Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Um rápido lembrete do quão bom é o Spurs

(Esse é um texto bem curto, diferente do que costumo fazer, que eu escrevi hoje cedo no facebook sobre o ataque de San Antonio. Acabei postando aqui a pedido de alguns leitores, que achavam mais fácil visualizar em formato de blog. Se quer uma leitura diferente sobre San Antonio e o que faz deles tão bons, eu recomendo imensamente que leiam uma coluna de 2013 sobre o assunto. Uma das minhas cinco melhores colunas, sem dúvida)

Quando eu assisto o Spurs jogando basquete hoje em dia, eu não consigo deixar de achar uma das coisas mais bonitas desse mundo. O ataque de San Antonio é uma máquina de perfeição ofensiva, o ápice do basquete coletivo e bem jogado. Vejam por exemplo essa jogada (Gif via Grantland):





Maravilhoso, não é? Um dos passes mais bonitos desses playoffs (e dessa temporada).

Quando você conseguir parar de salivar com o passe do Manu, e eu entendo que pode demorar um pouco, assista de novo o Gif. Mas agora ao invés de se focar no passe (fruto do talento maravilhoso do Ginobili), preste atenção em outras coisas:

1) Quando o Thunder faz a blitz no Manu no pick and roll, Diaw ameaça um corte para a cesta aproveitando do espaço aberto. Isso imediatamente atrai a atenção de Steven Adams, marcando Duncan, que corre para bloquear o caminho de Diaw até a cesta.

2) Percebendo que Adams vai abandonar sua posição para ir em direção ao garrafão, e que isso deixa a zona morta completamente aberta (além de abrir uma possível linha de passe), Danny Green imediatamente faz um corte rápido em direção a ela. Quando Manu acha o espaço virando a esquina com Butler, Green já está em posição de receber um passe.

3) Quando Green corta em direção a zona morta, Duncan imediatamente percebe a jogada e, aproveitando que seu marcador (Adams) correu para o garrafão, corre para fazer uma screen no marcador de Green (Durant). Quando Durant pensa em acompanhar Green e evitar que ele receba a bola (e ele tem a velocidade para isso), ele tenta girar mas Duncan já está em posição para impedir que KD faça isso. E ele não consegue acompanhar o SG de San Antonio, que sai sem marcação para seu lugar favorito.

O resultado dessas três coisas é que Green está livre na zona morta, com seu defensor longe e preso em uma screen de um ser humano bem grande, pronto para receber um passe e anotar mais três pontos para San Antonio completamente livre. O resultado da execução toda dessa jogada, em tempo real:





E é por isso, mais do que tudo, que o Spurs é tão bom. Sim, você precisa de talento para executar uma jogada dessas, desde o passe de Manu ao arremesso de Green. É verdade.

Mas mais do que isso, essa jogada mostra a essência de San Antonio: cada jogador executou a perfeição seu papel na jogada, cada jogador estava na mesma sintonia e fez sua parte para tornar a vida dos companheiros mais fáceis e permitir a execução final da jogada. A screen de Duncan não aparece nas estatísticas, nem a movimentação de Diaw, mas ambas foram cruciais para a jogada acontecer. Não é sobre os números, é sobre cada jogador fazer sua pequena parte, na hora certa e do jeito certo, para que o ataque funcione. Sacrificando seu destaque pelo bem coletivo e sempre fazendo a jogada inteligente. Literalmente, o ataque do Spurs é uma máquina extremamente bem ajustada, cada peça conhecendo e executando seu papel a perfeição para que o todo funcione da melhor forma possível.

Eu já escrevi um dos meus melhores textos sobre a questão conceitual do que faz Duncan, Pop e o Spurs tão bons por tanto tempo: o texto é do ano passado, mas cada palavra ainda é extremamente verdadeira. (Recomendo muito a leitura) Essa jogada é um exemplo prático, dentro de quadra, que mostra tudo isso em ação, a coletividade e precisão do jogo de San Antonio, cada jogador executando seu papel. É por isso que, depois de  16 anos de Tim Duncan, o Spurs continua ganhando 50+ jogos todo ano e causando estrago nos playoffs.

Torcendo ou não para San Antonio, não tem como não admirar isso. É basquete sendo jogado do jeito certo, e o basquete que todo time deveria tentar imitar.

16 comentários:

  1. Imagina se nos últimos 4 anos o Cavs tivesse contratado todo staff técnico do Spurs (GM, Técnico e olheiros) e tivessem as escolhas de draft que tiveram.

    Sobre o Spurs, acho muito legal que o Manu não pega e simplesmente joga a bola pro outro lado da quadra, ele para, OLHA, percebe o que está acontecendo e escolhe o passe, e ele faz isso com dois jogadores marcando ele, um diretamente e outro voltando para o garrafão para cortar a linha de passe e pegar um eventual rebote.
    O argentino quando está inspirado (e nesses playoffs ele felizmente está jogando muito melhor que ano passado) é um monstrinho. Duncan nem tem o que comentar.

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    1. Acho que o importante ressaltar sobre o Manu também é que ele SABE que vai ter um jogador na zona morta, e por isso está confortável driblando para aquele espaço do campo. É uma coordenação perfeita e invejável.

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  2. Além de tudo, observa a movimentação do Parker na hora que o Manu interrompe o drible, e a corrida do Diaw durante o arremesso... E o balanço defensivo começando com o Duncan e o Parker, logo que o arremesso sai? That's when coaching matters!

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    1. Da para comentar mais uma ainda: Diaw correndo e assumindo posição embaixo da cesta para o rebote na frente do Adams antes sequer do Green arremessar.

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    2. Poisé, justamente a corrida dele que eu vi como sendo na hora do arremesso.

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  3. Tem mais: se o Ginobili acha que o passe não daria certo ainda teria a opção do Parker sozinho na linha dos três com o bloqueio do Diaw impedindo a aproximação do Westbrook, que perdeu a atenção ao armador dos Spurs quando o argentino foi para o fundo. Jogada linda demais.

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  4. E tudo começa porque Manu é um ótimo infiltrador e exige a dobra quando ele sai fazendo o drible. Mas a inteligência do Duncan é assustadora. Quando percebe a movimentação do Adams ele não espera o Green começar a correr. Ele vai pra screen imediatamente. E o Green automaticamente ao ver o Manu driblar para aquela posição já correu. A jogada parece coisa corriqueira, coisa que acontece 3 ou 4 vezes por período, tamanha naturalidade com que as coisas ocorrem.
    Perdão o clubismo mas... LoveMySpurs.

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    1. Foi a primeira coisa que eu reparei nesse gif (tá, a segunda, depois da assistência do narigudo-safado).

      O Duncan não "percebe que o Green está indo pra zona morta". Ele corre pra fazer a screen no Durant antes do Green se mexer. A impressão que dá é que ele SENTIU que a zona morta tava livre, ou viu com o canto do olho, ou simplesmente reparou que todos os outros 4 jogadores do Spurs estavam dentro do campo de visão dele. Seja como for, ele é um filho da puta e a visão de jogo dele é sur. re. al.

      Aliás, me parece que o Adams foi atrás do Diaw menos por inteligência e mais porque o Duncan o deixou pra trás. Tipo "putz, o Diaw entrou no garrafão... mas eu tenho que marcar esse - ué, cadé ele? Bah, já que ele não tá mais aqui, vou proteger o aro!".

      Sério, quanto mais eu vejo esse gif, mais mérito vejo pro Duncan na jogada. E isso é tipo o que ele faz no café da manhã, esse desgraçado.

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    2. Acho que a palavra aqui é que o Duncan "antecipa" a jogada. Essa ação Hammer do Spurs é uma das minhas jogadas favoritas (fazer um pick and roll em uma lateral para abrir a outra), então quando o Ginobili puxa a dobra e o Adams sai do Duncan para cobrir o avanço do Diaw, o Big Fundamental já antecipa que o Green vai achar a ZM livre e corre para fazer o bloqueio no Durant antes mesmo do Green começar seu movimento. Com os braços de Dalsin do KD, esse segundo que ele ganha fazendo isso pode ser a diferença entre um 3PT livre e um 3PT contestado. Como sempre, Duncan fazendo a coisa certa para seu time vencer, mas sem chamar a atenção. Sincroniza perfeita da equipe, todo mundo na mesma página.

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  5. Pois é esse time dos Spurs ano após ano vem se tornando uma máquina de jogar basquete.E o engraçado é que na época do 4º título eles eram uma equipe que agente não gostava de assistir.Uma equipe baseada na defesa e com um ataque até que comum,as vezes um jogo bem lento.

    Hoje é o time mais agradável de se assistir.Fico impressionado com a maneira que eles cuidam da bola,a movimentação,passes redondos,espaçamento,variedade de arremessos.Enfim,um ataque completo.E tudo fica mais impressionante se olharmos que tirando o Duncan,o Spurs não teve top picks,não foi atrás de FA badalados.Pelo contrário,viram talento onde ninguém mais via,desenvolveu os caras e tem um elenco bastante profundo sem torrar grana com qualquer um.

    E na atualidade existem 2 jogadores que me deixam fascinados quando assisto.Um é o LeBron que simplesmente é dominante.Faltam palavras pra descrever o que ele vem jogando,o cara faz de tudo em quadra.

    O outro é o Tony Parker.O controle do jogo que ele tem,a maneira com que ele puxa e organiza o time dos Spurs é uma coisa linda de ver.Joga fácil,joga muito.Pra mim ele é muito underrated e eu colocaria ele talvez só um pouco abaixo do CP3 e olhe lá.

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    1. Como tudo que dura muito tempo no topo, o Spurs acabou ficando cercado de lendas. Sim, é verdade que esse time azeitado parecendo um relógio suíço vem de uns 3 anos pra cá, mas o que eu acho mais engraçado é: San Antonio SEMPRE jogou assim. Ao menos desde a chegada do Duncan, claro. Olha isso: http://youtu.be/kO4caOwS6jI. Veja a movimentação de bola daquele time e compare com o time de hoje. Claro, hoje tem mais requinte, jogadores como Diaw, Splitter, Green, role-players muito inteligentes e com boa visão de jogo e ótimo passe vieram pra melhorar a máquina. Aliás esse vídeo ensina mais em 4 minutos do que é possível cobrir num comentário de blog. Mas veja as seguintes coisas:
      1. Se você ouvir a narração vai ver que Duncan não pontuava há um bom tempo, se ouvi bem há 27 minutos. Veja que, no auge da carreira, ele exigia dobras constantes. Parece que nesse jogo, até aquele momento, as dobras (e de vez em quando marcação tripla) vinham funcionando. Isso explica porque o Spurs estava tão atrás no placar, já que seu principal homem ofensivo estava sufocado. Mas repare no momento em que o time começa a pontuar. Repare o Duncan explorando as marcações duplas e servindo bolas de três pontos a rodo. Observe que a movimentação de bola começa a deixar jogadores livres da linha de 3. Isso não é nada novo, esse vídeo tem mais de 10 anos.
      2. Quem são os responsáveis por produzir ofensivamente enquanto a marcação dupla dificultava pro Duncan? Role-players. Veja o Jackson, um jogador cuja função era bem clara: defender o perímetro e ficar aberto pras bolas de três. Quer coisa mais Spurs que isso, um role-player mudando a cara do jogo? Outra coisa bastante Spurs? Steve Kerr vem do banco e começa a matar bola de 3 atrás de bola de 3. Quantas vezes você já viu o banco do San Antonio mudar uma partida?
      3. Observe o banco de reservas do time. Veja o Hall of Fame David Robinson na sua última temporada. Em fim de carreira, sem condições de ficar em quadra nos momentos decisivos, ele não brigava por minutos. Ao contrário, veja a alegria dele quando o time matava aquelas bolas de 3, especialmente o Kerr. Parecia um juvenil, pulando daquele jeito. Parecia que era a primeira vitória dele em playoffs. No próximo jogo do Spurs, veja o banco de reservas. Veja a vibração dos suplentes, não em alley-hoop, não em slam dunks, mas em jogadas aparentemente simples, porém executadas à perfeição. Você vê por aí na NBA bancos de reservas pulando quando o time enterra, quando tem uma super jogada individual... no Spurs essa comemoração é a cada jogada. O time reserva e o time titular é uma coisa só.
      Esse time é aquele time, pouca coisa mudou. Estilos mudaram, coisas se acrescentaram. Mas a essência do coletivo sempre esteve lá, desde que Popovich e Duncan se juntaram.


      P.S.: É só comigo ou o captcha tá quase impossível de ser decifrado?

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    2. Aqui está normal, estranho. Talvez seja do seu navegador.

      Isso que você falou sobre os role players e cada jogador fazer seu papel é o que eu disse no post que eu linkei lá em cima. O Spurs SEMPRE vai atrás de jogadores de grupo, caras que por definição estejam confortáveis fazendo o trabalho sujo e sem brilhar. Não é fácil, mas o Spurs sempre buscou isso e teve ótimos resultados. Eles são excelentes desenvolvendo jogadores e suas habilidades especificas, claro, mas é porque eles sabem que e mais fácil ensinar o Kawhi Leonard a arremessar do que ensinar o Stephen Jackson (que foi chutado logo depois do titulo) a jogar coletivamente e não ligar para seus números.

      E a questão tática do Spurs e como isso se relaciona com as tendências da NBA dava um post a parte. San Antonio SEMPRE esteve um passo a frente das tendências da NBA. Eles foram por exemplo o primeiro time a descobrir o valor do Corner-3 (que não só é o 3PT com melhor aproveitamento como é o que mais espaça a quadra) e implementar isso em seu jogo, bem antes da NBA alcançar. Quando as regras favoreceram infiltração lá por 2006, o Spurs se reinventou com o Duncan de C e as infiltrações de Parker, aquele slash-and-kick.

      Acho que muita gente ainda se lembra daqueles Spurs de 99 a 2005, que apesar de mover bem a bola jogavam muito devagar, defendiam demais e deixavam o ataque em segundo plano. Ainda eram muito eficientes, mas de outra forma. Mas confesso: prefiro muito o San Antonio de 2012 até hoje.

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    3. Sobre essas bolas de 3 da zona morta®, marca registrada de San Antonio Spurs S. A., eu tenho uma dúvida: as estatísticas sempre mostram que são as bolas de maior aproveitamento e isso é tão claro que não dá pra discordar. A grande questão é: por quê o aproveitamento é tão maior? Pensando nisso eu resolvi tentar descobrir da maneira menos eficiente possível: eu mesmo tentando chutar. Pelos meus testes, chutando exatamente 100 bolas de cada lugar, cheguei nos seguintes aproveitamentos:
      Frontal ao aro: 36%
      Aberto na esquerda: 35%
      Aberto na direita: 38% - minha melhor taxa
      Zona morta da esquerda: 28%
      Zona morta da direita: 30%
      Óbvio que não dá pra usar esses números pra quase nada, mas a questão que ficou clara pra mim é: é mais fácil chutar de frente pra tabela. Sempre que estou brincando eu acho muito mais difícil acertar da zona morta do que de ângulos mais abertos. Btw, deveria ter feito o teste com 50 bolas de cada lugar, quanto mais perto de 100 mais o aproveitamento caía por causa da fadiga muscular.

      Dito toda essa besteira de tentar entender por mim mesmo, concluo o seguinte: Não sou bom em estatísticas avançadas, mas uma possível explicação é a distância da marcação. A zona morta é o lugar mais difícil de marcar. Quando você tem um slasher no time, como Parker ou Manu, você tem que cobrir a infiltração e quando chega a ajuda pode vir um passe e daí o chute sem marcação. Pelo chute em si, sem marcação, me parece que chutar de frente é melhor. Que acham?

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    4. Tem uma resposta mais simples: a linha de três não é um arco perfeito, ela é achatada nos cantos, e portanto a distância do aro até linha de 3PT é muito menor na zona morta do que do resto da linha. Então é simplesmente um arremesso mais curto para se acertar. Tanto que se você for olhar para a NCAA, onde é realmente um arco (assim como provavelmente o é na sua quadra), o aproveitamento da zona morta cai muito, ate mais baixo do que os arremessos de 3PT de outros lugares.

      Um segundo possível benefício é que, pela menor distância e pela maior importância tática, os jogadores treinem mais ese tipo de arremesso.

      Mas admiro sua meticulosidade de dar 500 arremessos de 3PT para testar sua teoria! Eu teria cansado depois de 50! Hehe

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  6. Perfeito a análise, mas dá pra acrescentar ainda mais um ponto: Tony Parker percebe Manu indo para o canto da quadra e imediatamente sai do centro da quadra e vai para um lugar onde oferece um ângulo melhor de passe para seu companheiro. Manu escolhe Green, mas poderia dar um passe por cima, ou de costas, para o Parker.

    É uma máquina tão perfeita que sempre há mais de uma opção de jogada a se fazer. Felizmente o Manu escolheu a mais bonita/difícil

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    1. Verdade. A ação do ataque do Spurs nunca para.

      Outra alternativa que a jogada apresenta é voltar a bola para o Diaw. Embora ele não tenha uma linha clara de ataque, ele tem o Parker em posição para correr e receber um hand-off e, dependendo da ação do Durant, pode ele mesmo jogar a bola para o Green ou esperar o Duncan tomar posição no garrafão e ir para o post up. Opções são infindáveis.

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