Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sábado, 23 de junho de 2012

Um anel para South Beach

Convenhamos: Ele é bom demais pra passar três Finais em branco


Quinta feira passada, enquanto o jogo 2 das Finais da NBA rolava em Oklahoma City, eu tava no Morumbi para ver São Paulo e Coritiba pela Copa do Brasil. Pra quem não sabe, ou apenas não liga, foi um jogo horrível, o São Paulo jogou muito mal o primeiro tempo todo, bagunçado, deu raiva. No intervalo, tava vaiando o time a plenos pulmōes. No segundo tempo, o Sampa teve um jogador expulso, passou sufoco, tomou bola na trave... E no final do jogo, ganhou com um gol numa jogada individual isolada de tudo que o time tinha feito, extremamente nervoso, mas todo mundo sabe que assim da um sabor especial. Quando acabou o jogo, 1 a 0, eu comentei com meu pai que não sabia como eu tava me sentindo, nem como eu devia me sentir. Bravo, pelo futebol muito fraco apresentado pelo time? Aliviado, pela vitória que poderia facilmente ter sido uma derrota? Animado, pela vitória emocionante no final? Francamente, eu não fazia a menor ideia de como eu me sentir. Era uma overdose de emoçōes diferentes e conflitantes, provavelmente excessivas, já que era meu time do coração (No final das contas, não adiantou nada, o time perdeu o jogo de volta e foi eliminado. E é por isso que vocês não verão mais nenhuma referencia a futebol nessa coluna. Eu odeio todo o mundo).

De certa forma, foi assim que eu me senti sobre as Finais desse ano. Como nenhum é meu time do coração (Celtics) e nem... bem, o Lakers, minhas reaçōes mais sobre o ponto de vista de um fã de basquete. Mas confesso que, mesmo como fã de basquete, eu tive muitas reaçōes totalmente contraditórias sobre essas Finais. Algumas coisas me deixaram feliz, outras me deixaram frustrado, outras me deixaram irritado, outras me deixaram maravilhado... Foi uma overdose de sentimentos conflitantes.

Talvez o principal conflito tenha sido por quebra de expectativas. Eu assisti muitos jogos do Thunder esse ano, sempre gostei da equipe e acompanhei a evolução deles ao longo do ano muito de perto, culminando naqueles quatro jogos contra o Spurs onde eles engoliram o melhor time da NBA quatro vezes seguidas com uma compostura e confiança que eu não tinha visto até esses playoffs. Pra mim,  o Thunder tinha finalmente encontrado uma compostura que iria manter esse time um pouco sem cérebro mais confiante, menos desesperado, e que isso seria essencial junto com todo o talento, depth e versatilidade da equipe pro time bater de frente com o Heat, trocar alguns golpes, ver cada time sendo obrigado a aumentar cada vez mais seu nível pra conseguir vencer, e no final de sete jogos teriamos um vencedor saindo de uma longa, disputada e brigada série. Mais ou menos como dois pesos pesados presos num ringue, trocando golpes o tempo todo, cada golpe forçando o adversário a responder ainda mais forte, cada um forçando o outro a um nivel ainda maior, até que um caia e o outro saiba que chegou no seu melhor pra vencer.

Bom, isso não aconteceu. O Thunder entrou mais focado, usou exatamente o mesmo que fez contra o Spurs, e deu o primeiro soco no Jogo 1. Como esperado, o Heat fez alguns ajustes e voltou melhor no jogo 2, devolvendo o soco e empatando a série. Ainda que o Thunder não tenha feito muitos ajustes no jogo 3, o time voltou mais focado novamente, viu seus talentos individuais e em certo momento até os coadjuvanetes elevarem seu jogo, abriram 10 pontos de vantagem... E ai o Kevin Durant cometeu sua quarta falta e saiu, Russell Westbrook tomou duas decisōes idiotas, o Scott Brooks tomou a pior decisão da série tirou Westbrook por "razōes de basquete" (o que nos levou aos piores 5 minutos de basquete dos playoffs)... E o Thunder NUNCA foi o mesmo. O time foi massacrado nos minutos seguintes, perdeu a confiança, viu os coadjuvantes sumiram completamente do jogo (James Harden e Serge Ibaka ainda estão sendo procurados pela polícia, foram vistos pela ultima vez em Oklahoma City, quem tiver informaçōes favor contatar as autoridades), e tentou manter o ritmo contra o Heat (que genuinamente jogou como um time de basquete, finalmente entendeu que basquete depende tanto da parte subjetiva, do conceito de "time", da forma como os jogadores se relacionam, quando do talento que eles tem de sobra... Mas já voltamos a esse ponto), e tentou se manter na série contando apenas com o individualismo de seus craques Westbrook e Durant, enquanto o Heat jogava como um time, envolvia todo mundo e mostrou que finalmente se achou como um time.

Isso quase deu certo no Jogo 4, quando o Thunder jogou um primeiro quarto igual ao que vinha fazendo até aqui, com a diferença que as bolas cairam, os coadjuvantes apareceram e o Heat começou a partida fazendo exatamente o contrário do que tinha dado tão certo nos jogos 2 e 3 (Ao invés de atacar a cesta, trabalhar no pick and roll e rodar a bola para os jogadores cortando em direção ao garrafão, o Heat jogou muito em isolaçōes, rodou pouco a bola e tentou jogar com arremessos de fora, o que não deu certo), e o Thunder abriu uma boa vantagem... Até o Heat se acertar, começar a acertar as bolas longas, Lebron brincar de Larry Bird (Quando o arremesso de Bird não estava caindo, ele parava de arremessar, começava a atacar o aro, jogava mais perto do garrafão, pegava rebotes, cavava faltas e usava seus passes para afetar o jogo de outras maneiras... E foi exatamente isso que Lebron fez, só que muito mais forte fisicamente e melhor defensor, pra compensar o fato de que não tem um bom arremesso ainda) e achar companheiros livres pra cestas fáceis, dominar o Thunder fisicamente (Ele até teve menos sucesso assim quando foi marcado por Thabo Sefolosha, mas dominou quando marcado por Westbrook e, especialmente, James Harden. Eu juro que tou até agora tentando entender porque o Nick Collison não foi marcar ele num jogo onde ele tava dominando o Thunder jogando de Power Foward, no post, sendo marcado por um SG - realmente não foi uma boa série do Brooks), e o Thunder tentou responder com mais individualismo e bolas longas... Que dessa vez não caíram, e o Thunder novamente não teve calma pra adaptar seu jogo, insistiu na afobação e fez exatamente o que o Heat queria.

E ai, depois de ver Lebron jogar três quartos transcendentais, algo que Bird teria assinado embaixo, Russell Westbrook decidiu que tava na hora dele aparecer também. Ele pegou a bola, e começou a atacar a cesta (Algo que faz menos do que devia, ele é muito mais mortal assim, mas enfim), começou a fazer cesta atrás de cesta, tirou sozinho a vantagem do Heat, e manteve o Thunder no jogo enquanto Miami continuava acertando as cestas, mesmo depois que Lebron saiu com câimbras (Lebron sente câimbras? Ele é humano?? Daqui a pouco vão me falar que ele também sangra e sente frio... Pff). E o Westbrook continuou chamando a responsabilidade com Durant apagado, marcou 18 pontos no quarto periodo, terminou com 43 pontos... E claro, matou as chances do Thunder no final quando cometeu uma falta intencional no Mario Chalmers (Pegou fogo no jogo, 25 pontos, o Heat não ganharia sem isso) quando ele teria tres segundos pra dar um arremesso totalmente desequilibrado e o Thunder ainda teria 13 segundos pra empatar o jogo com uma bola de trés (ele achou que o cronometro tinha voltado pra 24 segundos, ao invés de 5, quando deu a bola presa). Westbrook, mais resumido impossivel: 43 pontos, 18 no quarto periodo, sozinho salvou o jogo e manteve o time na partida... E por um instante de burrice matou as chances do time no jogo.

Mas sinceramente, se você culpa o Westbrook pela derrota do Thunder, pode parar de ler essa coluna. Tipo, agora mesmo. A verdade é que cada jogador na NBA é como se fosse um pacote - ele tem coisas que ele trás, que ele adiciona, e tem coisas nele que prejudicam o seu time. Ate mesmo Lebron tem o lado ruim do pacote (No caso, seu arremesso de meia e longa distância, ainda muito erráticos - e sim, isso é buscar migalhas), qualquer jogador o tem, a questão é o jogador e o tecnico trabalharem pra minimizar o lado ruim, e também qual o custo-benefício de ter aquele jogador em quadra. Com Westbrook, você sabe exatamente o que vai ter: Um bom defensor, excelente nos contra ataques, muito atlético, um dos maiores competidores da NBA, um cara que joga com tudo que tem do primeiro ao último minuto, otimo atacando a cesta, ocasionalmente vai pegar fogo de meia distância... E ao mesmo tempo um jogador muitas vezes precipitado, um SG jogando de PG que não sabe exatamente como conduzir um time, um jogador que as vezes vai transformar sua intensidade em afobação, que vai insistir com o que da errado, e vai tomar decisōes ruins em quadra. Tudo isso faz parte do pacote, mas a questão dele é: Você está melhor aguentando a parte ruim do Pacote Westbrook pra usufruir da parte muito boa do que não utilizando nenhuma das duas. Sim, o Westbrook tem que trabalhar de forma a minimizar o lado ruim, mas não pode em nenhum momento abandonar o seu lado bom, o que faz dele especial... E se o custo disso for algumas más decisōes em quadra, excesso de afobação, e tudo o mais... Bom, então que seja. O Thunder é um time muito melhor com ele. Só ver o que aconteceu no Jogo 3 quando Brooks estupidamente tirou ele de quadra, sendo que Durant já estava no banco e Harden era uma múmia em quadra.

E se você acha que a pane cerebral do Westbrook foi a causa da derrota, lembre-se de que não teria acontecido se o Thunder tivesse perdendo por 14 pontos... O que teria acontecido se o Westbrook não tivesse lá pra pegar fogo e colocar o Thunder no jogo. Mesmo naquele ponto do jogo, se Westbrook não faz a falta e Chalmers errasse, o Thunder ainda tinha que pegar o rebote, montar uma jogada para uma bola de três quando o Heat sabia que ela viria (provavelmente uma isolação do Durant bem longe da linha dos tres), e acertar. A chance era bem improvável. Além disso, considere que Harden errou uma bandeja sozinho num contra ataque que deveria ter enterrado, duas bolas de três livres, e no final do jogo não quis chutar um 17-footer livre, hesitou, demorou, e acabou chutando com Chris Bosh no pescoço dele (e errou). Considere que, com o jogo empatado, Sefolosha mandou um air ball numa bola de três totalmente livre. Considere que Durant teve um quarto quarto muito ruim, teve muitos problemas com a marcação física de Lebron e Shane Battier, e insistiu em forçar arremessos longos e contestados. Considere que, com o jogo empatado e Lebron no chão com caimbras (um momento chave no jogo, quando o Thunder precisava de uma cesta pra assumir o controle) o Thunder teve um contra ataque de 5-contra-3, quando Derek Fisher (Pessima série pra ele, especialmente nos jogos 3 e 4 - NADA justifica que ele jogue 18 minutos por jogo de uma Final de NBA a essa altura), que tinha Harden absolutamente livre no perímetro e um Westbrook pegando fogo do seu lado pedindo a bola, preferiu correr sozinho pra dentro e dar um arremesso correndo da cabeça do garrafão com Bosh em cima dele na jogada mais idiota de todo o jogo. E lembre que tudo isso aconteceu no quarto período, quando Westbrook sozinho colocou o time no jogo, teve que lidar com tudo isso dos companheiros e AINDA quase ganhou o jogo sozinho, colocando a bola embaixo do braço e dizendo "De jeito nenhum eu vou deixar o time perder esse jogo!"... Francamente, foi uma das grandes atuaçōes da história das Finais, e se você acha que o Thunder perdeu o jogo por causa do Westbrook e do seu erro no final, então você precisa assistir outro esporte. Westbrook jogou como gente grande hoje, mesmo sendo apenas um pirralho de 21 anos, e quase salvou seu time num jogo decisivo. Merece o máximo de respeito possível.

(Importante demais pra deixar de fora: Um dos principais motivos da derrota do Thunder e da forma como o Heat dominou os ultimos jogos foi a total falta de ajuda que Durant e Westbrook tiveram do resto dos jogadores do Thunder. Tirando os 21 pontos do Harden no jogo 2 - 17 no primeiro tempo, apenas 4 no segundo - nenhum outro jogador do Thunder teve um bom jogo pra ajudar seus craques. Nos jogos 2, 3 e 4 - os decisivos da virada do Heat - apenas Harden com seus 21 pontos no jogo 2 e Kendrick Perkins, que teve 10 no jogo 3, passaram de 10 pontos! Ninguém mais! Quando Collison ameaçou um grande jogo com um grande primeiro quarto, ele passou os dois quartos seguintes no banco!! O Thunder chutou 27% de três pontos, ninguém acertou pra Oklahoma. E enquanto Durant e Westbrook tinham que levar nas costas o ataque do Thunder até o Final porque ninguém foi capaz de ajudar - Serge Ibaka, horrível dos dois lados da quadra, e Harden foram as principais decepçōes das Finais - Lebron e Dwyane Wade receberam muito mais ajuda dos seus companheiros, com os 18 pontos de Battier no jogo 2 e os 25 pontos do Chalmers no jogo 4, decisivos para as vitórias da equipe - até as 7 bolas de três de Mike Miller no jogo 5. O Heat não teria fechado essa série em 5 se não fossem esses dois grandes jogos dos coadjuvantes (talvez até três), e não fecharia em 5 se algum jogador do Thunder além de Durant e Westbrook tivesse aparecido nos jogos 3 e 4. Isso fez toda a diferença)

Então sim, tivemos muitos jogos divertidos, muitos jogos apertados, muitas atuaçōes espetaculares (Durant nos jogos 1 e 2, Lebron e Mario Chalmers no jogo 4, Lebron no jogo 5, Westbrook no jogo 4... E sim, de longe a melhor foi do Lebron no jogo 4) e, em geral, uma Final bem interessante. Não da pra dizer que foi uma Final ruim. Mas dada a expectativa que todos criamos (em especial que eu criei), foi uma Final um pouco decepcionante. Eu esperava mais do Thunder, esperava mais do Durant (Que teve uma série fraca depois dos dois primeiros jogos, ficou em problemas de faltas as vezes por falta de calma ou experiência - ou seja, por decisōes burras - não conseguiu escapar da marcação de Lebron e Battier, forçou bolas que não deveria ter arremessado - embora isso não seja só culpa dele, o ataque do Thunder muitas vezes só tocava pra ele e esperava um milagre - e, talvez mais importante, ficou com tanto medo de fazer falta no jogo 4 que praticamente não brigou por nenhum rebote, não tentou nenhum roubo de bola e foi extremamente frouxo na marcação de quem ele estivesse marcando - o que permitiu ao Chalmers e ao Norris Cole muito espaço pras bolas longas. Mas de novo, ele tem apenas 23 anos e tem potencial saindo pelo teto, não da pra jogar a culpa nele), esperava mais dos coadjuvantes do Thunder, esperava que o Thunder fosse conseguir subir seu nível quando precisasse, que forçasse o Heat a fazer o mesmo, e que a série acabasse escalando pra níveis épicos (quando na verdade o Heat dominou os últimos quatro jogos). Eu esperava uma Final que me fizesse falar "Wow, não sei como essa série pudesse ser melhor, ou como esses times pudessem ter jogado melhor"... E ao invés disso saí me perguntando se teríamos uma série mais disputada e parelha caso o Spurs tivesse ido pras Finais (pra mim, sim).

Então esse foi o downside das Finais, a parte que me deixou bastante frustrado, esperando muito mais, até irritado que o Thunder (que perdeu para si mesmo durante grande parte da série) não fosse capaz de elevar seu jogo nas Finais, bater de frente contra o Heat e nos dar uma experiência mais transcendental nessas Finais, como muita gente - especialmente eu - esperava. Isso foi uma decepção, e o principal motivo de eu não ter gostado tanto assim das Finais como deveria mesmo com tantos jogos disputados e decididos de forma dramática, e algumas performances históricas. No final, eu acabei tão impressionado com o Thunder contra o Spurs que subestimei a vantagem que a experiência do Heat proporcionava ao time. Em 2011, o Mavs foi um time sólido, que errou pouco, usou sua experiência, e contou com o brilhantismo de Dirk Nowitzki pra se impor pra cima do Heat e forçar o Heat a vencê-los... E o Heat acabou perdendo pra si mesmo naquelas Finais. Dessa vez, eles fizeram o mesmo, e forçaram o Thunder a vencê-los... E o Thunder, assim como o Miami ano passado, acabou perdendo para si mesmo. Mas se esse foi o lado que me deixou chateado, irritado, frustrado e que acabou com minhas expectativas, teve um lado muito positivo nessas Finais. E ele se chama Lebron James.

Olha, eu sei que muita gente não gosta do Lebron. Eu sei que o Lebron tem dois momentos indefensáveis na sua carreira (Boston em 2010, Mavs em 2011). Mas o que vimos do Lebron ao longo desse último ano é o tipo de coisa que queremos ver durante nossa vida. Se nós assistimos esportes porque estamos esperando constantemente que apareça algum jogador que transcenda tudo que já vimos, que seja tão bom que pareça mentira, que nos maravilhe como ele faz tudo parecer fácil... Ou seja, se estamos constantemente esperando alguém que apareça e nos leve a um lugar maior como fãs de um detemrinado esporte, então nós assistimos esportes por causa de pessoas como Lebron James.

Todo mundo conhece a história do Lebron - draftado com grandes expectativas, talento absurdo, potencial praticamente ilimitado, os times medíocres em Cleveland, a vergonhosa derrota em 2010 para o Celtics, e por ai vai. Depois da derrota pro Celtics em 2010 (quando Lebron desapareceu nos jogos 5 e 6, jogando como se estivesse louco pra ir embora dali), Lebron fez um tremendo show na Free Agency, e anunciou sua decisão de ir pra Miami se juntar a Wade e Bosh em rede nacional sem avisar Cleveland, uma tremenda sacanagem com o time e com a cidade. Não demorou pra que Lebron virasse um dos maiores vilōes da história da NBA: A mídia caiu matando, torcedores vaiavam o Heat em arenas lotadas ao redor do mundo, diversos ex-jogadores criticaram a decisão de Lebron, e por ai vai.

(Sobre a The Decision, duas coisas: Primeiro, o especial na TV foi extremamente de mau gosto e repreensível... E eu tenho certeza que o Lebron sabe disso, e que se pudesse faria as coisas diferentes. Segundo, não tem nada de errado da parte dele querer ir jogar com Wade - seu maior rival - mas como fãs de esporte, nós não gostamos. Queremos que grandes jogadores conquistem a concorrência, tenham rivais e duelos épicos - quem viu os jogos entre Miami e Cleveland nas ultimas temporadas antes da The Decision sabem do que eu falo - e não que eles corram pra se juntarem a eles para ficar mais fácil de ganhar um título. Na verdade, naão tem nada errado com essa decisão, ele é livre pra fazer o que quiser... Eu só odiei porque foi uma forma dele de fugir da responsabilidade de carregar um time nas costas. Mais sobre isso abaixo).

Em 2011, o Heat - e em especial o Lebron - receberam tanto ódio do resto da NBA e da mídia que acabaram assumindo o papel de vilão, abraçaram a imagem que a mídia passava deles. Em especial, Lebron mudou totalmente seu comportamento: Parou de ser aquele jogador alegre, companheiro e sorridente de Cleveland, começou a reclamar cada vez mais, deu declaraçōes polêmicas, provocou outros times, começou a encarar adversários e a torcida adversária desafiadoramente depois de cada enterrada... Em outras palavras, ele assumiu um papel de vilão que não era dele, era um papel artificial, que ele assumiu simplesmente porque recebeu mais ódio que qualquer outro jogador na era da internet. Isso acabou forçando ele uma direção diferente, que ele nunca quis, simplesmente porque jogaram esse manto nas costas dele. No fundo, Lebron ainda era um cara imaturo, que a vida toda foi cercado de gente que o idolatrava e falava sim pra tudo por causa de seu talento espetacular, e que não estava preparado pra tudo isso. Ele assumiu uma personalidade que não era dele como quem diz "Vou mostrar pra todos voces!", quando na verdade Lebron nunca foi assim.

No fundo, ele foi pra Miami justamente porque não queria a responsabilidade que tinha em Cleveland, onde seu time era fraco mas a culpa da derrota era sempre dele. Nós queríamos que ele fosse um Alpha Dog nos moldes de Jordan - nosso parâmetro de excelência - um jogador patologicamente competitivo, que valorizasse a vitória e a dominação mais do que tudo, que treinasse feito louco pra se tornar o melhor de todos, que simplesmente não aceitava ser o segundo em alguma coisa, e que levasse um time mediano nas costas pra um título na pura determinação e competitividade. Lebron não é assim, nunca quis ser assim, ele nunca valorizou a vitória mais do que tudo, como fizeram Bird, Bill Russell, Jordan, e por ai vai. Se Lebron fosse assim, talvez poderia usar ainda mais do seu talento, se elevar a níveis nunca antes vistos e ser ainda melhor do que é... Mas ele não é assim, e é uma estupidez tentar forçar ele a ser assim, porque você estaria fazendo ele ser alguém que ele não é, e sendo alguém que ele não é só prejudica seu jogo. Nós nos preocupamos tanto com o que Lebron PODERIA ser caso ele fosse diferente, uma vez que ele tem um teto praticamente ilimitado, e não olhamos pro que ele realmente é e para o que ele realmente faz, com tanta consistência que chega a ser impressionante. Podem ter certeza que tudo isso dos últimos dois parágrafos contribuiu em muito para a triste série que teve contra Dallas.

Em 2012, Lebron mudou. Na verdade, ele não mudou, apenas deixou de lado o papel que estava tentando incorporar e voltou a ser ele mesmo dos tempos de Cleveland, só que mais maduro e mais humilde, talvez por causa das Finais de 2011. Parou de falar besteira, parou de jogar como vilão e de procurar encrenca (ironicamente, quem virou um pentelho em 2012 foi o Wade, claramente frustrado), e assumiu o papel de líder do elenco não porque ele tentou se forçar nesse papel, mas sim naturalmente com Wade voltando de lesão (talvez Wade, percebendo que agora Lebron era o líder e craque do time, percebendo que pela primeira vez ele tenha ficado em segundo plano dentro do que era SEU time, tenha acabado ficando amargo daquele jeito). E finalmente entendeu que você não joga basquete pra você mesmo, e sim para seus companheiros, algo extremamente importante mas que não são todos os jogadores que entendem - pelo contrário, são poucos, e é por isso que eu insisto que a forma como um jogador afeta seus companheiros é tão importante como o que ele faz em quadra. Pela primeira vez desde 2010, ele parecia estar jogando basquete porque realmente gostava, porque se divertia, envolvendo seus companheiros... Enfim, por prazer, porque ele ama isso. E isso se refletiu demais no jogo dele. Em 2012, Lebron atingiu um nível ainda mais alto como jogador de basquete.

E nos playoffs, quando um estrupiado time do Celtics fez o que o Mavs fez em 2011, forçou o Heat a vencê-los e os colocou contra a parede no jogo 6, Lebron acabou entendendo outra coisa: "Se eu não levantar aqui e ganhar esse jogo, nós vamos pra casa. Não posso ser só bom, tenho que ser ainda melhor. Tenho que fazer mais do que isso. Vou jogar o jogo todo e marcar 45 pontos, e se mesmo assim perdermos, pelo menos eu fiz o que eu podia". Em outras palavras, Lebron finalmente fez o que eu esperava dele desde os dias de Cleveland, ele passou do nível de "grande jogador", ele finalmente colocou todas as peças juntas e alcançou algo ainda maior. Ele descobriu afinal como ele gosta mais de jogar, descobriu a melhor forma de usar seus companheiros, a melhor forma de fazer o seu TIME melhor... Tudo se encaixou, e ele demoliu o Celtics  sozinho. Nas Finais, Lebron tomou o primeiro soco de Durant, elevou seu jogo... E a série nunca mais foi a mesma, porque Lebron nunca mais foi a mesma. Ele atingiu o nível mais alto de basquete que eu vi em toda a minha vida, firmou seu estilo de jogo (único na história da Liga) da forma como era melhor, e se o Heat teve vários fatores que contribuiram para a vitória, talvez o mais importante seja que  eles tiveram o melhor jogador na série. E no mundo. E quando Lebron teve seu histórico jogo 4 - francamente, foi um dos melhores que eu vi na vida, melhor ainda que o Jogo 6 contra Boston - ele deixou claro quem ele era e o que ele queria. Ele virou um assassino, alguém que também estava falando "Não vou deixar o time perder!". Se ele nunca será um maluco patológico como Jordan, ou um jogador que valoriza a vitória acima de tudo como Russell ou Jordan, ele chegou o mais perto disso que sua personalidade permitiu. E dominou, fez o Heat funcionar muito bem, e foi o MVP com toda justiça.

Lebron acabou virando um monstro capaz de driblar no perímetro, atacar a cesta como ninguém, jogar de costas pra cesta contra adversários menores (não tem os melhores post moves do mundo, mas tem muita força e agilidade pra causar problemas), um passador de elite que não pode sofrer dobras sem punir o adversário, que pode ser o armador principal do time, que pode dominar os rebotes, e capaz de defender quatro posiçōes em altíssimo nível. Ele finalmente abraçou seu potencial, e atingiu seu auge. E sinceramente, se estamos julgando jogadores APENAS pelo seu auge, Lebron atingiu um nível nesses playoffs que só sete jogadores na história atingiram (Jordan, Bird, Magic, Russell, Kareem, Wilt e Walton). Tirando Wilt (que cansou, nunca teve o foco necessário pra manter) e Walton (que machucou demais), todos esses jogadores tiveram auges duradouros e que envolveram muita dominação. Eu sinceramente acho que isso foi apenas o começo. Lebron atingiu um nível historicamente bom, e de repente apenas um anel para Lebron começa a parecer absurdo. E não da pra negar o impacto dele nesse time, marcando Durant, distribuindo o jogo, envolvendo todos seus companheiros, achando frequentemente jogadores livres pra arremessos ou perto do aro, pontuando quando queria... Tudo simplesmente se encaixou em torno dele. Talvez ele precisasse de uma derrota com a do Mavericks ano passado pra entender tudo isso, talvez ele precisasse apenas de mais maturidade e experiência, mas o fato é que tudo convergiu de tal forma que ele finalmente alcançou o nível que seu potencial permitia. E daqui, ele talvez só suba. E por ter nos dado essa versão ainda melhor de um dos melhores jogadores de todos os tempos, esses playoffs já valeram a pena.

Pensem rapidamente no seguinte cenário: Os Marcianos invadiram a terra, destruiram algumas cidades, e nos desafiaram para uma série de sete jogos de basquete, com o futuro da Terra como prêmio. Nós temos uma máquina do tempo capaz de pegar qualquer jogador de qualquer época da NBA pra montar um supertime capaz de chutar o traseiro dos Marcianos. Mesmo que você não goste de Lebron, me diga se você NÃO iria querer Lebron 2012' no seu time?? Talvez não como seu Alpha Dog, talvez não como seu titular (Ainda colocaria Bird de titular, nem que seja por causa das bolas de três), mas DEFINITIVAMENTE iria querer ele no meu time. Um cara que defende quatro posiçōes, capaz de pontuar de dezoito formas diferentes, exímio passador, joga pro time, não se preocupa com seus números (O Lebron de Cleveland era definitivamente obcecado por estatísticas, mas não em 2012) e não precisa ser o principal jogador da equipe. Ele iria se adequar em quase qualquer esquema, jogar e qualquer formação, tapar qualquer buraco, e não iria causar problemas no grupo por tocar pouco na bola ou ter um papel mais passivo (Pros curiosos, meu time seria Magic-Jordan-Bird-Duncan-Kareem. Se voces quiserem, faço um post explicando melhor o porque e aprofundando no assunto).

No entanto, Lebron não vai ter um caminho fácil pela frente, simplesmente porque o Heat nessas finais pode ter mexido em um vespeiro. Vocês viram a cara do Durant quando o Heat venceu as Finais - foi uma mistura de frustração, decepção, e mais importante, determinação. O Thunder é um time muito jovem e inexperiente, mas essa derrota pode ser vir muito pra eles. Durant e Westbrook nunca aceitaram essa derrota, e nem vão aceitar: Vão dar a volta por cima,  evoluir ainda mais, e voltar pra desafiar o Heat. Se nessas Finais não tivemos um time elevando seu jogo, forçando o outro a fazer o mesmo, e isso se repetindo algumas vezes, fazendo no final com que ambos os times estejam em um nível superior do que eles normalmente estariam, essa derrota para o Heat tenha esse efeito no Thunder para os próximos anos. Em esportes, você precisa de alguém pra constantemente te forçar a melhorar, para que você continue evoluindo para superá-lo. Lebron perdeu esse rival quando Wade virou seu companheiro, mas acabou ganhando outro em Durant. E com certeza essa derrota (e a clara superioridade do Lebron) vão ter esse efeito no Durant e no Westbrook. Vai fazê-los evoluir, e o Thunder só tem a melhorar daqui pra frente. O Heat é o soberano na NBA no momento, mas Bulls (Não fosse a lesão do Derrick Rose, o Heat provavelmente não tería ido pras  Finais sem Bosh nos primeiros quatro jogos - e talvez até com ele, não fosse o salto de Lebron no jogo 6) e Thunder são dois times jovens que só devem evoluir indo pra frente pra continuar desafiando o Heat.

Como disse uma vez Shogun, técnico dos White Knights: "Nesse mundo, só os que são derrotados ficam mais fortes". Funcionou com Lebron James. Com certeza vai funcionar com Kevin Durant. O impacto desses playoffs ainda vai ser sentidos por muitos anos.

4 comentários:

  1. Excelente post! Fiquei curioso sobre esse seu "Dream team", seria legal um post a respeito

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  2. Excelente post.
    Meu time dos sonhos é quase o mesmo, mas vi menos o Jabbar jogando, então colocaria o Shaq de pivô (mesmo sabendo que jogou menos, mas esse eu vi jogar mais, Bird peguei o finalzinho da carreira já comprometida pelas lesões nas costas).
    LBJ foi FODA nessas finais, mas ainda acho que o Wade 2006 jogou mais que ele, especialmente nas finais. Indiferente disso, apesar de eu achar o potencial do Durant maior, HOJE o LBJ é o cara mais completo da NBA, DISPARADO.
    Excelente no ataque e na defesa, e nessa temporada mostrou um amadurecimento enorme, assumindo o time em momentos decisivos (e agora sabemos que o Wade jogou com problemas no joelho, talvez tenha que operar e nem vá para as Olimpíadas, o que só aumentou mais a responsabilidade do LBJ).
    Teremos nos próximos anos uma NBA como há muito não se via.
    Miami continuará forte, OKC será mais forte do que foi nessa temporada, o Bulls será uma das potências assim que o Rose melhorar, e por aí vai.
    Alguns times precisarão se reconstruir, como o Spurs, Celtics e Lakers, mas novas forças estão crescendo.

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  3. Farei o post sim, acho que amanha mesmo sai. Confesso que nao me divertia tanto assim com um post faz algum tempo, espero que voces tambem gostem.

    Nunca colocaria o Shaq nesse time por diversos motivos (Nao aceitaria segundo plano, miuta chance de arrumar problema, nao jogava pro time, ia arremessar demais, etc) mas elaboro melhor amanha.

    E acho que o problema do Wade não é tao simples, acho que ele só vai ter mais problemas com o corpo daqui pra frente. Ele sempre teve, seu estilo sempre foi muito reckless, e acho que com a idade chegando o corpo dele vai aguentar cada vez menos. Lebron vai ter que assumir cada vez mais a responsabilidade no time, e ainda que ele não tenha jogado ans Finais como um todo o basquete que pode jogar (Nem precisou), ele nos deu dois jogos transcendentais, pra historia mesmo (Jogo 6 contra Boston, 4 contra OKC).

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  4. Esquece que eu falei do Shaq, simplesmente tinha esquecido do The Dream.
    Ficaria Magic, Jordan, Bird, Duncan e Hakeen de titulares
    Stockton, Kobe, LBJ, Garnett e Shaq na reserva.

    Isso falando se todos fossem amiguinhos, sem problemas de egos e tal. Apenas pelo que jogaram e pela dominância que tiveram.

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