Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Pontos importantes da semana 4 da NFL

"Pre-para... Que é hora... "



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Mais uma semana na NFL chega ao fim, e mais uma vez uma semana interessante que gerou assunto para nosso recap semanal dos pontos importantes. Para os perdidos de plantão a idéia aqui é a seguinte: isso aqui NÃO é um recap da rodada, e o nosso intuito não é passar por todos os jogos ou falar de todos os jogadores, bons ou não. Outras pessoas podem fazer isso, mais rápido e melhor do que eu, e eu também não acho que isso se enquadre na proposta do blog. A proposta aqui é para dar uma olhada nos fatores, dentro de cada jogo, que são relevantes ao maior cenário da NFL. Vamos olhar a performances que foram importantes mas receberam pouco crédito, fatores pouco observados que estão influenciando alguns pontos importantes, e por ai vai. Então de novo, o objetivo não é passar por todos os jogos e falar alguma coisa relevante: muitas vezes teremos dois ou mais pontos sobre um mesmo jogo, e jogos sem comentário nenhum. 

Hoje vou aproveitar e cumprir minha promessa de falar mais sobre um time que deveria ter falado semana passada e não tive tempo, o Tennessee Titans, que ainda virou notícia graças a lesão do Jake Locker. Mas antes vamos começar por um time um pouco mais interessante...

Em busca da perfeição


Essa é uma pergunta honesta: quando vamos começar a falar sobre a possibilidade do Denver Broncos terminar a temporada com um perfeito 16-0?

Antes que pareça que eu estou colocando a carroça na frente dos bois e contrariando tudo que eu sempre prego por aqui sobre não overreact a amostras pequenas, deixe eu esclarecer: todo ano, eventualmente, as pessoas fazem  um farol sobre os times que permanecem invictos porque, no fundo, todos nós queremos ver um time terminando um ano sem perder um jogo sequer. Esse interesse se intensificou ainda mais depois de 2007, quando o Patriots conseguiu uma temporada perfeita e chegou no limite de fazer história antes de perder o Super Bowl para o Giants de forma dramática (eu assisti o jogo na casa de um amigo patriota. Digamos que eu aprendi muitos xingamentos novos naquele dia). Ver um time chegando t ão perto dessa marca pela primeira vez em 35 anos (o Dolphins de 1972 terminou a temporada invicto, mas em apenas 17 jogos não tão dominantes) reacendeu o interesse em ver alguém repetindo esse feito, e desde então, todo ano temos procurado alguma equipe que pudesse nos levar a terra prometida. E esse ano, o claro candidato a atingir essa marca não pode ser outro que não o Denver Broncos. Por isso estou estranhando que não tenhamos lido mais sobre o assunto.

Isso obviamente não quer dizer que o Denver vá, ou mesmo que tenha grandes chances, de atingir a marca de 16-0. Mesmo para um time tão dominante como Denver tem sido, terminar uma temporada sem uma derrota sequer envolve muito mais do que competência, também passa por sorte em fatores que já dissemos muitas vezes estar além do controle das equipes: os poderosos Patriots de 2007 terminaram o ano abaixo de 14-2 em Pythagorean Expectations e 4-0 em jogos decididos por uma posse de bola, inclusive um jogo contra o Ravens no qual o hail mary da equipe de Baltimore para ganhar o jogo parou na linha de uma jarda antes do TD. Mesmo o Colts de 2009, que começou o ano 14-0 antes de colocar Peyton Manning no banco e perder seus dois últimos jogos com Curtis Painter de titular, teve um Pythagorean Expectations abaixo de 11-5 e começou o ano 7-0 em jogos decididos por uma posse de bola. Então mesmo que eu possa provar empiricamente que o Broncos é um dos melhores times da história da NFL (não se preocupem, não irei por esse caminho) isso não garante que o Broncos já ficar invicto ou mesmo que vá brigar por isso até as últimas rodadas.

Ainda assim, se você quer sonhar com a marca, você precisa de um time dominante e, acima de tudo, de um grande QB. Não é uma coincidência que nos 40 anos antes das mudanças de regras favorecendo o jogo aéreo em meados de 2004 apenas um time conseguiu terminar a temporada invicto, e que desde então tivemos dois em três anos - e que ambos foram liderados por dois dos maiores QBs da história da NFL. O jogo hoje é mais direcionado para o passe do que nunca e um QB tem um impacto em campo maior do que nunca teve, e portanto ter um Peyton Manning ou um Tom Brady hoje em dia te da uma vantagem muito maior do que ter um John Elway ou Joe Montana nos anos 80. E não só o Broncos tem Manning, como tem o Peyton Manning mais dominante de sua carreira: em apenas quatro jogos, claro, mas o camisa 18 está acertando 75% de seus passes e caminha para terminar o ano com 5880 jardas e 64 TDs, ambos recordes absolutos da NFL. Além disso, também não teve nenhuma interceptação e lidera a liga com 11.8 jardas por passe. Se quer um retrato do que "dominante" significa, não precisa olhar mais longe.

Claro que esses números vem de uma amostra pequena e dificilmente se manterão por 16 jogos, mas servem para retratar em parte quão dominante o ataque do Broncos tem sido em 2013. O grande Bill Barnwell fez uma pesquisa sobre os ataques mais dominantes da história da NFL na era Super Bowl, e os resultados são bastante favoráveis: não só os 179 pontos anotados da equipe é a melhor marca desde a fusão entre NFL e AFL por uma grande margem (17 pontos para o segundo colocado), como mesmo ajustando de acordo com a pontuação média de cada ano (por causa das grandes diferenças de jogo e regras ao longo dos anos) o Broncos ainda é o líder em pontos anotados por uma grande margem (vocês podem ler o post completo aqui). Considerando o saldo de pontos e não apenas pontos anotados (desde 1970), o Broncos cai um pouco, mas ainda é excepcional: sexto melhor, e isso considerando que sua defesa que tomou mais de 20 pontos todos os jogos está sem seu melhor jogador em Von Miller.

Claro que isso não significa ou justifica um record 16-0, mas é uma forma de mostrar o quanto dominante está sendo esse time do Broncos nesse começo de temporada, e como eles parecem ser até o momento o time a ser batido na NFL. Até agora nenhum time conseguiu sequer desacelerar esse ataque do Broncos, e realmente fica difícil de ver como: é um dos ataques mais completos que eu já vi, com uma opção fisicamente dominante pelo fundo do campo em Demaryus Thomas, o melhor slot receiver da NFL em Wes Welker, e o extremamente versátil Eric Decker... e como se não fosse suficiente, agora o time achou um TE super atlético em Julius Thomas. Isso são QUATRO alvos que dificilmente podem ser marcados no mano a mano e, como se não fosse o bastante, lançando para eles está um jogador que é historicamente bom lendo e destrinchando defesas e soltando passes precisos e velozes quando o blitz chega. Como você marca esse tipo de ataque? A perda de Ryan Clady provavelmente vai convidar mais blitzes, e um bom time pode explorar a falta de um jogo terrestre da equipe, mas são tantas opções e tantos padrões diferentes para uma equipe se preparar que realmente é difícil ver esse time sendo parado no volume de ataque. Um ataque de elite também poderia tentar vencer controlando a bola e sendo eficiente, mas a defesa de Denver tem sido boa (não ótima, mas boa) mesmo sem Miller e tem sido muito boa contra o jogo terrestre em particular, o que torna ainda mais difícil para um adversário controlar o relógio. Até agora esse me parece de longe o time mais perigoso da NFL.

O único "problema" com esse inicio de temporada do Broncos tão dominante é que o time enfrentou um calendário extremamente favorável. Seus adversários nesses quatro primeiros jogos somam um record de 4-12, sendo eles o desastre que é o Giants, duas das piores defesas do mundo em Eagles e Raiders, e apenas o 2-2 Ravens como um adversário decente (e em Denver). Eles ainda não enfrentaram uma boa defesa em 2013 (Ravens é mediana, pelo menos até aqui) ou um time capaz de disputar no ataque. Naturalmente que isso não quer dizer que o Broncos só venceu porque seus adversários eram ruins, mas ainda não sabemos como se comportará esse time contra um adversário mais forte. Ainda assim, o calendário do time é favorável: os jogos mais difíceis da equipe (no papel) daqui para frente serão Cowboys fora de casa, Colts fora, Chargers fora, Chiefs fora, Patriots fora e Texans fora... e mesmo assim, Cowboys, Colts e Chargers são times medianos e o Texans até agora não tem se mostrado um time muito confiável. Tirando Patriots, Chiefs e TALVEZ Texans, o Broncos vai ser o claro favorito em todos os jogos até o final do ano, com esses três representando a principal ameaça ao sonho do ano perfeito. Imagina se o Broncos chegar na semana 12 com 10-0 para enfrentar o Patriots, fora de casa, com Tom Brady vs Manning E com o time de New England tendo a chance de evitar que seu maior rival (Manning, não o Broncos, que fique claro) repita seu feito de 16 vitórias? Estou tendo calafrios só de pensar nisso.

Então embora esteja muito longe do improvável 16-0, é uma história a se acompanhar durante a temporada. Se não quiser pelo 16-0, faça pelo prazer de acompanhar um dos ataques mais dominantes (em uma amostra pequena, mas whatever) da história da NFL.

Curiosidade histórica do dia: muita gente estava surtando ontem ao ver o Broncos ganhar de 52 a 20 de um time ruim em Setembro. O 49ers de Montana e Jerry Rice ganhou uma vez de 55 a 10... em pleno Super Bowl (ironicamente contra o Broncos de John Elway).


Jake Locker e o segredo do Titans


Essa semana, Jake Locker estava tendo o melhor jogo da sua jovem carreira contra o New York Jets: 18-24, 149 jardas e 3 TDs, fazendo todas as jogadas corretas e dominando a partida. Foi quando, durante uma jogada de pressão, Locker foi atingido duas vezes pelos defensores de verde e caiu de forma esquisita sobre seu quadril, imediatamente gerando grandes preocupações até sair imobilizado em uma maca. Os primeiros exames indicam que a lesão não foi tão séria como se temia e que Locker não deve perder a temporada inteira, mas ainda deve ficar de fora por pelo menos seis semanas (possivelmente mais), e isso levanta a questão do quanto isso vai afetar negativamente a surpreendente campanha de um surpreendentemente decente time do Titans. Para responder a essa pergunta, primeiro temos que perguntar outra coisa: o sucesso do Titans essa temporada está vindo de onde?

Nessa offseason, o Titans investiu pesadamente no seu ataque, trazendo um segundo RB, dois excelentes guards para ajudar o jogo terrestre, e mais dois bons alvos para seu QB-em-desenvolvimento Jake Locker. A expectativa era que o ataque desse um passo a frente e liderasse esse time, agora e no futuro. Então quando o Titans começou bem a temporada, muita gente atribuiu isso a esses gastos ofensivos da equipe que teriam dado ao time uma nova identidade.

Bom, olhando principalmente para os três primeiros jogos (já explicarei porque) que Locker teve inteiros, esse não foi o caso. Em primeiro lugar, o jogo terrestre que deveria explodir em 2013 não só não explodiu como ainda regrediu: depois de conseguir sólidas 4.5 jardas por corrida em 2012, o time viu seus números despencarem para 3.5 Y/C em 2013, um número horrível que é a sétima pior marca da NFL. Isso pode ser um efeito do calendário, que viu a equipe enfrentar algumas boas defesas terrestres (especialmente Jets), mas sozinho não serve para explicar porque esse ataque que no papel melhorou tanto seu jogo terrestre perdeu uma jarda inteira por corrida nesse começo de ano. Então não foi isso que motivou esse bom começo.

Os olhares então se voltam para Jake Locker, cuja narrativa no começo do ano era de que ele finalmente estava dando o "salto" nesse começo de ano. Eu odeio narrativas porque elas sempre envolvem distorcer os fatos para se encaixar na história pré-determinada, como "Joe Flacco se descobriu nos playoffs e agora é um QB de elite!" ou "Tony Romo não consegue ganhar jogos no final!", duas histórias que ganham força porque todo mundo atribuiu as vitórias do Ravens nos playoffs somente a excelente performance de Flacco (desconsiderando todo o resto que aconteceu para chegar no título) e as derrotas do Cowboys somente ao Romo passando por cima de todo o resto. E para variar, as notícias desse "salto" do Locker eram mais um caso de fatos distorcidos para entrar na narrativa pré-determinada. Olhem só esse dado do Barnwell:

2012 Jake Locker: 56.4%, 6.9 jardas por passe, 197.8 jardas por jogo, 0.9 TD por jogo, 26.5 jardas terrestres por jogo, 7.4% sack rate, 48.07 QBR
2013 Locker (três primeiros jogos): 58.3%, 6.9 Y/A, 190.6 YPG, 1 TD por jogo, 27.0 jardas terrestres, 7.4% sack rate, 52.3 QBR

Hmm... praticamente o mesmo jogador, certo? A grande diferença entre os dois são as interceptações, já que Locker não lançou nenhuma nesses três jogos, mas considerando que ele teve duas dropadas pela defesa (inclusive uma que iria perder o jogo contra o Chargers) não é muito exato atribuir isso a uma grande melhora do QB. Não que Locker não tenha melhorado, claro: ele se tornou um pouco mais eficiente com seus passes, mais cuidadoso com a bola e tem tido um aproveitamento um pouquinho melhor convertendo terceiras descidas, o tipo de evolução esperada de um cara jovem e cujo grupo ao seu redor evoluiu tanto em peças. Mas no fundo, o camisa 10 de Tennessee era o mesmo jogador que sempre foi produzindo como sempre produziu, mas dessa vez com todo mundo correndo para criar uma narrativa por trás porque seu time seguia ganhando. Então apesar dos investimentos no ataque, não foi ele que esteve por trás desse bom começo do time - o ataque não está sendo horrível, mas está sendo basicamente o mesmo grupo mediano que foi um ano antes.

Claro, no último jogo não foi bem assim, com Locker tendo seu melhor jogo como profissional contra uma boa defesa do Jets e passando para três TDs e 75% de aproveitamento (apesar das baixas 6.1 Y/A). Os números estão um pouco inflados - em especial o de TDs - por conta dos turnovers do ataque do Jets e Geno Smith que deram ao Titans grande posições de campo: os três TDs de Locker vieram em passes de 1, 4 e 16 jardas em campanhas de 18, 26 e 46 jardas, todas após turnovers do ataque. Então ainda que os números sejam um pouco enganosos e influenciado por fatores externos, eu assisti o jogo e posso falar que Locker jogou muito bem: calma no pocket, preciso nos passes curtos e sempre sabendo a quem achar nas horas certas. Depois do jogo, as pessoas se dividiram em definir se o jogo tinha sido o breakout do Locker como QB ou se tinha sido um outlier contra uma defesa que jogou muito mal. Como sempre, a verdade provavelmente está em algum lugar no meio: foi o melhor jogo que eu vi de Locker em termos de fundamentos e eficiência e que pode indicar uma evolução, mas é prematuro achar que isso representa um novo momento na carreira do garoto porque a defesa do Jets FOI muito mal na partida, de forma que seu reserva, Ryan Fitzpatrick, entrou e lançou para mais 100 jardas e um TD. Então ainda que esse jogo tenha mostrado uma evolução do Locker, levem com um grão de sal sobre o que isso significa para o futuro, tanto por conta da lesão que interrompe a sua sequência como pelo que ele mostrou nos três primeiros jogos.

E como já vimos antes, nos três primeiros jogos Locker foi basicamente o mesmo jogador de antes, e o ataque como um todo foi medíocre (não horrível, mas medíocre) como no ano passado. Então considerando que o segredo desse bom começo não foi o ataque, precisamos procurar em outros lugares as causas, e isso é ao mesmo tempo bom e ruim quando consideramos a lesão de Locker: bom porque, afinal de contas, não era o garoto que estava sendo a pedra fundamental desse começo de temporada e portanto seu substituto tem mais chances de sucesso, mas ruim porque além dos motivos óbvios (lesão grave em um QB jovem e talentoso que precisa de entrosamento com seu novo ataque em um bom momento no ano), alguns deles podem se voltar contra o time no futuro... mas chegaremos lá.

Primeiro, vamos olhar para a defesa. Depois de ser a terceira pior de 2012 e o time que mais cedeu pontos na temporada passada, a diretoria decidiu não investir muito nela nessa offseason, com Bernard Pollard sendo a principal aquisição. Com isso, muitos (eu incluso) esperavam mais uma temporada ruim defensivamente do time de Nashville, enquanto o ataque evoluiria com as contratações. No final, o ataque estagnou e continua praticamente igual, enquanto a defesa deu um salto enorme de produtividade. Nesse começo de ano, a defesa não tem sido elite, mas tem sido bastante sólida, o que já é um enorme avanço em relação ao "mais pontos cedidos" do ano passado. Mesmo considerando que enfrentou uma série de ataques ruins nesse começo de ano (Chargers sendo a exceção), os números são bastante sólidos: 11th em jardas cedidas, 7th em pontos, e oitavo em turnovers com nove. Os números ajustados não serão tão bons assim por conta dos adversários enfrentados, mas da para esperar algo como 12th melhor da NFL nesses quatro primeiros jogos... o que já está bom. A chave para isso veio de um surpreenendente desenvolvimento da jovem linha de frente da equipe: jogadores como Jurrell Casey (3 sacks), Zach Brown (3 sacks) e Ropati Pitoitua (2 sacks) evoluíram muito do ano passado para cá quando pouca gente esperava (Casey foi escolha de meio de terceira rodada, Pitoitua nem draftado foi)  e, junto de Derrick Morgan (1st round) e Brown (2nd round), acabaram montando uma linha de frente que tem sido espetacular atacando o QB adversário e gerando pressão, quinto em sacks na NFL. Essa dominação defensiva provavelmente vai sofrer uma redução quando enfrentar adversários com ataques e linhas ofensivas melhores, mas a evolução dos garotos é real e não vai a lugar nenhum. A defesa tem seus problemas contra a corrida e a secundária ainda pode ser explorada, mas essa linha de frente, em especial o pass rush, é para valer.

Mas agora chegamos ao grande segredo do sucesso do Titans: turnovers. Depois de quatro semanas, o Titans lidera a liga em saldo de turnovers com +9, sendo que seu ataque ainda não cometeu NENHUM em toda a temporada. Mais do que a esperada-que-não-aconteceu-ainda evolução do ataque e da considerável evolução da defesa, esse é o principal fator por trás desse começo 3-1 do Titans. E de certa forma, isso é um problema, porque é um fator altamente sujeito a regressão: para começar, o Titans lidera a NFL recuperando 89% (!!!) dos fumbles que acontecerem em seus jogos, uma marca absurdamente alta que impulsionou esse saldo de +9... e que vai regredir. Já bati nessa tecla 400 vezes aqui, mas recuperar fumbles não é uma habilidade, é pura sorte, e por isso gravita para 50% em uma amostra consideravelmente grande. 89%, eu não preciso dizer, é totalmente insustentável e vai regredir ao longo do ano. O ataque também não vai passar para zero interceptações o ano todo: ainda que Int% não seja uma estatística que converge para um número determinado, como por exemplo BABIP no baseball, ainda é possível identificar algumas aberrações sujeitas a regressões, e o 0% do Titans até agora é o maior candidato. Locker teve um Int% de quase 3.5% ano passado, e mesmo que uma evolução ou mais sorte reduza esse número, ainda é algo que vai piorar e vai afetar o saldo de turnovers da equipe.

Esse é meu maior problema com Locker sendo substituído por Fitzpatrick: o ex-aluno de Harvard é ainda mais sujeito a turnovers, e grande parte do mérito desse começo de temporada da equipe vem do seu bom trabalho (e imensa sorte) com turnovers. Isso não quer dizer que o Titans seja um time horrível que tem dado muita sorte e por isso está ganhando, o Titans tem uma boa defesa e tem feito um bom trabalho em 2013, mas o maior fator desse bom começo de ano é algo que é impossível de se sustentar e que vai regredir e afetar a equipe. Vale citar que o único time pós-fusão da NFL a começar a temporada com 0 turnovers em quatro jogos foi o Rams de 1995, que terminou com um saldo de -3 ao final do ano. Essa regressão provavelmente iria atingir o time mesmo com Locker de QB por conta dos fatores já discutidos, mas considerando que Fitzpatrick é mais descuidado com a bola, isso pode contribuir ainda mais para essa regressão. Mesmo considerando que Locker seja melhor que Fitz, se o time conseguisse hipoteticamente manter essa sorte milagrosa recuperando fumbles, o time teria pouco a perder da mudança de QB pois não estava se apoiando nisso para vencer jogos. Mas se a sorte começar a mudar, e ela vai, então precisamos ficar de olho em como o time vai lidar com isso. A tabela é fraca o suficiente para o Titans conseguir arrancar uma vaga nos playoffs, mas precisamos ver se conseguem fazê-lo quando seus turnovers normalizarem.

Viajando para Londres


Depois de ter aproveitado um jogo surpreendentemente bom em Wembley entre dois times 0-3, jogo esse que acabou com um fumble do Big Ben na linha de 7 jardas tentando o TD para empatar o jogo, as atenções logo se voltaram para o sucesso que tinha sido mais um jogo em Londres. A casa estava cheia, mais de 500 mil pessoas se juntaram antes do jogo, e para variar foi um grande sucesso de mídia e público. Até o jogo, que parecia um fiasco no papel entre dois dos piores times da NFL, foi extremamente divertido e disputado até a última jogada. Foi basicamente tudo que poderíamos esperar de bom, e estávamos prontos para ir para a próxima... quando alguém comentou que ainda tinha mais um jogo em Londres essa temporada, e eu fiquei surpreso com a quantidade de pessoas pegas de surpresa por isso.

Esse segundo jogo em Londres (primeira vez que isso acontece), bem como os times escolhidos para esses jogos, passam por um plano maior por parte da NFL. Não exatamente um plano concreto, mas uma idéia futura: colocar um time na Inglaterra.

Essa ainda é uma idéia em desenvolvimento, mas que já avançou um bocado desde a primeira vez que foi estudada. A idéia óbvia de colocar o time em Londres seria explorar um novo mercado, no caso o mercado europeu (e não apenas o londrino). A NFL tem se expandido consideravelmente fora dos Estados Unidos, mas ainda é um mercado pequeno ou inexplorado em contraste com, por exemplo, a NBA. O futebol americano como um todo, na verdade, tem crescido mas ainda não tem se concretizado com grandes ligas ao redor do mundo ou mesmo um torneio importante como o Mundial da FIBA. Colocar um time em Londres abriria uma nova fronteira para a NFL, não só pela cidade ser um mercado maior do que por exemplo Jacksonville ou Minneapolis como também como uma porta de entrada para todo o mercado europeu. Quem acompanhou a transmissão completa da NFL Network do jogo de Londres alguma vez na vida provavelmente viu que não são apenas os londrinos que lotam o estádio e ocupam a região externa de Wembley, são torcedores de toda a Inglaterra e toda a Europa que fazem a viagem pela oportunidade de acompanhar ou estar próximo do futebol americano. É nesse mercado que a NFL coloca seu olho quando pensa em mudar um time para Londres.

Foi provavelmente o sucesso dessas empreitadas fora dos EUA que levantaram a idéia de mudar uma franquia para lá. E obviamente, isso levanta algumas questões práticas e de logística. Vamos deixar a logística de mudar um time para Londres e se isso seria viável de lado por hoje, porque é uma outra questão muito mais extensa. Mas as questões práticas são mais simples: sim, 500 mil pessoas se mobilizam em toda a Europa para ir a um jogo de NFL e o estádio lota todo santo jogo é um número espetacular. Mas isso é o que acontece quando Londres recebe apenas um jogo por temporada. Todos os torcedores sabem que é a única chance de ver o futebol americano por lá, uma experiência única que acontece a cada ano. Será que seria assim caso tivessem oito? Será que ia ter tanta gente interessada em gastar tanto dinheiro para ir ver os jogos por lá? Será que o estádio ia encher e ia mobilizar tanta gente para compensar financeiramente?

Por isso que a NFL decidiu mudar um segundo jogo para Londres essa temporada: para ver como seria a reação do público ao segundo jogo. Não é mais o único jogo do ano, não é mais a novidade da temporada. Será que o estádio ainda vai lotar? É uma espécie de laboratório da NFL para ver como o público se comporta com esse segundo jogo. Claro que um jogo a mais é totalmente diferente de sete, mas é uma boa forma de ver se toda essa atenção é derivada da raridade de um jogo por lá ou se é uma base de fãs mais fiel e presencial do que isso. Fiquem de olho no segundo jogo, Jaguars e Niners na semana 8, para ver o efeito que a NFL vai analisar. O primeiro jogo foi o sucesso de sempre, mas o que importa é o próximo.

Os times escolhidos para esses jogos em Londres também não são coincidências. Desde que, alguns anos atrás, começaram conversas para sugerir que a NFL deveria mudar um time de volta a Los Angeles para explorar um dos maiores mercados dos EUA, os nomes que mais aparecem nas conversas são Jacksonville Jaguars e Minnesota Vikings... os dois times que estão mandando jogos em Londres. Esses times, em particular o Jaguars, não são times que oferecem opções muito atraentes para a NFL: ambos jogam em mercados pequenos, tem dificuldades para encher o estádio e não oferecem nenhum tipo de vantagem para a NFL atualmente. Não que a NFL tenha tanta necessidade de mercados grandes como a NBA ou a MLB, por exemplo, mas a questão é que Los Angeles e Londres oferecem algumas vantagens específicas (Los Angeles menos, para ser sincero, embora obviamente não ofereça as dificuldades logísticas da Inglaterra) que a NFL poderia tirar proveito, e para tal, Jags e Viks seriam os times que menos prejudicariam a NFL ou mesmo seus donos, que precisam querer a mudança para ela acontecer. Os times não enchem o estádio e não ganham muito dinheiro com venda de ingressos ou camisas para mercados pequenos, e não fariam falta para a liga caso sumissem... especialmente se trouxessem em troca um mercado grande e maior atenção da mídia.

Claro, um time em Londres ainda é improvável, na minha opinião. As dificuldades logísticas de um time tão longe e em um fuso tão diferente são enormes, e no final iria exigir um número enorme de ajustes que acabariam mais prejudicando a unidade da NFL do que ajudando. Ainda assim, considerando o enorme interesse de Roger Goodell em atingir esse objetivo, esses jogos em Londres se tornam mais interessantes a cada ano que passa.

2 comentários:

  1. Segunda feira eu estava comentando com um amigo que Manning só não será MVP se acontecer uma catástrofe. Isso porque abri ao acaso a página de Standings da NFL e dei uma olhada por cima nas estatísticas do Broncos - para logo em seguido morrer de raiva por não ter assistido nenhum jogo deles ainda.
    Algumas pessoas disseram que ele não vai conseguir manter o ritmo até o final da temporada por causa do físico. Mas já vi provas de que ele adaptou tranquilamente seu jogo pro estado fisico atual e que joga de maneira relativamente confortável.
    Lembro que disseram o mesmo do Duncan que começou voando a última temporada da NBA - ele terminou a temporada com médias muito próximas de career high em vários quesitos e quase ganhou o jogo 6 das Finais (e consequentemente o anel) praticamente sozinho.
    Quem é gênio no pleno sentido da palavra consegue, e Manning pertence a este seleto grupo.

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    1. Minha dúvida sobre a capacidade do Manning manter esse nível o ano inteiro é muito menos pelo seu físico ou gás, e muito mais porque esse nível é alto demais e me pergunto se realmente vai ser sustentável quando a tabela apertar um pouco. Mas já aprendi a não duvidar de Peyton Freaking Manning!

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