Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O grande vencedor


DeSean Jackson mostrando sua nova arma para o jogo aéreo do Eagles


Depois de um fim de semana parado, e depois de termos analisado o Draft de cada um dos 32 times da NFL com notas e tudo mais, ficou faltando comentarmos sobre a semana insana de Free Agency que tivemos. Como o CBA novo entrou no lugar pouco mais de uma semana antes do começo da pré-temporada, a correria pra assinar Free Agents foi enorme, todo o geralmente longo período de trocas, renovações de contrato e assinatura de Free Agencys teve que ser feito em mais ou menos duas semanas, e como a gente ainda tava voltando de viagem e atolado com o Draft, tivemos que deixar pra depois. Agora, finalmente, podemos comentar a movimentação na Free Agency, lembrando que semana passada oficialmente foi colocado em vigor o novo CBA. O acordo já estava acertado desde muito tempo atrás, e regras temporárias pra Free Agency foram estabelecidas até a votação final, que aconteceu, aprovou o CBA e então temos NFL garantida nos próximos 10 anos. Essa quinta feira começa a pré-temporada da NFL, e agora é hora de comentar os times que se reforçaram e se enfraqueceram nessa Offseason alucinada, começando pelos times que sairam vencedores dessa zona, e nenhum saiu tão vencedor (ou pelo menos com tanta pompa)como o Philadelphia Eagles.

O Eagles montou nos últimos anos um time jovem e habilidoso, se desfazendo dos seus veteranos mais caros e fazendo um processo de reformulação a médio prazo. O time mandou embora o até então soberano no time Donovan McNabb e quem deveria assumir a posição de QB seria o pirralho Kevin Kolb, acompanhado de um núcleo jovem de jogadores como DeSean Jackson, LeSean McCoy e Jeremy Maclin. Uma consequencia desse processo foi que o time acabou liberando muito espaço salarial, muitos jogadores ainda tinham contratos de novatos ou então tinham renovado a custos baixos. Mas o que aconteceu pra "estragar" a reconstrução a médio prazo do Eagles foi que os jovens jogadores acabaram se desenvolvendo muito rápido e, após uma lesão do Kolb, o time achou um QB mais pronto e muito melhor no Michael Vick, que até alí só jogava em pacotes Wildcat. Mas o Vick não é exatamente tão novo como o Kolb, os jogadores que deveriam demorar para frutificar acabaram virando jogadores consolidados muito cedo e de repente o Eagles se viu com um novo dilema: insistir na sua reconstrução, correr o risco de perder os melhores anos do Vick e até alguns jogadores na Free Agency, ou então mudar o foco, entender que o elenco está numa boa posição pra disputar o título imediatamente e aí reforçar o time com esse objetivo.

O Eagles optou pela segunda opção. Mandou o Kevin Kolb pro Arizona Cardinals num assalto a mão armada, ofereceu contratos longos pras principais estrelas do time e tratou de usar o teto salarial do time para trazer vários Free Agents veteranos para completar o time em busca de um título, numa clara mostra de que o time está se preparando para disputar e vencer os campeonatos agora. E quando eu digo que o time trouxe vários, quero dizer vários mesmo, foram oito ao todo (Mais o Dominique Rodgers-Cromartie que veio na troca do Kolb)! E não foi só na quantidade que o Eagles se destacou, e sim na qualidade, trazendo o grande prêmio dessa Free Agency, o CB Nnamdi Asomugha, sem falar nos DEs Cullen Jenkins e Jason Babin, outros dois grandes nomes, no promissor DT Anthony Hargrove, e em jogadores veteranos para compor elenco e dar profundidade como o RB Ronnie Brown, o FS Jarrad Page, o OT Ryan Harris e, claro, o Vince Young.

Em termos de talento, esses jogadores dispensam comentários. Quem acompanhou jogos do Raiders (seja torcedor ou masoquista) sabe que o Asomugha é o melhor cornerback da Liga (Eu coloco ele um pouco acima do Darrelle Revis, tanto no subjetivo como no objetivo, ou seja, estatísticas), e tanto o Cullen Jenkins como o Jason Babin são jogadores de nível Pro Bowler se se mantiverem saudáveis. Em termos de talento, o Eagles saiu com o melhor jogador da Free Agency, e mais três grandes outros jogadores, com a possibilidade de subir esse número pra cinco dependendo de como Brown e Young se portarem na Philadelphia com um papel limitado. Mas e na prática, o quanto esses jogadores vão mudar no esquema de jogo do Eagles?

A verdade é, muito. O Eagles de 2010 era um bom time, com um ataque explosivo e um candidato a MVP no Vick, mas o time tinha buracos demais, que foram explorados à exaustão na derrota para o Packers nos playoffs, especialmente na defesa e na linha ofensiva. A linha ofensiva não sofreu grandes alterações, o Danny Watkins (calouro) vai reforçar o miolo e o Ryan Harris vai adicionar profundidade pra unidade. Nesse ponto de vista, o time está apenas adicionando exatamente isso, profundidade, seja com o Harris, seja com Ronnie Brown, que deve ser reserva do McCoy usado mais em wildcats ou terceiras descidas, ou o Vince Young. Depois que o time trocou o Kolb, ficou sem um reserva para o Vick, que não é exatamente um modelo de solidez física, se machuca um pouco demais. Por isso tratou de pegar o Young, que apesar do bom currículo não era desejado por quase ninguém, pra tapar o buraco numa eventual lesão. Mas esses três jogadores serão basicamente reservas, usados em ocasiões específicas de rotação ou em caso de lesões. Não vão alterar o esquema de jogo do time, não vão levar o ataque nas costas e nem vão revolucionar nada por lá.

O que não é o caso da defesa. A defesa do Eagles não foi uma peneira em 2010, mas de longe era uma unidade mais fraca que o ataque. A linha defensiva não conseguia vencer as batalhas em primeiras descidas, a secundária dependia demais das interceptações do Assante Samuel pra conseguir ser relevante e o time tinha uma grande dificuldade em pressionar o QB adversário, na prática o jogo entre Eagles e Packers foi decidido porque o Packers conseguiu colocar muita pressão no Vick e o Eagles não conseguiu sequer chegar perto do Aaron Rodgers. O time dependia demais dos flashes de brilhantismo do Trent Cole pra conseguir alguma coisa na linha de scrimmage, a linha defensiva era uma unidade fraca e que não só não era uma força como as vezes se tornava uma fraqueza a ser explorada, o que é péssimo porque você bota mais pressão numa secundária frágil que dependia demais do Samuel e de um safety calouro que acabou machucando.

Não foi a toa, portanto, que essa foi a unidade que o time mais adereçou na Free Agency. Trouxe o Jason Babin, que teve 12,5 sacks e que é uma força dominante vindo da lateral da linha defensiva, para fazer par com o Trent Cole ou então liberar o Cole de vez para jogar de OLB colocando o Juqua Parker (que já era do time) ou o recém chegado Cullen Jenkins para jogar do outro lado. O Jenkins tem outra grande vantagem, porque ele é capaz de jogar tanto na lateral de DE como no meio de DT, tem força, tamanho e velocidade para ambas as funções, o que vai dar ao Andy Reid uma variedade enorme na linha defensiva, que também teve uma adição importante no Anthony Hargrove, uma pequena âncora no meio da linha defensiva que é excelente segurando a corrida. Uma unidade que dependia exclusivamente de um jogador de repente virou uma unidade forte, profunda e com muita versatilidade para implementar diferentes movimentações e formações, uma unidade que tem ao mesmo tempo ótimos jogadores para chegarem no QB adversário como também fortaleceram o meio pra evitar as corridas em primeiras descidas ou as escapadas dos QBs mais rápidos como Rodgers.

Geralmente melhorar a linha defensiva, e em especial o pass rush, como foi o caso do Eagles, é algo que já tira muita pressão da sua secundária, porque você tira tempo do QB, diminui o número de passes que sua secundária vai ver, os passes são mais apressados e menos precisos e isso faz com que uma secundária fraca possa ser eficiente o suficiente para não comprometer. Mas o time ainda adicionou o melhor CB do jogo no Asomugha, trouxe o ótimo Dominique Rodgers-Cromartie no assalto a mão armada na troca do Kolb e, em questão de dois dias, montou uma das melhores (talvez a melhor) dupla de cornerbacks da Liga. O Asomugha é um shutdown corner, aquele estilo Revis que gruda em um jogador e tira ele do jogo completamente. Como ele não ficava fixo em um jogador e muitas vezes deixava a marcação individual para cobrir a zona na defesa do Raiders, ele não chama tanta atenção como o Revis, mas os números do Asomugha são ainda mais assustadores e quem já viu ele jogar sabe que é impossível acertar um passe contra ele. O Rodgers-Cromartie é mais um playmaker, o jogador que intercepta passes e corre pelo campo, é uma dupla que se completa perfeitamente e vai tornar a secundária do time uma unidade ridicula. Lembrando que, enquanto ele não for trocado (se for), o time ainda tem o Samuel, que foi um dos líderes do ano passado em interceptações, também é um playmaker e se ficar no time vai acabar achando espaço em jogadas de nickel ou pacotes diferenciados.

Em resumo, a linha defensiva era fraca e não conseguia chegar no QB, agora é forte, profunda e tem um pass rush muito mais forte. A secundária era fraca e dependia demais de um jogador, agora tem a melhor dupla de cornerbacks da Liga e um RESERVA que é um Pro Bowler que seria titular em qualquer outro time da Liga. Não é a toa que esse time ta recebendo tanto hype na offseason, o time montou uma defesa inteira praticamente só com Pro Bowlers da Free Agency juntando aos poucos bons jogadores que já tinha. O ataque, que era de outro mundo, ficou mais profundo, e a defesa que era o ponto fraco agora é forte demais, tem mais Pro Bowlers do que qualquer outra e ainda tem uma moeda de troca muito valiosa no Assante Samuel (Sem falar no Nate Allen um ano mais maduro e recuperado da lesão). Se é pra falar de um time que não perdeu jogadores importantes e ainda adicionou talento o suficiente pra ter uma defesa tão pentelha como essa, esse time é um dos grandes vencedores do Draft.

Isso quer dizer que o time vai ser campeão do Super Bowl, conseguir 19 vitórias e o Michael Vick vai pegar a Kim Kardashian? Claro que não. O time mudou seu coordenador defensivo, a defesa é praticamente toda composta de jogadores que nunca jogaram juntos, o que vai fazer com que o time demore pra se achar, demore pra se entrosar e tenha alguns problemas na hora de usar todo o talento que juntou. Além disso, o time depende muito de jogadores com saúde questionável, a começar pelo Vick (Algum torcedor do Eagles ficaria confortável vendo o Vince Young entrando num jogo de playoff perdendo por cinco faltando dois minutos?). E claro, futebol americano é tão imprevisível como qualquer outro esporte, monter um time cheio de estrelas não garante vitória antecipada, o Miami Heat descobriu isso a duras penas esse ano. Mas que pelo menos no papel, na quantidade de talento que o time adicionou e no fato do time ter transformado sua defesa anêmina numa unidade profunda, forte e com uma das melhores secundárias na Liga, o Eagles foi o grande vencedor dessa offseason.

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