Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

terça-feira, 25 de junho de 2013

Big Two - Taking our talents to Overtime



Pra quem acompanha o blog - e em especial nosso twitter - já faz algum tempo, talvez conheça o podcast Overtime, do qual eu participo regularmente (amanha mesmo tem cast sobre as Finais com a presença deste que vos escreve). A pedido do host, Edison Rizatto, e do meu amigo Zeca Oliveira, do Jumper Brasil, estreamos essa coluna chamada "Big Two", na qual trocamos alguns emails sobre um determinado assunto. O tema do nosso primeiro foi, claro, o Draft da NBA, então trocamos emails pra tocar em diversos pontos interessantes. Aproveitando a "estreia" da nossa coluna, reproduzo abaixo o texto integral. 

Só lembrando que é nossa primeira tentativa no formato e ainda não o "aperfeiçoamos", então agradeceria muito criticas e sugestōes sobre o texto e o formato. E aproveitem a coluna!

(E aos torcedores de Miami, não odeio o time de voces, o post do titulo esta vindo. Só nao tive tempo de sentar e escrever mesmo).

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Zeca Oliveira - Para a minha felicidade, a estreia da nossa coluna aqui no Overtime é sobre o Draft da NBA. O desse ano parece ser daqueles em que um pacote com duas escolhas no final da primeira rodada é mais valioso do que uma só pick no fim da loteria.
Eu vou começar levantando a bola para você falar sobre isso, Vitor: Muita gente tem destacado a falta de prospectos com Star Power nesse recrutamento – e estou seguro de que você partilha da mesma opinião –, e que talvez este seja o pior Draft dos últimos tempos nesse sentido.
Mas vamos falar de profundidade. Onde, mais ou menos, estaria posicionado esse Draft, se compararmos seu depth aos dos anos anteriores?


Vitor Camargo – Grande prazer estar aqui estreando essa coluna com você, Zeca. Mas como todo mundo sabe que eu poderia escrever 500 palavras sobre isso, vamos direto ao que interessa e falar de Draft da NBA.
Preciso confessar que eu estou bastante animado pra esse Draft. Foi o ano que eu mais de perto acompanhei NCAA e conheço mais dos jogadores que estão saindo do que nunca, então realmente me sinto bem a esse respeito. O que provavelmente significa que em 12 meses vou estar implorando pra essa coluna ser deletada e apagada da história.

Eu acho que existe um certo preconceito em relação ao Draft. Qualquer Draft que não de mostras de grandes craques (o seu chamado Star Power) é considerado “fraco” independente do resto. O Draft de 2011 era “fraco” e nos trouxe um legítimo superstar (Kyrie Irving) e mais Kawhi Leonard, Nikola Vucevic, Klay Thompson, Jonas Valanciunas, Kenneth Faried, Iman Shumpert, Jimmy Butler e Chandler Parsons, pra citar alguns. Talvez haja faltem estrelas, tirando Irving, mas existe um amplo prato de jogadores muito interessantes pra serem escolhidos.

Eu acho que é mais ou menos o caso de 2013. Assim como em 2011, eu vejo uns poucos jogadores que podem vir a serem All-Stars, mas vários jogadores interessantes que podem ser eventuais “borderline All-Stars” ou mesmo que possam ter muito impacto se colocados no time certo. E valorizo isso mais do que muita gente: conseguir um Superstar depende demais de sorte e conseguir o jogador certo na hora certa, mas na hora de montar um time de verdade, é por esses caras que você começa. Draftar estrelas depende demais de sorte, mas achar os talentos que melhor se encaixam no seu time no meio desses jogadores é uma tarefa muito mais interessante e exige mais dos GMs (ver por exemplo o Spurs indo buscar Kawhi Leonard na 15th pick, logo depois de Marcus e Markieff Morris). Qual a habilidade envolvida em ganhar a 1st pick num sorteio e pegar Lebron? Zero.

Mas na NBA todo mundo sempre parece ir atrás das Superestrelas. Claro, não está errado, já que você parece precisar de uma pra ganhar na NBA. Mas muita gente acaba sacrificando a chance de pegar valiosos jogadores pra sempre buscar a chance – repito: CHANCE – de um Superstar mesmo precisando de 8 ou 9 jogadores pra ganhar um título (a cidade de Cleveland agora vai se tacar fogo). E parece que os GMs da NBA não concordam comigo: muitos reports indicam que times com picks altas no Draft (Top5 inclusive) estão dispostos ou tentando trocar suas picks desse ano por escolhas do ano que vem na esperança de conseguir uma pick igualmente alta num Draft melhor. O que você acha disso?


Zeca - Eu acho compreensível, Vitor. Sobretudo para franquias que estão naquele bolo de times que precisam de um jogador de grande potencial para construir em volta, como você bem comentou. Mais do que isso, eu penso que só o Wizards está numa posição confortável ali, onde vai poder escolher um jogador que vale uma pick Top5 ao mesmo tempo que cai muito bem na equipe. Já os outros que selecionarão no começo do Draft não parecem estar tão seguros assim.

O problema de tentar negociar é que, além de você estar apostando em algo incerto, a longo prazo também não irá conseguir muito em troca. Mesmo uma escolha muito alta parece estar bem desvalorizada e eu vejo poucas franquias abrindo mão de muita coisa por isso. Um time a ser explorado pode ser o Minnesota Timberwolves, o qual parece estar pressionado por sucesso a curto prazo para garantir a permanência de Kevin Love e deve estar bem interessado em caras como McLemore e Oladipo. De resto, não consigo pensar em outras opções.
Mas, Vítor, eu falei sobre como o Wizards parece estar numa boa situação ali com a terceira escolha. Se tudo correr como o esperado, eles devem poder escolher entre Otto Porter (seleção menos arriscada) e Anthony Bennett (quem pode dar-lhes uma recompensa maior). Sabendo da situação da franquia – inclusive a questão da flexibilidade financeira –, qual caminho você acha que Washington vai seguir e o que você faria no lugar deles? Ou será que eu viajei e eles vão selecionar outro prospecto?


Vitor - Engraçado que você tenha mencionado que as franquias estão relutantes em abrir mão de escolhas de Draft, pois supostamente um dos grandes problemas das trocas da Trade Deadline desse ano foi que basicamente todos os times estavam muito pouco dispostos a perder 1st round picks. Até faz sentido, com o novo CBA em lugar e uma luxury tax mais rigida, rookies são praticamente mão de obra barata. Mas considerando que alguns meses depois está todo mundo reclamando desse Draft e tentando trocas suas picks, de repente aquela precipitação parece um pouco… bom, faltou visão, basicamente. Mas com o Nets trocando Damien Lillard pelo direito de pagar 12M ao ano pro Gerald Wallace, yeah, eu até entendo a relutância.

Uma das coisas interessantes nos Drafts da NBA é como o talento disponível afeta as estratégias de cada time. Ir atrás do melhor jogador ou pegar quem melhor se encaixa ao que você já tem? É sempre uma dúvida. Geralmente nas primeiras escolhas – com os maiores talentos – os times vão em busca do valor, e mais tarde cada time preenche suas necessidades. Mas pra esse Draft sem tantos talentos de topo e praticamente sem nenhuma ordem definida, pra mim o Wizards está na situação perfeita: já tem uma boa dupla jovem em Wall/Beal e pode ir atrás de quem melhor se encaixa no seu time. Como você disse, fica entre Porter e Bennett. Porter se encaixa melhor na equipe, um SF capaz de defender muito bem, arremessar de fora e basicamente fazer as coisas certas em quadra. Mas o time precisou de pontuação essa temporada e Bennett oferece mais potencial desse lado da quadra e uma opção mais cap-friendly que os atuais Nene/Okafor. Uma decisão difícil, e não existe uma resposta certa, mas prefiro Porter – acho que se encaixa melhor com o que o time tem no elenco.


Zeca – Concordamos, então, com o que você falou da importância do contrato de rookie hoje para a construção de um time. Porter chega pronto para ajudar desde o início e, pegando ele, o Wizards deve ter cinco anos de um atleta que vai cair bem na equipe e ganhando muito pouco. Também seria muito conveniente selecionar o ala, visto que o mesmo jogou na universidade de Georgetown, que fica na mesma cidade da franquia.

Mas eu iria de Bennett aqui. Mudo de ideia quase todos os dias e provavelmente vou mudar mais vezes até o dia 27, mas tudo bem. Acho que ele é especial demais pra se deixar passar na pick 3. Quantos stretch four temos na liga hoje que comprometem pouco na defesa e rebotes? Poucos! E quantos desses podem criar o próprio arremesso e possuem o upside de Bennett? Uma lista bem pequena. Entendo que existe o risco, que Washington gastou algumas escolhas recentemente em jogadores da posição, que Anthony está machucado e pode perder uma parte importante da transição para o basquete profissional, porém também vi que o time da capital teve um ataque muito previsível nessa temporada e o canadense é um dos poucos nesse recrutamento que podem criar algo do nada nesse lado da quadra.

Essa nossa discussão, entretanto, pode estar sendo precipitada, visto que vão haver duas escolhas antes dessa do Wizz. Num Draft sem unanimidades, o Cavs vai ser a equipe que vai ter a honra de conduzi-lo. E eu não sei se a franquia de Cleveland já decidiu quem vai selecionar. O Toronto Raptors esteve numa situação parecida em 2006, quando LaMarcus Aldridge era o melhor jogador do Draft, mas eles já tinham Chris Bosh no elenco. Tentaram trocar a escolha, sem sucesso. O jogador preferido deles (Rudy Gay) era um bom fit, mas pegá-lo na primeira pick seria demais. Então eles surpreenderam todo mundo e acabaram pegando Andrea Bargnani. Estou enganado ou existe a possibilidade de o Cavs também nos surpreender e alterar todo o rumo do recrutamento, Vitor? Fala-se que podem ir de Porter, Oladipo e até Len ao invés de Noel.


Vitor – Pois é, a escolha do Cavs é quem vai dar o tom pro resto do Draft. Ignorando valor, acho que o melhor fit pro Cavs seria o Porter mesmo, mas ainda assim acho que é um poooouco demais pegar ele na primeira escolha. Antes do Draft, você tinha um claro Top2 – Noel e McLemore – mas agora você não tem mais um Top2 e sim um Top6 (Noel, Oladipo, McLemore, Bennett, Len, Porter) que pode sair em qualquer ordem… Mas ainda acho que Porter é um reach um pooouco grande demais pra 1st pick. Mas na verdade, acho que qualquer um desses pode sair na 1st pick.

Acho que o problema do Cavs é que eles já tem Tristan Thompson e Dion Waiters pros lugares de Noel, Bennett, McLemore e Oladipo, e a não ser que o time veja um deles com um valor claramente superior aos demais (o que muitos defendem ser o caso de Noel) é possível que eles tentem ir em outra direção. Em tempo, se o Cavs tivesse feito a coisa certa em 2011 e pego Valanciunas sobre Thompson, teria pego Thomas Robinson ano passado (não pegou por ser parecido com Thompson) e agora poderia pegar McLemore – teria um núcleo de Irving, McLemore, T-Rob e Valanciunas… Holy hell!! E imagina se em 2014 Lebron decide voltar pra lá?! A lição, como sempre… Deus odeia Cleveland, mas eles não se ajudam.


Zeca – Existe uma chance bem grande mesmo de estes jogadores que você citou acabarem sendo as seis primeiras escolhas do Draft. Vejo, porém, várias combinações possíveis e é o Cleveland quem vai acabar determinando a ordem.

E você também falou da falta de visão do Cavs. Esse ano isso não pode se repetir se eles querem ser levados a sério. Têm que saber qual o objetivo da franquia mesmo antes de quinta-feira: vão ou não preparar o time para uma possível chegada de LeBron James? A resposta dessa pergunta não irá só influenciar no modo como recrutarão, mas também nas decisões de trocar ou não Varejão (que atuou em 81 partidas nos últimos TRÊS ANOS), de ser ou não ativo já nessa próxima agência livre que começa em Julho, entre outras. Confesso que estou curioso para saber o plano da franquia.


Vitor – Eu acho que a chance existente de Lebron voltar pra Cleveland é de uns 30%… Pra que arriscar? Monte seu time como pode agora e pronto. Lebron é um daqueles raros atletas que se adaptam a qualquer time e qualquer função, é muito mais fácil encaixar Lebron num bom time do que se virar caso montem um time pra “esperar” Lebron e ele não vá. E pra mim esse esquema do Cavs é falho simplesmente porque a estratégia está falha: pegaram um jogador mediano em 2011, tiveram que se adaptar no Draft seguinte por causa disso e pegar um SG, que agora bateria cabeça com McLemore. Prefiro um núcleo Irving-McLemore-Robinson-Valanciunas com algum SF que se acha aos montes por ai, de qualquer forma (talvez trocando Varejão por uma escolha de Draft – mais nisso daqui a pouco).

Mas estou lendo um número muito grande de reports sugerindo que o Cavs pode pegar Alex Len com sua1st pick: Tem um “valor” maior que o de Porter pra 1st pick, um potencial maior e o Cavs claramente não confia em Tyler Zeller pra ser seu pivô. Eu gosto muito do Len, inconsistente mas capaz de engolir sozinho times como Duke (e o fez duas vezes) e ganhar duelos com jogadores como Plumlee ou Nerlens Noel. Len é um pouco um projeto de risco, como todo pivô um pouco cru que sai do College, mas ele melhorou absurdamente do ano passado pra esse e tem as ferramentas pra evoluir num grande jogador algum dia. Ainda falta desenvolver muita coisa, mas o potencial dele – e o fato de jogar numa posição carente pro Cavs – fazem dele uma escolha interessante e heterodoxa pra 1st pick. Cavs poderia trocar Varejão por mais picks, talvez desse mesmo Draft, e tentar usar essas picks pra conseguir mais ativos.

O interessante é que se Len sair na 1st pick, isso gera um ripple effect pelo resto da primeira rodada. Orlando de repente teria Noel caindo no seu colo, e tudo que foi predito antes pode mudar. Eu acho que quem mais tem a se beneficiar se isso acontecer é o Bobcats: se Len sai primeiro e Noel segundo, Wizards provavelmente escolhendo entre Bennett e Porter, então McLemore cairia no colo deles, e eu não posso reforçar isso o suficiente: McLemore é o jogador PERFEITO pra Charlotte, no mínimo um bom arremessador/defensor com grande potencial e que não está “finalizado” ainda, provavelmente significando mais um ano ruim pra Charlotte e uma escolha alta num Draft de 2014 estocado de grandes talentos. Acho que pro Cavs, McLemore seria o melhor cenário, mas acho improvável caso Len ou Porter não saiam na primeira escolha.


Zeca – Fala-se por aí que McLemore pode ficar de fora do Top5 porque os times estão a cada dia mais preocupados com sua falta de agressividade. Com certeza é muito mais fácil para um atleta mudar sua mecânica de arremesso do que a mentalidade. Mas num recrutamento onde mesmo as equipes mais bem posicionadas deverão selecionar por necessidade e não tanto por melhor talento disponível, o Bobcats deve sim pegá-lo se sobrar até a escolha quatro. Aliás, o Cats também não vai ficar muito chateado se Len ou Bennett cair no colo deles.

Dito que as seis primeiras escolhas estão quase que definidas, temos ali o meio/final de loteria, e uma franquia que está lá é o Thunder. Ter ficado com a escolha 12 num recrutamento onde a diferença de talento dos jogadores de final de loteria para os atletas de final de primeira rodada é pequena foi pra sacramentar de vez que a troca de Harden foi um horror para OKC? Seria então o caso de subir no Draft como alguns rumores já apontam?


Vitor – Cats parece numa boa posição, os jogadores perfeitos pra eles são (em ordem) McLemore-Bennett-Len, e é extremamente improvável que saiam os três antes da pick deles… E se sair, pegam o possível melhor jogador do Draft. Se ficassem com a 1st pick ia ter mais pressão sobre o jogador e sobre o time pra escolher, então achei que eles se deram bem aqui.

Eu sempre achei, desde o minuto zero, que a troca do Harden foi uma das decisões mais estúpidas do século 21, e isso foi bem antes do Westbrook estourar o joelho nos Playoffs. E um dos milhares de motivos pra isso foi que eu achei que eles estavam superestimando o que eles ganharam em retorno, em especial o valor dessa 1st pick do Raptors – um time que eu gostava e achava que ia ficar no finalzinho da loteria – especialmente num Draft “fraco” como esse. Então sim, as vezes eu acerto.

Eu acho que o x-factor da questão – da troca e do Thunder no Draft – é o Jeremy Lamb. Eu sempre fui um grande fã dele, e todo mundo sabe o quanto o Thunder precisa de um SG pontuador e com 3PT range pra vir do banco, pontuar e espaçar a quadra, e acho que o Lamb pode vir a ser esse jogador apesar da falta de oportunidades. Se o Thunder acreditar nisso, eles provavelmente vão mudar de foco e ir atrás de um homem de garrafão: Perkins é quase inútil a essa altura e um forte candidato a ser anistiado, e o time fica com Ibaka-Collison-Thabeet, so… precisam de ajuda. Acho que nesse caso eles provavelmente ficariam encantados se alguém como Zeller caísse, ou talvez Olynyk, dois big man capazes de pontuar no garrafão (algo que o time precisa urgente). Caso não, acho que eles devem olhar pro grupo Gobert/Dieng/Adams/Whitney, dependendo do que acharem mais importante: upside iriam de Adams ou Gobert, versatilidade e atleticismo no Dieng, ou um cara mais experiente e monstro defensivamente, mais all-around e capaz de pontuar no garrafão se receber bons passes mas com menos upside no Whitney.

Se for pro OKC subir, acho que seria pra ir atrás de Zeller (pra mim o encaixe perfeito) ou Olynyk, mas eu acharia muito interessante se fossem atrás de Burke, um cara que deve cair pela falta de times precisando de PGs no topo do Draft. OKC podia se beneficiar de um PG criador como Burke pra vir do banco e comandar o ataque quando KD e/ou Westbrook sentam, e sua criatividade e arremesso dariam uma variação extremamente necessária pro ataque previsível do Thunder. Vai me falar que você não estaria animado pra uma lineup como Burke-Westbrook-Sefolosha/Lamb-KD-Ibaka? Eu estaria!

Mas esse assunto é muito interessante, o Thunder está realmente numa posição unica nesse Draft. Se você fosse dar conselho pro ex-grande Sam Priesti, qual seria?


Zeca – Sabe aquele estatística de quantos km percorreu o jogador durante uma partida que vemos na Champions League de vez em quando? No basquete isso também é usado. Isso ajudou Presti a “descobrir” Tony Parker quando ainda trabalhava (não como GM, num cargo menor) no San Antonio Spurs. Parece que o francês não só percorria quase o dobro da distância de seus adversários a cada partida, mas também atingia uma velocidade máxima extraterrestre.

Enfim, o que eu quero mesmo dizer é que Presti é desses que vai usar estatísticas avançadas para recrutar jogadores sempre que puder. Quem me conhece sabe como eu gosto disso, mas também reconheço que é muito mais eficiente encontrando steals do que estrelas no começo de um Draft. Mas, pensando que ele irá por esse caminho, não tem como não pensar em Cody Zeller, que não só tem números que sugerem que seu jogo irá se traduzir bem para a NBA, como também preenche uma necessidade clara do Thunder. Basta saber se eles vão ter paciência até que ele estabeleça um jogo de perímetro mais condizente com sua posição.

Pensando nisso, meu conselho é que tente mesmo subir um pouco no Draft. Não precisa invadir o Top5, mas que garanta uma posição na qual Zeller ou Burke esteja disponível. Não tinha parado pra pensar como você provavelmente o fez, mas faz sentido selecionar o armador de Michigan. Gosto de Reggie Jackson, mas como ele vai poder ganhar espaço no time sendo uma cópia piorada de Westbrook? Os dois não podem ficar em quadra juntos por muito tempo, algo que não aconteceria no caso de Burke.

Mas, Vítor, eu falei de estatísticas avançadas e o quanto ajudam aos times a recrutar jogadores. Um cara que não fica bem colocado nesses números é Shabazz Muhammad. Ele tem um dos piores WARPs que eu já vi entre jogadores com tanto hype (Austin Rivers também tinha um WARP bem ruim…), é egoísta, não tem boas intangíveis, tem problemas extra-quadra e seu jogo de perímetro tecnicamente ainda não é tão desenvolvido quanto se espera pra um atleta de 20 anos. Pior do que isso, seu STL% – um número que geralmente está diretamente ligado ao potencial atlético de um prospecto – foi muito ruim nessa temporada. Sabendo disso, onde você acha que ele irá ser pego? De onde vem a recompensa que a franquia que o selecionar espera obter?


Vitor – Tenho um pé atrás em relação ao Zeller, mas acho ao Thunder uma situação ideal: ataque rápido, duas superestrelas, provavelmente vai ter muito espaço pra trabalhar e tem a velocidade pra acompanhar Westbrook na transição – acho o melhor encaixe pra ambos.

Mas você me conhece, sabe do meu amor por estatísticas, e existe um motivo legítimo pra eu não gostar delas no nível NCAA: A amostra é extremamente pequena, e como qualquer estatístico vai te lembrar, você não pode confiar em amostras pequenas. 36 jogos, mais ou menos, não servem pra nada em termos de amostra, especialmente jogadores como Muhammad que só ficaram um ano na NCAA. Então ainda que seus números enfraqueçam seu caso, eu ainda acho que eles só estão complementando a má opinião que Shabazz gerou nessa temporada pra quem o assistiu.

E aqui eu acho que existe uma pequena injustiça. Eu assisti um número razoável de jogos de UCLA nessa temporada e fiquei surpreso em como o técnico do time era um mané que não fazia a MENOR ideia de como usar Shabazz. Quando você tem um jogador como ele, você tem que construir seu time em torno das forças e fraquezas dele, mas ele fez o contrário e tentou encaixar Shabazz no esquema da equipe, fazendo com que ele fosse uma peça “equivalente” aos seus colegas de equipe muito menos talentosos. Eu cansei de ver jogos do Bruins onde ele era o melhor jogador em quadra mas ninguém além dele mesmo parecia perceber isso, e ele continuava posses e posses sem encostar na bola ou ter a chance de criar alguma coisa. Obviamente dadas as devidas proporções, mas imagine se o Cavs de Lebron não começasse posses de bola por ele e usasse ele mais como finalizador e supervisor do jogo, distribuindo toques de bola por jogadores como JJ Hickson e Anthony Parker ao invés de deixar Lebron conduzir o ataque. Seria um tremendo desperdício de talento, e foi mais ou menos o que eu vi em UCLA, e isso pra mim contribuiu muito pros problemas de Shabazz Muhammad – não tanto por ele não ser usado (o Usage Ratio dele foi bem alto), mas pela forma como ele era usado, sem um ataque montado por trás pra aproveitar suas forças e muitas vezes tendo que criar algo do nada ao fim do shot clock.

Claro, não foram os únicos problemas dele e eu acho que não existe a menor dúvida de que ele não é nem de longe o fenômeno que acharam que ele era chegando na NCAA. Ele tem tido problemas pra criar seu arremesso, não foi o jogador mais eficiente do mundo pontuando e teve sérias dificuldades para achar os companheiros para assistências, e como você disse, seus números são bem fracos. Mas em parte eu acho que isso se deveu a jogar em um time sem companheiros que o ajudassem, num esquema tático onde ele teve muito trabalho pra se encaixar e num excesso de responsabilidade. Prefiro focar no que ele sabe fazer: tem potencial pra ser um bom defensor se se dedicar a isso, e mostrou bom potencial finalizando tanto perto do aro como em spot-up, e acho que vai se beneficiar enormemente de jogar em um time com um PG capaz de ajudá-lo, pra que ele não precise criar seus arremessos e em um esquema ofensivo bem definido. Acho que o cenário ideal pra ele seria se dedicar mais ao seu bom potencial defensivo e se tornar uma boa opção ofensiva sem centralizar o jogo – transição, cortando em direção ao aro, se movimentando sem a bola, espaçando a quadra e abusando defensores menores no post. Idealmente ele seria um terceiro pontuador num time com um bom armador, por exemplo. E se cair numa situação que não tenha pressa pra ele produzir e se desenvolver, consigo ver ele realizando boa parte do seu potencial.

Pra mim Muhammad é o jogador que mais pode variar entre “Grande bust” e “grande steal” do Draft, dependendo de quem o pegar e onde. Pra mim ele vai cair pro final da loteria/começo da não-loteria (aquele 11-16 range) por causa da questão expectativa vs realidade, o que sinceramente pode ser uma sorte pra ele: caia num time precisando urgente de um jogador pra jogar na equipe e ele vai ser colocado pra jogar sozinho, produzir sem ajuda e carregar o time, o que vai afetar demais seu desenvolvimento. Mas se for pego por um time que possa deixar ele treinando com calma e incorporá-lo num esquema que o use melhor, com um técnico que saiba usar melhor suas habilidades e direcioná-lo pro lugar certo, acho que Muhammad tem potencial pra ser um jogador muito interessante e que deveria ser uma Top10 picknesse Draft.


Zeca – E Shabazz não é o primeiro e não será o último atleta a ter um grande hype no início da temporada, mas que acaba caindo no recrutamento por ser uma escolha de alto risco. Andre Drummond, Jared Sullinger, Greg Monroe e Kawhi Leonard são só alguns dos exemplos recentes desses caras que acabaram caindo tanto que não tinham como não dar retorno aos seus times.

Eu particularmente acho que a projeção de Bazz não caiu tanto por conta dos problemas extra-quadra que todos aqui devem conhecer. Acho que uma parte da culpa é, como você falou, do sistema de jogo do (ex) treinador de UCLA. Outra parte de problemas físicos e de elegibilidade que o impediram de se preparar bem para a temporada da NCAA e, por último, porque é um cara que até agora mostrou que só vai ter impacto pontuando e não provou que tem um jogo já desenvolvido a ponto de ser um dos melhores no fundamento. Mas tenho certeza que todos conhecem o seu potencial e não dá pra descartá-lo do Top10. Uma vez o Ricardo, do Jumper, falou que ele é agora subestimado porque todos têm focado mais nos seus pontos fracos do que nos fortes – inclusive foi exatamente o que eu fiz aqui – e me parece exatamente isso.

Agora, Vítor. Todos os anos nós gostamos de apostar em quem será o steal(s) do Draft. Ano passado eu tinha apostado em Waiters, mas ele acabou sendo escolhido umas quinze posições acima do que eu imaginava. Minha outra aposta foi Andrew Nicholson e nessa eu também não fui tão mal.

Para esse ano eu falava muito de Oladipo no início da temporada da NCAA, mas assim como Dion, ele subiu demais para poder ser classificado como steal. Então eu vou destacar dois outros atletas que eu acho que podem surpreender: Tony Snell e Carrick Felix. Agora eu quero saber de você. Quais são suas apostas e por que? Lembre-se de que tudo aqui vai ficar arquivado para lembrarmos em alguns anos.


Vitor – Concordo com você quanto ao Shabazz. Acho que o excesso de hype serviu principalmente pras pessoas olharem o que ele NÃO conseguiu fazer em relação ao que ele faz. E assim como você disse, Leonard, Monroe e Drummond se tornaram grande jogadores depois de cair no Draft, então não descarto que Shabazz acabe saindo do Top10 e se tornando um jogador muito bom – especialmente se jogar com essa motivação extra por ter visto tantos times desprezando-o (um aspecto underrated e que levou jogadores como Paul Pierce e Chris Paul a novas alturas. Tom Brady e Aaron Rodgers também são bons exemplos).

Eu sempre acho os steals muito interessantes, e achar jogadores com escolhas mais no final do Draft (ou segunda rodada) é um dos talentos mais importantes na NBA hoje em dia. Falei de Kawhi Leonard em 2011 (Yeah!!!) e de Evan Fournier ano passado, então estou numa boa sequência, por isso vou ser ousado. Um cara que eu gosto bastante pra NBA, um pouco cru mas que pode virar um ótimo Role Player, é o Tim Hardaway Jr. Ele tem um bom controle de bola, bom arremesso e força física pra jogar na NBA, e acho que tem uma boa dose de potencial se for pra um time que tiver paciência com ele. Ele tem impressionado bastante nos treinos e alguns o colocam como uma Top15 pick, e é meu candidato a steal.

Outro jogador que eu gosto é o Shane Larkin. Eu não acho que ele vá ser um grande titular na NBA, mas acho que pode ser um sixth-man de elite: bom atleticismo, excelente habilidade com a bola no pick and roll e basicamente todos os intangíveis que você espera de um PG. Pra um time como o Pacers, por exemplo, que não tem um PG de pick and roll puro, Larkin seria o reserva perfeito e pra mim poderia levar esse time a novas alturas dando mais opções e variações (Larkin-Pacers é o melhor fit desse Draft inteiro,btw).

Já que estamos encerrando aqui, queria te fazer umas perguntas diretas, jogo rápido:
a) Se você fosse começar um novo time e tivesse a 1st pick, quem escolheria?
b) Que jogador você evitaria o máximo possível entre os mais bem cotados (Top15, digamos)?
c) Qual é pra você o maior boom-or-bust desse Draft inteiro?
d) E por fim, a pergunta que não quer calar, porque o Cavs não me contrata de GM já que eles fazem tanta besteira??


Zeca – a) Considerando que eu tenho necessidade de talento em todas as posições? Anthony Bennett. Ele tem um upside maior do que Porter e Oladipo e a compostura mais condizente com a de um franchise player do que McLemore e Len. E eu adoro sua combinação de skill set e potencial físico-atlético.

b) Michael Carter-Williams. E também hesitaria em pegar Noel, pelos problemas de contusão que vem tendo na carreira.

c) Eu diria que é o grego, mas eu não sei falar o nome dele e não quero passar vergonha. Então vou de Shabazz mesmo.

d) Com um blog chamado “Two-Minute Warning” é mais fácil chamar a atenção do Browns. Além do mais, você não seca LeBron James o suficiente e comemorou um título de liga profissional americana muito recentemente para encaixar-se na cidade

Mas se você estiver interessado mesmo, quando eu for chamado para substituir Bradford Doolittle na ESPN, escrevo um texto desse nível pra ajudar (em troca de uma foto sua com a peruca do Varejão) - http://espn.go.com/blog/truehoop/post/_/id/59453/barbosa-brazilian-draft-intrigue
E fiquei curioso para saber o que você responderia, especialmente nas perguntas ‘a’ e ‘b’. Levantaria mais assuntos, mas sinto que o texto está ficando grande até mesmo pra seus padrões… um abraço pra você e vida longa aos Yankees! Tá, só estou te zuando.


Vitor – Vou responder de forma mais sucinta e que minha religião permita:
a) Eu iria de McLemore, acho que entre os principais prospects ele é quem tem o melhor “Na pior das hipóteses…”. Na pior delas ele vira um bom Defense-Threes-Atheticism, na melhor ele desenvolve a mentalidade e o ballhandle necessário e vira uma estrela. E por um motivo a mais: a Liga está muuuito carente de SGs. A Liga tem quatro SGs de Elite: Wade, Kobe, JJ e Harden, sendo os três primeiros velhos e/ou fisicamente em decadência. Quem sobra, tirando Harden, pra próxima geração? Klay Thompson? Eric Gordon se ficar saudável? Por isso acho que um SG hoje tem um valor relativo um pouco maior, e eu pegaria um SG em 1st mesmo se o último foi David Thompson, 39 anos atrás.

b) Michael Carter-Williams também, acho que ele vai ter muita dificuldade em se adaptar, especialmente se for pra um time que tente colocá-lo de cara jogando e apanhando. Gosto do talento dele, mas acho que seus defeitos vão ser expostos numa Liga mais feroz defensivamente como a NBA e não sei se tem cabeça pra isso.

c) Rudy Gobert/Steven Adams pelos motivos óbvios, muito crus e com muito potencial como muitos pivôs que dão certo e muitos mais que dão errado.

E acho melhor parar por aqui senão, como você disse, a gente escreve mais um inteiro. Grande abraço, até a próxima, e se o Yankees aparecer de novo nessa conversa, teremos uma nova onda de protestos. Fica a dica!

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