Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Jogo dos mil erros

Derrick Rose tenta morder o queixo do Joakim Noah


Ao longo das finais do Leste, também no jogo vencido pelo Bulls mas principalmente nos vencidos pelo Miami Heat, alguma coisa estava me incomodando. Eu não sabia explicar exatamente, mas alguma coisa na forma como os times estavam jogando estava me deixando inquieto, como se o jogo estivesse sendo desagradável. Até que nesse jogo quatro, essa coisa que tanto me incomodava foi totalmente escancarada por ambos os times, e a única forma como eu consigo descrever isso é usando a expressão que meu amigo uma vez usou: Um jogo dos mil erros.

Não, é sério, o jogo consistiu basicamente em erros, de ambos os lados. A gente comentou, quando a série começou, que essa série provavalmente seria uma série de placares baixos, com defesas superando os ataques, onde os turnovers iam gerar contra ataque e pontos fáceis que os times iriam querer evitar e portanto deveriam jogar um basquete mais lento e de meia quadra. O problema é que nenhum desses dois times joga um basquete eficiente de meia quadra, o que gera rebotes, turnovers e contra ataques, vindo dos erros dos mais variados, principalmente turnovers e posses de bola... digamos... deficientes. Esse jogo quatro elevou isso a um novo nível, porque o momento do jogo foi controlado por quem estava sendo capaz de aproveitar isso pra transformar em mais posses de bola e principalmente contra ataques.

Claro que a gente não pode falar que esse show de erros foi porque os times são ruins, estão jogando mal, etc. Tanto o Heat como o Bulls tem uma defesa fortíssima que tem feito um bom trabalho evitando as principais armas do seu adversário, o que faz com que nenhum dos dois consiga jogar confortavelmente um basquete de meia quadra e force turnovers, principalmente o Miami Heat. O Heat escancarou totalmente o maior defeito do Bulls, que é a falta de ter algum jogador pra segurar a bola além do Derrick Rose (Piorado pelo fato do Rose ser ainda mais um pontuador do que um ball handler) e tem colocado dois e até três jogadores em cima do Rose pra forçar o MVP a soltar a bola e aí eles aproveitam da falta de um jogador pra ficar com ela pra gerar turnovers e impedir que o Rose receba de volta. As vezes o Rose simplesmente tenta passar por cima da marcação, as vezes funciona, as vezes gera turnovers custosos pros contra ataques. O Bulls até teve algum sucesso fazendo o Rose jogar sem a bola e recebendo para finalizar, mas no geral isso rendeu turnovers e posses de bola disperdiçadas com arremessos forçados, o que impediu que o Bulls estabelecesse seu jogo.

Do outro lado, o Bulls também fez um ótimo trabalho mantendo o Heat fora do garrafão. Foram apenas 24 pontos na área pintada para o time de Miami (sem contar, claro, os trocentos lances livres), fazendo o que o Sixers e o Celtics foram incapazes de fazer. O Miami joga muito bem quando seus três craques ficam se movimentando em direção à cesta, mas o Bulls conseguiu evitar que eles fizessem isso o jogo todo, ou pelo menos sem tomar uma castanhada.

Essa situação criadas pelas fortes defesas forçou os ataques a não conseguirem pontuar e com isso o jogo passou a ser dominado por quem dominou o contra aataque. Foram 26 pontos de contra ataque para o Bulls e 15 para o Heat, mas se contassem os trocentos lances livres que os contra ataques geraram, esses números iam aumentar bastante. No começo do jogo, quando o Bulls aproveitou os erros do Heat pra correr com a bola, ele abriu vantagem. Quando o Bulls parou de correr, foi a vez do Heat abrir o placar. Chegou numa hora no terceiro periodo quando o Heat tava aproveitando o ataque de meia quadra mal executado do Bulls pra correr e fazer a cesta. Quando o jogo parou e o Heat que teve que executar o ataque de meia quadra, foi o Bulls que aproveitou de um turnover e dois rebotes longos pra voltar ao jogo. Em resumo, o jogo quatro praticamente todo - bem como vários momentos chave ao longo da série - foi decidido por quem errou menos e soube aproveitar melhor os erros do adversário pra furar as defesas.

E foi isso que decidiu o jogo também nos seus instantes finais. Com o placar empatado em 85, o Bulls tinha a bola e tinha tempo para dar um arremesso, esperar a jogada do Heat e ainda ter a bola final nas mãos. Mas o Bulls só tinha um tempo pra pedir quando teve a sua primeira chance, e por isso não teve como o téncico passar instruções para o time nem colocar o Kyle Korver (Argh!) em quadra pra um eventual pick and pop. O Bulls, pra essa jogada tão importante, escolheu isolar o Derrick Rose na cabeça do garrafão marcado pelo Lebron James, o que resultou num arremesso longe da cesta e que deveria ter sido por cima de um jogador bem mais alto. Não preciso falar que deu errado. Mas depois que o Lebron fez outra jogada tosca e cometeu uma falta de ataque desnecessária (e questionável), o Bulls pediu seu tempo e teve tempo suficiente pra montar uma jogada para os segundos finais. Mas nessa jogada tão decisiva, depois do tempo, o Bulls voltou com... uma isolação para o Derrick Rose na cabeça do garrafão, claro!! Que também acabou num arremesso longo e forçado que não entrou. O Bulls teve duas vezes a chance de vencer o jogo e ao invés de executar alguma jogada para facilitar a cesta, preferiu isolar o Rose marcado pelo Lebron para dois arremessos idiotas. Se alguma dessas bolas entra - principalmente a segunda - ia significar a vitória, mas qual a chance do Rose acertar esses arremessos por cima de alguém tão mais alto e bom defensor?

Na prorrogação, a história se repetiu. O Heat usou Lebron, Chris Bosh e o Dwyane Wade, que ressurgiu das cinzas depois de um jogo apagadíssimo, pra variar as jogadas, rodar a bola e conseguir boas cestas (algumas forçadas, ok). Quando foi a vez do Bulls ir pro ataque, era o Rose com a bola na mão o tempo todo, passes errados, turnovers em infiltrações, arremessos forçados que acabaram bloqueados (Só o Wade teve dois tocos na prorrogação) ou cedendo rebotes longos, e até um passe do Luol Deng ao repor a bola em jogo que foi patético, a bola saiu sem passar perto de ninguém, e o Heat aproveitou tudo isso pra responder com contra ataques que terminavam em pontos fáceis, sem precisar passar pela forte defesa de Chicago. Esses erros entregaram o jogo nas mãos do Heat, porque se é dificílimo até pra Miami pontuar contra a defesa de Chicago, esses pontos de transição aconteceram facilmente, sem ninguém pra fechar o caminho até a cesta.

Claro que o Heat não ganhou só porque o Bulls errou. A gente tem que destacar a energia (da qual já falamos antes) do Udonis Haslem, do Wade entrando na prorrogação pra acertar tudo e definir o jogo pro Heat e principalmente da ótima partida do Mike Miller, que finalmente justificou o fato de Miami ter destruido sua folha salarial pra contratar o ala-armador, além da ótima defesa da qual já falamos que manteve o Rose desconfortável, longe do garrafão e explorou os pontos fracos do Bulls. Mas o Bulls também teve seus acertos, conseguiu bons pontos, fez uma boa defesa e soube, em alguns momentos do jogo, aproveitar os erros do Miami Heat com bons contra ataques. O Bulls teve a chance de ganhar os jogos, mas deixou escapar tanto pelos méritos do Heat como por tropeçar nas próprias pernas com o excesso de turnovers nas horas erradas. Dos dois, esse segundo é mais dolorido porque o Heat é bom, tem craques e vai achar um jeito de jogar bem, mas os erros - ainda que muitas vezes consequencia da forte defesa e bom plano de jogo do Heat - são evitáveis, algo que sai das suas próprias mãos (literalmente). O Heat comete turnovers, erros bestas e as vezes bate cabeça, mas na hora que conta eles sabem o que fazer, mesmo se eles errarem. O Bulls ainda parece as vezes confuso, e aí a falta de ter o que fazer não resulta só num erro, resulta num contra ataque pro adversário. Um turnover não é custoso (principalmente contra Wade e Lebron) só porque você perde a posse de bola, e sim porque voce oferece ao adversário uma chance de fazer pontos fáceis na transição. Foi aí que o Bulls perdeu o jogo (e a série até aqui) e foi isso que o Heat soube tão bem aproveitar.

Apesar disso, a série ainda não acabou. O Bulls tem o MVP da temporada, tem uma boa defesa e joga em casa. Se ganhar o jogo cinco em casa, vai jogar a vida contra o Heat em Miami no jogo seis, porque se vencer, aí teremos um jogo 7 numa situação totalmente tensa, onde ninguém é favorito. Mas pra isso, precisam fazer o que ninguém fez até aqui, ganhar do Heat em Miami. Mas mesmo assim, ainda precisam ganhar o jogo cinco em casa. E pra isso, precisam parar com esses erros bestas. E caso perca mesmo, pelo amor de Deus, que alguém vá no mesmo instante até Denver para oferecer uma escolha de primeira rodada e mais algum restolho do elenco pelo Aaron Afflalo!!

Um comentário:

  1. Prefiro muito séries assim do q no estilo Don Nelson/Mike D'Antoni...mas tava claro que o Heat ia ganhar se nada mudasse, e não mudou.

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