Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Algumas considerações sobre a rodada de Wild Card

Para participar do nosso mailbag, ou seja, enviar uma pergunta/comentário/dúvida/tópico de debate para ser respondida aqui no blog e no Esporte Interativo, é só mandar um email para tmwarning@hotmail.com com o título "Mailbag" que ele pode aparecer por ai. Forma de tornar isso mais interativo e próximo dos leitores. Então participem! O tema do próximo será playoffs, então aproveitem para enviar seus emails!


"Captain Luck, ao resgate!"



No próximo bimestre, começaremos uma série chamada Sports Mythbusters. A idéia é bem simples, pegar clichês, mitos ou lugares comuns dos esportes americanos e colocá-los a prova. Então estamos aceitando sugestões, e qualquer mito, frase comum, chavão ou coisa assim dos esportes que vocês querem ver testada e comprovada (ou ao contrário, que quer ver desmentida) podem mandar que vamos analisar os melhores. Mais uma chance de vocês sugerirem nossas pautas. Podem mandar emails com as sugestões para tmwarning@hotmail.com, para o twitter @tmwarning, ou simplesmente colocar nos comentários quando der na telha.
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Primeira rodada dos playoffs já está no passado, e me parece uma boa hora para passar rapidamente por alguns tópicos interessantes ou relevantes que se apresentaram nesse último final de semana de excelente futebol americano - deixando os comentários sobre os jogos do próximo final de semana para outra ocasião. Passando rapidamente por dois esclarecimentos...


Ausência forçada

Infelizmente, estando fora do país nas últimas semanas, não foi possível fazer uma cobertura decente da rodada de Wild Card. Eu até consegui acesso suficiente a internet para colocar meus palpites para a semana 17, mas depois disso não tive a oportunidade, e por isso só agora, de volta, que eu vou conseguir retomar o ritmo dos playoffs da NFL. Vamos ver se conseguimos manter o ritmo até o Super Bowl.

A outra coisa é a ausência do prometido Mailbag. Essa tem uma causa mais simples: não recebemos emails suficiente. Apenas duas pessoas mandaram perguntas, então ele foi adiado para outra ocasião - uma ocasião na qual teremos um número razoável de questões para responder e debater.

Então vamos tentar tirar o tempo perdido em relação a essa rodada de WC, começando com....


A verdade indubitável sobre os playoffs da NFL

Eu repito isso sempre que tenho a chance, e cada vez mais é verdade: nos playoffs, qualquer time que chega pode ser campeão. A natureza muito volúvel do jogo e a amostra extremamente pequena dos playoffs faz com que o nível de incerteza seja enorme, e com essa amostra pequena o impacto de diversas coisas pequenas (um quique diferente de bola em um fumble, vento que atrapalha um FG, um drop, etc) assume uma importância muito maior. Por esse motivo eu digo que qualquer time que chega aos playoffs pode ser, de fato, campeão. Não quero dizer, claro, que cada time tem chances iguais de ser campeão quando chegamos nos playoffs - quanto melhor o time, maiores as chances dele ganhar, já que esse tipo de coisa tende a ser aleatória. Mas em geral, ou pelo menos tem sido o caso nos últimos ano, tem vencido não o melhor time mas o time que pega fogo na hora certa e/ou da alguns golpes de sorte.

Se não acredita, é só fazer uma retrospectiva: em 2012, Ravens era o terceiro melhor time da AFC, mas Joe Flacco e Anquan Boldin pegaram fogo na hora certa, o time deu uma meia dúzia de golpes de sorte (a furada do Rahim Moore, a lesão de Aqib Talib, e a falta não marcada na end zone no Super Bowl) para chegar ao título - um ano depois, o time sequer foi aos playoffs. Em 2011, o Giants se tornou o primeiro time 9-7 a vencer o Super Bowl E o primeiro time com saldo de pontos negativos a vencer o Super Bowl, principalmente porque sua linha defensiva teve uma performance dominante (que nunca mais replicou), porque o time recuperou sete fumbles seguidos e porque Kyle Williams retornou alguns punts - eles não foram aos playoffs desde então. O Packers de 2010 só foi aos playoffs porque o Bucs perdeu em casa, em OT, para o Lions sem Matt Stafford na semana 16. Em 2009, o melhor time da NFC de fato venceu o Super Bowl (o Saints começou o ano 13-0 antes de perder as três últimas), mas um em quatro anos não é exatamente uma grande vantagem para os "melhores times da NFL". Você entendeu o sentido: ser bom é muito importante, mas muitas vezes quem vai ganhar o título é aquele time que ficou saudável na hora decisiva, viu alguns fumbles ou erros individuais acontecerem a seu favor, e que aproveitou melhor essas chances. É o eterno "better to be lucky than to be good", ou em um português morfético, é melhor ter sorte do que ser bom.

Um bom exemplo dessa postura nesse final de semana de Wild Card foi o jogo entre Chiefs e Colts. Antes da partida, era difícil dizer qual era exatamente o melhor time, embora muitas métricas colocassem Kansas City como o melhor dos dois. KC teve 0.5 vitórias a mais em termos de Pythagorean Wins, e DVOA colocasse o Chiefs como o sétimo melhor time da temporada regular, enquanto o Colts foi apenas o 13th. Mesmo considerando o final de temporada ruim de Kansas City usando DVOA ajustado, o time ainda se mantém como o nono melhor da NFL, enquanto o Colts cai para 21st.

O jogo, como todo mundo já sabe, terminou com o Colts vencendo por 45 a 44 depois de estar perdendo por 38 a 10, a segunda maior virada da história dos playoffs. Em um jogo decidido por tão pouco e com tantos grandes momentos decisivos, e com tantos pontos, realmente é o mais equilibrado que você chega. E ai você lembra que o Chiefs perdeu seu melhor jogador (Jamaal Charles) na sua primeira corrida da partida, que o time perdeu um dos melhores CBs da NFL (Brandon Flowers) quando o Colts começou sua reação, que Donnie Avery (segundo WR favorito de Alex Smith na temporada) saiu machucado, e que até mesmo Justin Houston não terminou a partida... e começa a pensar que o Colts não deveria ter saído com a vitória em condições normais.

E não deveria mesmo. Isso NUNCA é uma ciência exata, mas em um jogo de um ponto tão apertado como esse, é difícil imaginar que não faria diferença um Charles ou um Flowers saudável. Charles era um candidato a MVP que foi, de longe, o não-QB mais valioso de toda a NFL, um jogador responsável por 32% da produção ofensiva da sua equipe (de longe a maior marca da liga) - quão diferente teria sido o jogo com ele naquele segundo tempo, quando o time tinha uma grande vantagem e iria ficar extremamente satisfeito correndo com a bola ou fazendo checkdowns para gastar tempo e avançar passo a passo? Ao invés disso, Charles estava fora, Knile Davis saiu machucado, e o time não teve confiança para jogar nas costas de Cyrus Gray pelo chão para gastar o relógio. Charles foi segundo colocado em muitas listas para MVP por ai - eu acredito que sua saúde teria feito pelo menos alguma diferença no jogo. O mesmo para Flowers, que embora tenha saído quando o Colts já reagia, é razoável imaginar que teria feito alguma diferença em relação ao seu substituto Dunta Robinson, que tomou bola nas costas o jogo todo. Se ambos os times jogassem toda a partida com os mesmos jogadores que a começaram, Kansas City provavelmente teria ganho.

Mas não jogaram, e KC não venceu. Colts superou algumas perdas próprias, Andrew Luck lembrou no segundo tempo que é um enviado dos céus para completar viradas espetaculares na NFL, e o time jogou com muita raça para completar essa virada espetacular. Porque na NFL, não adianta ser só bom. Você tem que ser bom E dar sorte.


Ter um bom quarterback ajuda

Um dos lugares-comuns dos playoffs diz que as duas pessoas mais importantes em um time na pós-temporada são o quarterback e o técnico. Em geral eu odeio lugares-comum porque eles são uma forma de simplificar as coisas e não pensar sobre elas, o que gera todo tipo de preconceito e erro típico de quem tem preguiça de olhar as coisas direto. Mas esse lugar comum, em particular, é um que eu concordo até certo ponto. Claro, você não PRECISA de um grande QB para vencer - Eli Manning, Joe Flacco e Mark Sanchez tem mais Super Bowls e um record melhor nos playoffs nos últimos 8 anos do que Drew Brees, Tom Brady e Peyton Manning. Futebol é um jogo de 53 jogadores, não de um, e se você tem um grande QB e o resto do seu time é uma droga, você vai continuar não vencendo nada.

O que isso quer dizer, entretanto, é que ter o QB superior te da uma grande vantagem em relação ao seu adversário. Pelo menos nessa primeira rodada de WC, quatro times tinham um QB claramente superior ao adversário: Colts com Luck, Saints com Brees, Packers com Aaron Rodgers, e San Diego com Philip Rivers. Três desses eram considerados zebras em suas partidas... mas três desses quatro times com o QB superior saíram com a vitória. A única excessão foi o Packers, que perdeu do San Francisco 49ers em parte porque Colin Kaepernick vira uma mistura de Joe Montana, Steve Young e Obi-Wan Kenobi quando enfrenta seu time de infância (são três jogos contra GB, 3-0 com 300 jardas aéreas e 100 jardas terrestres de média), e mesmo assim o Niners precisou de uma campanha espetacular nos minutos finais em um jogo onde a grande diferença foram as defesas. SF tem uma linha ofensiva melhor, uma defesa mil vezes melhores, melhores STs, Colin Kaepernick foi o melhor jogador em campo... e mesmo assim foi uma partida extremamente difícil decidida no segundo final.

Um bom exemplo disso foi, de novo, Colts e Chiefs. Nessa partida, se você for olhar estatisticamente, Luck não foi o melhor QB - ele teve dois turnovers a mais que Alex Smith, que teve um jogo brilhante com mais de 400 jardas e 4 TDs. Se for para olhar no vácuo, o Colts venceu mesmo com Luck não sendo o melhor QB da partida. Mas vai ver os highlights daquele jogo, e veja o que Luck precisou fazer no segundo tempo para vencer. Quantos QBs da NFL seriam capazes de fazer isso? Quantos QBs seriam capazes de fazer, bem... isso? Com certeza não Alex Smith, e mais 90% da liga. Luck pode não ter sido o melhor QB ao longo do jogo todo, mas são pouquíssimos os jogadores que seriam capazes de virar esse jogo no segundo tempo como ele fez. Se o QB fosse 1% inferior a Andrw Luck, o Colts não vence a partida.

Então você nunca vai querer descartar os times com grandes QBs. As regras estão DEMAIS em favor deles, e temos QBs particularmente grandes nessa pós-temporada. O Patriots está sem Rob Gronkowski e Sebastian Vollmer no ataque, sem Vince Wilfork, Jerod Mayo e Brandon Spikes na defesa... mas você vai mesmo apostar contra Tom Brady em casa? Claro, o problema agora é que - principalmente na AFC - nós estamos tendo um overload de bons QBs sobrando. Os quatro times da AFC apresentam Pro-Bowl QBs: Peyton Manning (que acabou de obliterar todos os recordes da NFL e vai ser o MVP) enfrenta Philip Rivers (o segundo melhor QB da temporada regular), e Tom Brady (que de alguma forma manteve o ataque funcionando com Julian Edelman como seu principal alvo) recebe Andrew Luck (o melhor jovem QB da NFL e... bem, vocês VIRAM o que ele fez semana passada). Manning e Brady são ainda os melhores QBs dos confrontos, mas a diferença não é tão grande assim mais, e as duas "zebras" possuem dois excelentes QBs próprios que podem pegar fogo e definir o confronto.

Curiosamente, se na AFC temos três grandes QBs veteranos e uma jovem estrela, na NFC temos o contrário. Russell Wilson, Kaepernick e Cam Newton representam a nova geração, enquanto Drew Brees é o veterano e futuro Hall of Famer do grupo. Claro, o Saints não vai ser favorito só por ter o melhor QB - na verdade são zebras por oito pontos - porque Seattle tem um ótimo ataque, defesa espetacular e tudo que você espera do time mais completo da NFC. Mas considerando a diferença que um QB do nível de Brees pode ter em um único jogo, bem, eu também não seria louco de descartar New Orleans nessa partida.


O destino dos times eliminados

Entre os quatro times que depois do final de semana passada assistem os playoffs pela TV, a verdade é que com uma exceção, os times não tem tantos motivos para se sentirem deprimidos ou entrarem em depressão por causa das derrotas. Claro, considerando a natureza imprevisível da NFL e o quão apertados e decididos em detalhes foram os jogos do Wild Card, obviamente que todos eles prefeririam muito ter ganho e continuado na disputa. Mas tirando o Bengals, os outros três times todos tem motivos para estar otimistas e não se sentirem afetados demais pela eliminação.

Dois desses times, Eagles e Chiefs, são times que começaram a se reconstruir nessa temporada depois de um 2012 decepcionante. Trouxeram novos técnicos, mudaram seus elencos, e começaram de novo depois de ambos terminarem na lanterna de suas divisões. E o resultado foi um sucesso: KC venceu 11 jogos depois de só vencer dois um ano antes, Philadelphia venceu a sua divisão e teve o segundo melhor ataque da NFL, e ambos tiveram grande sucesso em seu primeiro ano sob o novo regime. A defesa de KC acabou não aguentando nos playoffs (com ajuda de múltiplas lesões) e o ataque de Philly foi superado por um ataque liderado por um futuro HoF, mas considerando que era apenas o primeiro ano do processo de cada time, acho que vão terminar o ano com a conclusão de que foi um ano extremamente satisfatório. Kansas conseguiu se restabelecer como um time de verdade, e embora diversas lesões tenham afetado demais o time no final do ano e nos playoffs, eles tem talento demais na defesa e Alex Smith se estabeleceu como o QB do futuro da franquia depois de um excelente final de ano. O mesmo vale para Philadelphia: Chip Kelly foi brilhante comandando a equipe e impondo seu ataque veloz, que foi o segundo melhor da NFL mesmo sem ter todas as peças ideais. A defesa jovem foi muito inconsistente ao longo do ano, e o ataque teve seus momentos difíceis, mas considerando que Kelly ainda não teve tempo de reunir os jogadores que deseja ou de entrosar seu time no seu complicado esquema ofensivo, a temporada foi um enorme sucesso: ele provou que seu esquema ofensivo funciona na NFL e conseguiu fazer Nick Foles parecer John Elway. Daqui para frente é questão de reforçar a defesa, achar as peças ofensivas, e correr para o abraço. Lógico que ambos prefeririam um título, mas o saldo foi extremamente satisfatório e o caminho de ambos parece positivo para 2014.

Green Bay não pode falar que está se reconstruindo como os dois, mas considerando as circunstâncias, GB me parece satisfeito (com alguma razão) por ter chegado aonde chegou. Durante a temporada regular, eles perderam o seu melhor jogador, Aaron Rodgers, por SETE jogos. Durante esses sete jogos, seus titulares forem Seneca Wallace, Scott Tolzien, e Matt Flynn. Detroit E Chicago ultrapassaram GB nesse tempo e dependiam das próprias forças para ganharem a NFC North. De alguma forma Detroit perdeu cinco dos seus últimos seis jogos, e Chicago foi incompetente o suficiente para Rodgers voltar ainda a tempo de vencer a divisão. E mesmo que estivesse com Rodgers quando foram derrotados pelo Niners nos playoffs, eles sabiam que era uma tarefa difícil: sua defesa estava sem Casey Heyward e Clay Matthews, e diversos outros jogadores importantes estavam ou machucados ou jogando no sacrifício. Considerando que teriam que jogar sem tantos jogadores importantes o resto do ano, que possivelmente Rodgers ainda não estava 100%, e que foi preciso um pequeno milagre e MUITA incompetência dos rivais só para o Packers chegar na pós-temporada... acho que não tem tanto motivo para tristeza. Eles chegaram mais longe do que deviam com um time esburacado e sem seu melhor jogador, e foram derrubados por um time superior.

O caso do Bengals é um pouco diferente. Sim, eles tiveram múltiplas lesões - na verdade, eles perderam seu melhor jogador de secundária (Leon Hall) E seu melhor jogador defensivo (Geno Atkins) na metade da temporada - mas a temporada acaba como uma decepção muito maior. Mesmo sem Atkins e Hall, a defesa do time se manteve estável, e o ataque - no qual o time investiu recentemente escolhas altíssimas para trazer Gio Bernard, Tyler Eifert, AJ Green e Jermaine Gresham - deveria ter produzido melhor. Ai o time chega nos playoffs contra um inferior time do Chargers, em casa (onde o time estava  8-0)... e apanha de 27-10 com Andy Dalton lançando duas interceptações. Depois de gastar seis escolhas de primeira ou segunda rodada nos últimos quatro anos para fazer esse ataque se tornar um dos melhores da NFL, o time ainda não conseguiu produzir mais do que 10 pontos (e três turnovers) contra a pior defesa da NFL? Não é nada satisfatório. Green Bay e Bengals perderam diversos jogadores por lesão e não eram o time que poderiam ser, mas pelo menos Green Bay sabe que overachieved em uma pool de times muito mais forte, que foi derrotado nos detalhes por um time superior quando estava destruído por lesões, e que enquanto Aaron Rodgers estiver lá, eles vão continuar chegando. Bengals  chegou aos playoffs com tranquilidade contra adversários fracos, foi derrotado com propriedade por um time inferior, viu seu ataque se desmontar e levantou ainda mais questões sobre sua situação de quarterbacks. Ainda que saibam que poderia ter sido diferente com o time saudável, ainda foi uma atuação decepcionante em uma situação que eram os francos favoritos. Eles precisam decidir logo sobre o futuro de Dalton, que mais uma vez foi muito mal nos playoffs (agora são três jogos, um TD e seis interceptações) e tem que fazer isso com um novo coordenador ofensivo. Não tem nada de bom saindo para o Bengals desses playoffs, nenhum consolo nem nada. Só mais dúvidas.

(O que não quer dizer que o Bengals seja um time horrível que deve se reconstruir do zero, a defesa ainda é excelente e o time tem pouquíssimos buracos. Mas esse tipo de atuação é exatamente o que você não pode ficar satisfeito de ver em um time nessa situação)

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