Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A reconstrução que não acaba nunca

Os problemas atuais do Wolves começaram com esse magrelo ai

No Draft da NBA de 1995, o Minnesota Timberwolves tinha a quinta escolha da noite. Quem foi escolhido naquela noite em primeiro lugar foi Joe Smith, hoje no Lakers e que nunca fez nada pra justificar essa escolha alta, mas que pelo menos não pagou mico como outras primeiras escolhas. E embora o Wolves não tivesse uma das três primeiras escolhas do draft, apostou na sua escolha e saiu de lá com o melhor jogador do Draft. Digo que apostou porque draftou um moleque magrelo vindo direto do High School, a primeira vez que um jogador do High School era draftado direito em vinte anos, desde Darryl Dawkins e Bill Willoughby em 1975. Seu nome era Kevin Garnett, vindo de uma High School em Chicago. De certa forma essa escolha começou uma tendência na época de draftar jogadores diretos do High School, e nos anos seguintes vimos jogadores como Kobe Bryant, Tracy McGrady, Jermaine O'Neal, Lebron James, Amare Stoudamire e Dwight Howard serem draftados direto de lá, jogadores que fizeram muito sucesso na Liga. Mas tinha o reverso da moeda: muitas vezes jogadores que muita gente via destruir nos torneios da High School pulavam direto pra NBA via draft, mas quando chegavam lá se mostravam muito crus, imaturos e não rendiam, é muito mais fácil você dominar o basquete em nível colegial só com força física do que o College ou a NBA. Quem já viu algum vídeo de jogadores como Vince Carter, Dwight Howard, Lebron James ou Amare Stoudamire no colegial sabe do que eu tou falando, e quem não viu deve correr direto pro youtube (Ou pra esse post genial do Bola Presa) pra entender. Talvez o exemplo mais famoso desses grandes astros do High School que nunca deram certo na NBA foi o primeiro deles a ser a primeira escolha do draft, Kwame Brown,  que sempre agüentou a humilhação a vida toda de ter tido essa honra mesmo sendo muito ruim.

Mas o Wolves começou essa moda draftando o Garnett, e ele chegou na Liga sem físico e um pouco cru demais pra jogar na NBA. Mas o Wolves teve paciência, cuidou do moleque, e se preocupou em desenvolver o garoto, física e tecnicamente. O Garnett evoluiu muito, virou uma estrela e o time começou a chegar regularmente aos playoffs. Mas o problema era que o time era muito ruim e, mesmo tendo no time um dos melhores alas de força de todos os tempos, não conseguia passar da primeira fase dos playoffs. Era o Garnett levando o time nas costas, dando show, mas o time mostrando suas limitações (claríssimas) quando chegava na parte mais pesada da temporada. Até que em 2004 o Wolves finalmente trouxe ajuda pro Garnett: Trouxe Latrell Sprewell (que quase enforcou o técnico PJ Carlesimo num treino certa vez) e o alien Sam Cassell, dois jogadores que eram capazes de pontuar regularmente e foi o único elenco de apoio decente que o Garnett teve em Minneapolis. O resultado foi que o time teve a melhor campanha no Oeste, Garnett foi MVP, o Wolves chegou na Final de Conferência e só perdeu no jogo 6 pro Lakers de Kobe, Shaq, Karl Malone e Gary Payton porque o Kareem Rush deu pra acertar bola de três atrás de bola de três naquela partida. Mas depois dessa excelente campanha, se preparando pra outra, o Wolves teve a brilhante idéia de trocar o Sam Cassell pelo Marko Jaric, e ai o time voltou a ser uma desgraça.

O problema foi que o Wolves caiu numa situação horrível na NBA. Era um time medíocre, incapaz de ganhar nada, mas que tinha um tremendo jogador que era capaz de ganhar jogos sozinhos, segurar as pontas e dar ao time uma campanha decente mesmo que não fosse capaz de sonhar com nada maior. O problema é que o time é ruim demais pra brigar por qualquer coisa mas não é tão ruim pra conseguir boas escolhas no draft (E quando conseguia o Wolves fazia besteira, tipo trocar o Brandon Roy em 2006) e mesmo quando o time começou a virar uma piada de mau gosto, tinha o Garnett lá, leal à franquia, desperdiçando seus melhores anos num time onde não ia ganhar nada. Por isso, adorei quando o Wolves, em 2007, trocou o Garnett pro Boston Celtics. Era a hora de recomeçar, jogar tudo no lixo e aceitar que a melhor saída pro time era trocar o seu melhor jogador, receber vários pirralhos e escolhas de draft, montar um time jovem e talentoso, deixar a pirralhada evoluir e ai voltar a competir. Tem que ter culhões pra fazer isso, muitas vezes a decisão foi criticada, mas eu achei acertada. Em troca de KG, o Wolves recebeu  as jovens promessas Al Jefferson, que tinha potencial pra ser uma grande estrela, Gerald Green, Sebastian Telfair, Ryan Gomes, o vovô Theo Ratliff e duas escolhas de primeira rodada. Com os jogadores que já tinham no elenco, como Randy Foye (trocado por Roy lá atrás) e as escolhas no draft, como Corey Brewer, o Wolves montou o time mais jovem da Liga que, apesar de um record muito fraco, mostrou potencial e parecia ter tudo pra evoluir num bom time, com vários candidatos a estrelas quando crescessem um pouco. E o Wolves se comprometeu com esse plano.

Depois de uma temporada de 2008 perdida quando o craque do time, Jefferson, rompeu o ligamento do joelho e perdeu metade da temporada, o time investiu pra 2009 novamente com a idéia de desenvolver a molecada na cabeça: Trouxe um técnico novo, Kurt Rambis, um técnico que era familiarizado com o esquema de triângulos, a famosa tática usada pelo Phil Jackson nos seus onze títulos em Chicago e LA, trocou jogadores do elenco pra acumular escolhas de primeira rodada pro draft de 2009 (Eram quatro) e deixou como plano colocar os moleques em quadra pra aprenderem na marra. Mas o negocio começou a dar errado quando, no draft, o Wolves novamente mostrou seu talento pra ser ruim: Dratou, com suas quatro escolhas de primeira rodada, três armadores puros e um shooting guard! Draftou a promessa espanhola Ricky Rubio, Jonny Flynn, Ty Lawson e Wayne Ellington, e trocou Lawson pro Nuggets. Pra piorar, Rubio preferiu não vir pra NBA ainda e passar mais dois anos na Espanha, deixando assim o Wolves sem o jogador que tinha sido draftado pra ser o líder da franquia e ficando só com o Flynn de armador vindo do draft. O que chega a ser bizarro, visto a enorme variedade de armadores bons disponíveis, o fato do Wolves, que tinha a quinta e a sexta escolha do draft, ter ficado com talvez o pior armador da primeira rodada, escolhido na frente de jogadores como Darren Collison, Stephen Curry, Brandon Jennings e até mesmo o próprio Lawson, que foi destruir todo mundo no Denver.

Os problemas não pararam por ai: O Rambis, embora soubesse o esquema de triângulos bem, nunca foi capaz de fazer ninguém entendê-lo por lá, os jogadores jovens do time demoraram muito pra evoluir, a vontade doentia do GM David Kahn de ter dois armadores em quadra o levou a dar um contrato enorme pro Ramon Sessions, e o time ainda não conseguiu encontrar uma maneira de usar eficientemente tanto o Al Jefferson como o talentoso Kevin Love em quadra ao mesmo tempo, fazendo eles comerem minutos um do outro e não deixando os dois crescerem juntos em paz. O Jefferson, alias, trouxe um novo problema pro Wolves. Virou bom demais rápido demais, um jogador capaz de participar de um candidato ao titulo, jogando num time que ainda tinha como plano ser ruim, ter boas escolhas no draft e deixar a molecada crescer. Ele se tornou um empecilho pra essa renovação, que alias deu errado desde o começo. Ninguém se entendia, o plano dos triângulos foi abandonado antes que alguém pudesse dizer 'Kevin Garnett', o Jefferson estava fora de lugar naquele time e a rotação era mais confusa do que a do Knicks.

Qual foi a saída pro Wolves? Jogar tudo no lixo de novo. Mandou o Jefferson pra um time bom que iria brigar por algo maior, ou seja, mandou o Jefferson pro Jazz em troca de bolachas recheadas, depois mandou o Ramon Sessions pro Cavaliers em troca do Sebastian Telfair (Bem vindo de volta!) e do Delonte West, que foi dispensado, entregou o time nas mãos da molecada e aceitou ser uma desgraça de novo enquanto acumulava mais escolhas altas no draft e esperava o Rubio vir da Europa. O Kahn também convenceu o Darko Milicic a não ir pra Europa pra ficar no time. Milicic é um eterno draft bust, escolhido na frente de Dwyane Wade, Carmelo Anthony e Chris Bosh no draft de 2003, e que sempre sofreu demais com a pressão vindo dessa escolha, mas é um jogador talentoso e que pode contribuir pra um time se for deixado em paz. O time também draftou o ala Wesley Johnson e, mais importante, se aproveitou da megalomania do Miami Heat e seu Big Three pra trazer o ex-segunda escolha do draft (Pro Milicic não se sentir sozinho) Michael Beasley. E, enfim, colocou o Love de titular.

O plano continuava claro: Ser ruim, não ter vergonha disso, colocar todos os garotos pra jogar e aprenderem na marra enquanto esperava as quinhentas escolhas futuras de primeira rodada que eles acumularam virarem alguma coisa junto das provavelmente altas escolhas do próprio Wolves. Dentro desse plano trocar Jefferson e Sessions até fazia sentido, embora eu não concordasse com o segundo: O Sessions não é um craque, mas é um bom armador, muito jovem ainda, sabe infiltrar, distribui bem o jogo e é inteligente, não faz o que não sabe, e que tem potencial pra ser muito bom. Seria um ótimo jogador pra cobrir o buraco que o Flynn deixou quando perdeu o começo da temporada pra fazer uma cirurgia, mas esse buraco acabou ficando pro Luke Ridnour. Pra piorar, trocaram o Sessions por nada de útil pro time, até porque o West foi mandado embora. Mas o Kahn sempre fez as coisas do jeito dele e montou um time que era a piada da Liga antes da temporada começar. Refugos como Milicic e Beasley e uma castanhada de garotos com potencial mas que ainda são jovens demais na Liga.

Portanto, não é surpresa quando olhamos pra tabela e vemos o Wolves com a segunda pior campanha do Oeste e a terceira pior de toda a NBA. O time soma 10 vitórias e 33 derrotas atualmente, e enfrentar o Wolves sempre é um bom sinal, geralmente indicando uma vitória. Mas quando a gente olha de perto, nem tudo está ruim para o Wolves. Claro que isso acontece, em parte, porque perder, ser ruim e ter boas escolhas no draft faz parte do plano do time, e portanto o Kahn  pode se orgulhar dessa parte estar indo de acordo com o plano. Mas o Wolves ta mostrando uma evolução que acho que nem eles mesmos esperavam antes da temporada.

Em primeiro lugar, claro, a gente repara no Kevin Love. De longe ele é o jogador do Wolves que mais chama a atenção. Quem viu ele jogar antes, mesmo com o Jefferson do lado, viu que ele um bom jogador: bom reboteiro, bom arremessador e muito inteligente. Mas agora a gente vê a verdade: Ele é ainda melhor! É um reboteiro impressionante, lidera a Liga com 15.6 rebotes por jogo (2,5 rebotes por jogo a mais que o Dwight em segundo), mas também se destaca muito no ataque: É um jogador completo, sabe jogar de costas pra cesta, consegue atacar a cesta com alguma regularidade, mas alem disso ele arremessa muito bem de todos os pontos da quadra, é excelente arremessando de três pontos e faz isso com muita naturalidade (Tem media de 44% em arremessos de três!). Não a toa, ele já teve mais jogos de 20 pontos e 20 rebotes do que todo o resto da Liga junto, inclusive um jogo de 31 pontos e 31 rebotes, o primeiro jogo de 30 rebotes desde Charles Barkley e o primeiro jogo de 30-30 desde Moses Malone! Alem disso, é um jogador muito inteligente com a bola, sabe passar bem, e sabe rodar bem a bola em campo. Não bastasse, ainda tem a maior seqüência ativa da NBA, com 29 double doubles consecutivos, e contando. Já é um jogador de destaque na Liga, tem tudo pra ganhar o premio de jogador que mais evoluiu e é um jogador que já chama a atenção de toda a Liga.

Depois o time viu os refugos jogarem muito bem. Darko Milicic, que ficou em Minneapolis com a promessa de ter um papel limitado em quadra, ou seja, defensivo, o que ele sabe fazer bem, está tendo talvez a melhor temporada da sua carreira, livre das pressões que o assolaram por toda a carreira, agora que ele joga num time que todo mundo fica surpreso é se ganhar e fizer algo certo. Não está sensacional, não como uma segunda escolha, mas ta tendo as melhores medias da carreira em pontos (9.4) e quarta melhor em rebotes (5.4), o que é bom quando a gente lembra que ele joga ao lado do Kevin Love, que pega todos os rebotes que aparecerem no jogo, até quando está no banco de reservas.  Mas mais que isso, Milicic está tendo a melhor marca da sua carreira em tocos, 2.4 por jogo, terceira melhor marca da NFL à frente de jogadores como Stoudamire e Dwight Howard, e atrás somente de JaVale McGee e Andrew Bogut, dois jogadores que jogam muito mais tempo por partida que o Milicic, que alias tem a melhor media de tocos por minuto da Liga. Tem se entendido bem também com o Ridnour, em uma variedade de cortes, pick and rolls e passes rápidos, dando mais opções ao time. E o Beasley finalmente deslanchou pra ser o pontuador que todo mundo esperava e tem a chance de reviver sua carreira. Em Miami ele nunca foi um grande jogador, diziam que ele não era muito motivado porque não tinha tantas oportunidades ofensivas com o Wade recebendo atenção por lá e ficava mofando no banco porque não defendia nada no esquema ultra defensivo daquele Heat. Mas no Wolves ele tem jogadas desenhadas pra ele e farol verde pra arremessar. Com isso ele subiu a sua media de pontos de 14.8 pra 20.6, melhorou seu aproveitamento nos arremessos e uma melhora assustadora nas bolas de três pontos (27% pra 43%), alem de ser um jogador que tem chamado o jogo quando precisa, inclusive nos momentos decisivos. Também está tendo um numero bom de rebotes pra quem joga ao lado do Love, 5.7. Tudo bem, ainda não defende muita coisa e as vezes é um pouco fominha, tem que ter os toques na bola controlados, mas já está tendo um papel muito mais participativo em quadra e é um jogador que começa a lembrar as previsões que faziam pra ele antes do draft. Ah, ele também finalmente está jogando de ala, não de ala de força como acontecia no Heat, e pra mim a ala é onde ele rende mais, pode usar seu bom jogo de meia distancia e tem mais espaço pra infiltrar na trombada.

O Wolves é um time bom? Claro que não. O time não tem nada que lembre vagamente um banco de reservas (Só tem o Corey Brewer no banco, e olhe lá) e o time ainda não faz nada no ataque que faça a gente pensar num esquema de triângulos, parece mais umas elipses tortas, o que parece que o plano de usar o esquema do Lakers por lá vai por água abaixo. Mas o time tem rendido mais na velocidade, tem aproveitado melhor seus jogadores e assim os jogadores tem mais espaço pra jogar o que sabem. Se a idéia é deixar eles aprenderem na marra, talvez seja até melhor assim. Agora o Kahn vai sonhar com o Rubio vindo da Europa em 2012, mas ninguém sabe como vai ser o moleque na NBA, é uma aposta e que pode dar muito certo e muito errado. O time também ainda tem jogadores muito  instáveis como o próprio Wes Johnson, que num jogo enterra na cabeça de todo mundo e manda muito e no outro parece que desaparece em quadra. Mas o Wolves, pela primeira vez em muito tempo, parece realmente estar levando a sério sua reconstrução. Está vendo seus jogadores jovens desenvolvendo seu jogo, aparecendo e ganhando espaço na Liga. Está deixando esses jogadores em quadra, tem um jogador que tem tudo pra evoluir numa grande estrela (Love), jogadores que podem evoluir nos bons coadjuvantes (Beasley, Johnson) e até uma aposta pra liderar o time que, se der certo, pode colocar ordem num time ainda bagunçado e com um técnico fraco (Rubio).

O processo só não pode parar por aqui, tem que continuar aceitando a derrota, torcer pros jogadores aceitarem o plano e não começarem a querer sair logo do time pra algum time que briga por algo vencedor como foi com o Jefferson, continuar draftado (de preferência draftando bem!) e dando minutos pros jogadores jovens poderem crescer na marra. Quando a molecada amadurecer, evoluir seu jogo e estiver pronta pra jogar a sério e competir em alto nível, o time tem que começar a correr atrás de jogadores experientes que possam cobrir os buracos e fazer a parte suja do jogo, como por exemplo o James Posey fazia naquele Boston campeão de 2008, entrando pra marcar o Kobe nos momentos importantes do jogo. Esse, pelo menos, deve ser o projeto do Wolves a médio prazo. Se fosse fácil, todo mundo já teria feito , é claro. Não é fácil, exige paciência e culhões pra aceitar ser essa desgraça enquanto monta um time que só vai ganhar em alguns anos, e o Wolves já tentou isso duas vezes nos últimos três anos sem dar resultado até agora. Mas, se o Love continuar evoluindo o jogo como está, ele pode ser o pilar de uma Franquia, melhor do que o Jefferson poderia ser. E todas as grandes franquias atuais gravitam em torno de jogadores assim, que estão no time desde o começo - Dirk Nowitzky, Dwyane Wade, Paul Pierce, Tim Duncan, Kobe, Derrick Rose. O medo do Wolves é só que o Love resolva, antes deles estarem prontos, que quer sair de uma franquia que ainda vai demorar um pouco pra brigar por algo de verdade pra uma que já tem essa condição. Se o Love tiver a paciência que o Wolves vem tendo, talvez a gente possa ver esse time do Wolves de volta aos playoffs em alguns anos. E, quem sabe, com essa reconstrução finalmente
terminada.

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