Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Os pontos importantes da semana na NFL - Week 1

"Você ganha um touchdown! Você ganha um touchdown!!
Todo mundo ganha um touchdown!!"


Como vocês provavelmente sabem, essa é minha primeira vez escrevendo periodicamente para um grande portal como o Esporte Interativo. Eu preciso cumprir uma certa cota semanal, e como é a minha primeira vez fazendo isso, eu não tenho nenhum tipo de formato de post que eu costume usar. Então essas próximas semanas serão basicamente um período de testes, com um determinado formato semanal para falar de NFL (e MLB/NBA, eventualmente), então vamos experimentar com esse formato, ver o que está funcionando, o que não está, e o que está faltando. E para isso vou contar também com a opinião de vocês, leitores, sobre o que mudar, o que manter, o que melhorar, novos formatos de post que achem interessantes, e por ai vai. 

Esse é o primeiro que eu tive interesse em botar em prática, uma passagem pelos pontos importantes e pelos momentos mais relevantes dessa rodada. Eu queria deixar BEM claro o seguinte: isso aqui NÃO é um recap da rodada, e o nosso intuito não é passar por todos os jogos ou falar de todos os jogadores, bons ou não. Outras pessoas podem fazer isso, mais rápido e melhor do que eu, e eu também não acho que isso se enquadre na proposta do blog. A proposta aqui é para dar uma olhada nos fatores, dentro de cada jogo, que são relevantes ao maior cenário da NFL. Por exemplo, todo mundo sabe que Peyton Manning foi espetacular com seus 7 TDs, eu não preciso te falar isso. Mas eu estou interessado em olhar para aquele jogo entre dois candidatos aos playoffs e olhar onde que aconteceram os acertos e erros de cada time para chegar nesse placar tão desequilibrado, porque isso vai ser importante para o big picture da NFL ao longo do ano. Vamos olhar a performances que foram importantes mas receberam pouco crédito, fatores pouco observados que estão influenciando alguns pontos importantes, e por ai vai. Então de novo, o objetivo não é passar por todos os jogos e falar alguma coisa relevante: muitas vezes teremos dois ou mais pontos sobre um mesmo jogo, e jogos sem comentário nenhum. Vamos fazer alguns testes também, ver como fica melhor, e ajustando conforme for indo. Mas não fique irritado porque seu time não apareceu aqui, ou porque eu não falei de um jogo particularmente divertido (Chargers-Houston, por exemplo), é só porque esses jogos não tiveram algum ponto de análise ou comentário mais interessante. Btw, essa coluna está ficando para terça feira para poder incluir o jogo de segunda a noite, mas conforme as coisas forem indo, pode passar de volta para segunda.

Outra coisa importante para se lembrar é que foi apenas a primeira semana. Qualquer conclusão tirada agora provavelmente vai estar errada: a amostra é muito pequena, o viés é enorme, não sabemos o que é performance e o que é outlier, e por ai vai. Então tirar conclusões agora é um enorme erro. O que é muito mais construtivo é pegar algumas questões anteriores a temporada, ver como elas se saíram pontualmente, e parar por ai. Tirar conclusões a partir de uma amostra tão ridiculamente pequena é um enorme erro.

Dito isso, vamos começar nosso experimento com o melhor jogo do dia...

O mestre do disfarce


Se você me perguntar dos meus personagens favoritos, em qualquer tipo de mídia, eu provavelmente vou passar um tempo desnecessariamente alto pensando em uma resposta boa para te dar. E um dos nomes que vai aparecer no meio do meu Top10 - provavelmente até Top5 - é o de Hiruma Yoichi, um dos protagonistas de um mangá de futebol americano chamado Eyeshield 21 (para quem gosta do gênero, recomendo a leitura), o quarterback do time principal. O Hiruma é tão legal porque ele é o perfeito underdog: ele não nasceu com um físico privilegiado ou com um talento fora do comum, ele é um bom jogador mas não espetacular, só que ele compensa isso com uma habilidade incrível para enganar e manipular os adversários. Ele está sempre um passo adiante de todo mundo, sempre manipulando os procedimentos para causar as impressões desejadas e guardando as cartas para jogar no momento certo. Hiruma é considerado o rei da enganação e da missdirection, e sua marca registrada são as jogadas ou estratégias que vão contarias a toda lógica ou senso comum, simplesmente porque ninguém espera que isso aconteça - e quando as pessoas já começam a esperar esse tipo de comportamento, ele já está um passo a frente de qualquer maneira e volta a usar as táticas simples e fáceis. Mais do que qualquer outra coisa, essa acaba sendo a identidade que o time adota: tricky plays, muita confusão, o time contra o qual você não pode abaixar sua guarda por um segundo sequer.

Se você está procurando um Hiruma na NFL, não precisa olhar mais longe do que Jim Harbaugh, Head Coach do San Francisco 49ers. Se existe hoje um técnico que adora confundir os adversários e parece estar um passo a frente de todo mundo, é o ex-QB do Colts. Volte comigo para 2012 por um minuto. O 49ers tinha acabado de vencer um jogo espetacular contra o New England Patriots e praticamente garantido um título de divisão e a folga na primeira rodada. Os dois últimos jogos eram secundários, já que a equipe pouco tinha a ganhar com eles, já que o Falcons não seria alcançado e as chances da equipe ser ultrapassada também eram pequenas. Então o que Jim Harbaugh fez foi simples: ele mudou o playbook da equipe para esses dois últimos jogos, tirando praticamente todas as jogadas de option ou da formação pistol. A equipe jogou então com metade do seu playbook naquelas duas últimas partidas como uma isca para seu adversário de primeira rodada nos playoffs. Quando Green Bay Packers - seu eventual adversário - foi estudar filme do 49ers para preparar sua defesa para o confronto, eles não viram nenhuma jogada de pistol ou de option nos filmes e não se prepararam para enfrentar esse tipo de jogada. O resultado foi que o 49ers baseou todo seu ataque justamente em torno da formação pistol, e Colin Kaepernick usou as options para correr 181 jardas naquela partida, recorde para um QB na história da NFL. O ataque do Niners queimou a defesa para 579 jardas e 45 pontos, Kaepernick pareceu a encarnação do Bo Jackson no Tecmo Bowl, e o Packers foi eliminado dos playoffs de forma humilhante.

Durante a offseason, Green Bay fez de sua missão de vida parar o option, especialmente quando Packers-Niners foi anunciado como abertura da temporada. A equipe enviou seus técnicos e assistentes para diversas faculdades para estudar melhor o read option e como defender QBs móveis, com a história mais famosa sendo a visita da comissão técnica de GB a Texas A&M para estudar o read option com Johnny Manziel. Eles draftaram focando justamente em parar esse tipo de jogada. Todo seu plano de jogo foi focado em torno de como parar o jogo terrestre do seu adversário, afinal era óbvio que o Niners iria usar sua maior força contra a fraqueza de Green Bay, ao invés de usar sua fraqueza (seu corpo de recebedores duvidoso) contra a maior força do Packers (uma das melhores e mais profundas secund árias da NFL). Mas quando o jogo começou, foi exatamente o que ninguém esperava que aconteceu: o 49ers usou a option apenas sete vezes para manter a defesa honesta, manteve Kaepernick dentro do pocket, e simplesmente destruiu a secundária adversária com seus passes, passando para 412 jardas e 3 TDs rumo a vitória aproveitando a atenção extra dedicada ao jogo terrestre. Quando o Packers achou que tinha achado a forma de defender o ataque do 49ers, Jim Harbaugh já estava um passo a frente e modificou todo o esquema de jogo: Green Bay passou a offseason inteira se preparando para defender o jogo terrestre, e Harbaugh montou todo seu esquema ofensivo em torno do ataque aéreo, e pegou todo mundo desprevinido. E essa capacidade de Harbaugh de estar sempre um passo a frente e de planejar para cada situação melhor do que quase qualquer técnico da NFL é o que faz do 49ers um time tão perigoso. Assim como Hiruma Yoichi era, nas palavras de seu rival, o ás escondido de seu time.

Faço minhas as palavras do grande Bill Barnwell: quando você acha que tem as respostas, Jim Harbaugh muda as perguntas.

O dilema dos quarterbacks móveis


Colin Kaepernick e Robert Griffin receberam muita atenção ano passado como constituindo, junto de Russell Wilson e Cam Newton, um novo tipo de quarterback que estava mudando a cara da NFL. Essa nova leva de quarterbacks móveis, hiperatléticos e que destruíam defesas correndo ou fazendo jogadas de options foi considerada por muitos um marco no esporte, que estaria caminhando em uma direção que favoreceria esse tipo de jogador. A chegada do read option foi o grande assunto envolvendo Griffin e Kaepernick, e depois que Kap correu para 181 jardas nos playoffs, a internet praticamente explodiu. Durante essa offseason, praticamente todos os times e analistas táticos do esporte se dedicaram a explorar o read option, encontrar maneiras de pará-lo e tudo mais. Em mais de um preview sobre o Washington e principalmente o 49ers, eu li que eles não alcançariam o mesmo sucesso em 2013 porque a NFL estava ficando mais esperta e preparada contra esse tipo de jogada, então não teria mais o efeito surpresa.

O que as pessoas constantemente esquecem é que Griffin e Kaepernick não são apenas extremamente atléticos e excelentes corredores: eles também são passadores extremamente preciso e com braços muito fortes. Eles são capazes de criar estrago nas jogadas de option e de correr para bons ganhos, mas o que faz deles dois dos melhores jovens QBs da NFL é a habilidade de ambos com seus braços. Kap completou 63% de seus passes em 2012 para um NFL-high 8.3 jardas por passe (e isso sem sequer ter treinado UMA vez entre os titulares até assumir o time) e RG3 completou 65.5% dos seus com 8.1 jardas por passe. Por algum motivo, muitas pessoas desconsideraram ambos como apenas corredores, e esqueceram do resto.

Isso esteve bastante evidente essa rodada. Como já dissemos, Harbaugh soltou Kaepernick em cima da secundária do Packers, desmembrando e dissecando essa defesa para 412 jardas, 3 TDs e nenhuma interceptação. 353 de suas jardas vieram em passes de dentro do pocket, e ele completou quase 70% de seus passes na partida, um excelente lembrete para todos que esquecem da capacidade de seu braço direito. Algo me diz que coordenadores defensivos não cometerão esse erro de novo.

O mesmo era válido para Griffin, espetacular tanto como corredor e passador. E enquanto a sua lesão no joelho levantava algumas perguntas sobre como ele iria continuar correndo com a bola - ou mesmo se iria continuar correndo - muitas pessoas perderam a verdadeira questão: o quanto essa lesão vai afetar sua incrível precisão nos passes? Griffin pode continuar com um ótimo QB na NFL se parar de correr, mas não se parar de acertar passes. E ontem isso foi um problema, especialmente no primeiro tempo: RG3 não conseguiu passar a bola quando precisou jogá-la a uma distância maior. Não sou um especialista em mecânica de QB, mas diversas vezes me chamou a atenção a falta de apoio que Griffin colocava na sua perna ou a falta de estabilidade nela durante a pressão (como se Griffin estivesse ansioso por tirá-la logo da grama). Isso pode ser um fator psicológico (medo de uma nova lesão) ou mesmo uma consequência que lhe tirou um pouco da força no apoio, mas foi algo que teve uma consequência visível nos seus passes, sem controle ou sem a firmeza necessária. Claro, pode ter sido uma coisa da primeira semana, muito tempo sem jogar, estava descalibrado, em um dia ruim e tudo mais, é possível. Além disso, Griffin melhorou no segundo tempo e terminou com números decentes, o que sem dúvida é positivo. Mas é uma coisa importante de se monitorar indo para frente, para a temporada 2013 e para a carreira do Rookie of the Year de 2012.

Questões da offseason na abertura da temporada


Tirando Packers e Niners, Ravens vs Broncos era provavelmente um dos jogos mais antecipados da rodada pelos fatores "Maior chance de se encontrarem nos playoffs" e "Nos enfrentamos nos playoffs passados e não gostamos de como terminou". Entre essas duas, outra coisa que eu achei interessante nesse jogo era ver como dois times bons e candidatos ao Super Bowl, mas que entraram na temporada com significativos pontos de interrogação, iriam se comportar em relação a essas falhas enfrentando um bom adversário. Era esperado que elas fossem questões significativas na temporada, e seria interessante ver como isso iria acontecer na primeira rodada. E de fato, o que nós vimos em relação ao ataque do Ravens e a defesa do Broncos foi o que esperávamos ver.

No caso do ataque do Ravens, como eu escrevi no seu preview, a questão era como a equipe iria encarar essa mudança do foco ofensivo, com Joe Flacco assumindo um papel e uma responsabilidade ainda maiores, especialmente sem seu melhor WR de 2012, Anquan Boldin - e posteriormente também Dennis Pitta. As perdas de Boldin e Pitta deixaram Baltimore em uma situação complicada em relação aos seus recebedores, porque foram os dois jogadores de segurança pelo meio do campo durante todo o ano passado, os alvos para quem Flacco olhava quando precisava de uma jogada de segurança ou de alto aproveitamento. Com Boldin em SF e Pitta no departamento médico, o Ravens não possui um jogador para essa função: Ed Dickson não tem o entrosamento e a habilidade para isso, Dallas Clark está velho e não bloqueia nem no twitter, e o melhor WR que sobrou na equipe, Torrey Smith, não tem as características para isso. Smith é um bom jogador, sem dúvida, mas é um jogador de alta velocidade que está no seu melhor quando usado em rotas longas - um tipo de rota que também tira o máximo proveito do braço forte de seu QB. Mas ele não possui o tipo de separação, mãos firmes e força física para dominar o meio do campo como Boldin fazia: usá-lo como um possession WR é ineficiente porque ele não possui as características para executar esse papel e tira o melhor receiver da equipe da sua zona de conforto, mas ao mesmo tempo, o Ravens não tem quem possa fazer essa função. O resultado foi uma zona: quando a equipe conseguiu impor o jogo terrestre, manter a defesa longe de Flacco (mais disso em um segundo), encurtar as descidas e fazer funcionar o jogo de meia distância, o ataque rendeu muito bem e dominou o jogo. Quando a defesa do Broncos apertou e o time começou e enfrentar mais - e mais longas - terceiras descidas, o ataque não teve uma resposta porque não tinha um jogador de confiança para se armar em torno. Não a toa o time terminou apenas 8-22 em terceiras descidas na partida. Então foi um problema já anunciado e que a equipe sentiu na hora de entrar em campo.

A outra incógnita era a defesa do Broncos, que estava jogando sem seus principais jogadores: Von Miller, suspenso, Derek Wolfe e Champ Bailey, machucados. E no começo, foi realmente um desastre: tirando o safety Duke Ihenacho - que foi um monstro o jogo todo - o começo foi desastroso, principalmente porque Denver não conseguiu colocar qualquer tipo de pressão em cima de Joe Flacco. A defesa tentou compensar isso enviando diferentes tipos de blitz, mas mesmo assim não conseguiram chegar no QB, e isso só serviu para tirar ainda mais jogadores da marcação dos passes. Flacco não foi o mesmo QB dos playoffs - eu já tinha avisado - mas foi eficiente quando teve tempo e calma no pocket para castigar a defesa. Isso mudou, principalmente, quando Michael Oher saiu machucado depois de um TD corrido. A saída do RT convidou o Broncos a atacar mais esse lado da linha ofensiva ofensiva, e dessa vez tiveram sucesso: a pressão começou a chegar mais, Flacco teve que ter menos tempo para passar a bola, e ai a falta de bons recebedores no time de Maryland apareceu, colocando o controle do jogo nas mãos do time da casa - e digamos que não atrapalhou Peyton Manning começar a destruir tudo no seu caminho. Mas sem Von Miller e Wolfe, a grande incógnita era justamente a capacidade do time de colocar pressão no QB, e a defesa decepcionou nesse quesito até ver Oher sair machucado. A secundária também foi menos do que eficiente cobrindo os fracos recebedores de Baltimore, então a não ser que Manning decida que vai passar para 7 TDs toda semana, é um problema para esse bom time de Denver.

Em tempo: eu já tinha achado a troca ruim, mas depois de Boldin terminar o dia com 208 jardas, 1 TD e 13 recepções (enquanto os WRs do Ravens totalizaram 15 recepções para 215 jardas e um TD), já podemos oficializar que Boldin por uma escolha de sexta rodada foi a troca mais absurda da temporada?

A revolução será televisionada


Outro ponto de enorme interesse essa rodada era ver como o ataque de Chip Kelly - famoso na NCAA por sua extrema velocidade, altíssimo número de jogadas e características explosivas de maneira geral - iria estrear na NFL com um dos QBs mais dinâmicos da história do jogo e um dos melhores RBs da NFL. E o Eagles não decepcionou: apenas no primeiro tempo de jogo, o Eagles já teve mais jogadas ofensivas do que o Carolina Panthers teve na sua partida inteira contra o Seahawks. O ritmo desse jogo foi realmente uma coisa incrível: toda jogada era imediata, a defesa não tinha tempo de parar, pensar, planejar ou descansar, o ataque era extremamente agressivo - ao ponto que, com uma 4th and 1 na linha de 20 do campo adversário, o ataque simplesmente se montou e executou sua jogada sem hesitar um segundo sequer - e tudo parecia fluir perfeitamente. O jogo chegou a um ponto em que o primeiro quarto acabou - depois de quatro turnovers e muuuita correria - e eu levantei para ir preparar o jantar quando percebi que era só o primeiro quarto, e não o primeiro tempo, que havia terminado. O ritmo alucinante do Eagles claramente pegou o adversário despreparado, e a defesa do Redskins parecia totalmente perdida, sem saber o que fazer ou o que esperar de seu adversário. O primeiro tempo foi não só um massacre, mas um massacre de encher os olhos.

Mas também mostrou o outro lado desse esquema absurdo, que chegou a prejudicar o próprio time. O primeiro que chamou a atenção, ainda no primeiro tempo, foi a falha de comunicação dentro do ataque. Diversas vezes a linha ofensiva se confundiu na hora de determinar seus bloqueios - especialmente em jogadas de passe - e um número um pouco alarmante de vezes Michael Vick viu algum defensor chegando livre na sua fuça. Eu imagino que esse tipo de falha de comunicação seja razoavelmente comum em defesas desse tipo, especialmente para uma equipe que estava fazendo seu primeiro jogo assim (e fora de casa, onde o barulho é bem maior) e cujo QB não é um especialista pré-snap como Tom Brady ou Manning, então não imagino que seja um grande problema. É só algo a se observar. Outro efeito colateral disso foi o cansaço físico de seus jogadores: chegando no segundo tempo, o ataque do Eagles parou de produzir em parte porque cansou e porque seus jogadores não estavam mais acompanhando o ritmo. A defesa ficou mais ligada nas jogadas, entendeu melhor alguns nuances desse esquema novo, mas em grande parte os jogadores simplesmente não tiveram perna para acompanhar 60 minutos desse ritmo. Novamente, foi apenas o primeiro jogo e eles provavelmente vão se acostumar a isso, mas a questão que fica é legítima: em um time com tantos jogadores sujeitos a lesões (Michael Vick, LeSean McCoy, DeSean Jackson, Jason Peters, etc), será que com o tempo isso vai levar a melhor sobre a saúde dos jogadores, ou conseguirão manter o ritmo por 17 rodadas? Fico curioso para ver.

Enquanto isso não acontece, pelo menos, é realmente um jogo totalmente diferente de se contemplar e que parece se encaixar perfeitamente nas peças que Kelly encontrou na sua nova equipe. Não sei se vai dar playoffs, mas o Eagles já lidera nosso "League Pass Power Rankings" para a semana 1.

O que faz uma boa arbitragem?


Nessa rodada, a arbitragem que mais chamou a atenção foi, infelizmente, a de Niners-Packers. E isso aconteceu por um incidente complicado: em uma 3rd and 6 na red zone, o ataque do 49ers não conseguiu um passe e Kaepernick tentou levar ele mesmo para o first down, mas saiu pela linha lateral duas jardas antes. Com Kaepernick fora de campo, Clay Matthews deu um tackle voador no pescoço do QB que ele tinha dito que iria "bater com força" e o derrubou no chão, imediatamente levando a uma falta pessoal de 15 jardas. Alguns jogadores do 49ers correram para defender seu QB, em especial Joe Staley, que segurou Matthews pelos pads enquanto dizia algumas verdades na cara dele. Isso, absurdamente, rendeu também uma falta pessoal a Staley (apesar de que foi Matthews que deu dois socos nele e não o contrário), o que significava que as duas faltas iriam se cancelar e o 49ers iria enfrentar uma 4th and 2. Mas os árbitros erraram na interpretação da regra, e deram a San Francisco outra 3rd and 6, que eles imediatamente converteram em um TD. O 49ers venceu a partida, 34 a 28, e o Packers ficou reclamando desse erro do juiz.

Então foi um duplo erro: o juiz errou ao marcar a falta de Staley que gerou a segunda falta, e ele errou ao declarar que as duas faltas canceladas significariam repetir a descida que originou o TD. Então ainda que o resultado correto - 1st and goal da linha de 3 jardas - provavelmente teria um resultado bem semelhante ao final da jogada (o TD), a questão é que você precisa julgar juizes pelo processo e não pelo resultado, e houve um duplo erro nesse caso que chamou a atenção da NFL.

Então com base nesse erro, a NFL e todo mundo assumiu que foi uma má arbitragem na partida. E eu me pergunto se foi mesmo: eu assisti o jogo e, tirando esse lance, a arbitragem sempre teve controle completo da partida. A nova moda na NFL, especialmente entre recebedores, é que toda vez que um certo jogador não consegue pegar uma determinada bola, ele imediatamente vira para um juiz pedindo uma flag. Isso acontece, é claro, porque as regras que a NFL vem implementando desde o começo da década passada limita demais tudo que a defesa pode fazer para evitar o passe - desde marcar recebedores até derrubar o QB - e hoje em dia praticamente qualquer contato com o WR é marcado como falta. E eu odeio isso, porque futebol americano É um esporte de contato. Claro, você vai achar inúmeras situações na NFL onde um jogador de defesa claramente evita que o recebedor adversário chegue em um passe através de um contato ilegal, e nessas jogadas o pass interference deve ser chamado. O que incomoda são as jogadas de contato natural em um esporte físico que é jogado em alta velocidade e que de repente viraram faltas, o que praticamente faz com que um DB não possa chegar a um metro de um recebedor. E se tem um dado que eu gostei muito em SF-GB foi esse: a arbitragem não marcou NENHUMA interferência. Zero.

Então para mim, isso é em alguns aspectos até mais importante do que um juiz que não cometa um erro tão polêmico, mas que estrague o jogo marcando faltas a toda jogada e perca o controle do jogo. A arbitragem no resto da partida de domingo a tarde foi impecável, e é muito mais fácil corrigir um erro de interpretação de regra como esse do que ensinar um juiz a ter um firme comando do jogo e deixá-lo fluir bem sem perder o controle. As pessoas costumam olhar só as grandes coisas coisas, mas o que torna um jogo bem apitado ou mais assistível são as menores - e de preferencia, as que nem notarmos. Então na hora de definir uma boa ou má arbitragem, não se atenha apenas a um lance ou dois e sim preste atenção em como esses juizes estão conduzindo a partida. Se você não os perceber, é porque fizeram um bom trabalho.

7 comentários:

  1. Dei sorte de acompanhar os mesmos jogos que você. hehehehe

    No jogo entre GB vs. SF eu não sei se fiquei mais surpreso com a atuação do Kopernico e seu plano de jogo ou com a cobertura patética dos Packers. O Ataque de SanFran realmente jogou demais da conta, mas como você disse é o primeiro jogo e não se pode tirar muitas conclusões. Além disso, não é toda hora que Boldin vai passar das 200 jardas todo jogo. Mérito também para a OL do time que protegeu muito bem o Kopernico. Quanto ao Packers eu não sabia o quão bem a secundária foi o ano passado e por isso achei até normal toda a queimação que sofreram, mas se ficou mesmo entre as primeiras e teve uma atuação patética dessas os coaches devem ficar atentos.

    Já no jogo de Ravens vs. Broncos eu fiquei com a impressão que o Baltimore que vai jogar nessa temporada é o do primeiro tempo, que foi muito bem contra o Broncos. A atuação deles no segundo tempo foi tão lamentável, tão escrota e esdrúxula que acho difícil ser a que a equipe vai apresentar ao longo da temporada, ainda mais com uma staff brilhante que o time possui. Lembrando que o time sofreu um apagão no jogo do SB e conseguiu acordar, nesse jogo foi o contrário.

    Já no jogo entre o meu time contra os Redskins, eu, e provavelmente a maioria dos torcedores saíram felizes não pelo resultado, mas pela energia que o time demonstrou, principalmente no lado defensivo (com uma grande ajuda do RGIII que estava claramente sem ritmo de jogo, sorte nossa). O esquema de ataque do Chip foi sensacional e se os jogadores se mantiverem saudáveis podem conseguir alguma coisa já nessa temporada (se for 8-8 eu já estou louco de feliz). Notei duas coisas interessantes. A primeira foi que o ataque poderia ter sido ainda mais rápido no primeiro tempo, a falta de entrosamento entre os jogadores e os técnicos na chamada das jogadas foi notória, tendo o próprio Chip à admitido, melhoras virão nos próximos jogos. O segundo ponto foi o fato dos jogadores titulares, principalmente do ataque, atuarem em quase todos os snaps. Quando acabou o jogo fiquei com a impressão de que o Kelly havia forçado demais os jogadores, e como você disse, o risco de lesão aumenta. Para a minha felicidade já vi notícias de que o revesamento vai ser maior a partir de agora (LeSean McCoy, por exemplo, vai carregar menos a bola) e os jogadores reservas vão entrar mais. Por fim, esse exagero do número de snaps deve ter acontecido pro Chip ter uma noção da condição técnica do time e para dar entrosamento aos mesmos.

    Um dado interessante da OL do Eagles - snap counts: Mathis, Herremans, Johnson, Kelce 80 of 80, Peters 78, Barbre 2.

    Ps.: Achei válido essa forma coluna que você escreveu Vitor. Resumo dos jogos você acha em vários sites, inclusive em português. Agora um texto que aborda alguns pontos interessantes da rodada não se acha muito, pode existir, mas geralmente são tratados de forma bem genérica. Parabéns!

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  2. Muito boa a análise da arbitragem, foi algo que eu notei durante os jogos, as zebras não estavam marcando pass interference e derivados por qualquer coisinha, acho que rolou uma reunião dos árbitros pra resolver isso pq tava ficando irritante, pra mim só se marca falta se tiver ctz, em qualquer esporte.

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  3. Gostei dessa forma de post. Gostaria também que voltasse com os palpites (era uma boa prévia e resumo da semana, para quem não tem tanto tempo de acompanhar). Em relação ao jogo do Ravens, temos opiniões parecidas, só acrescento dois pontos: 1) O número de passes. Um time com ataque limitado, não pode lançar tantas bolas; o Baltimore para ter sucesso esse ano precisa jogar mais como o Texans. 2) Além de um jogo espetacular do PM, ao meu ver a defesa cansou no segundo tempo (ajudou também erros básicos de posicionamento). Isso já acontecia ano passado e foi evidente novamente; o que torna o primeiro ponto ainda mais importante. Ou seja, torna o Flacco centro do ataque é um erro, tanto ofensivamente quanto para a defesa.

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    1. Eu acho que vou voltar com os palpites pelo menos por enquanto. Algumas pessoas reclamam, mas acho uma forma boa de dar um overview de cada time e incluir alguns comentários menores sobre algum time que não valham a pena ser incluídos nos outros posts. Vamos fazer o teste e ver no que da.

      E eu concordo com os dois pontos, mas esses são dois que não me preocupam tanto. São questões de ajustes táticos e que podem mudar com o tempo, especialmente a defesa, que acredito vir bastante forte mas precisar de tempo para se aclimatar. Eu até defendi que o ataque preocupava mais a medio prazo com a defesa, e por isso fiz questão de ressaltar suas limitações. Mas concordo também que o Rice tem que jogar mais.

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  4. Sobre o formato, gostei. É como o Thiago Pereira Vital disse, resumo dos jogos você acha em vários sites, o que é legal é essa abordagem diferenciada que você faz. Agora você só tem que ficar experimentando, até alcançar um ponto que satisfaça a você a aos leitores.

    P.S.: Mandou bem na referência ao Hiruma, extremamente bem colocada. Não sei se você lembra, mas eu fiz uma pergunta em um Mailbag que envolvia Eyeshield 21, e fiquei surpreso por você conhecer. Aliás, tenho que reler o mangá, agora que conheço mais do esporte.

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  5. O Derek Wolfe jogou, não?
    http://espn.go.com/nfl/player/_/id/14964/derek-wolfe
    "News: Wolfe has recovered from the neck injury he suffered on Aug. 17, the Broncos' official site reports. (Tue Sep 3)

    Spin: Meanwhile, defensive coordinator Jack Del Rio noted that Wolfe is "full go" and the defensive end is not even listed on the team's Week 1 injury report."

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    1. Jogou, mas bastante limitado, tanto do ponto de vista técnico como tático. Encorajador pros próximos jogos, though.

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