra ele e portanto é muito mais difícil de ser recebido como um sucesso. É uma questão de percepção: o jogador que substituir Messi no Barcelona, por exemplo, pode ser tão bom quanto possível, mas sempre será medido contra a lenda que ele substituiu e qualquer coisa abaixo do que os torcedores estavam habituados será vista como um fracasso. Em contrapartida, ser o substituto DESSE jogador, quando as expectativas estão colocadas muito mais baixas, é infinitamente mais fácil. Quanto mais baixa a barreira tiver sido colocada por seu predecessor, maior sua chance de ter sucesso nos olhos das pessoas.

Nesse sentido, o maior pecado de The Legend of Zelda: Majora's Mask foi simplesmente vir depois de Ocarina of Time como o segundo Zelda do Nintendo 64.

Ocarina of Time é, merecidamente, um dos jogos mais celebrados de todos os tempos. É possível - e até fácil - fazer o argumento de que OoT é o jogo mais importante da história dos videogames. Além de ser um primor técnico e uma experiência deliciosa de se jogar ainda nos dias de hoje, Ocarina of Time foi o jogo que praticamente ensinou a indústria a como resolver os problemas que um jogo de exploração e aventura 3D apresentavam, e fazer isso de forma extremamente funcional: conceitos como botões contextuais e a ideia de "travar" a câmera em um inimigo, por exemplo, são fundamentais em qualquer jogo moderno e uma daquelas coisas que são tão básicas e fundamentais que são tomadas como normais por qualquer jogador, mas foi Zelda: Ocarina of Time quem introduziu essas soluções para abrir um novo campo para a indústria, que eventualmente nos trouxe até onde estamos hoje. Coloque todos esses fatores juntos, e não a toa Ocarina of Time se tornou uma lenda ímpar no mundo dos videogames.

E provavelmente é justamente por ser o sucessor desse gigante que Majora's Mask acabou sendo um tanto quanto esquecido. Ele raramente é discutido, e é comum sua omissão das listas dos melhores Zeldas (uma lista que, admito, é bastante concorrida). Ele foi, infelizmente, o jogo que sucedeu o jogo. Mas, apesar disso, Majora's Mask continua sendo até hoje meu Zelda favorito, e um dos jogos que mais me marcou ao longo da minha vida. Mais do que Ocarina of Time, ou qualquer outro da franquia.

Existe, talvez, um componente emocional nessa preferência: Majora's Mask foi meu primeiro jogo de N64. Não lembro se era bundle ou se simplesmente foi o jogo que ganhei junto com o console, mas foi o primeiro que eu tive de qualquer forma. Mas, na época, eu não cheguei a zerar o jogo - isso só foi acontecer muitos anos depois, já adulto, quando peguei o jogo do zero e joguei até o final de uma sentada. E essa experiência - ter jogado o mesmo jogo enquanto criança E adulto - me deu uma perspectiva única pra entender Majora's Mask. Não só foram experiências diferentes nos dois momentos, mas rejogar MM como adulto me ajudou também a entender certas coisas que me fascinavam nesse jogo como criança e eu não tinha a maturidade ou noção para entender exatamente POR QUE eu estava gostando daquilo. Algumas coisas, é claro, eram óbvias: a deliciosa jogabilidade, a variabilidade de opções podendo lutar usando na prática quatro personagens diferentes (Link, Deku, Zora e Goron), o mundo aberto, a sensação macabra da lua caindo nas nossas cabeças. Até uma criança conseguia entender a diversão dessa parte do jogo.

Mas tinha outros aspectos de Majora's Mask que não eram tão claros assim - coisas que tinham enorme apelo e tornavam a experiência de jogá-lo mágica sem eu compreender o motivo. Havia algo extremamente interessante em interagir com aquele mundo tão complexo, aquela grande repetição ao longo dos três dias, e vê-lo mudando de acordo com as minhas ações, mas não sabia exatamente por que. Da mesma forma, a sensação de que havia ALGO por trás de toda aquela história e os sentimentos que ela estimulava, alguma coisa que estava presente mas escondido logo além da minha vista. Isso tudo contribuía para tornar o jogo tão bom, é claro - eu só não era capaz de entender o que era.

Foi alguns anos depois que eu primeiro li a famosa teoria sobre Majora's Mask representar os cinco estágios do luto. É daquelas teorias difundidas que, embora (até onde eu sei) nunca comprovada, assim que eu li eu teria apostado meu braço direito de ser verdadeira. Ela simplesmente fazia muito sentido pra não ser, e não apenas pela história encaixar nos pontos principais: a cidade de Clock Town, negando até o último segundo a queda da lua apesar da sua inevitável aproximação, representaria o primeiro estágio, "negação"; os Dekus culpando o macaco pelo desaparecimento da princesa e o pântano envenenado representavam o segundo estágio, "raiva"; os Gorons tentando reverter os problemas do frio na sua montanha através da "volta" do seu chefe morto, representando a "barganha"; os Zoras chorando a perda do seu amigo e popular guitarrista representavam o quarto estágio, depressão; e a fase final, um deserto completamente vazio salvo por uma garotinha procurando o pai, que termina em uma escalada rumo à luz, seria a "aceitação" final que levaria ao fim do jogo.

Em termos de teoria, ela encaixa muito bem - o que por si só a tornaria muito legal. Eu admito que adoro teorias mirabolantes desse tipo. Mas mais do que explicar a história, eu amei a teoria porque ela me ajudava a entender e explicar meus próprios sentimentos que se desenvolveram enquanto eu avançava em Majora's Mask. De repente, não foi apenas o jogo que passou a fazer mais sentido, mas minha experiência enquanto jogador - aquela saborosa estranheza que vinha de algumas escolhas do jogo, a sensação de que algum tema em comum estava ligando todos aqueles cenários aparentemente díspares, as estranhas emoções que o jogo ia despertando em mim ao longo da jornada a cada capítulo. Os sentimentos que isso estimulava também era estranhos e novos no passado, mas só depois eu percebi que é porque eles eram estranhamente adultos e maduros, e não estavam sendo apenas jogados na minha cara com palavras vazias e clichês, mas sim sendo colocados sutilmente dentro de mim através do que eu fazia enquanto me aventurava pelo mundo de Termina. Tudo isso passou a ser muito mais real, fazer sentido de uma forma que nunca tinha antes, quando eu era apenas uma criança controlando o Link e reagindo involuntariamente àquele mundo.

Foi com isso em mente que, algum tempo depois, eu voltei a jogar Majora's Mask - dessa vez determinado não apenas a zerar, mas reviver e entender o apelo que o jogo tinha em mim tantos anos antes. E duas coisas, em especial, se destacaram para mim.

A primeira foi o clima. Eu lembrava da sensação macabra que a lua se aproximando trazia para mim quando criança, mas em uma segunda (e depois terceira, e quarta) passagem pelo jogo a sensação de corrida contra o tempo e de tragédia inevitável se fazia sentir ainda mais, e nos pequenos detalhes, porque cada pequena parte do jogo é voltada para fazer essa passagem do tempo se sentir. Conforme os dias e as horas passam, você vai vendo o impacto da aproximação da lua em tudo ao seu redor: a rotina dos personagens que povoam aquele mundo vai sendo alterada, e muitas vezes como consequência direta. De repente, todo o mundo ao redor do Link - e portanto do jogador - está se transformando para refletir a tragédia iminente. Ela passa a se tornar parte direta de todas suas interações e experiências, e com crescente urgência, de modo que isso passa a guiar as suas ações e incutir em VOCÊ aquela mesma sensação. Se torna impossível escapar dessa armadilha, e conforme ela vai se desenrolando - magistralmente guiada por situações como a quest dos dois amantes, que te fazem esperar até os segundos finais daquela contagem regressiva opressiva para poder ver o deslance da história - você vai sendo cada vez mais aprisionado pela situação criada por Skull Kid. É uma situação de imersão como pouquíssimas vezes eu vivi segurando um controle de videogame.

Mas a segunda coisa é, para mim, o que torna Majora's Mask não só meu Zelda favorito, como uma das minhas experiências videogamísticas favoritas e inigualáveis: o gimmick de um mundo preso em um loop "infinito" de três dias.

Toda vez que o Link volta no tempo, ele vive os três dias anteriores à queda da lua. Os mesmos três dias. Os personagens e criaturas que habitam aquele universo estão, portanto, presos a uma mesma rotina que se repete: influenciados pela iminente tragédia, eles irão aos mesmos lugares, falarão com as mesmas pessoas, tomarão as mesmas ações... só para repetir tudo de novo quando a Song of Time for tocada. É um ciclo repetido.

E é ai que entra o brilhantismo do jogo, introduzindo Link como o elemento "externo" a esse loop temporal. As ações dos personagens, pré-programadas, estão sendo moldadas (ou deixando de ser) pelos eventos que acontecem no mundo e ao seu redor. E conforme Link começa a interferir com esses eventos, alterando os que acontecem ou mesmo introduzindo novos, o mundo e aquela rotina aparentemente perfeita começa a se alterar ao redor do que você está fazendo. Através das suas ações, você vai destravando novas rotinas e novas árvores de acontecimentos durante cada ciclo de três dias, e cada uma delas vai levar em uma direção nova, em um resultado diferente, que podem te ajudar a progredir na história... ou não. Algumas levam a side quests, outras a nenhum resultado prático, mas essa é a maravilha da coisa: o poder está nas suas mãos, saber como VOCÊ, jogador, vai viver aquele novo ciclo. Talvez você queira acompanhar um personagem específico, entender sua rotina e suas motivações, e conhecer um pouco mais daquele mundo. No processo, pode ser que uma nova quest se revele, ou pode ser que você apenas conheça-o um pouco melhor. Da próxima vez, você pode interferir no seu dia, e ver como aquilo vai afetar a rotina do personagem - talvez, ao invés de ir tomar leite no bar, o cidadão decida se aventurar em um passeio, ou encontrar um velho amigo. E, de repente, todos aqueles NPCs que sequer mudam de expressão começam a parecer vivos, e o mundo de Majora's Mask deixa de ser um programa de computador para virar um organismo vivo, que você está experimentando e aprendendo a controlar.

A experiência de ir se tornando cada vez mais "senhor" dessas ações e desse mundo é brilhante por si só, mas é interessante que ela não venha de uma situação de onipotência, como o criador de um jogo de The Sims. As mudanças da rotina de Termina ainda dependem totalmente da própria vontade dos personagens, e entender essa vontade e suas motivações cada vez melhor é o que vai, eventualmente, te permitir manipular os acontecimentos certos no momento certo para atingir seus objetivos pessoais. É quase um experimento social, e aos poucos - através de personagens que, em um jogo normal, seriam apenas peões sem importância, meras peças para se passar rumo a um objetivo maior - aquele mundo maravilhosamente intrincado e conectado vai se abrindo para você. Falar com um Zora em luto pode ao mesmo tempo te revelar um lado muito triste sobre como lidar com uma perda, ou pode trazer uma mensagem de esperança e amor - tudo depende de como e quando você o fizer. Ser um Goron pode trazer reações de medo ou de curiosidade, e usar uma simples máscara pode gerar reações de simpatia nas pessoas que vão te apresentar a novas possibilidades.

Essa é uma experiência que, posso afirmar, eu nunca senti antes ou depois em um jogo. Não nesse nível, pelo menos. As possibilidades parecem infinitas, e atrás de cada esquina, cada fragmento de conversa sem importância, existem novidades esperando para serem descobertas. De repente, você não quer que o tempo passe não para adiar a destruição de Termina, mas sim porque você quer um pouco mais de tempo para descobrir novos fatores, novos elementos, novas missões. Eu lembro distintamente de sentar com minha irmã e ficar jogando a corrida de cachorros repetidas vezes, mesmo após conseguir o coração que ela da de prêmio, simplesmente porque aquilo parecia fazer sentido para mim, explorar aquela pequena parte da rotina de Termina porque... honestamente, simplesmente porque eu podia, e ela estava lá, e eu era parte de tudo aquilo.

Até hoje, existe algo maravilhoso em tudo isso que torna Majora's um jogo único no meu portfólio. Terminar o jogo, honestamente, se tornou a parte menos importante de MM. É viver aquela rotina, e entender como minhas ações mudam a vida das pessoas e a existência daquele mundo, que faz tudo valer a pena. Se a arte em um jogo está na sua capacidade de estimular emoções, Majora's Mask tira um 10 em tantos níveis diferentes que chega a ser ingenuidade achar que da para racionalizá-los totalmente. Mas, ao mesmo tempo, ser capaz de entender um pouco melhor esses aspectos só destravou níveis ainda mais profundos tanto em mim como na minha relação com esse jogo, da mesma forma que seguir aleatoriamente um personagem furtivo às 2h da manhã pelos corredores de Clock Town pode abrir todo um novo mundo de possibilidades para Link.

E se um jogo consegue fazer isso com maestria enquanto ainda trata de forma sutil e sensível temas como perda, solidão, medo e tristeza, temas ao mesmo tempo infantis, adultos e universais? Você tem The Legend of Zelda: Majora's Mask, meu Zelda favorito e um dos meus jogos favoritos de todos os tempos.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

O TM Warning está de casa nova!

Pessoal, o TM Warning agora foi relançado em um novo endereço, com novo formato e mais conteúdo do que nunca: é só acessar www.tmwarning.com.br !

Para entender melhor os motivos por trás da mudança e saber como você pode ajudar o site a continuar funcionando, você pode ler essa coliuna explicativa : https://tmwarning.com.br/2018/01/04/first-blog-post/

Obrigado pela audiência e espero vocês lá!!

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Jimmy Garoppolo e o dilema de encontrar um quarterback

Mirou no WR, acertou em nossos corações

Essa é uma coluna que eu escrevi semana passada para o site Pick Six, a pedido de um amigo. Eu acabei achando a coluna tão interessante que pedi para postar aqui também. Ela fala um pouco sobre os caminhos e as dificuldades para times acharem seus QBs na NFL; como o 49ers encarou essa situação ao longo do último ano; o que significa a troca do time por Jimmy Garoppolo - e se ele é o QB que o time procurou para seu futuro.

Os números da parte final estão, claro, desatualizados por causa do jogo de domingo, mas tudo que aconteceu na vitória do 49ers sobre o Titans só reforça o sentimento e as avaliações passadas em todo esse texto.

Então trouxe a coluna para cá também. Espero que gostem, e não deixem de prestigiar o trabalho do Pick Six, e de seguir o site no Twitter e/ou Facebook!

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Existe uma questão que praticamente todo time da NFL que passa por uma reconstrução precisa cedo ou tarde responder. E a resposta para essa pergunta, muitas vezes, pode determinar o sucesso ou fracasso de um período inteiro de reconstrução, e definir o futuro da franquia.

Como conseguir o seu quarterback para o futuro?

Querendo ou não, a posição de QB é de longe a mais importante do futebol americano, e muitas vezes o diferencial entre o sucesso e o fracasso. Existe um motivo pra 90% dos vencedores do prêmio de MVP sejam quarterbacks. Então se você é um time ruim que quer ser bom, a melhor forma de atingir essa virada – e, talvez mais importante, de garantir que essa virada seja sustentável no médio e longo prazo – é conseguir acertar em cheio no jogador que você escolhe para comandar o ataque da sua franquia. Times como Jets e Texans tentaram se reconstruir muitas vezes nos últimos anos, mas sem achar uma solução para a posição, sempre dependeram de um sucesso pontual em meio a diversos anos decepcionantes (o Texans, claro, parece enfim ter encontrado seu QB). Browns nunca conseguiu uma reconstrução em parte por nunca ter achado o seu quarterback. Times como o Jaguars – que deve finalmente voltar aos playoffs esse ano e está 9-4 – podem conseguir um bom ano atrás de uma dominante defesa apesar de começar com Blake Bortles de titular, mas pense em quantos anos não foram desperdiçados de boas defesas em Jacksonville, Chicago, Saint Louis (RIP) e Minnesota nos últimos anos devido à incerteza na principal posição do jogo.

Então times que estão em reconstrução precisam, em algum momento, encarar essa mesma questão e decidir de onde vão tirar o quarterback para chamar de seu. E, como todo jogador, existe três formas de se adquirir um: por troca, pelo Draft, ou assinando um agente livre. E o pior, ou talvez mais interessante, é que não existe uma resposta certa. Todos os três meios tem seus prós e contras, e não existe uma maneira segura de garantir que seu time vai encontrar uma solução para os próximos 10 anos. GMs inteligentes em reconstruções são os que mantém as três vias abertas e manipulam seus ativos de forma a maximizar suas chances, e se colocam assim em uma boa situação para aproveitar as oportunidades que aparecem.

O Draft costuma ser a via mais utilizada por tais times em busca de um Franchise QB, o que faz bastante sentido. Times em reconstrução costumam ser ruins e ganhar poucos jogos, o que significa que escolhem perto do topo do Draft com frequência – o lugar onde costumam se encontrar os melhores QBs. Dos 32 QBs “ideais” para começar de titular nesse ano para as franquias da NFL, 20 deles foram selecionados na primeira rodada, e 5 outros na segunda rodada. Uma escolha alta no Draft é, em tese, a melhor maneira de garantir que esses jogadores estejam no seu time.

Outro benefício de encontrar esse jogador no Draft é que isso garante a você 5 anos baratos para a posição mais cara do time, economizando assim um valioso dinheiro que pode ser usado em outras posições importantes (Russell Wilson, escolha de 3ª rodada, é o melhor exemplo disso: durante 4 anos o Seahawks teve seu Franchise QB ganhando 1 MM por ano, e pode gastar esse dinheiro para ir na free agency contratar estrelas e renovar com seus melhores jogadores, montando assim a espinha dorsal do time campeão de 2013). Escolher um QB jovem no Draft também significa que esse jogador estará na mesma "linha do tempo" do resto do seu elenco.

Mas o Draft também é de certa forma uma loteria. O índice de acertos não é grande o suficiente para essa ser uma opção de baixo risco, e escolher o QB errado no topo do Draft é uma coisa que pode atrasar sua reconstrução em anos enquanto a franquia fica comprometida com um QB ruim. O Rams escolheu Sam Bradford, não deu certo, e demorou 8 anos até voltar a ser um time competitivo. Titans, Jaguars e Vikings escolheram Jake Locker, Blaine Gabbert e Christian Ponder no mesmo Draft, e demoraram anos para se recuperar da decisão. O Broncos parece ter errado feio com Paxton Lynch, e agora tem talvez a pior situação de QBs da NFL segurando o que deveria ser um ótimo time. E, para compor o problema, tem o seguinte: muito do sucesso no Draft envolve a forma como os times desenvolvem os jovens talentos que adquiriram, e um time em reconstrução normalmente não tem grandes peças para colocar em volta de um jovem QB e auxiliar seu desenvolvimento (pense Alex Smith, escolha #1 de 2005, com os 49ers), o que pode diminuir as chances de sucesso de uma escolha desse tipo. É uma opção de alto risco.

Buscar esse QB na free agency não tem o mesmo risco, mas também é uma oportunidade infinitamente mais limitada por um simples motivo: Franchise QBs simplesmente não chegam no mercado. A estrutura de salários da NFL – em especial a Franchise Tag – geram incentivos muito maiores para os times manterem suas grandes estrelas, e como QB é a posição mais importante do time, esses são os jogadores que concentrarão os esforços das franquias para manterem. Situações como as de Drew Brees e Peyton Manning são enormes outliers – contextos muito únicos com questões complicadas de lesões para adicionar – que times em reconstrução dificilmente podem prever ou se apoiar como uma estratégia confiável. Os QBs que normalmente se encontram no mercado são os QBs medianos (como Tyrod Taylor ou Jay Cutler) que podem servir na função certa, mas estão longe de serem uma garantia – caso contrário não estariam disponíveis. Certo, Brock Osweiller?

Geralmente os melhores resultados na free agency vêm para times que fazem compras baratas e apostam em um jogador que floresce em um contexto favorável e específico, com o Vikings encontrou esse ano com Case Keenum ou o Cardinals com Carson Palmer. Mas também são minoria, e ambos tiveram sucesso em parte porque encontraram uma situação muito favorável e um time extremamente completo e bem montado ao seu redor, situação que um time ruim em reconstrução dificilmente vai propiciar. Além disso, não é como se fossem apostas de alto índice de sucesso – Keenum foi contratado para ser a terceira opção atrás de Bradford e um Teddy Bridgewater em recuperação, e se o Vikings tivesse a menor ideia de que Keenum iria explodir em Minnesota, com certeza teria oferecido a ele um contrato mais longo que mantivesse-o sob controle da franquia por mais tempo (e a um baixo custo).

Por fim, as trocas são as situações mais imprevisíveis das três. Franchise QBs raramente ficam disponíveis por troca, e os jogadores que ficam muitas vezes são os que enfrentam muitas dúvidas ou que dependiam muito de um esquema tático específico. A melhor situação é algo como aconteceu com Alex Smith – um bom QB “forçado” ao banco por uma opção melhor – e ainda assim são situações que costumam envolver um alto preço, muitas vezes em escolhas de Draft, que um time em reconstrução pode hesitar em pagar sem ser por uma certeza em uma janela que costuma fechar rapidamente. É talvez a opção mais interessante por oferecer maior variedade de situações, e a que os GMs mais precisam estar alertas para aproveitar quando aparece, mas também é uma via bastante escassa.

Então considerando a imprevisibilidade e alto custo da primeira opção, e a baixa oferta das últimas duas, não é de se espantar que tantos times emperrem na dificuldade de achar um bom quarterback para seu time, especialmente um que faça sentido com a timeline do resto do seu elenco. Cometa um erro com a opção errada, e seu time pode se atrasar em anos até voltar a ser competitivo. Deixe passar uma boa opção, e seu emprego estará em xeque com sua cabeça sendo pedida por boa parte da mídia e dos torcedores (como aconteceu com o Browns, por exemplo). É uma situação delicada, uma fina linha entre explorar o máximo de vias possíveis enquanto não compromete os recursos de forma apressada, e saber exatamente a hora (e o custo) certo para se fazer uma aposta. Paciência, pensamento de longo prazo e - sejamos sinceros - uma boa dose de sorte costumam fazer a diferença nessas horas.




A reconstrução do 49ers

O 49ers era um dos times que estava nessa situação no ano passado. Com Jed York finalmente admitindo o erro passado e aceitando que a franquia precisava recomeçar quase do zero, San Francisco dispensou os resquícios da antiga gestão (incluindo seu QB titular, Colin Kaepernick), trouxe um novo técnico e um novo GM, e anunciou sua intenção em enfim focar no longo prazo (a decisão correta com dois anos de atraso). E, claro, parte importante desse processo (especialmente tendo dispensado um QB que te levou ao Super Bowl quatro anos antes) era descobrir quem seria o novo quarterback de uma franquia com uma longa tradição na posição.

E o interessante é que o novo GM John Lynch tinha à sua frente múltiplas opções para tomar na busca pelo novo QB do futuro da franquia, e sendo seu primeiro cargo executivo na NFL, muitas pessoas especulavam se essa falta de experiência levaria Lynch a querer ir para o Home Run logo de cara com alguma grande movimentação nesse sentido. No entanto, Lynch fez aquilo que, a meu ver, foi a decisão mais correta no momento: ele não fez nada.

Com a escolha #2 do Draft, San Francisco estava em boas condições de ir atrás de um QB como Mitch Trubsky ou Deshaun Watson, consideradas as duas melhores opções do ano na posição. No entanto, a avaliação de Lynch era de que nenhum dos dois valeria essa escolha – uma avaliação partilhada por mim e grande parte dos analistas – então Lynch inteligentemente foi na direção oposta, trocando suas escolhas para descer no Draft e acumular seleções extras (como times em reconstrução deveriam fazer).

Enxergando (novamente de forma correta) que não teria à sua disposição como adereçar a questão do QB de forma satisfatória e ao preço certo no momento (e, talvez, que não fosse a hora para isso), o GM do Niners se preocupou em manter as opções em aberto para o ano seguinte. A classe de QBs de 2018 prometia ser bastante intrigante com Josh Rosen e Sam Darnold. As escolhas de Draft extras que Lynch acumulou no seu primeiro recrutamento como GM deram ao 49ers um rico baú de ativos que poderia usar caso quisesse entrar em alguma negociação de troca, ou até para subir no próximo Draft. E, no horizonte, Kirk Cousins estava ameaçando virar free agent depois de dois anos jogando sob a Franchise Tag e múltiplos dissabores com a diretoria de Washington.

Ao invés de tentar resolver tudo de uma vez só, Lynch enxergou no horizonte possibilidades muito melhores se desenhando para ano que vem, e posicionou o time de forma a explorar todas elas conforme fossem aparecendo. Enquanto isso, manteve a pólvora seca: trouxe Brian Hoyer na free agency, um QB veterano que já tinha trabalhado com o novo técnico Kyle Shanahan e iria ajudar a implementar seu esquema tático, e usou uma escolha de terceira rodada (luxo que poderia se dar com tantas escolhas adicionais) em CJ Beathard. Nenhuma das duas era um movimento que fosse provável resolver a posição para o futuro, mas foram dois movimentos de baixo custo que poderiam dar resultados modestos no médio prazo, apostas inteligentes de baixa probabilidade, mas baixo custo – e, afinal, ALGUÉM precisava jogar de QB para esse time.




Lynch faz o sua jogada

Agora todos já sabemos como essa história terminou. Depois de passar boa parte do ano esperando o mercado se desenhar enquanto Beathard e Hoyer não funcionaram como titulares, o 49ers eventualmente acabou enviando sua escolha de segunda rodada de 2018 (um preço bastante em conta considerando que San Francisco tem escolhas extras de segunda e terceira em 2018, rodada graças às trocas do Draft passado) para New England em troca de Jimmy Garoppolo, o promissor QB que não encontrou espaço para jogar graças a um tal de Tom Brady.

O preço de uma escolha de segunda rodada por Jimmy G é bastante modesto comparado ao que New England supostamente estava pedindo ano passado e até no Draft desse ano, que variava entre múltiplas escolhas de primeira rodada ou uma escolha alta de primeira rodada. E isso é um testamente ao quão bem o 49ers jogou o jogo da paciência. A impressão que da, entre tudo que é reportado vindo de Foxborough, é que a vontade de Bill Belichick sempre foi manter Brady E Garoppolo (o que, de certa forma, já é um elogio imenso à capacidade do camisa 10) no time. Belichick tentou caminhar a linha de manter os dois jogadores até que concluiu que não seria possível, e acabou aceitando a proposta do 49ers.

Lynch lidou com a situação de forma perfeita. Se essa troca fosse feita no começo do ano, teria custado bem mais ao 49ers, pois o Patriots ainda estava com a força das negociações e tentando manter os dois QBs. Ao invés disso, Lynch esperou até o momento que o Patriots enfraqueceu sua posição e chegou a um bom acordo com um dos GMs mais difíceis de negociar da NFL.

Claro que o Niners poderia ter simplesmente esperado acabar o ano e tentar pegar Garoppolo então, mas isso também envolveria muitos riscos. New England ainda poderia usar a Franchise Tag em Garoppolo (e nesse caso dificilmente o preço cairia mais), e mesmo se ele chegasse ao mercado, isso significaria que o 49ers teria que entrar em uma provável batalha financeira com outros times interessados, o que aumentaria consideravelmente o preço financeiro do negócio, e aumenta também as chances do Niners NÃO conseguir o jogador. E se conseguisse, provavelmente seria em um contrato longo e muito custoso, para um jogador que o 49ers teria apenas DOIS jogos como titular em New England (ambos ano passado, em um esquema tático diferente e conhecido por “proteger” seu QBs e fazer jogadores medianos parecerem muito melhores) para avaliar. É o tipo de jogada all-in de altíssimo risco que o 49ers deveria evitar (e vem evitando), e trocando por Garoppolo agora não só San Francisco se coloca com todas as cartas para manter o jogador no time no longo prazo por um contrato menor do que daria no mercado, como também San Francisco agora ganha meia temporada para avaliar Garoppolo, seja jogando como titular, seja nos treinos e como se relaciona com a comissão técnica, antes de tomar a decisão se quer apostar seu futuro no jogador.

E o mais interessante é o seguinte: com o contrato expirante de Garoppolo, essa troca em nenhum momento compromete as outras possibilidades para o 49ers de conseguir um QB. Se Garoppolo não fosse bem ou o time avaliasse que não valeria a pena seguir e investir no jogador, San Francisco poderia simplesmente deixar Garoppolo ir embora, aceitar a escolha compensatória pelo jogador (inferior à que o time pagou por ele, sem dúvida, mas um preço que o time pode se dar ao luxo de pagar), e voltar sua atenção para as opções no topo do Draft ou para Kirk Cousins. Isso teria um custo, mas a informação e a posição de força nas negociações adquirida teriam valido a pena, e San Francisco poderia não se comprometer com uma opção sub-ótima, mantendo ainda as opções muito abertas.

Mas, claro, até aqui parece muito improvável que vá chegar a isso.




Jimmy Garoppolo em campo

Dois jogos não fazem uma carreira, sem dúvida. É impossível avaliar um jogador por tão pouco, e mesmo em cinco jogos (a quantidade de jogos que Garoppolo pode ter de titular antes de virar free agent) muita coisa ainda será um mistério. Quase qualquer QB ruim da NFL pode pegar dois jogos da carreira e apontar para eles como sendo uma amostra de que é um bom jogador. Então sempre temos que tomar cuidado para não ler demais em informações de menos.

Mas é humanamente impossível não se empolgar com o que Jimmy Garoppolo está mostrando em suas duas primeiras partidas como titular. Não é a questão da sua produção, embora essa também esteja sendo ótima: 66,7%, 9.0 Y/A, 8,3 AY/A, 645 jardas, 2 TDs, 2 INTs. Seu QBR seria 6º na NFL inteira, e seu DVOA seria #2, logo na frente de Tom Brady. Mas vocês não vão me ver referenciando esses números de novo nessa coluna, simplesmente porque eles não importam. 2 jogos é uma amostra pequena demais, e nenhuma estatística tem valor com uma amostra insignificante dessas. Não são os números que estão enchendo os olhos. É como Jimmy está jogando.

O 49ers teve uma abordagem cautelosa com seu novo QB. Ao invés de jogar Garoppolo no fogo de cara, mantiveram o camisa 10 no banco enquanto ele aprendia o playbook e o Niners esperava sua boa dupla de tackles (Trent Brown e Joe Staley) voltarem do departamento médico. Ainda assim, Jimmy entrou em uma situação bastante complicada após a lesão de Beathard, conhecendo apenas uma parte pequena do playbook, e com um elenco de apoio bem abaixo da média em termos de alvos e linha ofensiva.

E apesar disso, nesses dois jogos Garoppolo mostrou que estava mais do que pronto para o desafio. Apesar do conhecimento limitado do playbook e o pouco entrosamento com o resto do ataque, a simples presença de um QB capaz de ler e executar as jogadas já abriu muito esse ataque. Kyle Shanahan está conseguindo chamar mais jogadas e explorar mais jogadores e movimentações do que jamais conseguiu com Beathard e Hoyer, e o comando sobre esse ataque que Garoppolo já tem é surreal para alguém com tão pouco tempo de casa. Seu entendimento do jogo e da posição permitiu que isso fosse possível, e sua entrada já destravou mais o ataque do que poderíamos imaginar.

Mas o que mais chama a atenção em Garoppolo é sua capacidade de lidar com a pressão. Na semana 14, desfalcado de seu RT e sofrendo pressão em incríveis 47% das jogadas de passe (maior marca da rodada), Garoppolo mostrou todo seu repertório depois de alguns arremessos ruins no começo do jogo. Em parte por sua força no braço, Jimmy tem no seu currículo o arremesso patenteado do Aaron Rodgers em movimento, que consegue lançar a bola com velocidade e precisão impressionantes só com o movimento do pulso, e o QB sabe usar isso muito bem. Ele espera até o último segundo para soltar a bola (e seu lançamento é incrivelmente rápido) e tem a combinação de conseguir sentir e lidar com o jogador de defesa no seu cangote enquanto mantém os olhos na secundária para continuar achando as jogadas, fazendo com que repetidamente vença a blitz em conversões cruciais e transforme situações negativas em ganhos. Nos seus dois jogos como titular (contra duas defesas acima da média) Garoppolo continuou mantendo campanhas vivas com conversões longas em terceiras descidas apesar de jogar com um defensor pendurado nele o tempo todo. Essa é uma das habilidades mais importantes de um QB no nível NFL, e Garoppolo está mostrando ser um dos melhores no negócio.

A verdade é que nesses dois jogos Garoppolo mostrou todas as habilidades que você procura em um Franchise QB. Sua inteligência em campo e sua leitura de jogo são excelentes. Ele consegue jogar em alto nível tanto dentro do pocket como saindo dele. Tem uma excelente precisão e ótima força no braço, e está se mostrando capaz de executar praticamente todos os passes que o ataque de Shanahan exige. Sua capacidade de lidar com a pressão é ainda mais impressionante. E se você acredita que para ser QB na NFL você precisa de uma certa qualidade quase “mística” de incentivar e motivar os companheiros, você não precisa ir muito longe para tropeçar em algum jogador do 49ers derramando elogios sobre o novo QB da franquia. Até agora, Jimmy G parece ser o pacote completo.

Novamente, é importante frisar o quanto dois jogos não servem para fazer uma avaliação exaustiva e completa de nenhum jogador. Nós só podemos avaliar o que nós vimos nesses dois jogos, mas não necessariamente Garoppolo será sempre o que foi neles. Nossa avaliação é limitada a esse respeito, graças a uma amostra pequena.

Mas também é importante lembrar que a avaliação do 49ers sobre Garoppolo não se limita apenas aos jogos. Além do que vemos em campo, o Niners tem Garoppolo nos treinos, aprendendo o playbook, lidando com jogadores e comissão técnica. Essa também é uma valiosa fonte de informações e muito maior e mais rica em qualidade do que nós, observadores externos, podemos captar. E é esse conhecimento agregado que só o Niners possui é o que vai fazer a diferença na hora do time decidir o que fazer com a situação do seu QB para 2018.

Por enquanto, o que podemos dizer é que tudo indica que o 49ers achou o seu QB do futuro, e que ele é realmente muito bom – o tipo do jogador em torno do qual você constrói algo maior. O 49ers até aqui jogou todas as suas cartas com perfeição, maximizando suas avenidas para achar esse jogador, e os primeiros retornos indicam que o time conseguiu cumprir essa complicadíssima tarefa com bastante sucesso.


Ainda temos que ver como o 49ers vai dar os próximos passos nessa situação, e qual vai ser sua abordagem para 2018. Mas é difícil não se animar com o que estamos vendo do casamento entre Garoppolo e Kyle Shanahan, e com uma offseason inteira para se reforçar pela frente (na qual San Francisco deve ter mais salary cap do que qualquer time da NFL tirando o Browns), esse ataque pode começar a fazer barulho muito antes do que o esperado. Dedos cruzados.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Sete Segundos ou Menos - 08/12

                                      Resultado de imagem para steve nash
Are you not entertained?!


Testando um novo formato de coluna essa semana, que eu chamei de Sete Segundos ou Menos - homenagem ao famoso Seven Seconds or Less, o estilo de jogo do Phoenix Suns sob o comando de Mike D'Antoni nos anos 2000 que revolucionou para a sempre a NBA - e nos deu alguns dos mais divertidos times de todos os tempos.

A ideia da coluna Seven Seconds or Less - em teoria - é ao invés de tratar de um único assunto extensivo, tratar de vários assuntos menores, assuntos que não valem uma coluna sozinhos mas que ainda assim são pontos que eu gostaria de discutir. É uma versão basicamente com mini-colunas, condensada em uma só. Vamos ver se o formato funciona.

E se você não acha que essa só é uma desculpa para postar alguns vídeos do meu jogador favorito de todos os tempos (como esse passe mágico para o Grant Hill)... você não me conhece o suficiente.




Vamos a isto.

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1. Philadelphia 76ers, dividindo minutos entre suas estrelas.

Quinta feira à noite, o Philadelphia 76ers foi surpreendido em casa e derrotado por um fraco time do Lakers. No entanto, seria difícil para você adivinhar isso se eu te falasse do quão dominantes foram suas duas estrelas: Joel Embiid anotou 33 pontos, pegou 7 rebotes e deu 6 assistências (e mais 5 tocos), enquanto Ben Simmons teve um Triple Double com 12 pontos, 13 rebotes e 15 assistências. Ambos foram fantásticos na partida e é difícil acreditar que Philly perderia com ambos tão bem.

O problema é que Philly apanhou quando esteve sem suas estrelas. Nos 36 minutos que Embiid esteve em quadra, Philadelphia foi +14 em quadra. E nos 12 que descansou, Philly perdeu para o Lakers por 17 pontos (!!!!). Com Simmons talvez seja ainda pior: +9 quando esteve em quadra, e nos 6 minutos que descansou, o Sixers perdeu por 12 pontos. Philly passou apenas um minuto e meio com ambas as suas estrelas no banco, mas foram minutos desastroso: o Lakers ganhou a "parcial" (ou as parciais) por 11 a 2.

Essa derrota foi um microcosmos de um problema que tem certamente tirado noites de sono do técnico Brett Brown, e de muitos outros técnicos ao longo do tempo na NBA: Qual é a melhor forma de distribuir os minutos das suas estrelas? Em outras palavras, o melhor é usar as duas junto o máximo de tempo possível junto, maximizar a combinação, mas passar mais tempo com apenas os reservas jogando? Ou então distribuir ao máximo os minutos das estrelas para que o banco nunca precise jogar sem nenhuma delas em quadra?

Foi uma questão que durante muito tempo incomodou (e ainda incomoda) times como Clippers (na época de CP3/Blake) ou Wizards, e não existe uma resposta certa. Durante anos o Wizards optou por juntar Wall e Beal, e foi massacrado quando os dois sentavam. O Clippers teve um problema semelhante com Paul e Blake Griffin. E agora chegou a vez do Sixers tomar algumas decisões.

Até aqui, o Sixers tem optado por jogar as suas estrelas juntas o máximo de tempo possível. Dos 605 minutos que Embiid jogou em jogos que Simmons também atuou, 78% deles (472) vieram jogando junto do calouro, e apenas 133 foram como única estrela em quadra - o que da pouco mais de seis minutos por jogo. Simmons jogou mais tempo sem Embiid (mesmo desconsiderando os jogos com Embiid inativo), 250 minutos, mas também é praticamente metade do tempo que passou ao lado do pivô camaronês.

Isso faz algum sentido. Simmons ainda não tem um arremesso fora do garrafão, e jogar ao lado de Embiid - cujo alcance se estica até a linha dos 3 pontos e sempre comanda uma marcação apertada - abre os espaços que Simmons precisa para chegar até o garrafão e aproveitar linhas de passe. Philadelphia tem destruído times quando os dois estão juntos em quadra: nos 472 que Simmons e Embiid jogaram juntos, Philly está +99, com um Net Rating de +9,9.

O outro lado da moeda, entretanto, são os 164 minutos que o Sixers passou em quadra sem Embiid nem Simmons, e esses minutos Philly está com horríveis -52, ou -12,8 Net Rating. Ontem foi um exemplo (até extremo) desse fenômeno, mas a verdade é que Philly simplesmente não tem a criatividade e o playmaking vindo do banco para aguentar muitos minutos sem uma das suas estrelas em quadra. Talvez isso mude com a volta de Markelle Fultz, mas a essa altura parece um long shot confiar na produção imediata da escolha #1 do Draft. E a margem de erro do Sixers não é grande suficiente para sobreviver a minutos dessas unidades.

Talvez seja hora do Sixers começar a usar suas estrelas de forma mais separada. Exceto quando não há alternativa - jogos que Simmons ou Embiid estiverem fora - esses alinhamentos simplesmente não deveriam passar um minuto sequer em quadra para um time que sonha com a pós temporada. Embora o time caia bastante (previsivelmente) com apenas uma das duas estrelas em quadra, não é para níveis tão desastrosos quanto naqueles momentos sem nenhum dos dois: lineups com apenas Embiid tem enfrentado adversários basicamente em um empate (-2 em 162 minutos), e embora as lineups com apenas Simmons tenham números mais problemáticos (-46 em 358 minutos, -5,2 Net Rating), esses números estão "poluídos" pelos 108 minutos que Simmons jogou com Embiid inativo, enfrentando diretamente unidades titulares que não enfrentaria em situações "normais" de rotação. Pegando apenas os minutos que Simmons jogou sem Embiid em jogos que ambos participaram os números não são tão problemáticos, -18 em 250 minutos de quadra. Nenhuma das duas é perfeita, mas é uma maneira de evitar esses minutos desastrosos sem as estrelas em quadra, quando o time se coloca em buracos com muito mais rapidez relativa do que os dois jogadores juntos "tiram".

Um argumento contrário a essa distribuição de minutos seria que, pensando no futuro, é importante dar a Embiid e Simmons o máximo de minutos possíveis juntos para desenvolver o entrosamento, mas é um argumento que não faz sentido considerando que Simmons (que perdeu o ano de calouro com uma lesão no pé) jogou 42 minutos nesse jogo, e Embiid 36. O Sixers está forçando para chegar nos playoffs agora, e pensando nesse sentido, é crucial eliminar esses minutos sem ambos em quadra. Ontem, custou uma vitória ao Lakers. Não foi a primeira vez. E, se continuar acontecendo, não vai ser a última. E, se o Sixers quer mesmo chegar aos playoffs e talvez surpreender alguém, essas são vitórias que podem fazer falta.


2. Giannis Antetokounmpo, pivô

É difícil realmente classificar Giannis Antetokounmpo com uma posição. Ele é um jogador de 2m11 que arma o jogo, protege o aro, e defende 5 posições. Que seja, ele JOGA nas 5 posições! Essa flexibilidade maluca é parte do que faz de Giannis um jogador tão bom, e tão importante para o Bucks. Que posição Giannis é, ou joga, depende muito mais das peças ao seu redor do que de quem ele realmente é, e podem ter certeza que isso vai gerar discussão na hora de votar o All-Star Game ou até os times All-NBA ao final do ano.

Mas a posição que Giannis mais me intriga é jogando como pivô. Não da nem para chamar essas lineups de baixas - Giannis é mais alto do que vários dos pivôs da NBA, tem alcance maior que praticamente todos, e já se mostrou excelente protegendo o aro - mas as formações sem Maker, Henson ou Monroe que Giannis joga como pivô nominal, em geral cercado por arremessadores. O Bucks tem sido, naturalmente, cauteloso com essas formações, especialmente na temporada regular - você não quer expor Giannis a trombadas constantes no garrafão e taxar o físico da sua superestrela sem necessidade. Ao todo, Giannis jogou com pivô apenas 45 minutos na temporada.

Ainda assim, é difícil não ver o que essas lineups tem de atraente. Giannis tem o tamanho e capacidade defensiva para executar o papel de um (bom) pivô do lado defensivo da quadra, então você não precisa sacrificar tanto nesse sentido. E ofensivamente essas lineups com Giannis e arremessadores são impossíveis de se defenderem normalmente: você pode ficar preso mantendo um pivô ou ala de força mais lento em cima de Giannis, o que é a receita para o desastre, ou então tentar esconder isso em um arremessador e tirar o protetor de aro de dentro do garrafão, onde Antetokounmpo faz a grande maioria dos seus pontos - e isso sem entrar no mérito do caos que um time assim cria em situações de transição, quando o adversário precisa em velocidade achar a marcação certa, abrindo assim espaços e criando missmatches que esse time pode explorar. Milwaukee não é um time grande nas alas, então essas formações não teriam muito tamanho, mas compensariam isso com versatilidade e velocidade. No papel, pode ser a base para um ataque extremamente explosivo.

E a boa notícia é que, desde a chegada de Eric Bledsoe (e a partida de Greg Monroe) o Bucks tem dado mais espaço para essas formações com Giannis na posição 5 - dos 45 minutos que Giannis jogou na posição, 21 vieram desde a troca. A lineup com Bledsoe-Brogdon-Snell-Middleton-Giannis já jogou 16 minutos junta, e com bons resultados, incluindo um Net Rating de 3,5 e um Offensive Rating de 121,8 que destruiria o melhor ataque da liga (Golden State) por muito. A mesma formação, mas com Dellavedova no lugar de Bledsoe (a segunda mais usada), também tem igualmente destruído adversários do lado ofensivo da quadra. No jogo recente contra Boston foram essas lineups que colocaram o Bucks de volta no jogo, antes de Boston enfim abrir uma vantagem definitiva no final.

Claro, a amostra ainda é muito pequena, e essas lineups também sofreram bastante defensivamente nesses minutos limitados (a defesa do Bucks é assunto para outro post). Mas é uma formação bastante interessante e promissora, e é muito bom ver Milwaukee começando a ficar mais confortável com essas lineups - e devem ficar ainda mais quando Jabari Parker voltar. Algo para se monitorar ao longo do ano.


3. Houston Rockets destruindo tudo pelo seu caminho

O Rockets deveria ser uma história maior nesse início de temporada, e por algum motivo está escapando ao grande público. Esse time está FANTÁSTICO até aqui: Apenas Boston tem uma melhor campanha (e o mesmo número de derrotas); apenas Golden State tem melhor Net Rating e melhor ataque; apenas Boston e GSW tem melhor RPI. Seu Net Rating é um historicamente excelente 11,3. Eles estão destruindo times a torto e a direito. E, mais assustador, Chris Paul e James Harden estão mostrando um entrosamento excelente ainda muito cedo.

Mas o que é realmente interessante é o quão bom o Rockets tem sido desde a volta de Chris Paul. Foram 8 jogos desde então, e 8 vitórias do Rockets com um net Rating insano de +20.0 por 100 posses de bola. Para referência, o Warriors lidera a NBA com +13.1, que já é um excelente número. Nesse tempo, o Rockets tem a melhor defesa E o melhor ataque da NBA, e suas duas estrelas estão jogando um basquete de outro nível: Chris Paul tem 14 pontos e 10 assistências de média, com 46 FG%, 46 3PT%, e menos de 2 turnovers por jogo. James Harden - que deveria ser hoje o favorito na briga pelo MVP - teve 33 pontos, 8 assistências e 48-43-93 nos arremessos. Claro, é uma amostra pequena e contra um calendário favorável, mas também uma mostra do quão assustador esse time pode ser.

E o que faz de Houston tão bom e tão assustador é sua capacidade de manter o poder de fogo funcionado por 48 minutos sem interrupção. A dupla Harden-Paul dentro de quadra tem sido sólida jogando junta - +6.8 de Net Rating em 173 minutos com ambos em quadra. Uma marca boa, mas não espetacular dado que o Rockets como time tem +11.2 de Net Rating.

No entanto, esse não é o ponto. Ao contrário do Sixers, Mike D'Antoni tem buscado separar mais suas estrelas. Quando elas estão juntas, ótimo: o Houston ainda está chutando bundas. Mas a mágica do Rockets é que, quando um deles sai, o time ainda tem um armador de nível MVP para comandar seu ataque. A gente sabe repetidamente o que Harden é capaz de fazer conduzindo esse ataque do Rockets, especialmente agora que tem mais armas de bom nível (dos dois lados da quadra) do que nunca: O Rockets tem Net Rating de +14,7 quando James Harden está em quadra sem Chris Paul, um número que engloba os jogos que Paul ficou inativo.

Mas esse não é o pulo do gato. O problema é que quando James Harden sai e Paul entra para comandar o ataque no seu lugar, o Rockets tem um Net Rating de... erm... de +32.1. Yep, 32,1. +66 de +/- em 94 minutos. Sim, esse é um número real. Claro que é um subproduto insustentável de uma amostra pequena contra um calendário fraco, mas é só assistir o jogo que é fácil de perceber o quão devastadora é a segunda unidade do Rockets com Paul no comando. Depois de anos jogando seu estilo favorito - ritmo lento, arremessos de meia distância, controle do jogo  - é surreal o quão rápido Paul se adaptou ao ataque de D'Antoni e já tem total controle do jogo por lá. O pace do time com Paul é um dos mais rápidos da NBA, e CP3 está conduzindo esse ataque com perfeição mesmo sendo apenas seu nono (!!!) jogo em Houston. Paul enxerga todos os passes, todas as movimentações, e sabe exatamente o que fazer em todas as situações. Cerque isso com o esquema certo, as movimentações certas, e os jogadores certos, e você vai certamente ter um ataque infernal.

E, acima de tudo, é isso que faz do Rockets tão bom: 48 minutos de inferno ininterruptos (exceto, bem, garbage time... que tem, alias, acontecido bastante), 48 minutos de um armador nível Hall da Fama (e nível alto mesmo dentro do Hall da Fama) comandando um ataque devastador famoso por destruir adversários. Você não vai ter um minuto para descansar até que a vantagem passe dos 20 pontos. Boa sorte tentando acompanhar essa dupla.

Não da, nessa temporada, para falar de Golden State - o time está claramente jogando em terceira marcha e se poupando para os playoffs (existe algum potencial de 2001 Lakers aqui, diga-se de passagem). Nada que virmos até Abril indicará nada do seu nível real. Mas com o Rockets jogando nesse nível, não é absurdo sugerir que esse seja o time mais dominante da liga que vimos até aqui, com a volta de Chris Paul.

Para a pós-temporada, os minutos dos reservas tende a diminuir, e fica mais fácil desmontar um ataque que depende de um jogador só - Houston vai precisar da combinação entre Harden e Paul mais do que dos minutos que as estrelas jogam separadamente. Até lá, é importante que as formações com CP3 e Harden estejam no seu melhor nível. Mas por enquanto, esse time é forte o suficiente, e tem talento suficiente, para varrer a temporada regular sem deixar vestígios, enquanto nós apreciamos um dos times mais divertidos e interessante dos últimos anos.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Pontos de destaque dos times da NBA, parte II - O otimista

Hora de agradecer por tudo que está dando certo - especialmente o joelho do Embiid


Para quem não sabe, alguns anos atrás eu sofri um sério acidente envolvendo um DeLorean, um cavaleiro medieval, uma cruz de maçaranduba (o relatório da polícia diz mogno, mas eu discordo) e uma jacuzzi. O trauma me deixou com sérios problemas psicológicos, e entre eles está o surgimento de duas novas personalidades alternativas: Jean, a otimista; e Javert, a pessimista. 

Normalmente as duas ficam controladas, mas como na quinta feira passada foi o Thanksgiving americano e não tivemos nenhum jogo de NBA sequer, meu sistema nervoso central decidiu se desligar por algumas horas e deixar os dois tomarem conta. Então eu fiz um pedido para cada um dos dois: para que escrevessem uma coluna cada um destacando algum ponto específico de cada um dos 30 times da NBA nesse começo de ano. Então Javert escreveu uma coluna destacando um ponto negativo ou de preocupação para cada time; enquanto Jean escreveu uma coluna destacando um ponto positivo de cada um.

Semana passada publicamos a coluna pessimista com os pontos negativos de cada time escrita pelo Javert; então agora é a vez da coluna a coluna otimista, com os pontos positivos, escrita pelo Jean.

(Nota: A coluna foi escrita ao longo de vários dias, então algumas estatísticas podem estar desatualizadas).

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Eu não sei vocês, mas eu adoro o caos que é o primeiro mês da temporada regular.

Simplesmente é aquele momento em que nós não sabemos e temos certeza de nada, então tudo é possível. Talvez aquele time surpreendente vá cair por terra ao longo do tempo, mas isso ainda não aconteceu, e até acontecer esse time é uma ótima surpresa, divertida, envolvente. E aquele time que deveria ser bom mas está começando mal ainda tem muito tempo para se reerguer e voltar a disputar os playoffs, mas até acontecer fica pairando aquele mistério do que vai acontecer SE continuar mal... é uma época ótima tanto pra quem gosta de otimismo como para quem gosta de caos. As possibilidades são ilimitadas.

É claro, também é preciso ter cuidado quando tratamos de amostras pequenas. A narrativa é uma coisa, os sinais podem ser olhados, pequenas tendências analisadas, mas a 20 jogos ainda tem muito ruído estatistico, e muitas mudanças por acontecer. Quase nenhum time é o mesmo em Abril que éem Fevereiro, e não é em Fevereiro o time que é em Novembro. Nós demos apenas os primeiros passos, mais nada.

Ainda assim, é interessante e instrutivo olhar mais de perto para alguns fatores dentro de cada franquia. Pequenas tendências, mudanças, novidades, pontos de esperança. Então vamos passar rapidamente pelos 32 times da NBA e ver quais foram pontos que se destacaram nesses primeiros 40 dias de basquete.


Atlanta Hawks

Taurean Prince
foi provavelmente o melhor calouro sobre o qual ninguém falou a respeito de 2017, mas o ex-jogador de Baylor terminou muito bem o ano passado e tinha grande esperanças para esse ano. A presença de jogadores como Dennis Schroeder e Kent Bazemore significa que Prince não precisa assumir o centro dos holofotes e carregar um time como outros jovens jogadores em processo de tanking, mas o segundo-anista tem sido impressionante mesmo assim.

Prince parece muito mais confortável em um papel maior esse ano. Se em 2017 parecia ser só um futuro 3-and-D, Prince está mostrando mais capacidade e versatilidade acertando a cesta, e seu arremesso continua se desenvolvendo. Está dando mais assistências, conduzindo mais pick and rolls (que já compõem 16% do seu ataque) e mostrando uma noção surpreendente de quadra tanto para criar o próprio arremesso como para achar seus companheiros. Atlanta tem sido cuidadosa para não expor demais seus jogadores novos, o que parece uma tática certa nesse caso, mas ainda assim vai ser difícil manter Prince fora dos holofotes por muito tempo.


Boston Celtics

Existe na NBA uma série de pequenos axiomas que costumam servir de "guias" na hora de calibrar as expectativas de um time no começo da temporada. "Jogadores jovens costumam ser ruins e times que se fiam demais neles, também"; "Continuidade importa, e times com muitas mudanças demoram para engrenar"; "Você vai ter problemas defensivos  se troca dois titulares (Avery Bradley e Jae Crowder) que são conhecidos por serem bons defensores"; e principalmente, "Um time vai sofrer se perder seu jogador mais caro e aquisição mais importante da offseason".

Mas depois de 21 jogos, Boston pegou todos esses axiomas e jogou pela janela, rumo a ter a melhor campanha da NBA. Gordon Hayward, o grande free agent trazido por Boston essa offseason, machucou com 5 minutos na temporada e deve ficar fora o ano todo; o Celtics emendou uma sequência de 16 vitórias seguidas mesmo assim, distribuindo sua carga para Jayson Tatum (19 anos) e Jaylen Brown (21) anos, que responderam mais do que à altura, lideram o time em minutos e tendo participação crucial do sucesso da franquia. Depois de retornar apenas QUATRO jogadores do time do ano passado, perder Avery Bradley e Crowder, e ter SEIS jogadores em contrato de calouro na rotação principal, o Celtics tem a melhor defesa da NBA (ajustando pelo ambiente de crescente foco ofensivo, uma das melhores dos últimos 30 anos), a melhor campanha, melhor RPI, e está chutando bundas a torto e a direito.

Nenhum time que perdeu um All-Star, vários bons defensores, mudou o elenco inteiro e está dependendo tanto de jovens para produzir deveria ser tão bom, mas aqui estamos. Kyrie Irving está cada vez mais confortável no sistema de Brad Stevens, e sua química com Al Horford faz parecer que jogam juntos há anos. Jaylen Brown tem sido uma das revelações do ano, e Jayson Tatum joga com um veterano de 6 anos de NBA. Horford está jogando o melhor basquete da carreira. Aaron Baynes, Daniel Theis, Semi Ojeleye até Shane Larkin, Boston simplesmente acertou todas as transações que fez nessa offseason. E seu novo elenco - cheio de jogadores altos e versáteis, que consegue cobrir muito da quadra e trocar a marcação à vontade - está mostrando em quadra exatamente a visão que Danny Ainge tinha quando trocou Bradley e montou esse time. Boston pode ser o time do futuro no Leste, mas eles já chegaram no presente muito mais cedo - e mais forte - do que se esperaria.


Brooklyn Nets

O Nets é um time ruim com uma perspectiva de futuro complicada devido à falta de escolhas de Draft (a sua desse ano ainda está em Cleveland) e de jovens de grande potencial no elenco (deve doer assistir Jaylen Brown e Jayson Tatum em Boston), mas eles tem algo a seu favor: eles estão cientes disso e planejando de acordo. Não existe (e a diretoria do Nets sabe disso) uma saída milagrosa para essa situação, então Brooklyn inteligentemente está olhando na outra direção: ao invés de ir atrás dos jogadores que não tem, e não tem condição de adquirir, o Nets está preocupado em criar uma base, uma cultura e um esquema tático que façam sentido, para depois preenchê-lo com as peças certas com o tempo.

E Kenny Atkinson, o técnico que o Nets escolheu para comandar esse processo, está conseguindo com muito sucesso fazer seu time jogar do jeito certo. Claro que o Nets ainda é ruim, mas assistindo os jogos fica claro que existe algo de funcional por trás. O time simplesmente joga o basquete que deveria jogar: o time faz boas movimentações, os jogadores consistentemente fazem as leituras certas, os passes certos, sabem quais os arremessos deveriam conseguir. Eles são o 5º time na NBA em drives por jogo, 13º em passes por jogo, o 2º time que mais chuta de 3, E o 2º time que mais bate lances livres - eles sabem o que estão fazendo em quadra.

O problema é que os jogadores que estão lá não são bons o suficiente para executar tudo isso em alto nível, mas esse é o próximo passo. Brooklyn encheu seu time de veteranos (Allen Crabbe, DeMarre Carroll) que fazem sentido para ajudar esse esquema a se desenvolver, enquanto apostam em jogadores talentoso (Spencer Dinwiddie, Joe Harris) que fazem sentido dentro dessa forma de se jogar. É muito mais fácil achar uma escolha na segunda rodada ou uma barganha na free agency se você sabe exatamente o que espera para o jogador que vai ser encaixado no seu time (como San Antonio, Golden State e Boston estão nos lembrando constantemente). E essa é a vantagem de se ter já esse sistema e essa cultura no lugar, e isso que o ótimo Atkinson e a boa diretoria encabeçada por Sean Marks estão implementando com sucesso. O processo ainda é longo e as vitórias demorarão a vir, mas existe algo de encorajador acontecendo no Brooklyn.


Charlotte Hornets

Uma das minhas histórias favoritas desse começo de ano tem sido o crescimento de Jeremy Lamb em Charlotte. Depois de passar praticamente toda sua carreira como um reserva de pouca expressão, Lamb enfim explodiu esse ano em um papel maior, iniciando boa parte do ano como titular na ausência de Nicolas Batum e mostrando um jogo bem mais avançado do que antes.

Lamb tem média de 16 pontos em 29 minutos por jogo, a segunda melhor marca no Hornets depois de Kemba Walker. Mas o mais interessante é o quanto Lamb tem mostrado em áreas que antes não eram uma força: o ala do Hornets está chutando sólidos 37,3% de três pontos no ano (32,4% na carreira) em um número alto de tentativas (4 por jogo), está atacando a cesta e cavando faltas com mais frequência do que nunca (3.8 FTs por jogo, quase o dobro de 2017) e, mais importante, tem mostrado um novo nível conduzindo pick and rolls e atacando a partir do drible que tem sido crucial para o Hornets tentando sobreviver sem Batum: Lamb tem média de 0.93 pontos por posse de bola conduzindo um pick and roll (72nd percentil da NBA) e dando 3.4 assistências por jogo, mais do que triplicando sua média da carreira (1.1).

Essa melhora em todas as áreas do jogo de Lamb fez dele um reserva pouco utilizado para um jogador crucial para Charlotte: Depois de ser apenas 8th em minutos por jogo no time em 2017, Lamb agora é o terceiro atrás de Dwight e Kemba Walker, e o Hornets tem destroçados adversários quando Lamb e Kemba jogam juntos ao tom de + 10.5 de Net Rating, que seria equivalente à segunda marca da NBA (Rockets). Lamb foi para o banco depois da volta de Batum, mas ainda tem jogado minutos de titular, e o Hornets sabe o quão importante é o bicampeão universitário para suas pretensões na temporada. Muito legal ver um dos meus jogadores universitários favoritos enfim ganhando seu espaço na NBA.


Chicago Bulls

Trocar seu melhor jogador por pouco, como fez o Bulls, sempre vai gerar muitas derrotas e descontentamento de curto prazo. É inevitável. Jimmy Butler foi o que manteve o Bulls vivo em 2017, e sua saída - previsivelmente - transformou Chicago no pior time da NBA em 2018. Mas um dos motivos pelos quais esse cavalo morto não tem sido mais tão chutado é a performance do calouro Lauri Markkanen, que também foi bastante criticado quando foi escolhido no #7.

Os números do finlandês não saltam tanto aos olhos - 14 pontos, 8 rebotes, 40 FG%, 35 3PT% - mas é óbvio que o Bulls não está jogando pelo hoje, e sim pelo futuro, e o que Lauri tem mostrado nesse sentido tem sido bastante encorajador. O arremesso de fora já era conhecido, mas Markkanen tem mostrado mais em quase todas as outras áreas: seu arremesso tem enorme versatilidade (pull ups, vindo de screens, etc), seus rebotes estão melhores do que o esperado, e Lauri está mostrado bem mais habilidade botando a bola no chão e criando arremessos do que parecia ter. Até sua tão criticada defesa parece melhor na NBA: Markkanen não é (e provavelmente não será) um protetor de aro, mas tem mostrado pés ágeis quando precisa trocar a marcação e acompanhar jogadores menores no perímetro. Não é Ben Simmons, mas sem dúvida é um raio de esperança no que promete ser uma difícil reconstrução para o Bulls.


Cleveland Cavaliers

As vezes eu sinto que não estamos falando de LeBron James tanto quanto deveríamos. Eu sei que LeBron já está naquele nível que tomamos sua grandeza por garantida e por isso ela para de nos impressionar, mas não deveria. Esse é o ano 15 para LeBron na NBA. Ele tem 33 anos, 1300 jogos e 51.000 minutos (contando playoffs) nas costas. Qualquer ser humano normal estaria começando a olhar para a descendente.

Mas LeBron? Ele está anotando 28.5 pontos, 8.6 rebotes, 7,5 assistências por jogo enquanto arremessa 58% de quadra e 42% de três pontos, e fazendo tudo isso enquanto é segundo na NBA em PER e segundo em minutos por jogo atrás de Giannis (o que, diga-se de passagem, é absurdamente irresponsável por parte do time). Ele está carregando nas costas um Cavs desfigurado que perdeu seu segundo melhor jogador (Kyrie), viu Jae Crowder voltar a ser uma abóbora, perdeu Tristan Thompson por lesão, e esteve contando com minutos de Rose, Wade, Jeff Green e Jose Calderon para ter uma rotação. É uma temporada fantástica de um dos melhores jogadores de basquete que jamais pisaram sobre essa Terra sob qualquer ótica possível. Apreciem LeBron James enquanto é tempo.


Dallas Mavericks

No último sábado, dia 25/11, o Mavericks enfrentou o Thunder em Dallas, e fomos brindados com uma performance quase vintage de Dirk Nowitzki: uma série de bolas longas, fakes, giros, fadeaways, e é claro, um dos arremessos mais bonitos da história da NBA. Foi lindo de se ver, um lembrete sobre como era e as vezes ainda é fantástico assistir a um dos melhores e mais únicos jogadores da história da NBA.

Então ao invés de falar sobre a temporada do Mavericks, vou simplesmente deixar vocês com esse mix do Dirk para lembrarmos enquanto é tempo.

Sentiremos muito sua falta, Dirk.





Denver Nuggets

Múltiplas lesões, dispensas, movimentações, excesso de jogadores em uma mesma posição, e por ai vai - todos esses fatores tornaram quase impossível para o Denver ter uma rotação estável. Apenas UMA lineup do time jogou mais do que 150 minutos junta no ano inteiro. Ou mais do que 120 minutos o ano inteiro. Ou 100 minutos o ano inteiro. Ou CINQUENTA minutos junto o ano inteiro. É isso ai, a segunda lineup mais usada pelo Denver jogou junto apenas QUARANTA E QUATRO minutos TOTAIS ao longo do ano. Você vai ter muita dificuldade para montar um time quando isso acontecer.

A boa notícia é que essa lineup que é exceção - a titular do time antes da lesão de Millsap e que jogou junta por 224 minutos - tem sido realmente uma das mais divertidas de se assistir da NBA, e uma das mais dominantes. Muitas vezes nos jogos do Nuggets o time tem problemas com a armação de jogadas, com falta de espaçamento, com a falta de entrosamento... mas quando esses cinco - Murray, Harris, Chandler, Jokic e Millsap - jogam juntos é como se um raio luminoso viesse e focasse no Pepsi Center. Essa lineup não tem praticamente nenhuma das falhas que as outras apresentam: eles NUNCA cometem turnovers (o que é significativo, considerando que Denver é o segundo time com mais turnovers na NBA), passam a bola com facilidade (seriam #4 em AST% na NBA), pegam rebotes feito maníacos (53,5% em % de rebotes, que seria a melhor marca da liga) e parecem que jogam juntos faz cinco anos. Eles bombardeiam bolas de três livres, rodam a bola, sabem quando cortar e quando sair para o perímetro, se movimentam sem a bola, e destroem times dos dois lados da quadra: esses cinco juntos tem um Offensive Rating de 112.5 (seria #2 na NBA, à frente de Houston) e 100.5 de Defensive Rating (seria #4 na NBA logo atrás de Utah), o que da um Net Rating de 12,0 equivalente ao Golden State Warriors como time.

O Nuggets tem problemas quando esse quinteto (e em especial o trio Murray-Jokic-Millsap) se separa, e com a lesão de Millsap deve demorar um pouco para voltarem a jogar juntos. Isso vai significar mais mudanças, mais experimentos, e mais lineups que não funcionam tão bem - o que deve render sofrimento no curto prazo, mas vai ajudar esse time a encontrar as "outras lineups" para funcionar em torno dessa principal. Ainda assim, é uma lineup que nos da um gostinho do quão bom esse time pode ser quando tudo está encaixando, e um enorme prazer de ver jogar.


Detroit Pistons

Se eu tivesse um voto para o Most Improved Player - o jogador que mais evoluiu na temporada - certamente ele iria hoje para Andre Drummond. Imagino que hoje Porzingis seja o favorito ao prêmio, mas meu voto seria para o pivô do Pistons. Depois de ano sendo um jogador talentoso mas que nunca tinha realmente juntado isso em uma atuação consistente e dominante (e inclusive ser nomeado pelo chefe o Jogador Menos Valioso de 2017), Drummond melhorou quase todos os aspectos do seu jogo e enfim está parecendo a estrela que prometia desde que chegou à NBA.

O que chama a atenção é o aproveitamento nos lances livres, que passou de patéticos 38,6% para decentes 61,8% esse ano. Isso permite a Drummond ficar mais tempo em quadra (especialmente no final de jogos) e igualmente mais tempo com a bola nas mãos, sem precisar ter medo de sofrer uma falta intencional. Ao invés de precisar se livrar rápido da bola e definir a jogada com pressa, Drummond agora pode tomar seu tempo e fazer as jogadas pensadas, o que liberou todo seu jogo.

Drummond esse ano mais do que triplicou (de 4,7% para 16,1%) seu AST% e viu suas assistências por jogo subirem para impressionantes 3,5. Ano passado Drummond não era remotamente capaz de dar passes com esse aos 14 segundos do vídeo abaixo...




... mas agora eles fazem parte da sua rotina em quadra e da forma do Pistons de atacar. Drummond também trocou muitos de seus horríveis lances de costa para a cesta (post ups compunham 27% das suas posses totais em 2017 e caíram para apenas 10% esse ano) por jogadas mais eficientes e que não precisam congelar todo o ritmo ofensivo do time, e principalmente por mais toques na cabeça do garrafão, que ajudam a abrir espaço para o resto da equipe e estão abrindo sua habilidade nos passes. Defensivamente, Drummond ainda consegue usar seu tamanho e atleticismo para causar estrago com tocos e roubos, mas ele está muito mais inteligente esse ano em como se posicionar, ignorando os "disfarces" das jogadas adversárias e se concentrando na ação que realmente importa, e que ele realmente precisa defender. Drummond tem sido uma revelação em tantos aspectos esse ano que chega a parecer outro jogador, e tem sido uma parte crucial do sucesso do Pistons em 2017/18.

(Para mais detalhes, recomendo esse texto do ótimo Scott Rafferty -> https://t.co/cK2WSWeaQd)


Golden State Warriors

Vamos contar:

- #1 em ataque
- #5 em defesa
- #1 em Net Rating
- #2 em RPI
- #1 em AST%
- #1 em TS%
- #1 em eFG%
- Tudo isso com o calendário mais difícil do Oeste até aqui.

Eu sei que é tentador olhar o Warriors em uma noite preguiçosa de temporada regular e tentar achar que estão em decadência ou em crise, mas seus dados avançados estão quase no nível que estavam ano passado, e saudável esse ainda é o time a ser batido na NBA.


Houston Rockets

Houston
é uma maiores surpresas do começo de temporada, com o segundo melhor Net Rating, segunda melhor campanha e segundo melhor ataque da NBA. Harden está jogando em nível MVP, e Chris Paul parece totalmente confortável em quadra. Não poderiam pedir um começo melhor.

E um aspecto específico que tem sido bem interessante nesse início do Rockets é o uso das suas lineups de small ball. E eu não digo small ball no sentido antigo de "sem um ala de força ou pivô de origem", embora essas também tenham sido ótimas para Houston - o time do Texas tem um Net Rating de +13.1 quando Ryan Anderson está em quadra sem Clint Capela.

Mas as que mais me interessaram são aquelas que são REALMENTE small ball, com Mbah a Moute ou PJ Tucker jogando de pivô e um exército de arremessadores ao redor. Houston ainda não está usando essas lineups com muita frequência - apenas 16 minutos até aqui - mas nesses minutos elas tem destruídos times durante curtas sequências, com um Net Rating de +16,4 nesses minutos. São em geral lineups capazes de trocar a marcação entre 4 ou 5 posições, e com Tucker e Mbah a Moute bombardeando bolas de longa distância com sólido aproveitamento fica dificílimo marcar essas unidades. Elas lembram, na verdade, a lineup da Morte do Warriors à sua própria maneira. Vai ser interessante acompanhar se Houston continua usando esses grupos, e se vai ser uma arma a ser usada contra Golden State caso os dois favoritos do Oeste venham a se cruzar nos playoffs.

Indiana Pacers

A troca de Paul George por parte do Indiana Pacers está parecendo muito melhor hoje em dia, não?

Alguns meses depois do dia que Kevin Pritchard quase explodiu a internet, eu tenho 100% de certeza que OKC ainda faria essa troca 10 de 10 vezes, mas a impressão cada vez mais é que o Pacers não foi roubado como pareceu à primeira vista. E isso porque as duas aquisições do time na troca estão jogando melhor do que jamais jogaram em OKC ou Orlando.

Victor Oladipo em particular tem sido uma revelação. Jogando no ritmo de jogo veloz desse ano Oladipo enfim está conseguindo mostrar toda sua agilidade e velocidade, e tem sido imparável na quadra aberta. Com 23 pontos, 5 rebotes e 4 assistências de média e 54 eFG%, Oladipo está tendo de longe a melhor temporada da carreira dos dois lados da quadra, e deve receber alguma atenção na hora de definir os participantes do Leste no All Star Game.

Domatas Sabonis também está mostrando em Indiana uma promessa que não mostrou quando era refém de Russell Westbrook em OKC. Sabonis chegou à NBA com seus maiores atrativos sendo seu jogo no garrafão, os passes e os rebotes, o tipo de jogador que foi feito para jogar de pivô na NBA moderna. E seu primeiro ano em OKC foi basicamente ficar na zona morta esperando um passe e arremessando de três - não a toa não conseguiu mostrar todo seu talento por lá.

Em Indiana - e especialmente sem Myles Turner, o que permitiu a Sabonis jogar de pivô - o filho da lenda do basquete soviético tem mostrado seu jogo completo, dominando o garrafão com seu jogo de pernas, inteligência nos passes, e dominação nos rebotes. Sabonis tem esse ano médias de 13-9-2,5 com 55 FG%, depois de ter 6-4-1 e 40 FG%. E seus números são aida melhores considerando quando jogou sem Myles Turner, como pivô titular do time: 14-11-3 com 60 FG% durante 9 jogos, e em geral o ex-astro de Gonzaga tem médias de 18 pontos, 13 rebotes e 4 assistências por 36 minutos quando joga sem Turner. Nesses minutos, o Pacers tem um Net Rating de +5.8, que seria a quinta melhor marca da NBA. Um jogador muito melhor e mais promissor do que sua avaliação quando foi adquirido de OKC.

Nem Oladipo nem Sabonis parece ser o tipo de estrela em torno do qual você constrói uma franquia, mas considerando o papo de que o Pacers não tinha conseguido nada de valor pela sua estrela, o começo de ano da dupla é encorajador, e estão ajudando o Pacers a se manter competitivo num surpreendente Leste. O próximo desafio: achar uma forma de fazer Sabonis e Turner jogarem juntos em quadra.


Los Angeles Clippers

É impossível achar um ponto positivo na temporada do Clippers, um time sólido e divertido no papel que viu sua temporada acabar cedo com lesão atrás de lesão para seus principais jogadores. O Clippers agora está 8-12 e lidando com mais uma lesão no joelho de Blake Griffin, o ano parece perdido, e o futuro cada vez mais duvidoso.

Então... hm... e ai pessoal, já viram o novo trailer de Guerra Infinita?! Parece fantástico!!


Los Angeles Lakers

A defesa de Los Angeles caiu para #8 na NBA recentemente depois de chegar a ser a terceira melhor da liga em certo ponto, mas ainda assim é de se impressionar com a eficiência do Lakers do lado defensivo da quadra. Esse é o mesmo Lakers que foi a PIOR defesa da NBA um ano atrás! Ter uma defesa Top10 para começar o ano é um grande passo à frente - e um bastante inesperado.

E mais impressionante ainda é o Lakers conseguir isso com praticamente só dois bons defensores no seu elenco (três se contar Julius Randle motivado, o que tem acontecido mais do que o normal esse ano) em KCP e Brandon Ingram. Essa sólida defesa para começar o ano tem vindo não do talento individual dos seus defensores mas sim do seu esforço coletivo, o que é sempre um bom lembrete de que defender na NBA moderna NUNCA é apenas individual. Esse time, pura e simplesmente, sabe o que está fazendo na defesa: os jogadores são capazes de trocar marcação entre várias posições, são bastante ativos nas linhas de passe e nas rotações, jogam duro e com vontade, lutam contra pick and rolls, e mostram uma noção geral boa do que devem fazer. Essa defesa ser #8 não é por acaso.

Parte disso não é sustentável, e alguma regressão já começou: O Lakers tem muita dificuldade em conter penetração a partir do drible (especialmente na posição de armador); eles enfrentaram um calendário bem fácil (7th mais fácil da liga); seu perfil de arremessos não é o ideal (só Milwaukee cede mais arremessos perto do aro); e seus adversários ainda estão acertando um percentual abaixo do normal de arremessos livres, o que é geralmente insustentável. Tudo indica que esse número ainda deve cair do oitavo lugar.

Mas ainda assim, esse time não chegou ao #8 por acaso. Ninguém chega. Esse número e as boas performances defensivas são um testamento não só ao trabalho de Luke Walton, mas também ao quão duro e investido esse elenco está jogando esse ano.


Memphis Grizzlies

Em meio a um desastroso início de temporada, um ponto positivo é que Memphis achou mais um jogador decadente e não desejado para reviver a carreira e mostrar pro mundo que consegue reabilitar QUALQUER jogador do planeta: Tyreke Evans.

Engraçado pensar hoje que Tyreke foi Calouro do Ano sobre Steph Curry e James Harden em 2009, e considerado uma grande estrela do futuro. Mas a cada ano que passava Harden parecia piorar um pouco, as lesões continuavam se sucedendo, e sua falta de arremesso e estilo de jogo individualista começaram a se destacar negativamente cada vez mais em uma NBA que caminhava na direção oposta. Seu espaço foi minguando, e chegou ao ponto que Tyreke teve que assinar um contrato de 1 ano, 3 milhões para tentar reconstruir seu valor na NBA.

Mas Reke parece ter escolhido o lugar certo para isso. Em 20 partidas, Evans vem tendo talvez o melhor ano da sua carreira. São 18 pontos, 5 rebotes e 3.5 assistências por jogo em apenas 28 minutos vindos do banco de reservas, e tem sido crucial para ancorar as rotações vindas do banco de reservas, especialmente com Mike Conley machucado. E, talvez mais importante, Evans parece ter se reinventado como um bom arremessador: está acertando 42% das suas bolas de longa distância em um alto número de tentativas (4.3 por jogo). Não é a estrela que parecia ser quando calouro, mas sem dúvida o Tyreke Evans desse ano é um sólido jogador de NBA. Uma evolução e volta por cima que fazem dele hoje o provável líder na corrida pelo prêmio de Sexto Homem do Ano.


Miami Heat

Discretamente, Kelly Olynyk está se provando uma das mais interessantes contratações da última janela de transferências, e já é hora do pivô ganhar mais minutos em quadra. Ele é apenas o oitavo jogador com mais minutos no time do Miami Heat (em parte porque divide a posição com Hassan Whiteside e quase não tem sido usado de ala de força), mas ele é o jogador que tem sido o diferencial para Miami quando está em quadra, especialmente comandando lineups vindas do banco.

Miami tem uma defesa decente, um time que sabe onde estar e o que fazer desse lado da bola, mas o ataque tem sido uma desgraça (quinto pior da NBA) e parece só encontrar vida quando Olynyk está em quadra provendo espaçamento com suas bolas longas (47 3PT% na temporada, o que deve cair um pouco ainda). Ainda que a maioria disso seja contra reservas, quando o pivô está em quadra o jogo fica mais aberto, os armadores de Miami conseguem realizar suas infiltrações e fazer a bola rodar até o lugar certo, e Miami pontua no nível de um ataque Top8 da NBA. Quando vai pro banco? O ataque de Miami vira basicamente o ataque do Kings, segunda pior marca da NBA, com 96.6 pontos por 100 posses de bola anotado. Miami tem muitos outros problemas para resolver, mas começar a dar mais minutos para Olynyk pode ser um ponto de partida.


Milwaukee Bucks

A impressão é que esse é um assunto todo ano, mas um inevitável simplesmente porque Giannis Antetokounmpo continua evoluindo. O grego deu um salto de qualidade me 2016... depois outro em 2017, quando foi 2nd Team All NBA e ganhou o prêmio de MIP... e agora em 2018 parece ter dado mais um salto de qualidade que nos faz o quão bom Giannis - que tem apenas VINTE E DOIS ANOS de idade - vai realmente ser algum dia.

Esse ano Giannis simplesmente atingiu um novo nível, principalmente como pontuador. Se não tinha dúvidas de que Giannis já era uma superestrela, agora Antetokounmpo já está sendo discutindo entre os 10, talvez 5 melhores da NBA, e com razão. Giannis ainda não tem um bom arremesso, mas a verdade é que isso simplesmente não importa: ele consegue chegar até o aro quando quer graças a seus braços gigantes e seu controle do corpo, e quando Giannis consegue espaço ele é imparável: o grego tem média de 30 pontos por jogo em incríveis 56 FG% e está cavando faltas no melhor ritmo da carreira. Seus rebotes também estão no melhor nível da vida (10.2 por jogo), sua defesa continua excelente e destrutiva, e atualmente ninguém na liga inteira tem PER melhor que os 31.7 de Giannis.

E o Bucks ainda é extremamente dependente da sua grande estrela. Com Giannis em quadra, o Bucks tem basicamente uma defesa média e um ataque equivalente ao sexto melhor da NBA, o que da um Net Rating de +3.3 - marca que seria a sétima melhor da NBA. Mas quando Antetokounmpo senta, Milwaukee despenca para o terceiro pior ataque da NBA, a pior defesa da liga, e um Net Rating de -11.4. Apesar de todo o talento em Milwaukee, existe uma falta de padrão para ser bem usado,e  muito do que esse time ainda faz é confiar no talento descomunal de sua estrela para carregar o piano dos dois lados da quadra - e é um testamento para o quão bom Giannis já é o fato de que ele está conseguindo.


Minnesota Timberwolves

Para um time cujas peças não se encaixavam muito bem, que poderia ter problemas de espaçamento e muitos jogadores que seguram demais a bola e gostam de centralizar o jogo, Minnesota começou muito bem a temporada ado lado ofensivo da bola, tendo o quinto melhor ataque da liga rumo a uma campanha de 13-9 até aqui.

O mais engraçado é que Minnesota AINDA tem problemas de espaçamento e não arremessa bolas de três pontos - é o segundo time com menos bolas longas na temporada - e é abaixo da média em quesitos como % de assistências e passes por jogo, que são indicadores de jogo coletivo. Minny está basicamente tendo sucesso com a tática Toronto Raptors: diminua o ritmo de jogo, não sofra turnovers, aproveite cada posse de bola, consiga um monte de lances livres e aproveite o talento individual de suas estrelas ao máximo (e como bônus adicional também estão dominando os rebotes ofensivos, pegando 26% dos seus próprios erros, quarta melhor marca da liga).

Por um lado, é encorajador ver que Minny está conseguindo ter um excelente ataque mesmo com todos os problemas que se esperava que tivesse nessa adaptação, e da esperança para o que esse time virá a ser desse lado da quadra quado conseguir integrar todo seu talento. Por outro, precisam trabalhar agora até o final do ano para capitalizar em cima disso e continuar desenvolvendo um ataque mais fluido e diversificado, para não chegar em Abril e acontecer o que todo ano acontece com o ataque de Toronto nos playoffs.


New Orleans Pelicans

Uma das grandes perguntas que ficou na NBA ao final do ano passado dizia respeito ao Pelicans e sua dupla de estrelas, Davis e Cousins: é possível um time da NBA render em alto nível no basquete moderno com um time construído ao redor de dois jogadores de garrafão, nesse momento em que todo mundo está tentando jogar mais baixo e focando no perímetro. E até aqui, a resposta parece ser que sim.

No agregado, o Pelicans está 11-10 na temporada com Net Rating de -0.2 (17th no ano) - bem médio. Mas isso diz mais sobre a falta de talento e a montagem irregular desse elenco do que sobre a capacidade do time jogar com dois jogadores de garrafão. Na verdade, quando Davis e Cousins estão juntos em quadra, o Pelicans tem um Net Rating de +4.3, marca que colocaria New Orleans como o sexto melhor time da NBA. O principal problema é realmente quando Davis senta e Cousins comanda as lineups vindas do banco: -10.5 por 100 posses de ola quando Cousins joga sem Anthony Davis.

Esse sucesso com dois pivôs vem não só do enorme nível de talento de Cousins e Davis, mas sim pelo fato dos dois serem jogadores com características bastante modernas: Cousins evoluiu em um arremessador de três pontos respeitável, e Davis também tem boa eficiência no seu arremesso, ainda que ele ainda não se estenda tanto até a linha de 3, o que abre espaço em quadra. Ambos são muito bons batendo bola e podem fazer tanto o papel do ball handler como o do screener em um pick and roll, muitas vezes juntos (Cousins anota 0,9 PPP quando conduz um pick and roll, marca no 70th percentil dos jogadores da NBA), e são capazes de destruir qualquer defensor menor que acabe por defendê-los, o que impede trocas de marcação.

Isso tudo permitiu que a comissão técnica do Pelicans ficasse bastante criativa com a forma de usar seus jogadores. É muito comum ver o Pelicans usando jogadas normalmente desenhadas para liberar os armadores, vindo de corta-luz fora da bola por exemplo... só que New Orleans inverte essas jogadas e usa seus PIVÔS para receber essas jogadas, o que confunde totalmente a marcação e, quando bem executado, torna o time praticamente impossível de defender. Davis e Cousins tem as habilidades de perímetro para fazer funcionar e dar continuidade a essas jogadas; times não estão acostumados a defender essas jogadas com as pessoas que normalmente marcariam esses dois jogadores; e tanto Davis como Cousins vai punir qualquer troca de marcação. Não funciona sempre, mas quando funciona, é realmente muito legal de se ver - eu pessoalmente adoro esses times e jogadas que fogem do padrão que estamos acostumados, e nos mostram novas possibilidades.

New Orleans não tem talento e arremessadores suficientes no time para maximizar Davis e Cousins ainda, mas o time parece ter provado uma coisa: de que ambos podem funcionar jogando juntos. Com Cousins perto de se tornar agente livre, essa é uma informação preciosa para se ter e que pode definir o futuro da franquia.


New York Knicks

Todo mundo sabia que Kristaps Porzingis era bom, mas escondido atrás de Carmelo Anthony em um desastroso esquema era difícil saber exatamente o quanto.

Mas agora como indiscutível foco do time finalmente estamos conseguindo ver o letão atingindo seu potencial, e é glorioso. Porzingis está tendo média de quase 26 pontos por jogo com excelentes níveis de eficiência (46,7 FG%, 39,8 3PT%, 84,1 FT%) e sendo alvo frequente de marcações duplas e triplas. Sério, como você marca Porzingis? Ele tem excelente domínio de bola para um grandalhão e é mais do que capaz de colocar a bola no chão e dar um ou dois dribles para abrir espaço; ele é muito ágil e atlético, com um pouco de espaço para engatar a marcha ele consegue atingir o aro e finalizar com muita facilidade; seu jogo de costas para a cesta continua se desenvolvendo (Porzingis está com média de 1,06 PPP em jogadas de post up, no 78th percentil da NBA); e se nada disso der certo, ele pode simplesmente arremessar por cima de você. Porzingis tem 2m21 (7'4) com um excelente arremesso que se estende até a linha dos 3 pontos e tem um alto ponto de lançamento - nenhum jogador na NBA vai bloquear isso.

Porzingis está maturando em uma das maiores armas da NBA, um pivô e extremamente atlético alto capaz de proteger o aro (lidera a NBA pelo segundo ano seguido em aproveitamento dos adversários perto do aro) e ser uma força imparável no ataque, capaz de espaçar a quadra (39,8 3PT%), atacar a cesta, punir trocas e basicamente pontuar como quiser. Ele manteve praticamente sozinho o que deveria ser um péssimo time do Knicks vivo no Leste e sonhando com playoffs. O Knicks tem o Net Rating do quinto melhor time da NBA (+4.7) quando Porzingis está em quadra e do quinto pior (-6.6) quando ele está no banco. Tire Porzingis desse time e eles estão brigando pela primeira escolha do Draft. Com o letão, não é absurdo imaginar esse time jogando na pós-temporada quando Abril chegar.


Oklahoma City Thunder

O Thunder tem sido uma das maiores decepções do começo de ano, com uma campanha de 8-12 e três derrotas seguidas desde sua convincente vitória sobre Golden State. O novo Big Three de OKC não começou bem sua trajetória em Oklahoma.

No entanto, os números pintam uma história diferente. É há muito tempo conhecido que vitórias e derrotas não são a melhor maneira de se avaliar o nível de performance de um time. Uma melhor, por exemplo, é ver qual o saldo de pontos (ou o famoso Net Rating, saldo de pontos por 100 posses de bola) do time. Outra é avaliar o perfil das vitórias e derrotas - jogos decididos por menos posses de bola tendem a ser mais aleatórios e dizer menos sobre o nível de jogo dos times, enquanto vitórias ou derrotas por margens largas tendem a indicar uma diferença de nível maior.

Então a boa notícia é que esse dois fatores são bem favoráveis ao Thunder. Em 20 jogos, OKC tem um Net Rating +2,4, que seria a oitava melhor marca da NBA. Analisando o perfil de jogos do Thunder, isso fica ainda mais claro: das suas 12 derrotas, 10 delas foram por 8 pontos ou menos, e cinco delas por 4 pontos ou menos. Das 8 vitórias, nenhuma por menos de 9 pontos, e 7 delas por pelo menos 13 pontos. Em outras palavras, OKC está ganhando seus jogos por muito e perdendo por pouco - em teoria, ao longo do tempo a variância nas derrotas apertadas tende a nivelar, e esses jogos (especialmente os decididos por 4 pontos ou menos) tendem a ser quase 50% de vitórias. Esse perfil indica que OKC está jogando acima do nível do seu total de vitórias, e com o tempo isso deve melhorar.

(Javert me pediu para incluir essa observação: Vale citar que OKC teve a sexta tabela mais fácil da NBA e que seus números gerais de saldo de pontos estão distorcidos por causa de alguns massacres sobre os piores times da NBA, em especial o Bulls)

Também vale observar que, apesar do seu Big Three estar encontrando dificuldades para render como esperado junto, eles não estão de forma alguma mal: o Thunder tem um Net Rating de +4.7 quando suas três estrelas estão juntas em quadra, baixo para um Big Three com aspirações ao título, mas ainda um número muito sólido. É cedo demais para descartar esse time e esse nível de talento.


Orlando Magic

É muito bom ver Orlando - que durante tanto tempo permaneceu como um reduto do basquete arcaico, ao ponto de jogar com Aaron Gordon de SF durante grande parte de 2017 para acomodar Jeff Green e um exército de jogadores de garrafão - finalmente abraçando um basquete mais moderno, e mais importante, uma identidade.

Orlando chegou como uma das grandes surpresas do ano graças às suas bolas de três pontos, o que é incrível quando lembramos que em 2017 o Magic foi o quinto time com menos bolas de três pontos, e o time de segundo pior aproveitamento. E ainda assim esse ano - com Aaron Gordon jogando quase exclusivamente na posição 4 e mostrando um muito evoluído arremesso - Orlando é o terceiro time que mais fez cestas de três pontos no ano, atrás apenas de Houston e Golden State, e é o quarto time de melhor aproveitamento. O ataque, claro, reagiu de acordo: depois de ser o segundo pior da NBA em 2017, agora é um respeitável 12th lugar.

Parte dessa melhora vem da evolução individual de alguns jogadores: Aaron Gordon está chutando um career-high 5.3 bolas de três por jogo com aproveitamento (talvez insustentável) de 43%, enquanto o pivô Nikola Vucevic estendeu seu alcance nos arremessos para a linha de três, chutando sólidos 36% em 4 chutes por jogo. Essas melhoras podem não ser sustentáveis no médio prazo (ainda é difícil dizer), mas elas também estão ligadas a uma mudança de postura e esquema tático em Orlando. Os pivôs atrás de Vucevic estão praticamente todos afundados no banco, o time está jogando com muito mais velocidade (#6 na NBA) e é fácil ver uma mudança de postura dos jogadores no ataque, buscando sempre a opção da bola longa nos passes, e uma movimentação dos jogadores voltada para conseguir esses arremessos longos. Orlando enfim chegou no século 21, e pode ser o primeiro (e importante) passo rumo a estabelecer uma identidade que não existia sob o ex-GM Rob Hennigan.


Philadelphia 76ers

Philadelphia era para ser o time do futuro, mas - assim com aconteceu com Boston - parece que esse futuro está chegando muito mais cedo do que o antecipado. Em outras palavras, o futuro ainda é brilhante, mas está ficando claro que esse time já é muito bom nesse momento. Nos seus últimos 9 jogos, Philly está 6-3 com três vitórias por 20+ pontos, e as três únicas derrotas vindo nas mãos dos grandes favoritos Warriors e Cavaliers, mais o Boston Celtics (sem Embiid). Até aqui, Philadelphia enfrentou o calendário mais difícil de toda  NBA.

E parte desse sucesso de Philly vem da dominação da sua nova lineup titular. O Sixers finalmente colocou Ben Simmons como PG nominal da equipe e cercou ele e Embiid de arremessadores em JJ Redick, Robert Covington e Dario Saric (cuja bola de 3 está mostrando evolução esse ano) - em teoria a formação certa para maximizar seu fantástico calouro.

E essa lineup foi um ENORME sucesso. Philly tem destruído adversários nos 154 minutos que essa formação jogou junta: seu Net Rating de +20,6 não só lideraria a liga por quilômetros como é a terceira melhor lineup de TODA a NBA entre grupos que jogaram 100 minutos juntos. Ela é uma lineup impressionante que ao mesmo tempo é alta e baixa: ela tem três arremessadores (quatro se contar Embiid) e não tem um ala de força tradicional, jogando com seus alas bem abertos; e ao mesmo tempo tem QUATRO jogadores com 6'6 ou acima e todos capazes de trocar a marcação em jogadores menores. Ela consegue ao mesmo tempo te superar com velocidade e versatilidade como é capaz de te esmagar com tamanho e força física. Tem sido glorioso ver essa formação jogando junta (diga-se de passagens, as lineups com Ben Simmons e Embiid jogando juntos tem Net Rating de +9,9).

Vai ser interessante ver como Philly vai reintegrar Fultz à rotação quando voltar e como esse grupo continua evoluindo, mas por enquanto o Sixers parece ter encontrado sua melhor lineup, e ela deixa bem claro que Philly é um time para se respeitar já em 2018.



Phoenix Suns

Em meio ao que tem sido uma temporada ruim no Arizona, o crescimento de Devin Booker continua ser o principal foco de otimismo. Booker ainda tem apenas 21 anos, mas seu crescimento contínuo tem mostrado que o Suns realmente pode ter achado ouro com o ex-jogador de Kentucky.

A produção bruta de Booker não mudou muito em relação ao ano passado: 23 pontos e 4 assistências por jogo, contra 22 pontos e 3.4 assistências em virtualmente a mesma USG%. Mas olhando de perto, você percebe que seu PER saltou de 14.6 para 18.1, seus Win Shares por 48 minutos mais que dobraram (de 0.035 para 0.081) e que basicamente todas suas estatísticas avançadas indicam que Booker está sendo muito melhor esse ano. Por que isso acontece, então?

Porque se Booker não aumentou sua produção, ele aumentou grosseiramente sua eficiência. Seu True Shooting% saltou quase 40 pontos (de .531 para .568) e seu eFG% também (de .475 para .513). E isso acontece simplesmente porque Booker está melhor na hora de arremessar a bola (em termos de jump shot mesmo): ano passado, Booker converteu 36% das suas bolas de três e 38,7% das bolas de meia distância, enquanto esse ano esses números estão em 38% e 48%, respectivamente. Ajuda que Booker trocou alguns arremessos de meia distância (que hoje constituem 32% de seus arremessos, menos que os 36% do ano passado) por bolas de três (subiram de 28% para 35% esse ano) e se tornado mais seletivo de modo geral com os arremessos, trocando arremessos contestados por chutes com mais espaço (59% dos seus arremessos em 2017 era contestados, contra 51% em 2018).

Ainda tem pontos para Booker evoluir - seus arremessos no aro caíram em 2018, sua defesa ainda é fraca, e ainda depende demais das bolas de meia distância apesar da queda. Mas ele está jogando com mais vontade na defesa, sua capacidade como criador e passador continua melhorando, e o jogo parece que está vindo cada vez naturalmente para ele. Sinais encorajadores do jogador chave para o futuro dessa franquia.


Portland Trail Blazers

Alguém esperava o Blazers tendo uma grande defesa esse ano? Eu com certeza não, mas aqui estão eles com a segunda melhor defesa da temporada nesse começo de ano apesar do começo um pouco lento de Nurkic e ainda usar McCollum e Lillard como seus principais jogadores. Portland está cedendo 99,5 pontos por 100 posses de bola no ano. Isso é realmente muito bom.

Parte disso, já aviso, não vai se sustentar. Com a amostra pequena nessa altura do ano, muito da flutuação nessas estatísticas se da por coisas que o time tem pouco controle, como por exemplo quão bem o adversário vai arremessar suas bolas livres ou seus lances livres. Portland tem sido o terceiro time com mais "sorte" nas bolas de três pontos, por exemplo - uma hora essas bolas vão começar a cair por simples questão de variância, e a defesa vai cair de acordo (Blazers também enfrentou o calendário mais fácil da NBA inteira, vale citar).

Mas Portland está bem defensivamente também por outro motivo: está forçando os adversários a darem os arremessos que o Blazers quer. Ao invés de contestar todos os arremessos, Portland está focado em proteger o garrafão e se manter próximo dos arremessadores que estão atrás da linha dos três pontos, forçando os adversários a chutar daquela indesejável área de meia distância. Portland é o sétimo time que cede menos arremessos perto do aro, e NENHUM time é melhor evitando os arremessos de três pontos do que o Blazers. O time sabe exatamente o que quer fazer na defesa, qual o plano, e os jogadores estão executando como podem: recuar no pick and roll, não trazer ajuda de fora ou rotações longas, e forçar os adversários a vencer a partir do drible. É obviamente mais fácil fazer isso contra um calendário favorável, e essa defesa ainda deve ser testada contra adversários melhores, mas ter um plano bem definido e jogadores que sabem como executá-lo já é um bom começo.


Sacramento Kings

Nota: A exigência para essa coluna ser escrita foi de que não precisaria achar nada de positivo para falar sobre o Sacramento Kings. Agradecemos a compreensão.


San Antonio Spurs

Todo mundo continua esperando a volta de Kawhi Leonard - que enfim voltou a treinar em quadra! - para prestar mais atenção ao Spurs. E por causa disso a excelente temporada de LaMarcus Aldridge está passando despercebida, e injustamente.

Aldridge teve um começo difícil no Spurs e estava reconhecidamente infeliz ano passado em San Antonio, foi muito mal na pós-temporada, e parecia improvável que a parceria entre Aldridge e o Spurs continuasse por muito tempo. Mas Pop e Aldridge aproveitaram a offseason para lavar a roupa suja, e o Spurs deu ao seu ala de força um novo e caro contrato que chegou a levantar muitas sobrancelhas ao redor da liga.

Até aqui, parece ter sido o movimento certo, e Aldridge parece um jogador totalmente renovado. Parte disso ainda será testada, já que a ausência de Kawhi Leonard empurrou Aldridge de volta para ser o foco ofensivo da equipe (como ele queria), o que possivelmente não vai continuar quando Kawhi voltar de lesão. Mas nesses 21 jogos Aldridge vem tendo uma das melhores temporadas da carreira e parece cada centímetro daquele jogador que era tão cobiçado em Portland. Ele está abusando jogadores melhores no garrafão, e voltou a ter um maior percentual dos seus arremessos perto do aro. Seus arremessos continuam excelentes, mas agora Aldridge deu um passo a mais para trás e está arremessando mais bolas de três com um respeitável 36 3PT%. Está mais envolvido no ataque e respondendo isso com mais vontade, movimentação, melhores corta-luz, e simplesmente jogando no nível que San Antonio esperava desde o começo.

Junte tudo isso e Aldridge está arremessando mais bolas de três (e com melhor aproveitamento) do que nunca na carreira, batendo mais lances livres, tendo sua melhor marca de pontos por minuto (25 por 36 minutos), e defendendo em alto nível mais uma vez. E embora sua linha estatística estatística seja excelente - 23 pontos, 8 rebotes por jogo, com 52 FG%, 36 3PT%, 83 FT% - o maior testamento ao quão boa vem sendo sua temporada provavelmente é o quanto o Spurs depende dele. San Antonio, normalmente famoso por seus ótimos bancos e por não depender de um único jogador, simplesmente afunda quando Aldridge não está em quadra - nesses minutos o time é um -4.1 por 100 posses de Net Rating, mais do que o dobro do que o jogador mais próximo. Parte disso não vai se manter quando Kawhi voltar e retomarem a distribuição de arremessos, mas é muito encorajador para o Spurs a forma que Aldridge vem mostrando para começar essa temporada.


Toronto Raptors

Não é nenhuma novidade o Toronto Raptors ter um bom ataque na temporada regular da NBA. Eles tiveram o terceiro melhor ataque em 2015, o quinto em 2016, e sexto em 2017. Então Toronto ter o terceiro melhor ataque da liga até o momento não surpreende ninguém.

O problema do Raptors sempre foi que seu estilo ofensivo - baseado em cuidar bem das posses de bola para não cometer turnovers, arremessos de meia distância contestados, e muitos lances livres - chegava nos playoffs e simplesmente implodia: Toronto teve o segundo pior ataque dos playoffs em 2015, o terceiro pior em 2017, e o quinto pior em 2016. Nos playoffs, os lances livres não vem com tanta facilidade, os espaços para esses arremessos contestados de meia distância fica ainda menor, e fica muito difícil conseguir achar os mesmos pontos que na temporada regular sem conseguir aquelas bolas suculentas em transição, sem o espaçamento e pontos extras gerados pelas bolas de três pontos, e sem o tipo de criatividade e versatilidade que torna um ataque mais difícil de ser defendido.

Por esse motivo Toronto entrou em 2017/18 com o objetivo de mudar sua forma de jogar no ataque para que isso não se repetisse quando chegasse nos playoffs. E, até aqui, os primeiros resultados são positivos: estão jogando num ritmo mais rápido (de 22nd para 14th em pace) e arremessando muito mais bolas de três (37,7% de seus arremessos vem de trás da linha dos três pontos, contra 28% ano passado) esse ano. Estão rodando mais a bola (16th em passes por jogo depois de terminarem 27th ano passado) e buscando mais os passes para os companheiros livres

Isso ainda não está tão natural para o Raptors - Javert escreveu semana passada sobre como Toronto ainda está revertendo para seus velhos hábitos nos finais de jogos, o que levanta questionamentos sobre o quão sustentável isso será em uma situação mais difícil como pós temporada. Mas por enquanto é encorajador ver que Toronto está se esforçando para caminhar na direção de tentar algo novo e diferente, e os primeiros resultados tem sido positivos.


Utah Jazz

É sempre um erro querer avaliar jogadores jovens (em especial calouros) depois de apenas 20 jogos. Muitos grandes jogadores tiveram começos ruins, e jogadores ruins tiveram começos ótimos. Então leve tudo nesse sentido com um grão de sal. Mas olha, parece cada vez mais que o Jazz achou ouro em Donavan Mitchell nesse Draft.

Mitchell nem deveria ser do Jazz - a escolha #13 veio em uma troca com o Nuggets, que estupidamente trocou essa escolha por um ala de força mediano (Trey Lyles) e a escolha #24, na qual escolheram outro ala de força mediano (Tyler Lydon), sendo que ala de força já é a opção mais atulhada do time. As vezes você precisa dar sorte com essas coisas, e o Jazz deu com essa sequela maluca de Denver.

E Mitchell tem sido uma revelação. Seu tempo de jogo acabou aumentando com as lesões de Rodney Hood e Dante Exum perdendo a temporada, mas o ex-armador de Louisville correspondeu mais do que à altura. Até aqui são 15 pontos, 3 rebotes e 3 assistências por jogo com boa defesa e 35,6 3PT%, e os números são ainda melhores considerando os 11 jogos desde que Mitchell recuperou a titularidade no time: 18-4-4, 43,6 FG%, 39 3PT%, 78 FT%. Mitchell está mostrando ser capaz de fazer um pouco de tudo (e bem) em quadra, seja armar um pouco o jogo, seja buscar seus próprios pontos, arremessar de fora, ou usar sua explosão e habilidade atlética para atacar o aro. Mitchell defende em alto nível, está desenvolvendo um jogo ofensivo cada vez mais refinado, e desenvolvendo rapidamente. E cada vez mais está parecendo um dos grandes acertos desse Draft.

O calouro, claro, ainda tem chão. Sua seleção de arremessos pode ser questionável, e ficar focado demais em arremessar e esquecer de passar a bola. Ainda não está claro se Mitchell tem a visão e capacidade nos passes para ser um armador principal, ou se seu tamanho vai permitir que defenda jogadores da posição 2 com facilidade (pense nos tipos DeMar DeRozan). Mas ele é talentoso, muito atlético e explosivo, e está se desenvolvendo a uma velocidade impressionante. Sua defesa já é refinada, e sua capacidade de fazer arremessos difíceis também. Tem certas coisas que não se pode ensinar, e Mitchell mostra muita delas - e uma vontade singular em aprender as demais. Desse time de Utah, ele é quem tem mais chances de se tornar uma estrela algum dia (além, claro, de Rudy Gobert, que já o é), e talvez essa não seja uma aposta tão improvável assim.

Mitchell também precisa aprender melhor a respeitar as leis. Como por exemplo a lei da gravidade.





Washington Wizards

Como um time sem acesso a boas escolhas de Draft ou espaço salarial e que ainda não está no nível dos candidatos ao título, Washington é o tipo de franquia que para dar os próximos passos depende muito do desenvolvimento interno dos seus jogadores. Ao invés de achar novos grandes jogadores, precisa acertar nas margens essa contratação (e principalmente reforçar o banco) enquanto os bons jogadores que já estão lá dão novos passos rumo a se tornarem estrelas (ou próximo disso).

E por isso é tão importante a contínua evolução de Otto Porter para esse time. Depois do milionário contrato que recebeu na offseason algumas pessoas esperavam que Porter caísse um pouco de produção, mas na verdade o contrário aconteceu: com Markieff Morris machucado durante um bom tempo e as lesões que tem mantido John Wall fora das quadras, Washington precisou que Porter assumisse um maior papel na equipe, e o quinto-anista está aceitando a incumbência e correspondendo mais do que à altura.

Porter viu sua carga subir para novos níveis - seu USG% está em 18,3% e sua média de arremessos por jogo em 12,1, ambos as marcas mais altas da sua carreira - mas de alguma forma sua eficiência conseguiu aumentar ainda mais. Apesar do maior volume e de estar tentando arremessos cada vez mais difíceis, Porter está arremessando 52,1% de quadra e 47,5% de três pontos, as melhores marcas da carreira. E seja por necessidade ou evolução natural, o role player Porter agora está assumindo a responsabilidade e sendo o protagonista quando necessário, como fez na vitória sobre o Wolves na terça feira dia 28. Porter está mais confortável criando o próprio arremesso, não apenas finalizando o que era criado por outros (em geral Wall), e isso tem sido ingrediente crucial para manter o Wizards vivo com o tempo perdido pela sua estrela. Apenas Wall tem um Net Rating maior que Porter entre os jogadores de rotação do Wizards, e a defesa despenca quando Porter vai para o banco. Entre a evolução de Porter e a de Bradley Beal (mais confortável do que nunca armando o jogo e atacando a cesta) Washington está vendo a tão esperada evolução de seus jovens jogadores acontecendo.