Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sábado, 15 de outubro de 2011

O lockout, dois meses depois...


Saiba como o muso DeMaurice Smith afetou essa temporada da NFL


O lockout da NFL acabou já faz mais de dois meses, os times já se estruturaram, a temporada está a todo vapor, os índices de audiência estão altos como sempre, o Arizona Cardinals ainda é uma droga e portanto esse pentelho lockout que chegou a ameaçar um cancelamento de jogos (Não que fosse uma ameaça crível. Ao contrário da NBA, onde os donos queriam desde o começo o cancelamento de jogos, na NFL perder duas rodadas seria o caos e os times perderiam muito dinheiro. Na NBA, quase ninguém liga de perder duas semanas. O que vai mudar se perdermos toda a temporada.) está acabado e é coisa do passado apenas. Certo?

No effing way! Não caiam no conto de que o lockout não teve nenhuma consequência nessa temporada. O lockout não nos deu o desprazer de vermos o cancelamento de jogos ou alterações drásticas no formato da temporada (como por exemplo só 16 rodadas, sem bye), mas ele está ai afetando muitos times de formas positivas ou negativas.

Quando o lockout estava rolando, mesmo quem não acreditava no cancelamento de jogos, admitia um fato: De que os times que estavam trocando de técnicos, quarterbacks ou sofrendo alterações drásticas nos seus elencos iam naturalmente ter dificuldades pra começar. O lockout significou duas coisas em termos de data: que os times não tiveram tempo para treinar na offseason e tiveram uma pré-temporada limitada. Durante o lockout, como os times e jogadores não podiam entrar em contato, novos técnicos não podiam treinar seus jogadores no seu esquema de jogo, novos QBs não podiam receber seu playbook nem treinar com seus companheiros, e times com grandes mudanças em geral sofreriam absurdos com o entrosamento de jogadores. Eu já disse antes, mas NFL é um jogo extremamente especializado que depende absurdamente de trabalho de equipe e entrosamento, e para isso o time precisa saber exatametne qual jogada está sendo chamada. Sem tempo suficiente para estudar o playbook e para treinarem juntos, era natural que os times tivessem dificuldades.

Vendo agora, depois de cinco semanas da temporada regular, podemos ver que estavamos, de certa forma, corretos. De todos os times da NFL, tivemos sete times trocando de QB titular da temporada passada para essa: Seahawks, Cardinals, Titans, Panthers, Jaguars, Bengals e Colts. Independentemente do novo QB ser bom ou ruim, apenas três desses times estão tendo algum sucesso com seu QB: O Panthers com Cam Newton, que apesar de tudo está 1-4, o Titans do Matt Hasselback (que usa um ataque extremamente parecido com o que ele estava acostumada em Seattle) e o Bengals do Andy Dalton (que está sendo eficiente e está jogando bem, mas não está ganhando jogos para o time, quem está fazendo isso é a defesa). Os outros estão tendo problemas com seus QBs: Cardinals e Seattle estão entre os piores times da NFL com performances pífias dos Quarterbacks, o Jaguars está tentando fazer o Blaine Gabbert aprender na prática o playbook (e não está dando certo) e o Colts não consegue ganhar nem com reza brava.

(Tangente rápida: Só eu consigo imaginar facilmente o Colts trocando o Peyton Manning e seu contrato absurdo ano que vem se pegar o Andrew Luck no Draft? O Manning não vai querer ser reserva do Luck e o Luck está mais do que pronto pra entrar de titular, lembra muito o próprio Manning quando veio pra NFL, e o time pode trocar Manning pra um time mediano, acumular trocas de draft ou talentos jovens e reconstruir em torno do Luck. Não tou dizendo que eu faria isso, mas... Não é dificil imaginar isso acontecendo).

Quando olhamos para os técnicos ou coordenadores defensivos, a questão é ainda mais complicada. Uma parte dos problemas do Eagles, por exemplo, vem do fato de que seu novo coordenador defensivo - que foi coordenador da linha ofensiva do time por 17 anos antes de receber o cargo - ter tido apenas seis semanas até aqui pra aprender a ser um maldito coordenador defensivo. Ele recebeu vários jogadores com diferentes características nessa free agent e além de ter que fazer a adaptação à sua nova função (que ele não exercia antes, sempre é bom lembrar) teve que achar uma forma de montar um esquema novo usando todas essas pessoas. É de surpreender alguém que até agora ele continue tendo problemas, ele continua usando mal o Nnamdi Asomugha, ele continua sem saber resolver seu problema com safetys (Coloque o Nate Allen de um lado e use o Dominique Rodgers-Cromartie de safety em outros pacotes, já ajuda 200%), ele ainda não achou uma formação que jogue com os cornerbacks mais próximos da linha de scrimmage pra evitar as corridas (o que ele poderia fazer se o Cromartie estivesse de safety)... Enfim, ele não conseguiu trabalhar com tão pouco tempo e tantos jogadores novos. A defesa do Eagles não achou sua identidade e não está sabendo aproveitar o talento dos seus jogadores, tudo isso por causa de uma contratação que nunca deveria ter acontecido e por causa de um lockout que impediu que o novo técnico tivesse tempo para trabalhar com seus jogadores.

O time que está de certa forma fugindo à questão do novo técnico com pouco tempo é justamente o San Francisco 49ers, o que é ainda mais interessante porque é visível ao longo da temporada a evolução da equipe. Em apenas seis messe, o novo técnico Jim Harbaugh mudou completamente a postura da equipe. A equipe está unida e concentrada, está enfrentando os adversários de cabeça erguida como se fossem todos times do mesmo nível do 49ers. No papel o time estava mais fraco do que em 2010 (6-10), mas dentro de campo está tudo diferente. Um Wide Receiver "diva" como o Michael Crabtree agora está jogando seu corpo para bloquear safetys e abrir espaço para os companheiros. Um Free Agent que ficou frustrado por não receber uma proposta longa (Dashon Goldshon) está jogando com mais intensidade do que nunca. Em apenas seis semanas, o técnico vendeu ao time tudo que ele acredita - trabalho duro, competitividade, determinação, confiança. Em seis meses, o que seria o prazo normal, eu esperava que ele fosse totalmente capaz de fazer isso, e muitos outros também poderiam fazer algo semelhante. Mas fazer isso em seis semanas... ninguém esperava. Adaptar a defesa e o ataque perfeitamente, controlar o time todo, conhecer individualmente cada jogador do seu time... Isso foi impressionante. O 49ers se saiu melhor do que qualquer outro time nessa offseason (Alguém já reparou nos cantos de "Who's got it better than us?" da torcida do Niners?).

Claro que a adaptação não foi imediata, quem acompanhou o time pode ver claramente como o time foi evoluindo monstruosamente semana a semana. O time venceu o Seahawks num jogo muito ruim, e depois perdeu de virada para o Dallas num jogo quase ganho. O time teve algumas dificuldades contra o Bengals, ams conseguiu uma virada na raça fora de casa. Depois, o time voltou para vencer o Eagles fora de casa. Depois, massacrou o Bucs (Um time bom) em casa pra não deixar mais dúvidas. O time começou devagar, foi pegando confiança, foi ganhando tempo para trabalhar com seu técnico e entrou nos eixos. Quem acompanhou o 49ers (Ta, não foi muita gente, eu sei) viu como o trabalho de técnico pode sozinho mudar um time da água para o vinho. O 49ers tinha o talento, faltava alguém que soubesse usar. E usar isso em seis semanas foi um outlier total, ele foi o único novo técnico que pegou um time desmontado e usou perfeitamente.

Como eu disse antes, esses fatores - novos QBs, novos técnicos/coordenadores - eram esperados. E também não é difícil olhar o outro lado da moeda. Times como Bills e 49ers, que insistiram nos seus QBs questionados, tiveram sucesso e foram recompensados. Ryan Fitzpatrick não era tão questionado, conhecia o playbook e seus jogadores e não teve dificuldades em recomeçar de onde parou. Alex Smith foi uma situação mais complicada, porque ele recebeu um novo técnico e um novo playbook, mas conhecia seus companheiros e isso está sendo importante. E os melhores times da NFL até aqui (Packers, Saints, Patriots, Lions, 49ers, Bills, Ravens, Chargers, Redskins, em termos de record) são, com a excessão do Niners, todos times que mantiveram seus técnicos de 2010 pra 2011.

Mas se esses fatores eram esperados e não estão surpreendendo, tem dois fatores que pelo menos eu não esperava mas que podemos notar um efeito pós-lockout bastante negativo. E os dois tem a ver com a defesa.

O primeiro são os tackles. Os números de tackles errados (Que são uma estatística não-oficial, vale lembrar) dessa temporada tiveram um começo absurdamente alarmante e, embora tenham diminuido consideravelmente, ainda estão bem altos. Não foi incomum, para quem viu os jogos das primeiras duas ou três semanas, olhar pra corredores atropelando todo mundo e com os jogadores incapazes de dar um tackle para derrubá-lo. Não foi uma coincidência que tivemos tantos corredores com grandes marcas ou um altíssimo número de jardas após as recepções, o que inflou muito os números de ataque dos jogadores. Os defensores não estavam conseguindo parar quem estava com a bola, e os tackles (especialmente de jogadores que não tem como principal função dar tackles, como safetys, cornerbacks, etc) estavam passando batidos.

Isso eu não vi ninguém comentar antes da temporada, mas faz sentido. Quem já jogou futebol americano sabe que dar um tackle é alto muito difícil. Por mais que você tenha 1m 80 e 100 kg, tente derrubar outro cara de 1m 80 e 100kg que está correndo a toda velocidade e desviando de você. É difícil pra burro, exige muita técnica e, especialmente, muito treino. Não é o tipo de coisa que os jogadores treinam quando treinam sozinhos, é algo que precisa de um técnico pra corrigir e dar dicas, e que só vai ser aperfeiçoado com muito treino repetitivo. No futebol americano, muitas coisas tem que ser quase automáticas para poderem serem executadas numa fração de segundos, e dar tackles é uma dela. Treinamento básico e repetitivo é extremamente importante para isso, é mais uma questão de prática e hábito do que de talento (Claro que existem excessões, jogadores como Ray Lewis ou Patrick Willis, por exemplo, que são especialistas em tackles, ou até MLBs em geral, mas para as outras posições 80% das vezes é uma questão de treino e prática) e ficar durante seis meses sem treinar isso teve um impacto muito negativo nesse fundamento em especial, não é a toa que desde então os times tem treinado tackles feito doidos.

O segundo fator que sofreu muito com o lockout foi, de forma geral, a secundária dos times. De forma geral, jogar na defesa exige mais instintos para reagir às movimentações da defesa do que outra coisa. No entanto, justamente por isso, exige um entrosamento muito maior para que a defesa não deixe buracos. É obvio que no ataque entrosamento é importantíssimo, mas no ataque a jogada já é combinada de antemão, cada jogador já tem que saber o que vai fazer. Na defesa, os jogadores reagem à uma mesma jogada, mas se cada um reagir de uma forma diferente a defesa vira uma bagunça. Isso é importante principalmente na secundária, que jogam mais longe da bola e cobrem uma área maior do campo (São, em média, sete jogadores perto da linha e quatro na secundária apenas) individualmente, por isso é importantíssimo que eles não ocupem os mesmos espaços e deixem outros vazios. A falta de tempo para treinar, mais uma vez, teve um efeito importante aqui. Vocês acham que foi só coincidência que tivemos números históricos para jardas aéreas nas primeiras semanas, que individualmente e coletivamente recordes e recordes foram alcançados nessas partidas (e de certa forma continuamos tendo números inflados para Quarterbacks)? No effing way. As secundárias foram pavorosas no começo de temporada porque não tiveram tempo para treinar juntas, cansamos de ver um safety e um cornerback cobrindo a mesma área do campo e deixando o meio completamente livre, ou então um buraco imenso entre o safety e o linebacker. Que nem naquela pelada de final de semana onde vão 11 pra cada lado e ninguém marca a linha de fundo porque tem cinco dentro da área, as secundárias pareciam um bando de jogadores juntos ao acaso marcando o que cada um queria, sem saber onde o outro ia estar. Foram buracos demais e os Quarterbacks logo aproveitaram isso para conseguir passes fáceis.

Ou seja, o lockout acabou antes da temporada, mas é absurdo achar que ele não está afetando esse ano de forma alguma. Alguns efeitos foram previsíveis, outros nem tanto. Mas seja pelos times que tiveram um atraso na adaptação de novos técnicos ou jogadores ou simplesmente porque temos números ofensivos mais inflados por causa dos tackles e dos problemas nas secundárias (O que naturalmente favorece os times com melhores Quarterbacks), o lockout está tendo um efeito importante em como essa temporada está se desenhando. Dessem seis meses inteiros para o Eagles treinar sua equipe, eles seriam um time muito mais assustador. Mas com apenas seis semanas, eles estão condenados à mediocridade em 2011. Quando olharmos daqui a 15 anos para as estatíticas dessa temporada, vamos pensar algo como "Holy hell, quatro Quarterbacks quebaram o recorde do Dan Marino pra jardas aéreas??" antes de lembrarmos que esse é o melhor ano para ser um Quarterback na história da Liga (Alguns dos motivos estão acima, os mais importantes vão ganhar post a parte). Em quinze anos, provavelmente não vamos lembrar de como o Jim Harbaugh teve uma das temporadas mais impressionantes para um técnico dos últimos 20 anos a não ser que o 49ers entre em modo Berserk e seja campeão do Super Bowl. Mas nesse momento, enquanto essa temporada está acontecendo, existe um fator a mais que 90% dos outros anos não tem. Ele está afetando a Liga de uma forma muito mais sutil (e infinitamente melhor) do que cancelando jogos. Alguns times ao acaso estão sendo beneficiados e outros prejudicados. O que é totalmente comum nas Ligas, sempre podemos ter algum fator externo que afeta alguns pontos da temporada. Isso não é algo absurdo ou "errado". Só precisamos lembrar que isso existe.

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