Some people think football is a matter of life and death. I assure you, it's much more serious than that.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Big Two - Draft 2014 da NBA

"Hahaha e depois ele falou que o Jabari era melhor que a gente!!"


No próximo dia 26 começa o Draft da NBA. E se você não andou morando em uma caverna nos últimos 24 meses, você provavelmente já ouviu falar muito sobre esse Draft. Sobre como esse é o melhor Draft em 11 anos; sobre como Andrew Wiggins é o próximo LeBron; sobre como esse Draft é uma grande decepção; e por ai vai. E embora cada pessoa possa pensar algo diferente sobre ele, o fato é que esse é o Draft mais polarizador da NBA desde 2003, com vários jogadores interessantes e que muitos acreditam poder mudar o destino de uma franquia.

Com pouco tempo para fazer um preview detalhado, acabei recorrendo a ajuda de um dos maiores especialistas brasileiros em NCAA, o grande Zeca Oliveira, que concordou em retomar nossa velha parceria na coluna Big Two para falar um pouco sobre o assunto.

Acabamos trocando alguns emails para tentar chegar ao fundo da questão.


Vitor - Zeca, ainda bem que você está ai. A cada dia que passa, me parece mais difícil colocar esse Draft no seu lugar. Em um espaço de 12 meses, ele passou de historicamente bom, para muito bom, de volta a historicamente bom, dai a decepção, dai de volta a muito bom. Pelo menos três jogadores foram elevados a categoria de “salvador” antes de jogar um jogo sequer de NCAA. Muitos jogadores decepcionaram em 2014, em parte porque colocaram em cima deles expectativas impossíveis. E ainda assim, você tem algo entre 7 e 8 jogadores que teriam sido a escolha #1 do Draft passado. Como diabos eu coloco esse Draft em perspectiva?


Zeca - Fala, Vitor! Eu me sinto muito à vontade pra falar desse Draft por ter acompanhado toda a temporada da NCAA, e você definiu muito bem como vem sendo a linha do tempo desse período. Parte da decepção que alguns tiveram pode ser explicada pelo fato de a maioria daqueles super novatos terem chegado pra jogar em equipes não tão bem estruturadas, com pouca experiência e falta de liderança. Isso influenciou nas suas respectivas performances que, se pensarmos bem, foram muito acima da média pra circunstâncias normais. Mas como estamos falando de jogadores que já eram tidos como futuros heróis antes mesmo de se formarem no high school, as expectativas altas acabaram por ditar a nossa avaliação - ou pelo menos a do senso comum.

Como agora - que a competição universitária acabou - é um período que voltamos a estar mais preocupados com potencial do que com performance, a tendência é que volte com força a ideia de que este recrutamento tem tudo para ser um dos mais fortes dos últimos anos. Com um futuro um pouco obscuro, mas ainda assim muito forte.


Vitor - Como você disse, o foco agora é outro e todo mundo voltou a salivar com os talentos disponíveis. Mas sempre fica a pergunta do quanto uma performance individualmente fraca (ou, ao contrário, uma excepcional) na última temporada é importante na hora de avaliar um talento.

Isso fica bem claro na composição do consensual Top3 desse Draft. Andrew Wiggins teve uma temporada, para alguns, decepcionante depois de ter sido anunciado como o próximo LeBron, o próximo Durant ou o próximo Tracy McGrady. Joel Embiid foi uma surpresa que tem potencial saindo pelas orelhas. E Jabari Parker teve uma dominante temporada em Duke e se mostrou o jogador mais “pronto” desse Draft. E ninguém sabe exatamente o que fazer com esses três na hora de montar um Mock Draft.


Zeca - O certo é que quanto mais cedo os caras chegam na NBA, menor é o peso de sua performance no final das contas. O jogo deles ainda tem tanto espaço pra evolução que suas atuações no presente acabam sendo um pouco menos relevantes - e até por isso eu sou um dos defensores da derrubada da regra do one and done.

No caso deste top 3, cada um tem um ponto fraco diferente: Jabari tem o menor teto; Wiggins até hoje nunca mostrou que tem killer instinct; e Embiid tem sua saúde questionável nesse momento. São problemas tão distintos que é complicado colocá-los numa mesma classe a fim de compará-los. Tudo vai depender da abordagem das franquias que ali irão selecionar; e na NBA existem vários tipos: a conservadora, a ousada, a muito ousada e a abordagem Cleveland Cavaliers.


Vitor - E acho que da mesma forma, cada um dos três possui também um ponto forte diferente que os coloca na briga para ser a primeira escolha do Draft: Jabari é o jogador mais “pronto” para contribuir na NBA e de menor risco; Embiid tem o maior potencial do trio e trás o tipo de two-way game muito raro nos pivôs de hoje em dia; e Wiggins é uma combinação dos dois, muito atlético e pronto defensivamente com um jogo ofensivo ainda para se desenvolver.

Eu sei que muita gente gosta do Parker hoje, mas para mim a primeira escolha fica entre Wiggins e Embiid. Se saudável, Embiid é o melhor jogador desse Draft (e ele certamente será muito testado pelos times com as primeiras escolhas), e Wiggins oferece a combinação de atleticismo e defesa que parecem tão importantes para o Cavaliers nesse momento (sem falar no seu potencial). Eu iria com Embiid desde que ele fosse liberado pelo departamento médico antes.


Zeca - Essa situação me lembra um pouco a de Anthony Davis em sua primeira temporada, onde ele não foi tão bem quando Damian Lillard, por exemplo, e alguns chegaram até a se desapontar com ele num primeiro momento. Nós não fizemos parte desse grupo, você e eu, mas ele existiu. E eu consigo ver isso acontecendo com o próprio Embiid, que não está tão pronto para impactar na NBA como os outros dois - Wiggins, por mais cru que seja, terá a confiança dos treinadores por já ser um defensor relativamente maduro para o profissional.

Você também acha que isso vai acontecer, Vitor? E por que não deve haver overreaction se o início dele não for explicitamente tão promissor quanto normalmente se espera de uma escolha tão alta?


Vitor - Eu acho que isso tem a chance de ser um problema. Por melhor que seja esse Draft - e é muito bom - a questão que todo mundo continua levantando é a falta de um prospect que é claramente uma futura estrela, aquele Blake Griffin ou Anthony Davis. E quem quer que seja Draftado #1 esse ano - especialmente se for alguém mais cru como Embiid ou Wiggins - vai ter que aguentar muitas críticas pela falta de impacto ou dominação imediata. Isso pode afetar um jogador se estiver na situação errada (só ver o que aconteceu com Bennett em 2014), e quem quer que os selecione tem que estar preparado para lidar com esse tipo de coisa e criar o ambiente ideal para desenvolver esses jogadores com as expectativas corretas.

Esse é, inclusive, um dos motivos que me leva a crer que o Cavaliers deve estar explorando todo tipo de opção com a sua escolha #1. Jabari Parker não me parece a melhor opção para o Cavs (mais um pontuador que gosta de ter a bola nas mãos e não defende?), e tanto Wiggins como Embiid exigem um trabalho a médio prazo, muita paciência e expectativas moderadas - nada do que tem sido o forte de Cleveland nos últimos anos.


Zeca - Pra ser sincero, eu acho que o fato de eles estarem indecisos no momento está muito mais ligado às questões sobre a saúde de Embiid do que por qualquer outra coisa. Como você falou, eles não precisam de outro grande scorer e ao invés de pegar Wiggins eles poderiam tentar renovar com Luol Deng - embora não dependa apenas deles. Mas o que esse Cavs não conseguirá tão facilmente é um pivô que protege o aro muito bem e já é muito desenvolvido como reboteiro a esta altura da carreira. Junte isso ao fato de Embiid ter o maior potencial desse recrutamento e, eu acho que a primeira escolha tem tudo pra ser o camaronês.


Vitor - Bom, não é como se o Cavs tivesse um histórico recente de fazer coisas bizarras com suas escolhas altas nem nada


Zeca - Mas até agora nós falamos desses três atletas como se fosse proibido colocar outro na conversa do top 3. De fato há um consenso quanto a isso, e eu tenho certeza que o seu mock também não foge muito dessa regra. Então, Vitor, eu queria entender o porquê de Dante Exum - que também tem um upside absurdo - ser esquecido nessas horas. Quer dizer: você não acha que nós acabamos superestimando um pouco o fato de que o cara tem que atuar na NCAA para se provar? E qual você acha que seria a ideia que teríamos de Exum se ele tivesse passado a temporada passada no college?


Vitor - O problema com Exum é que não sabemos exatamente o nível de competição que ele enfrentou na Austrália essa temporada, e o quanto isso diz sobre suas habilidades. A liga australiana é melhor ou pior do que, digamos, a Big Sky Conference (onde Damian Lillard jogou)? Eu realmente não sei, e por isso é difícil ter certeza do que vimos.

Mas o que eu acho que as pessoas tem esquecido é da atuação de Exum no Mundial Sub-19. Exum teve 18-4 de média e dominou completamente um torneio com os melhores jovens talentos do mundo - um nível de jogo que tenho certeza que não perde nada para a NCAA - e mesmo esses números são enganosos por causa do jogo contra os EUA no qual ele machucou e jogou apenas 10 minutos. Exum teve 25-5 de média nos seus quatro jogos seguintes e levou praticamente sozinho a Austrália para as semifinais, uma atuação realmente assombrosa contra uma competição de alto nível. Se você precisa de uma atuação em alto nível para se convencer de que os talentos naturais de Exum são suficientes para colocá-lo no Top4 desse Draft, essa é a competição que você precisa assistir.


Zeca - Ano passado tínhamos essas mesmas dúvidas com relação ao Antetokounpo, que por sua vez jogava na segunda divisão do basquete de um país onde a economia está tão ruim que parece estar condenado a passar os próximos 500 anos sob um ajuste fiscal. Mas embora o nível tenha sido fraco, o grego pelo menos teve experiência profissional - ou semi-profissional -, o qual não é o caso de Exum. O australiano inclusive chegou a pensar em passar uma temporada na NCAA antes de se inscrever no Draft, algo que só seria possível pra quem nunca atuou profissionalmente antes…


Vitor - Isso é verdade, mas como você disse, as pessoas gostam de superestimar um pouco isso da NCAA. Exum dominou um torneio de alto nível no Mundial U19, e eu adoro as ferramentas dele: alto, veloz, muito forte atacando o aro, combinação de habilidade, tamanho e atleticismo, e seu potencial defensivo. Acho que talvez por não ter a experiência profissional que você citou seja importante para ele cair em uma situação mais estável e com um time mais paciente com ele, mas não vejo porque ele não poderia realizar seu potencial uma vez que esteja na NBA. Não vejo ele na mix para #1 pick, mas acho que da para inclui-lo na Top Tier desse Draft com Embiid, Wiggins e Parker - e parece que não sou o único que pensa assim.


Zeca - Realmente ele é o único que pode desafiar esses três aí; na pior das hipóteses lidera aquele 2nd tier, que também não é nada fraco no recrutamento desse ano.

Aliás, Vitor, eu espero que os times com escolhas nessa área não estejam precisando urgentemente de alguém que arremesse de fora, pois provavelmente não irão encontrar. Daquele quase consensual top 8, não vejo ninguém que se destaque muito nesse fundamento - o próprio Jabari Parker acabou decepcionando um pouco não pela mecânica em si, mas pela frequência com que tentou chutes de fora. Será que isso pode acabar mudando um pouco o cenário das escolhas? Talvez um Doug McDermott ou um Gary Harris sendo pego acima do esperado por ter uma skill excepcional...


Vitor - Interessante voce tocar no assunto. É uma eterna questão do Draft: pegar o melhor jogador disponível, ou pegar aquele que trás as habilidades ou joga na posição que você precisa? É uma pergunta bem pessoal, que depente muito do contexto do time. E como você disse, arremesso é a habilidade a prêmio desse Draft.

O mais interessante é, tem um número ENORME de times nesse topo que precisa de um arremessador. Sixers (#3 e #10), Celtics (#6 - supondo que não a troque), Hornets (#9), Magic (#4 e #12), Minny (#13) e Chicago (#16 e #19 e supostamente querendo subir para a #11). Não acho que isso será um grande problema com escolhas tão altas como a #3, #4 e #6, que tem jogadores bons demais para deixar passar. Mas a partir do # 9, isso começa a ficar interessante. Acho que os maiores candidatos a ver seu valor subir na hora do Draft por conta dos seus arremessos são McDermott, Rodney Hood, Adreian Payne e Nik Stauskas (meu favorito, by the way). Deixo Harris de fora porque acho que ele já está sendo bem underrated. Em um Draft mais profundo em shooters, acho que alguns desses iriam cair bem mais.


Zeca - Exato. Não é só interessante falar da falta de arremessos nos atletas de maior potencial, mas também cabe a questão da falta de potencial físico-atlético desses melhores arremessadores que você citou. É como se cada prospecto só pudesse escolher uma dessas duas coisas…

E essa hierarquia que nós vemos nesse Draft (potencial físico sobre potencial técnico, de certa forma) representa bem o que é a NBA nesse momento: os treinadores se sentem muito mais à vontade utilizando calouros que não comprometem na defesa, mesmo que sejam muito crus na parte ofensiva. Até porque esses atletas podem usar tais minutos para desenvolverem seu jogo ofensivo - especialmente aqueles que já têm um certo potencial pra isso -, já um cara como McDermott tem um teto defensivo porque sua envergadura nunca vai ficar maior nem sua agilidade lateral se tornará acima da média da noite pro dia, ou seja, sua capacidade de impactar na defesa não depende só dele ou de sua experiência adquirida…


Vitor - Existe ainda um certo preconceito na NBA nesse sentido, a velha máxima de que você pode ensinar alguem a arremessar ou driblar, mas não fazer alguém crescer ou ficar atlético. Acho que isso as vezes subvaloriza alguns jogadores de técnica apurada e atleticismo mediano. Eu acho que no caso de alguém como McDermott, por exemplo, você sabe exatamente o que você tem, um eximio arremessador capaz de criar seu arremesso, explorar defensores menores no garrafão, fazer decisões inteligentes, e não muito mais.

Mas pegue Stauskas, por exemplo. Ele é um bom arremessador e ballhandler, mas quando vai olhar de perto, ele é surpreendentemente atlético e teve algo como 12.5% de gordura corporal testada no combine. Em outras palavras, tem MUITO espaço ai para ele se desenvolver fisicamente e transformar gordura em massa muscular, com ajuda de um programa profissional de NBA. A maior parte desses garotos tem entre 19 e 21 anos e não estão finalizados fisicamente. Todo mundo esquece disso.

Em uma nota relacionada, eu adoro Stauskas e acho ele um dos melhores jogadores desse Draft depois daquele primeiro e segundo tier (Wiggins, EMbiid, Parker, Exum, Vonleh, Randle, Gordon e Smart). Na pior das hipóteses ele é um eximio chutador de 3 capaz de criar seu arremesso no pick and roll, então tem um piso alto, mas ainda vejo ele com potencial atlético e all-around para ser um bom SG capaz de criar seu arremesso e atacar a cesta. Eu definitivamente pegaria ele entre os #9 e #13.


Zeca - Não é de hoje que Stauskas é overlooked. Eu lembro que pelo menos até Fevereiro ele não vinha sendo lembrado em quase nenhum mock de 2014. Talvez o fato de que muita gente ainda acha que seu jogo é unidimensional seja explicado pelo papel pequeno que ele teve na temporada passada naquele time que tinha Trey Burke e Hardaway Jr, ou até mesmo pelo simples estereótipo do branquelo que arremessa de três.

De qualquer forma eu estou com você nessa: ele não só é um melhor ball handler e passer do que muitos julgam, mas também toma excelentes decisões dentro de uma quadra. Jogou dois anos dentro do esquema genial de John Beilein, o qual se aproxima bastante dos que temos na NBA atualmente em situações de 5 vs 5, pois junta um ótimo espaçamento da quadra com movimentação de bola constante, vários passes extras e pouquíssimos arremessos de média distância...então Stauskas acabou se tornando um cara muito pouco egoísta e que entende perfeitamente que sua capacidade de chutar de fora não é destinada apenas a adicionar três pontos no placar, mas também a ser indiretamente uma arma capaz de fazer toda sua equipe ter mais facilidade de encontrar o melhor arremesso possível em cada posse de bola.


Vitor - Pessoalmente, eu diria que Stauskas lidera hoje o 3rd Tier da NBA, pelo menos em termos de talento e potencial (Gary Harris junto com ele). Eu consigo vê-lo facilmente saindo para o Hornets no #9 e tenho certeza que não passa do Wolves no #13, e se o Bulls conseguir pega-lo na #11 (subindo para a pick do Nuggets usando suas duas escolhas, como se especula) seria o steal do Draft.

Mas para dizer que Stauskas lidera o 3rd Tier, é bom definir os outros dois. Na minha opinião, temos um claro 1st Tier composto por Wiggins, Embiid e Parker (e TALVEZ Dante Exum), e depois um 2nd Tier composto por Exum (se não estiver no 1st), Smart, Gordon, Vonleh e Randle - qualquer um desses teria sido 1st pick de 2013, by the way. Você concorda com esse ponto de vista? Ou acha que não existe nada tão definido assim nesse Draft, ou então que algum dos Tiers é diferente?


Zeca - Eu acho que estão bem definidos sim, e concordo com sua classificação. O difícil talvez seja ordenar este 2nd tier, mas isso é outra história. Também gostaria de adicionar que Dario Saric estaria no meu segundo grupo se estivéssemos falando do puro talento, mas como ele não é um prospecto convencional, e nem deve vir pra NBA nessa temporada, ele acaba caindo um pouco. Aliás, todos os anos é como se os atletas internacionais disputassem um recrutamento à parte, por todos os fatores os quais nós já conhecemos.


Vitor - Eu adoro Saric, e tenho certeza que muitos GMs na NBA concordam comigo. Ele tem tamanho de PF mas joga como armador, tem muita mobilidade, excelente passador e ball handler. Eu adoro qualquer grande passador, e Saric tem um talento especial no quesito, um legitimo point-forward devastador em transição. Ele já tem um razoável post game e, se seu jumper ficar consistente, tem tudo para ser uma versão mais completa, mais all around da melhor fase de Turkoglu (que era o segundo melhor jogador e crunch-time scorer de um Orlando que chegou nas Finais). Em termos de talento, também coloco ele no 2nd tier, especialmente porque ele pode jogar na 3 e na 4.

O engraçado é que o problema com Saric não é o que normalmente temos com prospectos internacionais. Jogadores como Exum e Nurkic, em geral, são vistos com desconfiança porque jogaram contra competição muito incerta e ninguém consegue ter certeza dos seus talentos reais (como Exum) ou então tiveram ótimos números mas jogando em um papel e minutos limitados (como Nurkic). Mas ninguém tem esse problema com Saric - nós sabemos exatamente quem ele é! Mas entre não saber suas reais intenções profissionais ou se ele vem imediatamente para a NBA (ou mesmo se virá em breve), como você disse, a desconfiança faz ele sair do 2nd Tier. Mas tenho certeza que alguém na loteria vai arriscar ir atrás de um jogador tão talentoso - especialmente um time que possa se dar ao luxo de esperar um ou dois anos por ele.


Zeca - Eu não sou nenhum especialista em prospectos estrangeiros, mas além de Saric eu tenho notado dois outros atletas internacionais que podem estar sendo um pouco negligenciados: Clint Capela e Vasilije Micic. O primeiro tem um atleticismo soberbo e consequentemente um grande potencial, ainda mais porque tem o corpo ideal pra um defensor moderno na posição quatro. Já o segundo se destaca por ler perfeita e rapidamente as jogadas de screen and roll, as quais são muito importantes na NBA hoje. Fora isso eu não estou tão animado com essa class de estrangeiros como em anos anteriores, mas também pode ser por que meu conhecimento sobre eles é limitado mesmo.


Vitor - Capela em particular me interessa pelo seu potencial a médio prazo, mas deve cair para o final da primeira rodada pois não deve vir tão cedo para a NBA. Mas em um lugar (final do Draft) onde tantos times já tem um elenco completo, ele é um excelente prospecto para ficar alguns anos na Europa sem ocupar espaço no plantel, e vir daqui a um tempo quando tiver pronto.

Alias, essa é outra marca desse Draft: profundidade. Muita gente fala sobre as potenciais estrelas do Draft, os Wiggins e Embiids, mas é igualmente importante ter um Draft com um bom número de jogadores de NBA, onde você pode conseguir um role player importante mesmo no final da primeira rodada e no começo da segunda. Capela é um ótimo exemplo de um jogador que pode render muitos frutos em alguns anos e que não precisa de uma escolha alta para ser adquirido. O mesmo provavelmente é verdade para jogadores como KJ McDaniels, Jarnell Stokes, Jeremi Grant, Jordan Clarkson e Glenn Robinson. Como você ve essa profundidade, especialmente em comparação com os últimos anos?


Zeca - Há rumores de que pelo menos umas cinco equipes pretendem fazer trocas para terem escolha de 1st round, mas o que se fala é que estas picks sairiam muito mais caras do que o normal, exatamente por que a iniciativa está partindo de quem quer adquirir e não de quem quer vender. Isso diz muito com relação ao valor de uma escolha no Draft desse ano; tudo bem que a tendência é isso acontecer mais frequentemente nessa era pós-Lockout, com os contratos de calouros sendo tão imprescindíveis para se combinar competitividade com flexibilidade financeira, mas é óbvio que a profundidade de talento do recrutamento tem um peso nisso, como você falou.

É até estranho ver caras como Glenn Robinson III, DeAndre Daniels e Jarnell Stokes sendo projetados para o 2nd round em boa parte dos mocks. São caras que pegariam contratos garantidos na maioria dos anos. Também vale destacar que temos alguns juniors e seniors com um pouco mais de potencial do que geralmente se espera de caras com idade entre 21 e 23 anos, e te dou alguns bons exemplos: Adreian Payne, KJ McDaniels e Elfrid Payton. Então eu não tenho nenhuma dúvida de que temos um Draft com uma profundidade especial. E eu não sei se eu acho isso bom, porque vai ter muito cara que poderia estar voltando pra mais um ano de protagonismo na NCAA, tendo que ir tentar a vida no basquete internacional por conta da grande concorrência. Espero que o russo deles esteja em dia.


Vitor - Isso pode funcionar por outro ponto de vista também. Um contrato de segunda rodada é uma comodidade ainda mais valiosa para os times hoje em dia, porque te garante um jogador por três anos em um contrato muito barato, mas sem as garantias que um contrato de primeira rodada trás. Os times tem ficado mais espertos indo atrás de jogadores de segunda rodada, conforme o novo CBA aumentou seu custo-benefício. Então de certa forma, cair para o começo da segunda rodada pode acabar aumentando o valor desses jogadores uma vez que estejam na NBA, se é que isso faz sentido. O maior ênfase recente na D-League também pode ajudar, algo que tornou mais eficiente o uso de talento na NBA e que só deve continuar evoluindo. Então não tenho muita preocupação nesse sentido do êxodo de talento.

Algo que me interessa na profundidade desse Draft é que normalmente isso está associado a jogadores mais velhos sem tanto potencial, que acabam sendo passados para o segundo plano. Certamente temos desses jogadores no Draft, “veteranos” capazes de ajudar uma equipe de imediato como CJ Wilcox, Russ Smith, Jabari Brown ou Cleanthony Early, mas também temos um bom número de jogadores que ainda apresentam um bom potencial e que podem ser apostas a médio prazo, como Nick Johnson, Glenn Robinson e Mitch McGary, Spencer Dinwiddie, Jahii Carson e até mesmo draft-and-stash players como Micic, Bogdan Bogdanovic, Arten Klimenko e Walter Tavares. É uma profundidade para todos os gostos e todos os estilos. Eu adoraria ter uma escolha de segunda rodada nesse Draft.


Zeca - Que bom que você citou o Dinwiddie. Pra quem não sabe, antes de começar a temporada do basquete universitário ele era cotado até pro final da loteria, mas rompeu o ligamento do joelho em Janeiro e ninguém mais vai ter coragem de pegá-lo no 1st round e dar-lhe um contrato garantido. Mas eu gosto tanto do skill set dele - excelente floor general que está sempre sob controle e adora jogar no erro do adversário - que acho que a partir da escolha 31 ele passa a ser o melhor atleta disponível (em circunstâncias normais). Você lembrou que o contrato pra um cara de 2nd round não é 100% garantido mesmo podendo ser multiyear, e por isso fica ainda mais válida a aposta nele...o problema é que não vai ter Summer League e training camp pra avaliá-lo, mas é o pequeno risco que você corre pra tentar pegar um grande jogador numa escolha tão baixa.


Vitor - Eu sempre gostei muito de Dinwiddie, mas fiquei surpreso que ele fosse direto para a NBA vindo dessa lesão no joelho ao invés de voltar para a NCAA mais um ano. Dinwiddie pode começar na NBA uma tendência que a NFL popularizou nos últimos anos: um bom jogador que cai por conta de uma lesão, o time drafta, deixa um ano treinando com calma e se habilitando, e ele basicamente vira um redshirt no seu primeiro ano (mais ou menos o que o Sixers fez com Noel ano passado, só que com um prospecto não tão valioso).

Em uma nota relacionada, eu acho que Dinwiddie tem que ser um dos primeiros jogadores a sair na primeira rodada. Seu contrato seria barato e não garantido, e é um fortissimo candidato a steal do Draft. Nós sempre gostamos de falar sobre quais jogadores podem ser as “steals” desse Draft, e acho que Dinwiddie estaria no topo de ambas as nossas listas. Eu também gostaria de adicionar Jordan Clarkson (um jogador que passei a gostar recentemente e que pode ser o novo Reggie Jackson) e Nick Johnson, esse último um jogador bem underrated em Arizona que é considerado pequeno demais para ser SG na NBA mas parece ter as habilidades que voce busca nesse tipo de jogador. Quais os seus?


Zeca - Que bom que você tocou nesse assunto! Não sei quanto a você, mas essa é minha parte favorita do Draft. Meus patrocinados esse ano são muitos, mas eu vou destacar só três aqui diferentes dos seus: KJ McDaniels, Cameron Bairstow e Josh Huestis.

O primeiro é um dos meus jogadores preferidos dessa class; foi o melhor defensor da ACC em 2014 e estaria entre os meus cinco maiores candidatos a MVP se este prêmio fizesse parte do college basketball, tal foi o impacto que ele teve em Clemson. É um cara que vai forçar seu marcador a fazer um box out nele, se não quiser tomar uma putback slam, sem contar que também é mortal em transição. Bairstow é um grande scorer da posição 4 que vai ter muito trabalho pra não virar piada como defensor, mas acho que ele tem chance de se tornar algo próximo de um Luis Scola. E Huestis é o meu maior patrocinado: protege o aro e pega rebotes como um big man, mas defende atletas de perímetro com certa facilidade também. Não vai ter a zona de Stanford pra maximizar seu impacto defensivo, no entanto acho que pode ser uma versão menos atlética de Andre Roberson (porém com um jogo de perímetro melhor).


Vitor - Eu particularmente adoro KJ McDaniels e acho que é um lock para sair na primeira rodada (faria muito sentido no Houston com a 25th pick). Poucos jogadores tem a all-aroundness dele nesse draft.

E legal que bem quando iamos partir para as considerações finais sobre o Draft e terminar essa coluna, chega a notícia de que Joel Embiid - o melhor prospecto e a clara escolha #1 desse Draft - teve uma fratura no pé.

Como você acha que isso vai afetar o topo do Draft? Embiid ainda é o melhor jogador, mas essa (stress fracture) é uma lesão complicada para big men, a mesma que acabou com as carreiras de Sam Bowie, Yao Ming e Bill Walton. Ninguém sabe exatamente a extensão da lesão, mas é fato que isso vai aumentar muito o risco de escolher o camisa 21. Qual o impacto imediato disso?


Zeca - Eu acredito que essa lesão vai acabar sendo decisiva para o Draft no final das contas. É impossível dizer se ele vai sofrer com lesões no decorrer de sua carreira profissional, mas vem batalhando com elas desde Fevereiro, e o histórico, como você lembrou bem, nos deixa preocupado com relação a isso.

Vale lembrar também de exemplos recentes como Anthony Bennett, Otto Porter, Alex Len e CJ McCollum que perderam Summer League, offseason e uma parte da temporada por estarem lesionados, e nenhum deles conseguiu o espaço que queriam na rotação após isso. Então vai ser muito complicado pra Embiid superar tudo isso e ter um início de carreira sólido, sem prejuízo...Enfim, hoje eu creio que o Cavs não deve mais bancá-lo na primeira escolha; talvez Bucks e Sixers pensem dessa mesma forma.


Vitor - Eu particularmente tenho certeza que Embiid não sai mais no Top2. Sixers no #3 pode olhar para ele (já não tiveram problema em deixar Nerlens Noel um ano parado), bem como Orlando no #4, mas considerando o alto risco que vem junto com um jogador desses e o fato de que o seu agente vai querer direcioná-lo para um grande mercado se ele não for escolhido no Top3, acho que o destino mais provável é que ele saia para o Celtics no #6. Boston não tem tanto medo de apostar alto, e precisam urgente de uma estrela - e Embiid é bom demais para deixar passar dessa forma apesar de tudo.

O maior perdedor dessa lesão - tirando o Cavs, para quem Embiid era de longe a melhor escolha, e o próprio Embiid - provavelmente é o Sixers, que tem seus olhos desde o começo em Andrew Wiggins e que parecia confiante de que conseguiria o SF de Kansas no #3, com Cavs pegando Embiid e o Bucks, Jabari Parker. Agora, salvo uma troca pela #1 pick, o Sixers só consegue seu alvo caso o Bucks pegue Dante Exum na segunda rodada, o que me parece improvável. Então Philadelphia vai ter que ser criativo com essa escolha #3, de uma forma que não esperava uma semana atrás.


Zeca - Também existe a chance do Cavs pegar Exum na pick 1, especialmente sendo o Cavs...mas também não acho isso provável. O Sixers me parecia o mais confortável desse top 3, afinal só teria o trabalho de pegar o cara que sobrasse daquele top tier, mas agora se complica um pouco e dá um toque de imprevisibilidade no recrutamento.


Vitor - Ainda assim, tem um certo alívio cômico no Cavs querendo pegar Jabari Parker, um pontuador que joga com a bola nas mãos e não defende ninguém (assim como Irving e Waiters), ou mesmo um SF/PF acima do peso como Bennett. As piadas nunca vão parar, Cleveland.


Zeca - Vítor, eu sei que temos que finalizar esse post, mas antes eu queria deixar uma última pergunta pra você: se existisse um League Pass Draft, onde os times mais chatos de se assistir têm as primeiras escolhas e pegam os prospectos mais divertidos, independente das necessidades reais, qual seria seu top 5?


Vitor - Opa, gostei disso! Uma boa forma de adiar o final! Acho seguro dizer que os primeiros 5 times do seu Draft seriam Lakers, Sixers, Bucks, Jazz e Detroit em alguma ordem também.

Sobre as primeiras cinco escolhas, eu acho que Aaron Gordon seria a #1. Eu adoro a forma como ele consegue enterrar por cima de qualquer um, e ele definitivamente vai ganhar um vídeo no YouTube chamado “BLAKE GRIFFIN Aaron Gordon coloca as bolas na cara de Timofey Mozgov!” algum dia. O resto do Top5 teria Andrew Wiggins, o cara que consegue pular para fora do ginásio… Dante Exum, em parte pela aura de mistério e em outra parte porque ele me parece um armador tipo Derrick Rose (e todo mundo sabe que a gente precisa de um novo Derrick Rose)… Zach LaVine, por puro potencial e explosão… e Marcus Smart, simplesmente porque eu adoro o seu jogo extremamente completo e acho que ele vai ser um 15-7-7 ambulante no time certo (tipo MCW ano passado, só que bom). Dario Saric teria certamente entrado nesse Top5 no lugar de Exum ou Smart se não fosse ficar mais dois anos na Europa. Obrigado por acabar com a animação, Saric.

E você, pra finalizar: mudaria meu Top5?


Zeca - As equipes do top 5 eu não mudaria. Sixers e Lakers fizeram com que eu passasse a odiar o ritmo acelerado no basquete, e ainda bem que você alfinetou MCW por que senão seria eu.

 Já nos jogadores eu mudaria algumas coisas: provavelmente por não ter acompanhado ele, tiraria Dante Exum e colocaria Kyle Anderson. É incrível como o cara é mais lento que uma tartaruga correndo contra o vento e consegue ser efetivo. Eu ainda estou tentando decifrar isso...Também tiraria Marcus Smart pra colocar Noah Vonleh. Mas em uma coisa nós concordamos: Aaron Gordon seria a primeira escolha. Mal posso esperar pra falar YOU CAN’T LIVE IN THE GORDON DESERT novamente!


Vitor - Anderson foi meu último “corte” tirando Saric, colocaria ele no lugar do Exum. Mas o Exum me interessa muito justamente por não ter acompanhado ele, não sei o que esperar… e isso é ótimo! E eu iria até ai te dar um pescotapa se você não tivesse Aaron Gordon na sua posição #1 - um dos MUITOS motivos que me fazem estar animado com esse cara.

Zeca, eu adoraria explorar uns boatos de troca a mais - MCW pela #7? Rondo pela #8 + McLemore? - mas se continuarmos, só vamos parar depois do Draft. Então é melhor a gente encerrar por aqui, e guardar os comentários extras para uma futura coluna, entitulada “Por que o Cavs fez besteira com a #1 pick”. Alguma consideração final?


Zeca - Eu estava pronto pra vir aqui tirar uma onda com Cleveland, Vítor, porém eles mesmos conseguiram fazer isso:




Vitor - Justo. Eu aceito também a coluna “Porque o Boston Celtics foi o grande vencedor desse Draft” *cruzando os dedos*


Zeca - Mas vamos terminar por aqui pois o Marco Civil da Internet já entrou em vigor, e tenho medo que tirem esse post do ar alegando que agora é direito absoluto do usuário ler apenas textos com menos de cinco dígitos de caracteres. Enfim, deixo aqui um abraço pra você, boa sorte ao seu Boston Celtics no recrutamento e minhas condolências aos argentinos pela eliminação de sua seleção na Copa do Mundo (esse último foi só pra adiantar).

Até a próxima!


Vitor- Também me despeço aqui, foi um prazer retomar essa coluna com você, e espero que, na falta de um Mock Draft ou uma cobertura extensa sobre o Draft, isso ajude os leitores a entenderem melhor o que está acontecendo nesse momento tão importante do futuro da NBA.


Um abraço a todos, e até a próxima, Zeca!

6 comentários:

  1. Eu sei que é impossível precisar o quanto um cara vai ser suscetível a lesões durante a carreira. Mas um cara que joga basquete a 3 apenas e já deve 2 lesões serias sendo uma por stress(o tipo de lesão que se batalha contra a carreira inteira). Acho que o Embid ganha uma red flag do tamanho do mundo. E ainda mais em um draft tão bom impostar em uma incerteza tão grande pode ser perder duas vezes. E pelo amor de deus parem de falar que MCW é bom jogador sem ter visto ele jogar. O cara é ruim, mas ficava com a bola o tempo todo então tinha números, btw ninguém pode ser considerado bom se seu time perdeu quase 30 partidas seguidas.

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    1. Sim, a red flag no Embiid é gigante. Mas o talento e potencial dele também é - alguém, cedo ou tarde, vai achar que isso compensa o risco. Alto risco, alta recompensa.

      E nenhum de n´øs disse que o MCW é um bom jogador. Pelo contr´årio, nós dois falamos mal dele.

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    2. Eu sei e eu tava concordando com vcs e dando meu apoio. Pra mim ele é pior tipo de armador que fica com a bola 22 segundos, se conseguir o arremesso bom, se não passa e se a bola cair ganha uma assistência se não o erro vai para outro. Tipico caçador de stats. Odeio ele.

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    3. E o Heat querendo Pick melhor pra draftar o Shabazz Napier. Acho uma Boa...#GoHeat

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  2. Vitor, você acha que existe o risco de Jabari Parker ficar preso entre SF e PF sem se desenvolver em nenhuma das duas, estilo Michael Beasley e Derrick Willians?

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    1. Existe, porque ele não tem uma posição definida. Mas acho que tem uma diferença crucial: D-Will e Beasley são tweeners porque não conseguem jogar em nenhuma das duas posições. Jabari acredito que pode jogar nas duas. E em Milwaukee o esquema será adaptado a ele, não ele que vai ter que se adaptar a um esquema (como D-Will).

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