Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Celtics com problemas

Resumindo muito bem o ataque do Miami Heat


O que mais me deixou frustrado na série entre Heat e Pacers é que, após a lesão do Chris Bosh, essa série tinha tudo pra ir numa certa direção, com o Pacers tendo caminho livre pra explorar cada vez mais suas forças (depth e força no garrafão) e explorar as fraquezas do Heat (falta de reboteiros, falta de opçōes ofensivas, etc). Mas depois de dois jogos onde isso efetivamente funcionou, o que se viu foi exatamente o contrário: Uma série que mostrou as maiores forças do Heat (dois dos melhores jogadores do mundo nos respectivos auges) e expos totalmente (a tal ponto que chegou a ser ridiculo) todas as fraquezas do Pacers (falta de um jogador capaz de levar o ataque quando ele fica estagnado, imaturidade, inexperiência, etc). O que é bizarro, porque mesmo com todos os méritos do Heat nessa série (e não foram poucos), o Pacers teve TUDO pra sair com a vitória, mas tropeçou nas próprias pernas o suficiente pra permitir que Wade e Lebron tomassem controle da série. Ganhou o melhor time (pelo menos completo), mas o Pacers sabe que poderia ter ganho essa série.

Como aconteceu? Bem, a lesão do Chris Bosh afetou o Heat muito mais do que todo mundo que falava mal do dinossauro imaginava. Ainda que o Bosh fosse muito secundário nesse time e estivesse desperdiçando boa parte do seu talento jogando tanto fora das suas características, ele ainda tinha duas coisas que eram muito importantes pro Heat. A primeira é que o Bosh é o único homem de garrafão decente do elenco, e portanto sua presença la dentro é diferente da de qualquer outro grandalhão do time, seja pra rebotes, seja pra impor respeito na defesa. O segundo motivo é que o Bosh foi o melhor jogador em toda a NBA em aproveitamento de arremessos de meia distância. O Bosh sempre teve bom arremesso, mas essa temporada ele realmente se especializou nisso, tava automático. Isso forçava os homens de garrafão do adversário a acompanhá-lo fora do garrafão, o que gerava mais espaços para Lebron e Wade infiltrarem. Se o marcador do Bosh deixasse ele livre por um segundo pra fechar o caminho pro aro, eram dois pontos praticamente garantidos. Isso foi um fator muito importante do Miami no final da temporada e nesses playoffs.

Quando o Bosh machucou, portanto, o garrafão do Heat, que já é bem fraco (um dos principais motivos do Heat ter perdido as finais pro Mavs foi porque foi dominado no garrafão por Tyson Chandler), perdeu seu melhor finalizador, arremessador e reboteiro dentro esses jogadores de garrafão. E mais importante, perdeu aquele arremesso de meia distância automático que fazia todos os jogadores de garrafão pensarem duas vezes antes de ir fechar o aro pro Wade e pro Lebron. Essa opção de passe pro Bosh era algo que mantinha os defensores com medo, e que desapareceu com a sua saída. Sem Bosh, os defensores não precisvam realmente pensar duas vezes no que era melhor, apertar Wade e Lebron ou sair pra marcar Udonis Haslem ou Ronny Turiaf.

Além disso, o Pacers tinha um garrafão bem forte, com o grandalhão Roy Hibbert e o ótimo David West. É um garrafão bem alto que pega rebotes, sabe finalizar perto do aro, acerta bolas de meia distância e, especialmente o Hibbert, tinham tudo pra conseguir controlar a série se impondo pra cima do garrafão patético do Heat.

O caminho para o Pacers, portanto, estava traçado. O Heat não tinha mais Bosh, o que permitia ao Hibbert se preocupar muito menos em marcar seu homem pra estar sempre na cobertura de quem quer que estivesse marcando Wade e Lebron. Com essa cobertura do Hibbert, que é muito bom dando tocos, Paul George e Danny Granger (marcadores do Wade e Lebron) podiam se dar ao luxo de serem eventualmente mais agressivos. No entanto, o que realmente faria efeito era um esforço conjunto. Como Wade e Lebron não são grandes chutadores de longe, voce tem muito mais chances de ter uma vantagem se marcá-los a uma distância, tirando espaço pra infiltraçōes, ainda que ao custo de alguns jumpers. Tudo bem, você vai tomar ums arremessos na cara, Wade e Lebron vão fazes passes para companheiros livres acertarem bolas importantes, e claro que mesmo com a marcação e a cobertura do garrafão os dois ainda vão fazer algumas infiltraçōes ninjas e cestas miraculosas, mas de modo geral, sua chance é muito maior do que se tentar marcar os dois de perto. Deixem Wade e Lebron fazerem seus milagres, mas obrigue o resto do time do Heat a te vencer junto, que sua chance aumenta. Facil, claro que não, mas aumenta suas chances.

E a questão é, defensivamente o Pacers fez seu trabalho muito bem, principalmente nos três primeiros jogos. Ainda que com alguns vacilos de modo geral (naturais), o Pacers defendeu bem o Heat na meia quadra. Algumas bolas longas dos coadjuvantes (inevitáveis, mas num nível bem aceitável) e partidas monstruosas de Wade e Lebron faziam parte do pacote. Ainda que isso tenha ficado menos eficiente a partir do quarto jogo (Especialmente porque Wade e Lebron tavam pegando fogo - faz parte, acredite), o problema do Pacers não foi seu jogo no lado defensivo. Fizeram tudo corretamente, e obrigaram o Heat a jogarem muita bola. O Heat jogou. Nao tem nada de errado ai (Com uma excessão, mas chegaremos lá).

O problema, que matou o Pacers nos tres ultimos jogos (e mesmo em alguns periodos dos demais jogos), foi o ataque do time. Com um garrafão maior, mais habilidoso e um time mais completo de maneira geral, o Pacers tinha que começar seus ataques pelo garrafão e explorar a vantagem na altura, atacar os rebotes ofensivos e forçar o Heat a abrir o espaço com dobras na marcação. Mas o Pacers tentou fazer o que tinha dado certo contra o Magic, de combater um time baixo com outro time baixo e veloz, o que nos levou a muitas lineups com LEandrinho, George Hill, Darren Collison e George juntos em quadra. Contra o Magic, que não tinha um time veloz, isso funcionou. Contra o Heat, foi suicídio.

O Heat da temporada regular teve muitos problemas com ataques de meia quadra. O ataque do time dependia demais da individualidade de seus dois craques, e isso muitas vezes resultava em um ataque previsível e estagnado. O que realmente tornava o Heat perigoso era sua capacidade defensiva, e especlmente sua capacidade de sair nos contra ataques. Normalmente, contra ataques são resultados de turnovers, que fazem seu ataque sair em vantagem numérica e em velocidade. No entanto, times como o Heat (por causa da habilidade e capacidade física de Lebron e Wade) conseguem puxar contra ataques mortais simplesmente de rebotes mais longos que peguem a defesa voltando. Quando um dos dois pega um rebote mais longe do aro, o outro já esta disparando pra cesta, e ai é impossivel parar a capacidade de passe e a explosão fisica da dupla. As vezes, uma boa defesa de transição consegue voltar a ponto de evitar a cesta imediata no contra ataque, mas mesmo assim volta muitas vezes desorganizada, o que resulta em matchups desfavoráveis, e o Heat sabe muito bem usar isso a seu favor.

Em outras palavras, o Pacers tinha um plano de defesa na meia quadra baseado na ausência do Bosh, mas pra evitar o estrago que o HEat era capaz de causar, ele também teria que jogar no ataque de forma a evitar o jogo de transição de Miami. E nisso que o Pacers falhou miseravelmente. Ao invés de focar seu jogo no garrafão (West tava fazendo o que queria), explorar sua vantagem na altura pra abrir as bolas longas, brigar nos rebotes ofensivos próximos ao aro e, mais importante, evitar rebotes longos que fariam o Heat sair nos contra ataques. Mas ao invés disso, ao insistir com sua lineup mais baixa (e portanto numa maior rotação de bola - que eles não são bons - e/ou arremessos forçados individualmente) e mesmo quando tinham seu garrafão alto em quadra, preferiram ficar rodando a bola no perímetro e forçando bolas longas sem o menor propósito. E o Heat aproveitou dos rebotes longos e do excesso de erro do Pacers pra sair na transição e conseguir os pontos fáceis que não iriam conseguir na meia quadra sem Bosh. A diferença começou a aumentar, e o Pacers cada vez mais forçava o jogo de fora ao invés de levar para o garrafão.

E ai o Pacers esbarrou na sua imaturidade, sua falta de know-how de playoffs. O time ficou assustado com a intensidade do Heat e começou a ficar nervoso, errar muito e viver de bolas longas, o que só aumentava a vantagem do Heat. Ao invés de explorar a vantagem que tinham no garrafão, eles deixaram transparecer sua imaturidade e falta de um jogador capaz de organizar o jogo. O Pacers perdeu o controle da série quando Lebron (Jogo 4) e Wade (Jogos 5 e 6) começaram a pegar fogo, e o Pacers tentou contraatacar com bolas longas e uma velocidade que favorecia muito mais o Heat. Faltou alguem pra colocar a bola embaixo do braço e tomar as decisōes certas, mas o Pacers não tem esse jogador, e então se limitou a ver George e Granger chutando bolas imbecis muito bem marcados pela excelente defesa de Miami, pro Lebron pegar os rebotes longos e levar pro outro lado e enterrar como se estivesse jogando em casa, enquanto o garrafão do Pacers era totalmente ignorado.


Chegamos, então, ao ponto que o Heat venceu a série e enfrentou o Celtics. O Celtics, ainda que tivesse suas diferenças pro Pacers, tinha que seguir o mesmo padrão: Evitar infiltraçōes, proteger o aro, e evitar os contra ataques. Pra isso, com um time tão velho e sem perna, o essencial era que o Rajon Rondo tivesse inspirado pra achar os companheiros em boas condiçōes de finalizar, pra evitar aquele ataque estagnado do Boston que geralmente termina com um arremesso longo e forçado do Pierce.

No jogo 1, o que se viu foi exatamente o contrário. Um Rondo pouco inspirado, um Celtics que não tinha como achar outras opçōes ofensivas eficientes (O unico momento que o Celtics ameaçou o Heat - segundo quarto - foi quando o Rondo jogou bem pela unica vez no jogo) e deixou o Heat deitar e rolar. Por mais estranho que pareça, tanto Celtics como Pacers tem boas condiçōes de enfrentar o ataque do Heat quando está na defesa, mas pecou pelo fato de que a forma como executou ofensivamente permite que o HEat explore sua maior força, os contra ataques. Se o Celtics quer ganhar o jogo 3 hoje a noite, vai ter que jogar como jogou o primeiro tempo (e mais alguns periodos do quarto periodo) do Jogo 2: Fechando o garrafão defensivamente, evitando turnovers e com o Rondo costurando a defesa do Heat pra achar os companheiros livres, evitando assim os chutes longos. O Jogo 2 fugiu do controle do Celtics no terceiro periodo, quando um cansado Rondo (que jogou TODOS os minutos do primeiro tempo) preferiu se segurar um pouco e o ataque do Celtics começou a viver demais de jogadas de isolação do Paul Pierce, que facilitaram em muito a vida do Heat porque terminavam em arremessos longos, contestados, que viravam rebotes longos e contra ataques.

Sim, o Celtics está limitadíssimo por causa das lesōes, e por isso depende demais do Rondo em um bom dia. O banco não é bom, seu melhor chutador de longe (Ray Allen) está jogando com um fucking pedaço de osso no tornozelo, o time não tem outro armador pra criar as jogadas além do Rondo... A gente sabe de tudo isso. Mas se quiser uma última chance com o Big Three (Allen e Kevin Garnett são Free Agents após essa temporada), o jogo de hoje é crucial, e o Celtics vai ter não só que defender muito bem e fechar o garrafão, como vai ter que executar o seu ataque de forma correta e eficiente. Contra o Heat, não adianta só defender bem, você precisa de boa execução ofensiva. O Pacers não conseguiu, e o Celtics teve problemas por causa disso. Hoje, vai ter que ser diferente se quiser ganhar esse crucial jogo 3.

2 comentários:

  1. 3 Jogos depois nessa série e as coisas mudaram um pouco, não?

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  2. Pois é. E olha que o Celtics simplesmente fez os ajustes que devia ter feito desde o começo: Diminuiu isolaçōes, forçou o jogo no garrafão e evitou turnovers e contra ataques pro Heat.

    Como eu disse, não era rocket science, mas precisava de paciência e dedicação. Pro Celtics, faltava o primeiro, mas tão ganhando isso na marra.

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