Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Uma imprevisível série previsível


Deal with it

Em uma série em que até aqui as defesas tem prevalecido, onde dois times muito parelhos tem disputado a liderança em sequências boas e ruins de ambos os times, onde cada ajuste após cada jogo é crucial e temos duas superestrelas jogando em altíssimo nível, o jogo quatro não fugiu à regra. Mais uma vez chamou a atenção o jogo irregular de ambas as equipes, o excesso de erros, as boas atuações individuais e, claro, um jogo que foi decidido até o último lance e ao fim do qual apenas três pontos separavam ambos os times.

E como todos os outros jogos dessa série até aqui, o jogo teve tantos momentos distintos, tantas mudanças significativas e tantos destaques diferentes em momentos diferentes que é até difícil saber por onde começar e como agrupar os fatos e as explicações. Por isso vamos começar pelo primeiro tempo.

Pra variar, o primeiro tempo terminou com o placar muito próximo. E não pela primeira vez, eu terminei o primeiro tempo pensando "Como o Dallas conseguiu fechar o quarto com o placar tão próximo?" O astro do time, Dirk Nowitzki, estava num dia ruim - somado ao tendão rompido do seu dedo, ele ainda estava com febre alta e claramente incomodado pelo fato. Do outro lado, apesar do jogo ruim do Lebron James, Dwyane Wade e Chris Bosh estavam levando o Heat nas costas e pontuando feito dois malucos. E mesmo assim a diferença ao intervalo era de apenas dois pontos. E até um dado momento no quarto período, quando o Heat abriu uma diferença mais significativa de nove pontos, o jogo permaneceu equilibrado mesmo com um Nowitzki enfraquecido e grandes atuações de Bosh e Wade. Afinal, que diabos aconteceu pra explicar esse tipo de coisa? Como o Mavericks, mesmo assim, saiu com a vitória? E o que aconteceu com o Heat, o time que sabia tão bem jogar no final das partidas contra as potências do Leste?

Pra começar, eu preciso lembrar de algo que disse no post logo abaixo desse, sobre o jogo 3, no qual Nowitzki e Wade duelaram durante boa parte do quarto período, mas no final o jogo foi decidido porque o Heat tinha outros jogadores que se envolveram na partida e o Mavs não. Eu comentei também nesse post e no nosso twitter (www.twitter.com/tmwarning) que se Wade e Nowitzki fossem duelar no nível que vinham fazendo, a partida não ia ser decidida pelos astros e sim pelos outros 11 jogadores de cada time, os "Coadjuvantes", na falta de uma palavra melhor (Porque convenhamos que chamar Bosh e Lebron de coadjuvantes é bizarro e doloroso). Eu disse isso porque, mesmo com o Nowitzki jogando demais, fazendo chover e tudo mais, nenhum outro jogador (além do Shawn Marion) estava jogando um basquete consistente pra ajudar o alemão, enquanto que mesmo quando o Wade sentava ou em alguns lances onde ele não era envolvido alguém do Heat sempre estava aparecendo pra fazer suas jogadas, fosse o Lebron, fosse até o Mario Chalmers. E se a gente sabe que um superastro como o Dirk é capaz de ganhar um jogo sozinho - o que ele fez no jogo 2 - a gente também sabe que ele dificilmente vai ganhar quatro nas Finais da NBA, e portanto o elenco de apoio do Mavs precisaria acordar.

E foi, de certa forma, o que aconteceu nesse jogo e que manteve o Dallas perto no placar no primeiro tempo, manteve o Dallas perto no placar no terceiro quarto, até a hora que o Nowitzki fez sua mágica. O técnico Rick Carlisle optou por variar um pouco na escalação, escalou o JJ Barea que vinha fazendo uma série péssima e deixou o DeShawn Stevenson no banco, pra poder aproveitar melhor a explosão e infiltração do Barea e deixar o Stevenson pra vir do banco, especialmente pro lugar do Marion. O Barea teve um jogo fraco, é verdade, mas não o DeShawn Stevenson, que acertou suas três bolas de três vindo do banco no primeiro tempo. Os 11 pontos do Stevenson na partida foram importantes, já que nos últimos jogos parecia que ninguém seria capaz de fazer nem que fossem esses 11 pra ajudar o Dirk. Mas além dele, tivemos um bom jogo do Jason Terry com 17 pontos, mais 16 do Marion, 8 do Barea e 13 do Tyson Chandler, que fez ótima partida. Mas mesmo assim, o Dallas teve um primeiro tempo onde eles cometeram novamente todos os erros que cometeram no jogo 1 e tinham corrigido nos demais: O Heat fez o que quis com os rebotes de ataque, foram dez só no primeiro tempo, e o Bosh encontrou muita facilidade no jogo de meia distância. Mesmo no começo do jogo, quando o Heat não acertava nenhuma cesta, o jogo estava empatado porque todos os erros voltavam para as mãos do Heat para uma segunda chance.

No segundo tempo, o Dallas melhorou da água pro vinho no quesito rebotes, o Tyson Chandler e o Dirk Nowitzki começaram a fazer box outs e pegar rebotes feito doidos - Dirk teve um no primeiro tempo inteiro e 10 no segundo - e mantiveram o Heat sem conseguir segundas chances fáceis. Mas o time também teve um problema que tem sido recorrente nos últimos jogos, os turnovers. Quando o time tentou acelerar o ritmo, forçar o jogo, ele entrou no jogo do Heat e cometeu muitos turnovers, em especial o Jason Kidd, que parecia sem controle nenhum. Em vários turnovers o Dallas deu sorte que a bola simplesmente foi pela linha de fundo e não gerou contra ataques, mas os erros individuais e o excesso de passes difíceis, forçados e previsíveis atrapalhou muito a vida do time do Texas no jogo todo.

A sorte do Dallas foi que, se do outro lado Chris Bosh voltava a ter um grande jogo, Lebron estava tendo seu pior jogo nesses playoffs, talvez seu pior jogo em todos os que disputou dos playoffs. Ele estava totalmente anêmico e, realmente, nem parecia o Lebron. Estava sem energia, não quis atacar a cesta, preferiu ficar arremessando de longe e abusou dos turnovers. É verdade que o Lebron não tem feito uma grande série até aqui, está muito abaixo do que estamos acostumados, mas ele sempre fazia seus pontinhos importantes, defendia bem e era importante para a equipe. Mas ontem o Lebron não foi apenas abaixo do seu nível, ele realmente jogou mal. Ele foi importante na armação para o Heat, distribuiu bem a bola, fez bons passes e deixou sua marca nisso, mas jogou mal em todo o resto. Em nenhum momento ele conseguiu ser efetivo no ataque (pela primeira vez na sua carreira falhou em marcar 10 pontos num jogo de playoffs), sua defesa deixou muito a desejar (Assistam por exemplo à primeira cesta do JJ Barea e vejam como o Lebron tenta dar o toco ao invés de simplesmente levantar os braços e fechar o espaço pro arremesso) e ele desaparece muitas vezes quando o time mais precisava.

Aliás, sumir nos quartos períodos tem sido comum para ele nessa série. Nos três primeiros jogos teve média de apenas três pontos por jogo em quartos períodos, principalmente porque neles ele exagerou no individualismo e tentou arremessos longos que, embora ele as vezes acerte, não são sua especialidade. Mas nesse jogo quatro ele foi ainda pior: nenhum ponto, errou o único arremesso que tentou e cometeu dois turnoveres, além de sumir totalmente do jogo nos momentos decisivos. O closer do Heat nessas Finais tem sido sempre o Wade, isso está claro desde o jogo 1, mas o que assusta é a apatia com que o Lebron joga nessas situações. Ontem pela primeira vez o Lebron pareceu desconfortável, desmotivado, até sem confiança. Não sei o que aconteceu, se foi só um dia ruim ou se é algo mais profundo, mas ele realmente não foi ele mesmo, não jogou com vontade, não jogou com energia e sumiu do jogo em vários momentos, além de ter reclamado com o Chris Bosh quando saiu para o intervalo após um primeiro tempo onde ficou abaixo em pontos e assistências do que o Chalmers.

Mas o problema do Heat não foi apenas que o Lebron estava mal. O Bosh estava bem, o Wade continuava de outro planeta. O problema foi que nenhum dos outros jogadores do Heat jogou bem. Chalmers, Udonis Haslem, Mike Miller, todos jogadores que tiveram bons momentos nos outros jogos não conseguiram fazer mais do que 15 pontos combinados, não se impuseram e não tiraram o conforto da defesa do Dallas. E numa série onde os "coadjuvantes" tem feito a diferença, o fato do principal companheiro de time do Wade estar num dia péssimo e mais ninguém além do Bosh ter jogado bem pra compensar atrapalhou em muito a equipe.

Mas mesmo assim, o Heat jogou nas costas de Bosh e Wade até abrir oito pontos de vantagem no quarto período, durante uma sequência que pegou o final do terceiro e o começo do quarto onde até o Lebron se achou mais em quadra, deu boas assistências e fez uma cesta. Mas aí entramos no quarto período, onde os jogos dessa série geralmente tem dado uma mudança para o bizarro - e, em geral, para o Mavs também. O Heat abriu a sua vantagem de nove pontos, mas nessa série isso não necessariamente é um bom sinal. O Heat apagou e o Mavs, embora não tenha acordado da mesma forma que nos jogos anteriores com grandes sequencias, esteve mais acordado que o Heat e conseguiu aos poucos tirar a diferença. Mesmo com febre alta e um dedo estourado, Nowitzki fez dois pontos, depois mais dois, chegou aos seis e finalmente aos oito, pra colocar o Mavericks na frente. E não venham me falar que essa doença do alemão era uma desculpa. Ele não estava no nível Jordan de gripe, tudo bem, mas não precisa estar naquele nível do Flu Game pra ser afetado. O Dirk praticamente não tinha dormido e ainda estava jogando numa temperatura muito acima do normal, não estava nem um pouco em condições de jogar por tanto tempo e seu jogo claramente foi afetado pela temperatura, tanto que ele errou seu primeiro lance livre nessas Finais, por exemplo.

E ao mesmo tempo que Jason Terry - que esteve totalmente apagado nos quartos períodos das derrotas do Mavs mas que foi muito importante nas duas vitórias - ajudou o Dallas (que também contou com um jogo espetacular de 13 pontos e 16 rebotes do Chandler, além de toda a energia nos dois lados da quadra) a dar o suporte que o Nowitzki tanto precisou nos outros jogos. E do lado do Heat, não só o Lebron continuou totalmente sumido como o Bosh, que vinha num ótimo jogo, também desapareceu, não tocou na bola mais e o Wade teve praticamente que jogar sozinho, como o Nowitzki tanto vinha jogando. O Mavs, também, contribuiu pra miséria do Heat e acionou sua defesa por zona, o que causou desconforto no time de Miami e a defesa, assim como aconteceu no jogo 2, não só foi colocada em prática como foi colocada de uma forma sobre humana, que não deu nenhuma folga para o Heat, evitando as cestas e contando com sua estrela no ataque. E o alemão fez sua parte, fez a última cesta do seu time com uma bela bandeja em volta do Udonis Haslem, muito parecida com a cesta da vitória do jogo 2 - e se naquela bola foi Haslem quem demorou a dobrar a marcação, dessa vez foi Lebron James. Mas o Heat teve sua chance em um turnover, após uma falta esperta do Kidd no Wade. Mas o Wade errou o segundo lance livre, e a diferença em um ponto aumentou pra três. Com menos de 24 segundos no relógio e perdendo por três, Wade recebeu a bola e, não encontrando ninguém livre, fez a cesta pra dois sozinho, forçando o Dallas a ter a bola mais uma vez. MAs ao invés de ir para o Dirk, a bola não foi pra ele, que seria a escolha obvia - foi pra seu companheiro de time, Jason Terry, que acertou as duas bolas.

E aí a fatalidade. O Eric Spolestra desenhou uma jogada no estilo Greg Popovich pra tentar a bola de três. Mas uma vez que o Wade saiu do corta luz do Bosh e Miller fez o passe, três coisas aconteceram. Primeiro, a pressão da defesa atrapalhou o Wade. Segundo, apesar do Wade ter caminho livre, o passe não foi na frente dele, onde ele estaria, e sim onde ele já estava, um passe ruim. E por fim, Wade, que claramente esperava um passe na mão, já estava pensando no que ia fazer e não conseguiu agarrar a bola, e por pior que o passe tenha sido era perfeitamente capaz que ele segurasse a bola, desde que tivesse olhando pra ela. Mas ele perdeu e a bola voltou quase pro seu campo de defesa. Wade conseguiu num mergulho espetacular evitar o backcourt violation e ainda passou a bola para o Mike Miller, mas aí faltou calma e experiência para o branquelo, que ao receber a bola - com pouco mais de dois segundos no relógio - chutou pra três de onde recebeu, longe da linha dos três e marcado, quando ele tinha tempo pra tentar se aproximar da linha dos três ou até tocar pro Bosh, que tava pedindo bola livre logo embaixo. Mas ele não teve essa calma, e chutou sua bola, que ainda quicou duas vezes até acabar o tempo do jogo.

Mais um jogo, mais uma boa vantagem do Heat e mais uma boa reação do Dallas. Não foi um Flu Game, mas o Dirk teve um jogo heróico, não é fácil jogar como ele jogou esse jogo e mesmo assim foi o jogador mais decisivo da partida no quarto período - como, aliás, tem sido durante toda a série, mesmo antes desse jogo ele já tinha mais pontos em quartos períodos do que Wade e Lebron juntos. Do outro lado, o Wade continua levando o Heat nas costas, ta jogando demais, sendo de longe o melhor jogador do time. Essas foram as grandes manchetes desse jogo, mais uma vez. Mas a maior de todas, pra mim, é a performance do Lebron. Deixando de lado as comparações Michael Jordan/Scottie Pippen, o Wade assumiu de vez o papel de líder do time nesses playoffs - e quem acompanhou o Heat pela temporada regular sabe que mesmo o Lebron tendo sido o melhor jogador do time de um modo geral, o líder, o mais importante da equipe sempre foi o Wade. Agora que ele ta jogando melhor, o Lebron parece estar caindo pra segundo plano, e não de uma forma eficiente, mas de uma forma apagada. Eu duvido que o Lebron vá ficar quieto no jogo 5, acho bem mais provável que ele saia acertando tudo quando é cesta pra calar a boca de todo mundo, mas o fato é que ele ainda não convenceu nessas Finais, e o injusto (e com uma memória curtíssima) mundo do basquete não vai deixar barato caso o Heat perca essa final. Se o Heat ganhar, ai o amarelão vai voltar a ser o Nowitzki.

Ai ai, essa necessidade eterna de alguém ter que ser ruim pros outros serem bons...

Um comentário: