Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

O melhor alemão da NBA

Não deveria existir um troféu com essa postura de arremesso em bronze?

Depois de onze jogos de pós-temporada até aqui, sendo nove vitórias e muitas, muitas cestas vindo de arremessos tortos, com uma perna só e caindo pra trás enquanto alguém ta tentando impedir, a gente pode dizer com segurança: Dirk Nowitzki é um bom jogador. Existem todo tipo de críticas, de gente que acha tal jogador melhor ou pior, de que ele ta velho, mas não da pra ignorar tudo que ele tem feito nessa pós temporada. O Dallas Mavericks ganhou seus últimos sete jogos, sendo quatro contra o Lakers com direito a uma lavada histórica, e tem sido o time mais consistente e com melhor basquete de toda a pós temporada até aqui.

 E eu pergunto, lembrando dos anos que o Lebron James penou no Cavaliers em busca de um título (sem sucesso) e todo mundo (inclusive eu, não tiro o valor desse argumento) disse que o resto do elenco não tinha nenhum jogador de nível alto capaz de ajudá-lo nas séries disputadas de playoff: Qual jogador do elenco do Mavs é para o Dirk o que todo mundo diz que é necessário para uma estrela ganhar um título? Jason Kidd, um bom armador mas que já está muito além do seu auge e agora é uma ameaça maior arremessando do que passando? Tyson Chandler, um pivô defensivo mas que provavelmente não conseguiria pontuar no 1x1 contra eu ou o Celo? O segundo melhor jogador do Dallas é o Jason Terry, um chutador de três talentoso mas sem cérebro que, no atual adversário Thunder, seria o quarto ou o quinto melhor jogador apenas. Mas o Dallas está lá, ganhando de todo mundo, jogando o melhor basquete da NBA no momento. O elenco pode não ter nenhum coadjuvante de nível alto pro alemão, mas é todo montado com Role Players que fazem bem a sua função, é um time taticamente muito bem desenhado e entrosado onde todo mundo sabe seu papel e tem uma defesa por zona muito forte. Mas no meio de todos esses role players, tem uma peça que faz todo o sistema funcionar: A grande estrela, Dirk Nowitzki.

Eu sou, antes de mais nada, um fã de basquete. Claro que sempre que possível vou torcer para o meu Boston Celtics ganhar, meu sangue de torcedor sempre vai falar alto quando o Boson estiver em quadra. Mas mais do que isso, como um fã de basquete, o que eu quero ver é basquete de melhor qualidade: Séries disputadas ponto a ponto, grandes jogos com três prorrogações, rivalidades intensas e, claro, performances épicas dos grandes jogadores que a Liga tem. E nesses playoffs, uma coisa que não podemos reclamar é de performances épicas. Tivemos, por exemplo, o Chris Paul fazendo 33 pontos com 14 assistências, 7 rebotes, 4 roubos de bola com apenas dois turnovers numa das melhores performances de um armador que eu já vi na minha vida. Tivemos também o histórico quarto período do Brandon Roy no jogo 4 da série contra esse mesmo Mavs quando ele marcou 21 pontos em 12 minutos e 2 segundos pra levar seu time a uma virada sensacional. E ontem, tivemos mais uma das performances que vão ser lembradas como uma das grandes atuações individuais da história dos playoffs, os 48 pontos do Nowitzki em apenas QUINZE arremessos tentados.

Mas o mais interessante é que, por mais impressionantes e dignos de nota que sejam esses 48 pontos (12-15 em FGs, 24/24 em FTs, recorde da história da Liga sem um erro), eles não mostram o quanto o Nowitzki foi bom e importante pro seu time nesse jogo. A contribuição dele pra esse time e essa vitória vai além do que ele fez ao colocar a bola através do aro 36 vezes em 39 arremessos, um aproveitamento de outro mundo (92%), como vamos ver agora.

Sem querer comparar os times em si, mas o ataque do Dallas Mavericks as vezes me lembra muito o ataque do Orlando Magic em 2009, quando eles derrotaram o poderoso Cavs do Lebron e chegaram na final, onde perderam para o Lakers. O ataque daquele time era bem simples, mas o Cavs não achou um jeito de segurar: era o Dwight Howard dentro do garrafão e quatro arremessadores (Rashard Lewis, Hedo Turkoglu, Courtney Lee e Rafer Alston). A bola ia pro Dwight lá dentro, onde o Cavs não tinha nenhum jogador com o físico e a altura pra segurar o pivô, e aí o Cavs dobrava a marcação nele e a bola ia pro perímetro, onde ela rodava até achar um arremessador livre. Foi assim que o Magic teria varrido o Cavs se não fosse por uma bola de três épica do Lebron no último segundo, e de certa forma até hoje o Magic joga com uma variação desse esquema, só que foi eliminado nos últimos dois anos justamente porque seus adversários entenderam que o melhor a fazer era deixar o Dwight pontuar no 1x1 dentro do garrafão pra não deixar os arremessadores de três do time entrarem em ritmo.

O ataque do Mavs é bem parecido porque eles muitas vezes acionam o Dirk Nowitzki no garrafão de costas pra cesta, de onde ele é capaz de pontuar em cima de qualquer defensor do mundo nas jogadas de isolação. Se a defesa ameaça dobrar em cima dele, ele usa sua altura e bom passe pra jogar a bola no perímetro, onde o Mavs usa sua ótima rotação de bola pra achar um arremessador livre de três. A diferença é que o Mavs é um time com jogadores mais versáteis e atléticos, como por exemplo o Shawn Marion, e por isso o Dallas não depende apenas dos arremessos de três nas rotações, porque eles também tem jogadores cortando para a cesta para dar a opção. Além disso, o Nowitzki não só é muito melhor que o Dwight criando o seu arremesso e acertando lances livres como também é muito melhor passando a bola. O sistema é parecido, mas o do Mavs é muito mais eficiente e elaborado.

O jogo de ontem foi um exemplo de como a presença do Nowitzki no garrafão ajuda a abrir todo o resto do time. No começo do jogo, o Dirk ficou no mano a mano e começou acertando todos os arremessos, e o jogo estava equilibrado. Quando ele sentou pra descansar, o Thunder pulou na frente, controlou o jogo e o ataque do Mavs se perdeu, o time não conseguia atacar a cesta e nem chutar de três. O alemão voltou, mas o Thunder fechou o primeiro quarto 7 pontos à frente, com o Dallas só marcando 20 pontos.

No segundo quarto, a história inverteu. O Dallas começou a acionar ainda mais o Nowitzki e ele continuou pontuando por cima de qualquer marcador. O Thunder, então, começou a dobrar a marcação no alemão. Foi aí que ele começou a soltar a bola pro perímetro e o time começou a achar suas bolas de três, uma vez, duas vezes, até que o time entrou no seu ritmo de longa distância e começou a controlar o jogo.

 Isso foi decisivo para o jogo todo. O Thunder tentou parar o Nowitzki individualmente usando todos os tipos de marcadores: Serge Ibaka tentou e não conseguiu marcar o repertório de jogadas do alemão, ele joga muito melhor cobrindo o aro do que no um contra um, e saiu logo no começo do terceiro quarto com quatro faltas. Seu reserva, Nick Collison, até fez um bom trabalho, mas também acabou cometendo muitas faltas quando o Nowitzki procurava o contato de costas e girava em direção ao aro e sentou com quatro faltas logo depois do Ibaka. O Thunder tentou o Kendrick Perkins, o Thabo Sefolosha, o Kevin Durant e até o James Harden, mas nenhum teve sucesso: Perkins não conseguia marcar os arremessos e caia em todos os fakes, Sefolosha e Harden eram baixos demais e levavam bola por cima o dia todo, e o Durant não aguentou quando o Nowitzki começou a procurar contato e cometeu mais faltas. Incapaz de marcar o Nowitzki, o alemão acertou seus arremessos, achou seu ritmo e foi pra linha do lance livre 24 vezes, acertando essas 24.

Quando o Thunder dobrou, o Nowitzki jogou a bola pro perímetro, a bola rodou e chegou nos marcadores livres, um bom exemplo é que o Nowitzki terminou com mais assistências (4) do que o Russell Westbrook (3), e se na NBA se contassem assistências como no hockey (onde o passe que leva à assistência direta também é uma assistência) ele provavelmente teria um double double. O jogo foi decidido porque o Nowitzki soube usar os dois lados desse padrão tático: no final do jogo, quando a diferença começou a apertar, ele foi lá e arremessou por cima do Ibaka ou cavou faltas. Nos últimos 30 segundos, quando a diferença também estava apertada, ele recebeu a bola, atraiu a dobra na marcação e tocou pro Jason Terry acertar a bola fatal de três do perímetro. A simples presença do Nowitzki atraiu a atenção e a marcação da defesa do Thunder e permitiu que o time espalhasse seus arremessadores ou infiltrasse enquanto todo mundo tava mais preocupado com o alemão. Além dos seus 48 pontos, ele foi o responsável por abrir o perímetro e até o garrafão quando atraía dobras de marcação ou simplesmente porque tava todo mundo com medo de deixar o alemão sozinho. E, quando isso aconteceu, ele foi lá e encaixou dois pontos na fuça do Thunder. Bem feito, quem mandou deixar Seattle?

Além disso, essa performance teve outro lado interessante: o Nowitzki acertar 12 de 15 arremessos é impressionante por si só, ainda mais vendo os arremessos que ele costuma dar (caindo pra trás, com uma perna só, marcado, torto, sem as mãos, de olhos fechados, etc). Mas o impressionante é que se formos ver os arremessos que ele tentou - tirando as faltas cavadas - foram todos arremessos que ele gosta de dar, que ele se sente confortável. Entrem no youtube, achem um vídeo com todos os 15 arremessos dele no jogo e tentem achar um que tenha sido forçado, e vocês não vão conseguir. Ele não força arremessos, ele sempre busca receber a bola nas suas zonas de conforto. Se não recebe, ele devolve a bola pro perímetro enquanto vai tentar achar seu lugar na lateral do garrafão, onde ele não erra. Todos os seus arremessos foram próximos ao garrafão, a maioria do lado direito dele. Essa seleção em arremessos é algo que contribui não só pra aumentar sua porcentagem de arremessos como evita disperdícios de posse de bola e rebotes que possam virar contra ataques para o Westbrook. Essa eficiência é marca registrada do alemão, ele leva isso de várias formas para o seu time, não apenas pontuando. E por isso o Dallas Mavericks tem sido o melhor time dos playoffs até aqui..

2 comentários:

  1. Com certeza o Collison vai ganhar alguns minutos a mais nessa série...mas é quase impossível anular o melhor all-around shooter do mundo hj.

    Talvez se os caras dessem uma lida no artigo do Mbah a Moute na ESPN (ensinando a marcar Westbrook, Rose, LeBron...) tivessem mais sucesso :P

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  2. Hahaha eu li esse artigo, o link ta aqui pra quem quiser

    http://espn.go.com/blog/truehoop/post/_/id/29207/luc-richard-mbah-a-moutes-scouting-report

    Acho que o Collison é o melhot matchup pra tentar parar o Dirk, mas ele não vai conseguir. Se ele conseguir evitar as dobras já é excelente!

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