Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

O Thunder está pronto

Harden ensina Durant a arte do flop


Eu sei que sempre bato nessa tecla, e vou continuar batendo nela até o fim, mas um time de basquete (E provavelmente de qualquer outro esporte) é uma composição de várias partes que vão muito além do talento, da habilidade dos jogadores que jogam nele. Essa parte é importante, claro, quando você tem jogadores muito bons você tem muito mais facilidade para fazer as coisas acontecerem dentro de quadra. Mas não é só isso. Um time depende muito também de como esses jogadores e suas habilidades se encaixam dentro de quadra. Depende da forma como os jogadores interagem uns com os outros durante o jogo. De como os jogadores abraçam seu papel no time. De como eles influenciam seus companheiros (dentro e fora de quadra) com coisas que vão além de estatísticas (dois exemplos, bom e ruim: Tim Duncan e Wilt Chamberlein). E, também, qual é a motivação desse time, qual é o objetivo que faz eles brigarem pelo título com tanta vontade (ou não).

Não venham falar que a motivação de qualquer time é "ganhar o título", porque não é isso. Um título não tem o mesmo peso pra todos os times, e nem todos os times tem as mesmas razōes pra querer ganhar. Na verdade, existem basicamente três tipos principais e diferentes de motivaçōes, na falta de uma palavra melhor (Confesso que não gosto dela, prefiro em ingles "Driving force", mas enfim), para os times que brigam pra conquistar um título, com suas variações.

A primeira, é a do time (note bem, time, não franquia) que está jogando pra conquistar seu primeiro título. Aquele time que é bom no papel, sabe disso, mas que ainda não chegou lá, que ainda não se sacramentou como o melhor time da NBA com um título. Um time que está perto, mas ainda falta aquele know-how de como chegar lá, aquela confiança de quem já fez uma vez e sabe o que tem que fazer pra chegar lá. Entre os grandes times da NBA que se enquadraram nessa categoria (e obviamente foram campeōes), o melhor exemplo é o Bulls de 1991, que finalmente conquistou seu primeiro título (outros exemplos: Sixers de 83, Lakers de 2000, e por ai vai).

O segundo é o time que já foi campeão e está tentando defender o título. É uma motivação um pouco mais baseada em orgulho, do time que chegou no topo e agora está tentando enfrentar os que tentam desafiar sua posição. Esse tipo de time as vezes sofre com sonolência em alguns momentos da temporada, mas que liga o turbo quando importa, quando tem algum time ameaçando roubar a posição. Geralmente tem um pouco mais de experiência do que o do tipo anterior, como quem já esteve lá recentemente e sabe o que fazer. Historicamente, podemos citar times como o Bulls de 92/97, Lakers de 88 e de 2001, 90% dos times da carreira do Bill Russell, e por ai vai.

E por fim, meu tipo favorito de motivação: O grande time que ta puto, que ta jogando como se fosse algo pessoal. Se aplica particularmente a um caso, o de um grande time que já foi campeão, esteve no topo, mas foi derrubado e agora ta lutando pra recuperar seu lugar no topo, e dai entra em modo de "Eff-You" e não quer só ganhar de todo mundo, mas massacrar todo mundo pra provar um ponto. Curiosamente ou não, é o time que gerou meus times favoritos de todos, em particular os três times que eu considero os maiores de todos os tempos, e fizeram justamente essa rotina de "Não temos só que ganhar, temos que massacrar todo mundo": O Bulls de 96, o Lakers de 87 e, claro, o Celtics de 86 (Bird, Parish, McHale, Dennis Johnson, Bill Walton, Danny Ainge e Scott Weldman.. Serio?? SERIO??).

O Thunder se encaixa, naturalmente, na primeira. E, embora seja impossível dizer qual das três "motivaçōes" é a que melhor motiva um time, a primeira tem uma desvantagem, que é a falta de experiência. Não necessariamente experiência em jogos ou mesmo playoffs, e sim experiência em vencer títulos, saber o que fazer pra chegar lá, ter a vantagem de ter vivido isso uma vez. Pode parecer besteira, mas isso pesa. Essa foi, por exemplo, o maior motivo de eu achar que o Thunder fez muito bem em trazer o Derek Fisher. Ainda que dificilmente o Fisher vá adicionar ao time (Eu sei que ele acerta umas bolas longas, e o Thunder precisa disso, mas NADA justifica ele jogar 38 minutos num jogo de playoffs. Nada) muita coisa dentro de quadra, ele é um jogador que já passou por cinco campeōes, e que poderia passar esse tipo de experiencia pros seus companheiros.

Se o resultado foi por causa do Fisher, não da pra saber. Mas o fato é que o Thunder - aquele time que ano passado perdeu do Mavs justamente por falta de know-how e de experiência - agora ta mostrando muito mais maturidade e muito mais compostura do que nunca. E isso se ilustra muito bem na evolução do Thunder fechando jogos. Se ano passado os finais de jogos apertados eram um tormento para o Thunder por causa da insistência do Russell Westbrook em arremessar todas as bolas e cometendo turnover atrás de turnovers, e também pela falta de uma segunda opção ofensiva para o time quando as bolas do West e do Kevin Durant não estavam caindo. Faltava calma pra fazer a jogada certa, faltava saber qual era a jogada certa. O time queria responder rápido demais, queria fazer tudo do jeito mais fácil. Normal pra quem não tem experiência, mas era o que separava o Thunder dos grandes times, o passo que faltava pro Thunder ser um favorito ao título.

Nessa temporada, o Thunder está diferente. Contra o Lakers, o Thunder já mostrou uma postura muito diferente, e eu até comentei que precisava fazer isso mais vezes pra provar que tinha realmente aprendido, e não que tinha sido apenas um ou dois dias bons. Bom, aconteceu de novo. Mas não foi só isso que mudou no Thunder. Enfrentando um adversário muito difícil como o Spurs, perdendo de 1-0, o Thunder tava tomando uma surra no jogo 2 com o Spurs jogando um dos basquetes mais bonitos que eu vi em toda a temporada, cheio de contra ataques, bolas de três e passes maravilhosos. A vantagem passou dos 20 pontos. E entrando no quarto periodo, mesmo depois de um Hack-a-Splitter (Que só tirou um ponto da vantagem do Spurs, mas tirou o time do Texas do seu ritmo ofensivo), a desvantagem era de 18 pontos. E o Thunder continuou atacando, continuou martelando, continuou brigando, até que o Spurs teve que apelar pras bolas individuais do Manu Ginobili pra conseguir ganhar o jogo com tranquilidade. Mesmo que, com a vantagem caindo pra 5 e tudo, eu nunca tivesse realmente sentido que o Spurs ia perder o jogo, eu lembro de ficar muito impressionado com o modo como o Thunder continuava atacando, continuava lutando, incapaz de aceitar a derrota. Eu lembro de ter comentado com meu amigo que estava vendo o jogo comigo "Esse time está realmente com vontade...". E era verdade.

Mas o teste pro Thunder foram os dois jogos em casa, perdendo de 2-0 e o Spurs jogando o fino da bola. Embora boa parte das reviravoltas do jogo 3 tenham sido graças a dois fatores externos a isso tudo (A excelente e ganhadora do prêmio "Porque diabos demorou três jogos pra ele fazer ESSA mudança??" (Também conhecida como prêmio "Porque diabos demorou quatro jogos pro Dennis Johnson marcar o Magic Johnson em 1984??")  mudança do Scott Brooks de colocar o Thabo Sefolosha pra marcar o Tony Parker - importantissima porque obrigou o Spurs a rodar a bola sem um infiltrador, tirando o famoso slash-and-kick do Spurs que era a alma do seu ataque de meia quadra - e o fato de que os role players do Thunder - em especial o Serge Ibaka - começaram a acertar seus arremessos, tornando o Thunder um time mais perigoso quando a bola saia das mãos do seu Big Three.

E ai chegamos ao jogo quatro. Ainda que o jogo de 26 pontos, 11-11 arremessos do Ibaka tenha sido espetacular e provavelmente o grande motivo do Thunder ter ganho, nem de longe foi isso que me chamou a atenção. Na verdade, o que realmente ficou desse jogo foram os 18 pontos do Durant no quarto período. O Thunder alí estava fazendo o obvio: Colocando a bola na mão do seu craque, e deixando ele decidir. E ele decidiu. Foram bandejas, enterradas, bolas longas, bolas curtas, lances livres, bolas de três, você pode pedir o que quiser, ele chegou a estar 7-8 de arremessos em certo ponto. E ele fez isso sobre marcação dupla, tripla, troca de marcação, Kawhi Leonard, Stephen Jackson, Ginobili, Tim Duncan... E continuou pontuando, mesmo com o Spurs respondendo tudo do outro lado com lindas jogadas. O Spurs ameaçou, e o Durant - e o seu time - continuou calmo como se estivesse treinando. Confiou no que tava dando certo. No que deu certo contra o Lakers. E o Thunder venceu.

O Thunder venceu e foi pro jogo 5 tentando quebrar, pela primeira vez em todos os playoffs, o mando de quadra do Spurs, que tava 6-0 em casa nos playoffs. E o Spurs fez o que se esperava, jogou bem, abriu vantagem, teve sequencias de pontos... E nenhuma vez o Thunder pareceu desanimar ou perder o foco. Manteve o foco, não se autodestruiu (sua marca registrada), confiou no seu plano de jogo e continuou executando seu estilo. Esse era exatamente o que eu mais elogiava no Spurs: Sua capacidade de manter a calma e a confiança mesmo quando as coisas davam errado, mesmo quando seu estilo de jogo não estava funcionando. Faziam os ajustes necessários, claro, mas sabiam onde estavam suas maiores forças, e continuavam usando-as, sem tentar fazer grandes mudanças no seu estilo de jogo. O Thunder não tinha isso ano passado. Mas esse ano, eles fizeram isso contra o forte Lakers, e agora contra os fortíssimos Spurs. Eles tinham o talento, os jogadores pra serem campeōes, mas eles não tinham a cabeça pronta pra isso. Não sei se faltava um campeão como Fisher no elenco, se faltava uma derrota dolorida como pro Mavs ano passado, ou se simplesmente tempo jogando junto, mas o fato é que o Thunder finalmente adquiriu a mentalidade certa. A confiança, a calma e até uma certa experiência. Ta jogando cada vez mais como um time que achou o jeito de vencer, e ta indo com vontade. Sabe a hora de confiar em Durant, sabe a hora de envolver os coadjuvantes, sabe a hora de deixar o James Harden armando tudo. E tudo se encaixou em torno disso.

Ainda que eu esteja um pouco decepcionado pela forma como o Spurs respondeu ao Thuder depois dos jogos 3 e 4 (Não conseguiu voltar ao seu jogo com o Parker bem marcado pelo Sefolosha, exagerou nas isolaçōes, viu varios jogadores perderem a calma, e basicamente deixou de lado a calma e eficiência que eu tanto idolatrava), o Spurs ainda é um tremendo time que merece muito respeito. O trio de Manu, Parker e Duncan ainda eé capaz de jogar muito bem, e o Spurs tem mais depth que qualquer time na NBA. Eles tem um estilo de jogo que foi muito eficiente, já mostraram que sabem se adaptar e podem jogar qualquer estilo. Mas a verdade é que tudo que eles fazem, o Thunder ta respondendo melhor, mesmo com um elenco não tão completo, mesmo com um tecnico bem mais limitado. Mesmo o Spurs sendo um time que já esteve no topo, sabe o que tem que fazer pra chegar la... Eles simplesmente não conseguiram nos ultimos jogos, porque o Thunder tem respondido cada tentativa deles, com Durant liderando o show.

O Thunder agora está focado, está confiante e encontrou o seu melhor jogo. Times novos costumam demorar pra atingir esse nível, mas Oklahoma conseguiu bem na nossa frente. E sim, seus três melhores jogadores somam 67 anos. Chega a ser injusto. Durant tem 23 anos e está jogando com uma maturidade e resolução de um veterano. Não lembro qual foi o último Hall of Famer certo aos 23 anos (Lebron, provavelmente), mas Durant está chegando lá. Todo grande Superstar tem um momento que define sua chega na Liga, como quem diz "Cheguei, podem se preparar, porque eu sou pra valer". Jordan teve seu jogo de 69 pontos no TD Garden. Dwyane Wade teve as Finais de 2006. Lebron teve os 29 pontos contra Detroit em 2007. E Durant deixou seu aviso no jogo 4 das Finais do Oeste de 2012, uma obra prima de quarto período de 18 pontos sem forçar nada, acertando arremessos como se brincasse, contra um dos melhores times que vimos nos ultimos anos no meio de um furioso rally no 4th quarter pra tentar virar a partida. Esse tipo de calma, de confiança e de execução não é a marca do time imaturo e inexperiênte que o Thunder era ano passado. É a marca de um time com a mentalidade certa pra ser campeão. E o Thunder chegou lá. Sem querer comparar os jogadores ou mesmo os times dentro de quadra, é o Bulls de 91 tudo de novo, com um Superstar tendo seu momento de grandeza nos playoffs e o resto do time encaixando em torno dele. Agora que o Thunder finalmente atingiu o estado ideal de equilíbrio psicológico, ele é um time extremamente perigoso. Pra esse ano e para muitos outros por vir.

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