Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Pseudo-preview/post-view (?) do Jogo 1 das Finais

Ja foi um, faltam três


Quando Miami terminou sua surra pra cima do Pacers no Jogo 7 das Finais do Leste, eu pensei em dois textos diferentes pra fazer durante essa semana. O primeiro era sobre o próprio Pacers e o caminho duro que trilharam pra chegar à relevância de novo na NBA, porque esse time ainda enfrenta muita desconfiança dentro mesmo de Indiana, e porque, embora promissor, seja errado -ou pelo menos precipitado -  projetar muita grandeza no futuro desse time. Essa era minha primeira ideia.

Eu acabei descartando essa ideia por um simples motivo: Já me falta tempo, as Finais são mais importantes, e eu sempre posso fazer meu texto sobre o Pacers na offseason. Então o ideal era me dedicar a um preview Spurs-Miami dividido em varios pontos e com um palpite no final. Mas o tempo apertou, passei quinta feira me dedicando a assuntos - e uma pessoa - mais importantes, e acabou não saindo a tempo nosso preview. Então como o Jogo 1 já passou, vou mudar um pouco a ideia: Vamos pegar alguns aspectos que chamaram minha atenção no Jogo 1, analisá-los, e ver a importancia disso pro resto da série. Entao ao mesmo tempo analisamos o jogo 1 e fazemos um preview do resto da serie. Faz sentido? Não? Bom, vamos tentar mesmo assim.


Pop, o gênio estatístico

Eu sempre defendi isso e vou defender mais uma vez: Quando estamos falando de uma posse de bola, basquete é um jogo de probabilidades. É impossível, contra um bom ataque, forçar 24s violations ou turnovers toda posse de bola: O adversário vai conseguir um monte de bons arremessos e você tem que lidar com isso. A questão é que uma boa defesa sabe lidar com as probabilidades: Eles sabem que um arremesso de meia distância do Dwyane Wade é melhor do que uma bola de três da zona morta do Ray Allen, por exemplo. As boas defesas sabem direcionar os arremessos do advesário para onde eles são menos eficientes e aumentar o foco da defesa aonde eles arremessam com maior eficiência. 

Greg Popovich entende isso melhor do que qualquer técnico da NBA. Se voce assistiu a varrida do Spurs contra o forte Grizzlies, provavelmente viu Pop dando uma amostra disso: A defesa do Spurs consistiu principalmente em ignorar Tony Allen e Tyshaun Prince pra dificultar o passe pra Marc Gasol e Zach Randolph e dificultar a movimentação de ambos. Allen e Prince não eram ameaças em arremessos, e se alguns jumpers livres pra ambos era o preço a pagar pra tirar o low-post game do Grizzlies, Pop estava mais satisfeito em pagar esse preço. Por esse motivo o Grizzlies foi perigoso quando colocou Pondexter, um bom arremessador de três que forçava um marcador do Spurs a sempre estar atento a ele na zona morta. Ainda que não fosse defendido como Ray Allen, essa atenção extra a Pondexter abriu um pouco de espaço a mais no garrafão e o Grizzlies jogou como gostava.

Até agora, o Spurs está fazendo mais do mesmo. O time mais inteligente da NBA sabe perfeitamente que deixar Ray Allen livre na linha de três é perigoso mas que deixar, digamos, Chris Bosh é aceitavel se é para defender Lebron James perto do aro. O Spurs esteve muito satisfeito dando a Wade e até mesmo Mario Chalmers espaço pra arremessos de média e longa distância, sabendo que mesmo que eles acertassem alguns desses arremessos, cada posse de bola de Miami que terminasse assim era uma vitória. Enquanto os coadjuvantes do Miami não fizerem o Spurs pagar - seja por melhor posicionamento, jogadas mais inteligentes ou lineups diferentes - San Antonio vai continuar fazendo a mesma coisa. Mais nisso daqui a pouco.


Defendendo Lebron James

Uma coisa que eu sempre acho muito interessante nos playoffs é como os times se preparam defensivamente pra parar jogadores como Lebron ou Kevin Durant. Ao contrário da temporada regular, onde o tempo de preparação pra cada adversário é muito menor, nos playoffs você tem muito mais tempo para preparar multiplos jogos contra um mesmo adversário. E é ai que as estratégias ficam mais interessantes e podemos ver como cada time se vira com o que tem nas mãos. O Pacers, por exemplo, confiou na defesa mano-a-mano de Paul George e na simples ajuda de Roy Hibbert atrás protegendo o aro. 

Ainda que Tim Duncan seja um brilhante defensor, entendendo perfeitamente espaçamento, movimentaçōes ofensivas e defensivas e tendo um  QI maior que o time inteiro do Kings junto, Duncan não é mais a máquina de tocos de braços enormes que é Hibbert, e Duncan é mais eficiente bloqueando  seu próprio jogador do que voando numa help defense. Por isso, o Spurs decidiu não usar a mesma tática que usou o Pacers e mudou um pouco sua estratégia: Quando Lebron ia pra cima de Kawhi Leonard, o Spurs abandonava alguns jogadores do Miami (que, como ditos acima, são os que ofereciam menos risco cmo arremessadores) pra fechar o garrafão e colocar simplesmente jogadores no caminho entre James e a cesta, obrigando o ala do Miami a passar por não um, mas dois ou três jogadores no caminho até a cesta. Isso lembrou um pouco o que o Celtics fez em 2010 contra o Cavs de Lebron, colocando sempre um jogador atrás do marcador de Lebron mas tendo sempre um terceiro jogador pronto pra vir ajudar em velocidade e congestionando o espaço pra forçar Lebron a passar a bola ao invés de buscar a cesta.

E foi assim que o Spurs fez Lebron jogar como o que muitas pessoas estão chamando (erroneamente, a meu ver) de passivo. A ideia do Spurs desde o começo era forçar Lebron ao passe, e foi o que ele fez. Foi assim que ele terminou com 9 assistências em três quartos e um triple double, mas também foi assim que o Spurs limitou ele a 18 pontos e 44% de aproveitamento. E ai que se manifesta o brilhantismo do Spurs: Eles sabiam perfeitamente onde ajudar pra cima de Lebron. NUNCA quem ajudou a fechar o garrafão foi o marcador de alguem como Ray Allen ou Mike Miller, e sim quem estava em Wade, Chalmers, Norris Cole ou Bosh. É muito simples no papel, identificar o arremessador menos perigoso e usar seu jogador pra adicionar um corpo a mais no caminho de Lebron, mas extremamente dificil pra um time sincronizar isso em alta velocidade, fazer o reconhecimento, enviar a ajuda na hora certa e, quando necessário, rodar a defesa em volta disso. Lembro de um lance no terceiro quarto onde Lebron foi pra cesta e o defensor mais perto e apto de ajudar no garrafão era Danny Green, estacionado em um arremessador de três (nao lembro se Ray ou Miller) na zona morta. O que o Spurs fez foi brilhantemente sincronizado: Green deslizou para o garrafão pra entrar no caminho de Lebron enquanto Gary Neal, marcando um armador (acho que Cole) no topo do arco, correu pra zona morta, cobrindo assim a melhor opção de passe. É o tipo de jogada extremamente dificil de se fazer, que exige inteligencia, pensamento rapido e um entrosamento fora do comum, mas que o Spurs fez varias vezes ontem a noite.

E foi assim que o Spurs decidiu que ia marcar o melhor jogador do mundo. Kawhi fez um trabalho brilhante na marcação individualmente, mas sempre que James conseguia um espaço, o que ele via entre a cesta e ele eram mais corpos e mais braços atacando a bola e dificultando sua vida. Lebron sempre foi um passador excepcional e achou muitos bons companheiros nessa jogada, mas as opçōes de passe sempre eram as menos eficientes possíveis. E chegou em um ponto no quarto periodo que a defesa simplesmente entrou na cabeça de Lebron: Ele ja atacava pensando no passe e esperando esse momento, muitas vezes apressando um passe quando a defesa inteligentemente limitou a ajuda. Isso resultou em algumas cestas de Lebron mas também em passes apressados que pegaram a defesa já montada, algumas vezes resultando em turnovers. Ao invés de apostar na capacidade do Lebron de bater sua defesa com bons e dificeis passes, eles assumiram a capacidade dele de fazer isso e focaram em oferecer a ele as piores opçōes possiveis. Algumas cestas livres são o resultado inevitável dessa estratégia, especialmente nos momentos que o Heat cercar Lebron de um maior numero de opçōes de longa distância, mas o Spurs está satisfeitissimo cedendo essas cestas pra podar o caminho do melhor jogador no planeta. E ai chegamos ao terceiro ponto desse tema...


O elefante na sala de Miami



Por favor prestem atenção ao GIF acima da fatítida bola de três que o Bosh errou nos minutos decisivos da partida de ontem. Prestem atenção nessa sequência: Lebron atacando a cesta atrai Duncan (no garrafão) e seu marcador original (Leonard) quando percebe a dificuldade da cesta que vai ter que fazer com Duncan fechando seu caminho e os longos braços de Leonard o atacando pelas costas. Assim, ele faz um passe perfeito pro jogador que Duncan abandonou completamente, Bosh, na linha de três. Bosh arremessa sem NENHUM jogador do Spurs sequer chegar perto dele pra incomodar seu arremesso.

Repare agora em outra coisa. Primeiro, que Duncan abandona totalmente Bosh - ele não pensa duas vezes antes de atacar Lebron e nem sequer faz menção de retornar a Bosh uma vez que o passe é feito. Igualmente, Leonard não tenta rodar pra cima de Bosh mesmo com Duncan indo defender seu marcado original, ao invés disso continua indo até James pra incomodar um possível arremesso. E quando a bola está no ar, Danny Green (no canto direito, marcando Mike Miller) nunca abandona seu jogador pra tentar incomodar o arremesso de Bosh (e oferecendo a mais interessante opção de três pontos em Miller na zona morta), apenas ameaçando e logo voltando à posição incial. O resultado é uma bola de três totalmente livre.

Acreditem no seguinte: Isso não foi um erro da defesa ou um exagero de Leonard e Duncan tentando defender James - foi um abandono totalmente calculado. Não acreditam? Então chequem esse shot chart de Chris Bosh feito pelo grande Kirk Goldsberry, do Grantland.

E eis o que o Spurs sabe: Bosh não arremessa bola de três daquele lugar específico da quadra. Nesses playoffs, ele está 6-14 em bolas de três da zona morta e um total fracasso no resto das bolas de três, e mesmo na temporada regular ele evitou arremessar bolas de três da wing. Popovich sabe disso com certeza e passou aos seus jogadores: Se precisar, abandonem Bosh na linha de 3 se não for na zona morta. De volta ao que eu disse sobre identificar as melhores oportunidades e viver com as chances a partir dai, Bosh ofereceu uma enorme chance de um arremesso errado daquela posição quando as outras opçōes (Lebron atacando o aro, Ray Allen e Miller livres pra uma bola de três) eram muito mais perigosas.

E eis onde eu quero chegar: Bosh está jogando muito mal ultimamente e sendo, pra muitos, o elefante na sala pro Miami. Apesar de não estar 100% fisicamente por causa de um tornozelo torcido, Bosh tem sido um jogador muito pouco eficiente: Tendo dificuldade pra atacar o aro vindo de fora do garrafão ou mesmo aproveitar suas chances perto do aro (onde foi extremamente eficiente durante toda a temporada, Bosh tem seu valor ainda mais limitado se não conseguir acertar seus arremessos de fora. Mas pior ainda, Bosh NUNCA deveria estar posicionado naquele lugar se a intenção era espaçar a quadra - ele devia estar na zona morta, onde ele ainda exige mais atenção, e deixando o melhor arremessador Mike Miller na posição menos eficiente de três pontos. Se Bosh não funcionar como arremessador de fora, especialmente se o Heat continuar deixando ele nas wings e não nos cantos, ele vai comprometer ainda mais o espaçamento do Miami e facilitar pro Spurs continuar descendo o sarrafo pra cima do Lebron no garrafão.

Mas por incrível que pareça, Bosh não tem sido o verdadeiro elefante na sala pro Miami. Esse tem sido Dwyane Wade. Se você acredita que Wade está machucado ou simplesmente envelhecendo e sentindo o peso dos anos levando pancada atrás de pancada no garrafão pelo seu estilo de jogo (escrevi isso dois anos atrás: Wade joga como Iverson, só que nunca foi a aberração física que Iverson era. Uma hora o corpo dele não vai aguentar), não importa enquanto ele continuar tendo jogos assim. Wade não consegue acertar bolas de três e tem tido cada vez mais dificuldades com arremessos longos de dois pontos, de tal forma que toda posse de bola de Miami que acabe assim é uma vitória pro adversário. Mesmo atacando a cesta - seu maior trunfo ao longo da carreira - Wade tem tido cada vez mais dificuldades, praticamente abandonando de vez seu bom post game e sofrendo pra finalizar por cima de help defenders. Se o suposto segundo melhor jogador do Miami vai marcar 17 pontos em 15 arremessos, com 2 rebotes e 2 assistências, 1 turnover e pessima defesa, essa série vai ficar muito mais dificil pro Heat vencer.

E isso vai além dos numeros. O Spurs já mostrou que está confortável ignorando jogadores no perímetro pra colocar jogadores no caminho de Lebron, e Wade, com sua incapacidade de acertar arremessos longos a essa altura, tem se tornado um alvo muito fácil. Ter Wade em quadra compromete ainda mais o espaçamento de quadra de Miami, e se ele não conseguir fazer o Spurs pagar por deixá-lo livre (seja acertando jumpers ou atacando a cesta em velocidade se aproveitando desses espaços) San Antonio vai estar muito feliz ignorando ele quando Lebron está com a bola. E além disso, Wade tem sido uma fraqueza em quase qualquer outra área do jogo: Ele não está pegando rebotes e tem sido muito mole boxing out jogadores (Leonard fez um put back crucial em cima dele no quarto periodo ontem), e mesmo que sempre tenha sido preguiçoso pra voltar na transição, Wade tem sido REALMENTE horrivel defensivamente fora da bola na meia quadra. Ontem, Pop usou Gary Neal por longos períodos em quadra (mais do que de costume) por dois motivos: Primeiro, porque ele podia usar Neal correndo através de picks e forçando Wade a acompanhá-lo, o que ele fez pessimamente gerando cestas fáceis ou trocas de marcação que favoreciam Spurs; e segundo porque ele estava confortável "escondendo" Neal em Wade defensivamente. Não foi uma coincidência que Wade terminou o jogo de ontem -11, a pior marca da partida. 

Em resumo, o que aconteceu foi que o Heat saiu de uma série contra um excelente time defensivo cuja defesa era ultra-agressiva nas ajudas - e o Heat demorou MUITO a se adaptar a isso - e agora caiu nas mãos de uma defesa que não tem o mesmo atleticismo e alcance defensivamente mas que compensa com um esquema ultra-inteligente, muito mais seletivo nas ajudas e que está expondo alguns jogadores de Miami. E o Heat, em espcial Wade e Bosh, tem que fazê-los pagar pra mudar isso e forçar San Antonio a respeitar mais seu espaçamento. Mas segurem essa idéia, vamos voltar a ela daqui a pouco.


Defendendo Tony Parker

O outro lado da quadra oferecia uma questão igualmente interessante: Como Miami ia defender Tony Parker, uma peste durante todos esses playoffs? Em termos de matchup, Miami não tinha alguém como Kawhi-em-Lebron pra manter na frente de Parker nesses playoffs. Chalmers é um bom defensor, mas não tem como acompanhar Parker com todos seus dribles e screens. A questão era se Spolestra ia inventar uma maneira diferente de manter Parker sob controle ou se iria manter a forma normal do Heat de defender esses jogadores.

E no final, Miami defendeu Parker exatamente como eu e muita gente esperava. A base da defesa de pick and roll de Miami é simples: Usar seus jogadores uber-atléticos pra "Trap" o armador encarregado da bola, ou seja, tanto o defensor do armador como o defensor do jogador que fez a screen pula pra frente dela e atacam juntos quem está com a bola em alta velocidade, enquanto um terceiro jogador da equipe desliza pro garrafão pra tirar a opção fácil de passe para o jogador que ficou livre no pick and roll. Com o enorme atleticismo e excelente defesa coletiva de Miami, a equipe em geral consegue executar esse esquema com grande sucesso - com o objetivo principal de forçar turnovers e atrapalhar o ritmo ofensivo da equipe - e ainda recuperar em tempo de evitar cestas fáceis. E foi basicamente o que o Heat fez ontem: Atacou agressivamente Parker no pick and roll e tentou usar seu enorme atleticismo e velocidade pra atrapalhar linhas de passe e forçar turnovers, ou pelo menos tirar o ritmo ofensivo de Miami.

Em geral, a segunda parte funcionou: O time de San Antonio não teve facilidade pra rodar a bola saindo das suas jogadas tradicionais, precisou gastar mais tempo do relógio pra reestabelecer seu ritmo e rodar a bola como gosta - o time pontuou bem, mas não no nível que estava acostumado na temporada regular e mesmo no resto dos playoffs (102.3 pontos por 100 posses de bola, uma marca bem próxima da média da NBA na temporada). Mas o Spurs estava preparado pra isso, sabia da preferência de Miami por essas blitz nos armadores e do perigo que o Heat oferece nos contra ataques, então mudou um pouco seu plano ofensivo: Ao invés do ataque super agressivo, o Spurs fez Tony Parker atacar menos a cesta e procurou rodar mais a bola, usando pequenos truques de direcionamento pra confundir a defesa de Miami antes dos pick and rolls e basicamente fazendo seus armadores correrem através de 305 picks antes de receberem a bola. O resultado foi que o Spurs conseguiu menos grandes aremessos que de costume (e mesmo assim conseguiu um bom numero de 3pts livres que não converteu) mas ganhou por muito a batalha dos turnovers, cometendo apenas quatro o jogo todo e nenhum deles de Tony Parker, menos agressivo em direção à cesta com um ataque um pouco mais conservador. Isso foi especialmente útil quando consideramos que os 4 turnovers do Spurs geraram 8 pontos pra Miami: San Antonio nao consegue acompanhar Lebron em transição e sua defesa em meia quadra tem feito um excelente trabalho, então esse ritmo mais lento favorece o Spurs por enquanto.

Outra coisa interessante que aconteceu foi ver Lebron em Parker no quarto periodo. Isso também já era esperado: Apesar de não ter sido tão bom defensivamente nesses playoffs como de costume (especialmente quando tentou marcar pivôs), Lebron ainda é um defensor muito bom e capaz de colocar muita pressão no ball handler, então se o jogo chegasse apertado no final, todos esperavam ver esse matchup. E foi o que aconteceu, com Parker levando a melhor no lance decisivo por uma fração de fração de segundos (apesar da ótima defesa de James). O problema é que não tem como Lebron marcar Parker por um jogo inteiro: Hoje, Miami depende muito mais de Lebron do que dependeu dele na temporada regular, e marcar Parker é um trabalho extremamente inglório: Significa que você vai ter que correr o tempo todo e pra todos os lados, passar por 349 screens, correr 5km todo jogo e não dar nenhum espaço pro mortal arremesso do francês. É um trabalho extremamente exaustivo e pode ter certeza que se Pop vir Lebron em Parker mais cedo na partida, vai chamar ainda mais screens e movimentaçōes pra cansar ainda mais seu marcador. E com Lebron esgotando suas energias na defesa, o ataque de Miami não vai conseguir ganhar nada, então essa é realmente uma opção apenas pra momentos criticos.

Outra coisa que o Spurs explorou pra evitar as dobras em Parker foi deixar o francês iniciar o ataque sem nenhuma screen, direto do drible, pra depois movimentar a bola ou chamar uma screen quando os jogadores já estavam em movimento e em velocidade, fazendo o "trap" do Miami muito mais dificil. Embora não seja a melhor estratégia em um vácuo, vai ser bem importante continuar usando essa tática contra Miami.

Em resumo, Miami pode não ter forçado os turnovers que gosta, mas conseguiu segurar o potente ataque de San Antonio a um patamar aceitavel. Ao mesmo tempo, San Antonio conseguiu uma boa pontuação contra uma otima defesa sem se complicar na transição. Basicamente, no duelo entre ataque de SA vs defesa de Miami no primeiro jogo, tivemos quase um empate. A questão é pra quem isso é uma vantagem: No primeiro jogo, isso foi uma vantagem pra San Antonio, que nao deixou o Heat conseguir pontos fáceis e conseguiu segurar a vitória. Se o ataque de Miami ajustar e conseguir melhorar sua pontuação, esse empate pode deixar de ser suficiente pra San Antonio, e Pop terá de ajustar.


Mudanças da temporada regular

Pra quem viu o Spurs jogando na temporada regular, provavelmente viu um time muito semelhante nos playoffs em termos de lineups, esquema de jogo e tudo mais. O time pouco mudou exceto em uma coisa: Os veteranos do Spurs sabem perfeitamente a diferença entre um jogo contra o Kings em janeiro e um Jogo 1 de Finais, sabendo quando poupar suas energias e quando ir all-out. Então nesses playoffs vemos mais Duncan, mais Parker e mais Manu Ginobili jogando com mais energia e de forma mais fisica, mas tirando isso, o Spurs é essencialmente o mesmo time da temporada regular.

O mesmo não pode ser dito de Miami. Depois de se reinventar esse ano de forma brilhante em torno de Lebron e sua nova identidade small ball baseada em movimentação de bola, bolas longas e um Behemoth que não pode ser marcado no mano a mano e que tem uma visão de jogo de armador (e mantendo a fortíssima defesa), Miami varreu a segunda metade da temporada e chegou aos playoffs voando. Desde então, em particular, a série de Indiana, as coisas não tem funcionado da mesma maneira. Miami tem tido produção muito inferior de Wade e Bosh, e isso tem sobrecarregado Lebron em excesso, o que dificulta pra Miami mover seu ala sem a bola já que ele tem que iniciar boa parte dos ataques da equipe.

Um ponto que passou de certa forma desapercebido, no entanto, mas foi extremamente crucial foi o desaparecimento de Shane Battier. Battier foi um elemento chave pra identidade small ball do Heat, um bom arremessador que permitia espaçamento de quadra ofensivamente com Lebron de Power Foward no ataque e que podia defender os melhores alas adversários na defesa e manter James descansado. De certa forma, Battier foi um termômetro do Heat nessa temporada: Quando ele estava acertando suas bolas de três, o Heat era imparável, a opção perfeita pra defesa E pro ataque de Miami pela sua excelente defesa e suas bolas longas, que permitia manter seu small ball funcionando dos dois lados da quadra. Mas nos playoffs, Battier não tem sido o mesmo. Talvez uma temporada inteira batalhando PFs maiores e mais fortes que ele (no small feat, só nos playoffs foram cinco jogos de Boozer e mais cinco de David West) tenha finalmente cobrado seu preço no corpo velho de Battier, incapaz de manter esse nível de fisicalidade por mais tempo. Talvez a idade esteja pesando. Não importa, o fato é que Battier era a pedra angular dessa nova identidade de Miami e agora que ele está incapaz de manter o ritmo, Miami teve que achar uma identidade totalmente nova: Usar um segundo big man como Haslem ou Birdman, que não oferecem o mesmo espaçamento de quadra, ou manter o small ball com Ray Allen, Miller ou Norris Cole, bons arremessadores que tiram muito do time em tamanho, inteligencia e defesa em relação ao cerebral Battier.

E essa necessidade de reinventar sua identidade sempre é péssimo chegando nos playoffs, especialmente se seu segundo melhor jogador está tendo sua pior pós-temporada da carreira e seu terceiro melhor jogador está com um tornozelo machucado. Eu não estou dizendo que o Heat não seja mais um bom time, que deva ser varrido pelo Spurs e que eles não tem a menor chance, nem de longe. O Heat ainda é um excelente time com um dos 10 melhores jogadores da história no seu auge, duas estrelas "coadjuvantes" que podem pegar fogo a qualquer hora e um bom elenco de apoio, capaz de se adaptar a diferentes estilos de jogo. O problema é que o Heat está tendo que se adaptar a isso em muito menos tempo do que um time normalmente teria, sem uma temporada regular ou offseason. Spolestra está tendo que mudar e improvisar suas lineups totalmente de improviso desde que Battier caiu fora, com Mike Miller jogando 3 minutos praticamente nos playoffs inteiros antes do Jogo 6 contra Indiana, desde quando já jogou quase 50 minutos. Eles ainda são um grande time com totais condiçōes de virar essa série e ganhar o título, mas eles não são nem de longe o time da temporada regular.

Um exemplo rápido: Pegue um vídeo do Miami executando posses ofensivas que dependiam do pick and roll durante a sequencia de 29 vitorias. Grande parte delas não envolvia apenas um pick and roll com jogadores estacionados ao redor: Envolvia algum missdirection, uma screen vinda em movimento ou por trás, jogadores cortando pra confundir a defesa e, em geral, muito movimento aliado a um otimo arsenal de jogadas com as quais os jogadores se sentiam muitos confortáveis. Ontem? O Heat parecia um time que tava tentando voltar ao básico, com PnR simples, poucos adicionais pra confundir a defesa e confiando mais no talento dos jogadores do que outra coisa. Parecia um time desconfortável taticamente.


Ajustes

Em jogos decididos por quatro pontos, nas Finais da NBA ainda, é dificilimo apontar um ou dois fatores que levaram a uma vitória ou uma derrota: Um arremesso dois centimetros pro lado, uma bola que esbarra um centimetro pro lado do dedo de um defensor, 0,00001 segundos pro Tony Parker soltar seu arremesso... E tudo poderia ser diferente. Então nunca se prenda a UM motivo pelo qual o jogo foi assim ou assado. That said, um dos motivos pelos quais eu acho que o Spurs se saiu vencedor foi o seguinte: O time entrou melhor preparado em quadra. O Heat entrou com seu esquema habitual e como veio jogando na série contra o Pacers, mas o Spurs - talvez pelo maior tempo pra treinar - entrou com pequenas mudanças no seu jogo que fizeram a equipe bater melhor de frente contra o estilo do Miami. É o tipo de série onde essas pequenas coisas podem fazer a diferença.

Eu realmente acho que esse Jogo 1 não vai exigir grandes ajustes dos técnicos: Foi um jogo extremamente equilibrado, decidido nos detalhes, e quaisquer ajustes pro Jogo 2 serão menores. Dos dois, eu acho que Pop tem mais motivos pra tranquilidade que Spolestra: Já tendo roubado um jogo em Miami, o Jogo 2 é mais crucial pra Miami que San Antonio, e eu achei que San Antonio conseguiu impor mais seu estilo ao jogo do que Miami - o time errou um monte de 3pts livres e ainda ganhou a partida. Mas Lebron não vai fazer 18 pontos todo jogo, vai ter mais momentos no garrafão, e tenho certeza que Pop sabe disso e não vai ficar parado. Se ele ganhou a partida de xadrez no Jogo 1, ele sabe que Spolestra vai contra atacar e eu acredito que ele terá um novo truque na manga se necessario.

Spolestra é quem tem mais trabalho aqui, pensando não no Jogo 2 mas nos jogos 3, 4, 5 e por ai vai. Embora não seja nada absurdo sugerir que Wade e Bosh podem simplesmente jogar melhor (dado todo seu talento) nos próximos jogos, Spolestra tem que achar uma forma melhor de integrar esses dois jogadores ao ataque. Wade, em particular, parece o mais dificil: Completamente perdido defensivamente e incapaz de arremessar, se Wade não começar a pontuar mais e fazer sua presença mais sentida em quadra o Heat vai se ver com um jogador onde Pop vai se sentir confortável escondendo um jogador fraco defensivamente como Gary Neal (como fez no Jogo 1 alguns momentos) e/ou usando seu marcador como ajuda em um ataque do Lebron. Espere que o Heat incorpore algumas jogadas desenhadas pra fazer Wade receber a bola mais perto da cesta, ou correr algumas screens pra receber passes em velocidade ou em matchups que ele possa explorar. Mesmo que ele não exploda pra 29-7-7 como nos velhos tempos, se ele conseguir marcar presença ofensivamente já vai forçar o Spurs a ajustar sua defesa.

O mesmo vale pra Bosh. Nos ultimos dois jogos, Spolestra tem feito algumas jogadas com o intuito de dar a bola a Bosh mais perto da cesta pra ele poder usar seu talento finalizando e seu bom jogo de costas pra cesta pra tentar alguns pontos fáceis, embora Bosh tenha desperdiçado um bom número dessas oportunidades. Talvez o tornozelo ainda esteja incomodando e continuará assim, mas se for o caso, Spo tem que fazer o máximo pra manter seu big man em quadra sem se tornar um alvo fácil pra defesa do Spurs como foi naquela jogada lá em cima, seja estacionando ele na zona morta quando for pra chutar de três, ou mesmo se resignando aos mais ineficientes (embora ele os acerte a um nivel espetacular) chutes de meia distância pra oferecer algum espaçamento maior de quadra. Sem Bosh e Wade funcionando efetivamente dos dois lados da quadra, especialmente no ataque, Heat terá problemas.

Mas acho que a chave pro Miami pro Jogo 2 em particular é não exagerar na reação ao anterior. O Jogo 1 foi muito apertado, Lebron não vai continuar marcando só 18 pontos por jogo e o Heat não teve uma partida ruim como um todo. O Heat foi muito bem com Ray Allen e Mike Miller em quadra e deve continuar usando formaçōes com um ou até os dois em quadra pra manter o espaçamento que eles tanto gostam e liberar Lebron pra ter mais espaço pra jogar. Nada no Jogo 1 indicou que o Spurs (ou, da mesma forma, o Heat) seja um time superior nesse momento, então é um erro exagerar nos "problemas" do Miami: Eles existem, eles jogaram muito competitivamente mesmo com eles, agora é uma questão de quem da o próximo passo na série e quem executa melhor.


Um ultimo pensamento sobre os jogos

Antes da série, meu palpite seria Heat em 6 ou 7. Em parte porque eu assisti muito Miami na temporada regular e acreditei que o Heat poderia seguir aquele padrão em um detalhe crucial: poderia ganhar alguns jogos mesmo com Lebron assumindo mais o papel de facilitador e sem ser obrigado a passar boa parte do jogo atacando repetidamente o aro pra fazer o ataque funcionar. Quantas vezes, na temporada regular, Lebron não terminou com algo como 25-10-9 com cada um dos seu pontos vindo dentro do ritmo do jogo, aproveitando espaços e passes pra pontuar sem esforço? Inumeras, e eu esperava mais disso. Mas o que o Pop percebeu antes do Jogo 1 foi que esse Miami não é mais o mesmo nesse sentido; o ataque perdeu sua característica de espaçamento sem Battier e Wade continua sem fazer estragos, então o Miami começou a depender mais e mais de centralizar o ataque em Lebron e deixar ele jogar sozinho num primeiro momento, pra dai se ajustar em torno disso. E embora Lebron seja um monstro capaz de fazer tudo isso e ainda continuar ganhando e fazer seu time funcionar muito bem, pra um grande time (e um grande técnico) parar um jogador é muito mais fácil do que parar cinco funcionando em harmonia.

Eu ainda não vi o suficiente pra acreditar que Lebron vá de fato ser parado (ainda mantenho Heat em 7 por ora), é claro, acho totalmente possivel que ele simplesmente coloque o time nas costas quatro vezes e ganhe quatro jogos sozinho porque ele é uma aberração, mas vindo de uma série extremamente física e exaustiva de sete jogos contra o Pacers, a vida de Miami vai ser muito mais difícil se Lebron for obrigado a jogar jogo atrás de jogo dessa maneira. Até mesmo Lebron vai chegar no seu limite uma hora e quando isso acontecer, adeus pras chances do Heat. Então acho importante que o Heat comece a funcionar de forma a tirar um pouco essa responsabilidade do Lebron de carregar o time toda santa posse de bola.


E um último pensamento sobre a arbitragem

Quem acompanha nosso twitter (www.twitter.com/tmwarning) sabe que eu fui muito crítico da arbitragem nesses playoffs. Reclamei muito de incompetência e de juizes que mais queriam aparecer do que apitar um jogo (Cof Joey Crawford cof), e reclamei muito dos flops que alguns jogadores faziam com tanta insistência.

Mas queria esclarecer duas coisas. Primeiro, eu não acredito em nenhuma "Teoria da conspiração" da arbitragem a favor do time de Miami pra ajudar o Heat a ser campeão. Se eu reclamo constantemente da arbitragem favorecendo Miami em alguns lances, não é porque eles querem que o Heat ganhe, e sim por outro motivo que acontece em qualquer esporte: Na dúvida, os juizes sempre dão o beneficio da dúvida pro time mais "importante". E como o Heat é melhor, mais chamativo, mais "importante" do ponto de vista de mídia e tem mais estrelas, é normal que eles recebam mais chamadas que a grande maioria dos times, mas não porque os juizes querem que o Heat ganhe e sim porque é muito mais dificil, muito mais pressão apitar contra o maior dos dois times (mais ou menos o que acontece quando um juiz apita diante de uma torcida particularmente ensandecida). Então sim, o Heat foi beneficiado algumas vezes pela arbitragem, mas também foi prejudicado outras simplesmente porque a arbitragem na NBA é ruim por definição e, na duvida, a corda estoura pro lado mais fraco. E se em algum momento insinuarem que o Heat está nas finais só por causa da arbitragem, sinto muito mas você está se iludindo.

Segundo: Depois da polêmica declaração de Lebron sobre floppar e de um jogo Heat-Pacers onde três jogadores (Lebron, West e Lance Stephenson) foram multados por flopping, eu notei um comportamento diferente dos juizes nas partidas. Claro, foram apenas três jogos (Jogos 6 e 7 do Leste, Jogo 1 das Finais) que não servem de amostra pra absolutamente nada, mas nesses jogos eu reparei que a postura foi diferente: Os juizes pareciam que não estavam dando o beneficio da dúvida pros jogadores nas faltas. Se ficavam em dúvida, deixavam o contato seguir e não marcavam a falta. Claro, com essa postura algumas faltas legítimas não foram marcadas, mas eu prefiro isso do que um jogo onde qualquer contato é falta e jogadores se jogam como se levassem um tiro com qualquer contato. Como disse o Ken Berger, da CBS americana, se os juizes passam tanto tempo fingindo pra enganar a arbitragem e forçar erros, como querem poder reclamar depois que os juizes erraram em outros lances? 

Não sei se foi uma orientação da NBA por causa do impacto extremamente negativo dos flops nesses playoffs, se foram os juizes que se encheram o saco, ou se foi simples coincidência, mas eu achei que houve essa mudança de postura dos juizes. O jogo passou a ter menos falta, mais contato e, consequência ou não, começou a ter menos flops: Nos ultimos dois jogos, eu posso contar em uma mão as jogadas que eu achei que foram flops. E mesmo que ainda alguns erros aconteçam, eu prefiro esses erros com um basquete físico e bem jogado - como deveria ser - do que erros porque toda hora existe uma falta. Não sei se é uma tendência da arbitragem mesmo, mas espero que continue assim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário